Emergiu, nos últimos dias, por trás das manobras diversionistas de praxe, a questão do prometido aumento da tarifa de ônibus urbano em Belém, prometido muito convenientemente para sair somente depois que o último voto, no eventual segundo turno, for computado.
O enredo não chega a ser original. Os empresários derramam lágrimas de sangue, alegando não ter mais como sustentar o sistema - cada vez mais caótico e canibalizado -, enquanto a Prefeitura faz de conta que o assunto não lhe diz respeito. Enquanto isso, longe dos holofotes e do olhar curioso da opinião pública, vai se desenhando os termos, envolvendo custos, condições e partilhas, de um tarifaço de enorme impacto sobre o combalido orçamento da grande maioria da população.
Logo logo, algumas línguas venenosas, por pura maldade, começarão a insinuar que tudo pode terminar em festa. Para uns poucos, é claro.
Política. Cultura. Comportamento. Território destinado ao debate livre. Entre e participe, sem pedir licença.
quinta-feira, 31 de julho de 2008
Por baixo dos panos
Oh, abre alas!
O Grêmio Recreativo dos Unidos da Grilagem pede passagem. Em nota pública, publicada nos jornais paraenses de hoje, a Federação da Agricultura, sindicatos rurais e outros congêneres cerraram fileiras na defesa da Agropecuária Santa Bárbara Xinguara S/A, da quadrilha de Daniel Dantas.
A nota cobre de elogios um empreendimento suspeito da prática de vários crimes, da grilagem de terras públicas até a lavagem de dinheiro através da compra, em larguíssima escala, de ativos no campo paraense. Em poucos mais de dois anos, o grupo Opportunity já se diz dono de 500 mil hectares e de um rebanho de meio milhão de cabeças. Coroados como os novos reis do gado, podem contar com uma tropa de fiéis vassalos, dispostos a defender a perpetuação dos crimes cometidos contra o patrimônio público.
Um ciclo sem virtude
Mas, logo vem a revelação da outra face da moeda: no mesmo período, o gasto da União, Estados e municípios para o pagamento da dívida pública interna também bateu todos os recordes, suplantando em quase dois bilhões o esforço fiscal realizado. Foram cair nos alforjes dos banqueiros, rentistas e especuladores nada menos do que R$ 88,03 bilhões, o maior valor desde 1991.
E, como era de se esperar, eles ainda estão famintos e torcem para que a política de elevação dos juros, retomada com vigor por seu maior representante, o banqueiro Henrique Meireles, prossiga nos próximos meses.
Só muita cara de pau para, em paralelo, o presidente Lula continuar insistindo no surrado argumento de que o financiamento da saúde entrará em colapso se o Congresso não se ajoelhar, penitente, recriando até dezembro a antiga CPMF, agora sob novo nome - CSS - mas sem perder o travo amargo do embuste político.
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Palavras de Fogo
Perdida na selva de centenas de palavras flamejantes, eis aí uma declaração que estar por merecer uma atenção especial, muitíssimo especial, por parte de quem possui, por dever funcional e por imperativo de consciência, a obrigação de proteger o patrimônio público e os direitos da sociedade paraense.
Um prêmio à traição
Agora, tantos anos depois, através de seus advogados, ele demanda junto à Comissão de Anistia, em Brasília, o suposto direito à "indenização" em decorrência das "perseguições" que teria sofrido durante a ditadura.
Em 1984, ao lendário repórter Octávio Ribeiro, o Peninha, Anselmo concedeu uma antológica entrevista à revista Isto É. Nela, ele revelou estar vivendo sob nome falso e com o rosto modificado por cirurgias plásticas. Perguntado quantas pessoas teriam morrido em função de seu trabalho como delator, Anselmo respondeu: "Umas cem, duzentas". Dormia tranqüilo apesar disso? Ele foi direto: "Absolutamente. Durmo com a consciência tranqüila. Se fosse necessário, faria tudo outra vez.".
Entre suas vítimas estão militantes experientes - alguns ex-militares como ele e quadros da luta armada que haviam recebido treinamento militar em Cuba. Muitos foram presos com vida e depois supliciados até a morte em prisões oficiais ou em campos clandestinos de extermínio. Para não deixar dúvida sobre o caráter criminoso desse personagem, é sempre conveniente lembrar que ele não hesitou sequer em entregar para a morte sua própria namorada, a paraguaia Soledad Barret Viedma, que à época estava grávida de quatro meses. Segundo relatos de sobreviventes, o corpo de Soledad foi colocado dentro de um barril metálico, nu e encharcado em seu próprio sangue. Ela e mais cinco guerrilheiros morreram na chacina da Chácara São Bento, na periferia de Recife, em 1973.
Somente a pressão das entidades de direitos humanos e das ONGs que representam os familiares dos mortos e desaparecidos poderá impedir a consumação dessa ignomínia.
Lombroso está vivo e passeia pelas ladeiras cariocas
Vejamos esta afirmação: os criminosos do Rio de Janeiro trazem do "ventre da mãe" a cultura da violência. Esta opinião já seria motivo para escândalo pelo racismo que poreja, mas alcança níveis inimagináveis de escárnio quando proferida pela autoridade que ocupa o ápice da pirâmide de segurança do Estado, o delegado José Mariano Beltrame.
A cidade do Rio de Janeiro, em guerra civil não-declarada, com milhares de vítimas todos os anos, não merece assistir a ressurreição das teorias do "criminoso nato", arrancadas das trevas do século XIX para tentar justificar o mais completo fracasso no combate às causas reais - e, portanto, profundas e históricas - que explicam o banho de sangue que mancha diariamente a paisagem carioca.
terça-feira, 29 de julho de 2008
Dialética do mundo e seus múltiplos espelhos
Juan José Saer (1937-2005), escritor e ensaísta argentino. El Espejo (Cuentos Completos - 1957-2000, p. 198-199, Seix Barral, 2001)
Uma oportunidade de ouro
Esta aí a chance que faltava: se quiser, o governo do Estado pode iniciar pelas terras do Opportunity a devassa fundiária capaz de revelar como, ao logo das décadas, o patrimônio público engordou fortunas pelo Pará afora, impunemente. Se quiser de verdade, tomando as medidas com a profundidade e zelo exigidas. O que significa escolher um dos lados dessa sangrenta disputa territorial, que opõe o latifúndio e o moderno agronegócio, de um lado, e a massa informe de despossuídos, no limite do desespero e da revolta surda, de outro. É pegar ou largar.
Podem esperar que ela vem aí
Grampolândia
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Be-a-bá
Acossado por uma incorrigível mania de engolir os "s" finais das palavras, entre outros pecados contra a última flor do Lácio, tem candidato a prefeito de Belém obrigado a recorrer à ajuda especializada, antes que tais subtrações se reflitam na contabilidade eleitoral. Lá nas terras de além-mar, essa disciplina médica recebe o nome de Terapia da Fala. Ou, como chamamos aqui sob os trópicos, Fonoaudiologia.
Todos os homens do presidente
Com a prisão de García, que era o maior defensor do terceiro mandato para Uribe, já são 31 políticos detidos por envolvimento com os "paras", algo como 10% dos membros do Congresso Nacional, que se somam a outros 10% processados por diversos crimes, sempre relacionados com os métodos criminosos das antigas (e, aparentemente, desmobilizadas) Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC). Milícias criadas originalmente para combater as guerrilhas de esquerda, mas que logo se conformaram em braço armado do narcotráfico e da chamada narcopolítica, os “paras” são responsáveis por um banho de sangue sem fim, que agora se volta contra ex-integrantes desses mesmos bandos. Organizações de direitos humanos reportam o assassinato de, pelo menos, 819 ex-"paras", de 2006 para cá, em supostas pugnas internas ou simples acertos de contas.
Por tudo isso, guardar distância e Álvaro Uribe deveria ser um procedimento padrão, recomendável para os que não queiram macular de maneira definitiva suas biografias presidenciais no atual quadro político sul-americano.
Dados viciados
É que coube a elas, por decisão unilateral da Eletrobrás, sem licitação, elaborar o EIA-Rima, em processo que continua sob bombardeio cerrado do Ministério Público Federal (MPF). De posse de informações estratégicas, não será difícil para esse futuro consórcio superar os eventuais outros concorrentes quando for aberto o leilão para a escolha dos construtores da obra. Cartas marcadas e devidamente enlameadas pela relação promíscua entre os interesses privados (de sempre) e os dóceis administradores da maltratada coisa pública.
sábado, 26 de julho de 2008
Drop out
sexta-feira, 25 de julho de 2008
Senso de Oportunidade
A suspeita de que, pelo menos, parte da Santa Bárbara - integrada a partir da junção das antigas fazendas Maria Bonita, Espírito Santo e Cedro -, seria formada por terras aforadas pelo Estado exclusivamente para fins de colonização ou de extrativismo, e ilegalmente vendida ao Opportunity, serve agora de argumento para a ação dos sem terra, que se declaram dispostos a resistir até que o Incra e o governo do Estado revertam a propriedade para o assentamento de centenas de famílias que estão, há anos, acampadas na região na espera de uma cada dia mais improvável Reforma Agrária.
Butantan
Sutil como um elefante numa sala de cristal, dizendo mais nas entrelinhas que nas linhas inteiras, a carta aberta do advogado Manoel Aroucha, ex-diretor geral e agora demissionário da diretoria de Planejamento da Secretaria de Estado de Transportes, publicada como matéria paga em O Liberal de hoje, dá a exata medida do clima, algo irrespirável, na ferrenha guerra por posições inter e intra correntes do PT.
"Hoje - diz o advogado e militante petista - tenho clareza que o que podia fazer já fiz e não há mais a contribuir, ou, pelo menos, pra quem contribuir", buscando consolidar a sua versão do lento e delicado processo de fritura que sofreu durante meses. Comenta-se, entretanto, que na origem de tudo não estaria exatamente a alegada qualidade profissional e política do que já foi o homem forte numa das principais secretarias do governo Ana Julia.
Bodas do Chacal
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Gênesis
Diplomacia pendular
À noite, sob as bênçãos do Departamento de Estado e em meio a confetes e serpetinas, um navio da Marinha brasileira ganha o status de convidado especial para os jogos de guerra que as Forças Armadas estadunidenses realizam nesta semana. Os nomes das operações não poderiam mesmo ser mais sugestivos: "Operation Brimstone" (operação enxofre) e "Operation Red Flag" (operação bandeira vermelha); a primeira altamente evocativa dos propósitos do governo Bush e a última que revela o flerte com o redivivo - pelos menos nas alucinantes maquetes dos neocons - mundo bipolarizado dos tempos da Guerra Fria.
Claro Enigma
O senhor e seus anéis
O que ele não disse, porém, é o mais importante. Por trás da decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), desde logo passível de revisão a qualquer tempo, esconde-se a velada intenção de reduzir o alcance dos estudos de impacto ambiental, apressando os trâmites de concessão das licenças pelos órgãos do governo, na exata contramão do que exigem os procuradores federais e as comunidades diretamente envolvidas nessa longa e desgastante polêmica.
Na prática, se for exitosa a manobra, os anéis prometidos em garantia poderão ser perfeitamente recuperados quando Belo Monte for uma realidade tão incontrastável que tudo mais não passará de "jus esperniandi".
quarta-feira, 23 de julho de 2008
Caixa Seletivo
Muito mais sortuda é a Belém Ambiental (BA), empresa novata que não esconde suas relações carnais com o prefeito e candidato à reeleição Duciomar Costa (PTB). Dirigida por um ex-assessor dele no Senado e na própria Prefeitura, a BA trabalha a todo vapor em diversas frentes, que se multiplicam sem o menor planejamento. Ou melhor, algum cálculo deve mesmo estar por trás dessa súbita, e igualmente suspeita expansão no mundo dos negócios.
terça-feira, 22 de julho de 2008
Grande irmão
Perigo real e imediato
O discurso xenófobo que identifica nas ONGs estrangeiras uma ameaça à soberania nacional, ao transmitir um alarmismo exagerado e despido de fundamento acaba trazendo como subproduto que se releve a existência de alguns casos de atuação deletéria de determinadas entidades na Amazônia. Muito embora estejam longe de representar um risco à integridade territorial brasileira, certos grupos podem sim contribuir decisivamente para o desaparecimento de povos que se encontram em situação de vulnerabilidade extrema. É o que acontece com algumas etnias isoladas ou que convivem sob fortíssimo cerco das frentes de devastação, como os Suruwahá (Zuruahã, Soroaha ou Jokihidawa), povo que habita a região entre os rios Purus e Juruá, na margem direita do Amazonas, nas proximidades da cidade de Labréa (AM).
Segundo denúncias da Funai, a presença entre os indígenas de uma missão norte-americana denominada Jocum (Jovens com uma missão), tem contribuído para a desestruturação da vida social e cultural da tribo, agravando a situação de cerco a que estão submetidos. Como conseqüência, aumentou muito no último período o número de suicídios, um traço que já faz parte da cultura e da complexa cosmologia desse povo, que segundo estudos antropológicos valoriza entre os jovens a noção de recusa e de certo desprezo à velhice e à decadência física. Daí a grande quantidade de suicídios - 38 casos relatados entre 1980 e 1995 - por ingestão voluntária de konaha (timbó, variedade vegetal largamente conhecida pelas populações indígenas sul-americanas).
Para os técnicos do governo federal, os missionários da Jocum são um "veneno lento e letal dos Suruwahá", que pode levá-los à extinção.
Diante de um risco tão iminente, questiona-se se o Estado brasileiro, tão lerdo e pesado quando se trata de defender os mais humildes e desprotegidos, vai esperar para agir com o rigor exigido quando mais nada houver a fazer.
De Chávez para Bush, com carinho
A Missão para a Revolução Energética, ONG inspirada e financiada pelo governo de Hugo Chávez, da Venezuela, lançou suas âncoras na terra do Tio Sam. Em 11 cidades norte-americanas, incluindo a capital, Washington, o projeto pretende distribuir 500 mil lâmpadas de baixo consumo de energia, para alcançar uma economia de US$ 15 milhões de dólares ao longo dos dez anos de vida útil destes equipamentos. O financiamento do trabalho vem do lucro obtido pelo país sul-americano com a venda, cada vez mais lucrativa, de suas reservas petrolíferas. Ironicamente, mais de 40% desse comércio tem como destino as bombas de gasolina do país que colocou Chávez no índex a ser combatido, neutralizado ou até aniquilado, através da utilização de todas as armas que estiverem disponíveis.
Se alguém achar que isso é um devaneio chavista, uma manobra propagandística como muitas que a mídia internacional faz questão de vincular à imagem do dirigente bolivariano, não custa ampliar um pouco a abordagem, procurando outros exemplos - menos ideológicos, por certo - da parceria que a Venezuela tem celebrado com países do chamado mundo desenvolvido. Encontrará um inusitado acordo que permite à poderosa Grã-Bretanha oferecer desconto no transporte coletivo a usuários de baixa renda em função da compra, por preço altamente subsidiado, de petróleo venezuelano, para ficar em apenas um dos muitos exemplos de cooperação existentes.
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Devastação S.A.
Trocas desiguais, ontem e hoje
Números trazidos hoje pela Folha de São Paulo dão bem a dimensão da tragédia embutida na prevalência do modelo exportador de commodities (agrícolas ou minerais, tanto faz). O país arca com os pesados ônus sociambientais de uma atividade no geral predatória e realizada sob enorme proteção tributária - não foi à toa que a antiga lei Kandir foi elevada à disposição constitucional já sob o governo Lula, desonerando pesadamente a exportação dos chamados semi-elaborados. E, apesar disso, o lucro e os empregos são gerados além-mar, fortalecendo as economias dos países compradores, com destacada liderança do insaciável parque fabril chinês.
De todos os trilhos ferroviários reformados ou implantados anualmente no Brasil, mais da metade vem das fábricas chinesas. O detalhe é que a matéria-prima utilizada pelos chineses - o minério de ferro - primeiro sai do Brasil, da província mineral de Carajás, no Pará, ou Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, atravessa 16.500 quilômetros de distância, atravessando oceanos, até retornar com um enorme valor agregado.
Para produzir uma tonelada de trilho que é vendida ao Brasil por US$ 850, as siderúrgicas chinesas precisam comprar quase duas toneladas de ferro, a um custo médio de US$ 144. Fazendo as contas, resta um "prejuízo" de mais de US$ 700 por tonelada de trilho, que é o preço que o Brasil paga por ter desmantelado seu parque siderúrgico em meio à privatização selvagem desencadeada desde o governo Collor. Para se ter idéia do tamanho do rombo basta citar que o Brasil deve investir na aquisição de trilhos, somente neste ano, algo superiora US$ 135 milhões, com previsão de dobrar este valor até o final de 2009. Ficamos com os buracos e com a miséria social em escala ampliada, enquanto os lucros e os postos de trabalho florescem no gigante asiático.
Sujeitos ocultos
Como o Página Crítica não é baú, aí vão as informações sonegadas: o IBOPE trabalhou a soldo dos Democratas (ex-PFL) e de sua candidata Valéria Pires Franco. E o mais rejeitado, ostentando sólida e absoluta liderança, é o atual prefeito Duciomar Costa, nada mais natural para quem está colhendo os frutos (amargos) de uma gestão ruinosa.
domingo, 20 de julho de 2008
A muleta para o novo gigante
Assim, a chamada supertele, com uma expectativa de atingir em cinco anos mais de 110 milhões de clientes, dos quais 38 milhões em celular e 22 milhões em telefonia fixa, espera fazer frente ao avanço das multinacionais TIM, América Móvil (Claro) e Telefónica, que hegemonizam as principais fatias de um mercado em ascensão. Mas, atenção: não dispensará o acesso fácil e subsidiado aos fundos públicos, repetindo exatamente os mesmos pecados que macularam o processo de privativação do sistema Telebrás há uma década, no segundo mandato de FHC, cujas ruidosas conseqüências são sentidas até hoje.
A terra dos sem-direitos
Com esses indicadores, custa crer que alguém ainda se espante com a crise social - e seu rescaldo de violência - que bate à nossa porta diariamente.
A casa caiu
Essas descobertas podem estar na raiz do nervosismo de uns e do mutismo de outros, atingindo transversalmente a elite política nacional e deixando sem dormir cabeças coroadas do tucanato e do petismo, além das já notórias reverberações no Poder Judiciário e na agitada e sempre dividida Polícia Federal.
Quem deve, teme. E é esse medo dos desdobramentos do inquérito policial ensejaram a operação abafa dos últimos dias.
sábado, 19 de julho de 2008
Um homem e seu pé de meia
Vejamos sua declaração de Imposto de Renda, referente ao ano-calendário 2001, anexada à sua candidatura de senador em 2002. Ele se apresentou como um homem de bens modestos, com patrimônio de apenas R$ 634.180,42, formado por duas casas na periferia de Belém, uma camioneta Sportage modelo 2001/2002, dois ônibus usados, dois velhos tratores CBT, ano 1982, um caminhão Chevrolet ano 1997 e 986 cabeças de gado, estas correspondendo a mais de 40% dos bens e direitos declarados à época.
Como num passe de mágica, o patrimônio do prefeito petebista deu um salto para R$ 1.795.191,15, com destaque para as cabeças de gado que agora alcançam o valor de R$ 792.000,00, além de aparecer, pela primeira vez, uma propriedade rural – no município de Tracuateua, no valor de R$ 150.000,00, provável destino de seu fabuloso rebanho.
Não menos surpreendente foi o notável incremento em todas as suas aplicações financeiras, multiplicadas várias vezes neste relativamente curto espaço de tempo, em que se imaginava que a principal ocupação de Duciomar era a política pública e não os domínios da iniciativa privada.
Patrimônio Pai D'Égua
Atestado de pilantropia
O pior é que a bandalheira recebe a chancela do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), conhecido por sua prodigalidade em matéria de proteger alguns espertalhões e seus impérios surgidos, como por milagre, a partir de organizações supostamente sem fins lucrativos.
Dialética de um encontro possível
Pro branco ser Madalena,
pro negro mamãe Oxum,
pro índio talvez Iara:
como as três raças, América".
Olga Savary, poetisa, tratudora, escritora paraense. Repertório Selvagem (Obra reunida, 1947-1998, Biblioteca Nacional/MultiMais/Universidade de Mogi das Cruzes, 1998, p.212).
sexta-feira, 18 de julho de 2008
O direito de duvidar
Eram, a princípio, seis usinas; nos anos 90 e mais recentemente falava-se em três barragens. E agora, como forma de facilitar a retomada e mesmo a agilização do tumultuado processo de licenciamento de Belo Monte, vem a decisão, chancelada nesta semana pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) de que apenas Belo Monte será construída.
Quase simultaneamente a este anúncio, o ministro Carlos Minc, sempre afeito à geração de factóides, divulgou a decisão de "decretar" o prazo máximo de 13 meses para a tramitação dos licenciamentos de grandes projetos no Ibama, alegando que a burocracia do órgão era um dos entraves que levava os processos a demorar, em média, dois anos de tramitação. Ora, o que impede a concessão das licenças no tempo exigido pelos empreendedores é uma conjugação nada inocente entre os flagrantes erros nos projetos e estudos e a contumaz disposição de atropelar os direitos legítimos das populações diretamente afetadas pelas obras, em especial os povos indígenas.
Essas verdades - de resto incontestáveis - não parecem servir às manobras midiáticas do apressado ministro.
Dos mais pobres, a parte do leão
Para não deixar dúvidas: o percentual da renda familiar aboncanhada pelos impostos no Brasil é de 48,9% para os que ganham até dois salários-mínimos. Já as famílias que percebem mais de 30 mínimos são mordidas em 26,3%, para uma carga tributária que não parou de crescer nos últimos 15 anos. Em 1991, era de 23,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Desde então, passando pelos oito anos de FHC e pelo primeiros cinco anos da era Lula, esse percentual alcançou, em 2007, quase 36% de tudo que é produzido no país.
Isonomia macabra
Um bom exemplo de como a Justiça pode ser completamente cega, quando está em jogo a perpetuação da impunidade dos crimes contra os pobres da terra.
quinta-feira, 17 de julho de 2008
O tombo da cowgirl
Na parte mais sensível
O argumento é simples: o mercado europeu oferece um prêmio de 10% ao comprar a soja não originária da transgenia, tornando o produto muito mais competitivo.
Apesar de tudo isso, sob as bênçãos do governo Lula, a produção de lavouras transgênicas não pára de crescer no Brasil, que expandiu o cultivo em 3,5 milhões de hectares entre 2006 e 2007, superando até mesmo o incremento havido nos Estados Unidos, de 3,1 milhões de hectares. Para a safra 2008/2009, a estimativa é o que país se torne o segundo neste tipo de agricultura, superando a Argentina.
Não é por outro motivo que a CNTBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) atropela sem a menor cerimônia o princípio da precaução para abrir caminho às polêmicas sementes alteradas em laboratório, como é o caso das últimas duas variedades de milho transgênico liberadas recentemente: a Guardian, da norte-americana Monsanto, e o Libertylink, da alemã Bayer.
Pânico na torre
quarta-feira, 16 de julho de 2008
Senhores de gados e de gentes
Dos 43 novos incorporados à lista, 13 são do Pará. Conheça quem são eles:
- Adelino Gomes de Freitas - Faz. Campelobo - Santana do Araguia (PA)
- Eliane Balestreri Oliveira - Faz. Vitória - Paragominas (PA)
- Enivaldo Canêdo - Faz. Santa Terezinha - São Félix do Xingu (PA)
- Herlon Pedro Pinto Ribeiro - Faz. Rio Branco - Rondon do Pará (PA)
- Humberto Eustáquio de Queiroz - Faz. Rio Grande - Itupiranga (PA)
- João Antônio de Farias - Faz. Minas Gerais - Ulianópolis (PA)
- Luiz Caetano da Silva - Faz. São José - Brejo Grande do Araguia (PA)
- Miguel Gomes Filho - Faz. do Miguelito - Itupiranga (PA)
- Nei Amâncio da Costa - Faz. Progresso São Félix do Xingu (PA)
- Nivaldo Barbosa de Brito - Fazenda Ladeirão - Pacajá (PA)
- Valdemar Rodrigues - Faz. Santa Rita - São Domingos do Araguaia (PA)
- Vicente Nicolodi - Fazenda Uruará - Uruará (PA)
- Weslei Lafaiette Guimarães - Carvoaria do Weslei - Goianésia do Pará (PA).
Não há vagas
My Beautiful Laundrette
Tudo se encaminharia para um final feliz caso não houvesse, como pedras pontiagudas no meio do caminho, persistentes e resolutos jovens integrantes do Poder Judiciário - o juiz e o promotor, ambos carregando sobrenomes que remetem à distante Itália de seus antepassados, berço de tantas máfias e também de magistrados de honra e mãos limpas - além uma equipe de policiais federais disposta afrontar o establishment da corporação.
Pois bem. O caso Daniel Dantas e de seu Opportunity pode dar em nada, ou quase nada. Ou, ainda, cedo ou tarde, pode destampar o caldeirão de imundices em que a elite brasileira está afundada até o pescoço.
Um dos fios que pode servir de estopim de um escândalo de proporções oceânicas é a lista de 84 pessoas físicas ou jurídicas que a PF julga ter pilhado em remessas ilegais para o Opportunity Fund, sediado nas paradisíacas Ilhas Cayman. Apesar de protegidas pelo sigilo, foi possível mapear a autoria de contas referentes a pouco mais de US$ 230 milhões dos quase US$ 2 bilhões movimentados pelo fundo entre 1992 e 2004. É dessa montanha de dados que podem surgir histórias escabrosas de sonegação fiscal e, sobretudo, de remessa e multiplicação de fortunas obtidas por meio de fraudes, corrupção ou até de atividades relacionadas com outros estamentos do amplo mundo do crime.
Mas, pelo andar da carruagem, tudo pode terminar em nada, ou quase nada.
terça-feira, 15 de julho de 2008
Leilão mal-assombrado
Os boizinhos-piratas vão esperar até a próxima segunda-feira, 21, para que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) faça uma nova tentativa de vender os lotes estimados em quase R$ 4 milhões.
O compadre-bomba
O marketing da empulhação
Ao contrário, precisa lavar sua imagem, apropriando-se para tanto do verniz da chamada responsabilidade ambiental. É o caso da Monsanto, multinacional norte-americana especializada na área de herbicidas e uma das líderes mundiais na produção e disseminação dos organismos geneticamente modificados, que promove, no Brasil, o Prêmio Agroambiental Monsanto, de "incentivo à criatividade e ao conhecimento para o desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável". Palavras empoladas, vazias de conteúdo, mas dotadas de um forte potencial de disseminar o véu da ilusão.
Resta saber se alguém ainda se ilude com o canto dessas sereias encharcadas de napalm.
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Do fogo para a frigideira
Mas não se imagine que os soldados tomarão o rumo do lar. Ao contrário, a movimentação de forças militares pretende fazer frente à intensificação da resistência afegã, que a cada dia cobra mais vidas de militares estadunidenses.
É nesse contexto de agravamento da guerrilha contra a presença dos Estados Unidos e de seus aliados da Otan (aliança militar do Ocidente) em território afegão, invadido desde 2001, que deve ser lido o mais recente atentado realizado pelo Taleban, neste final de semana, na Província de Kunar, que deixou nove militares norte-americanos mortos, no pior incidente registrado nos últimos três anos.
Contagem regressiva
Em Roraima, que espera há meses que o STF resolva de uma vez por todas o conflito na Terra Indígena Raposa/Serra do Sol, os bandos de pistoleiros arregimentados pelos arrozeiros continuam agindo, sob completa impunidade, espalhando o terror nas comunidades makuxi. Quem denuncia é o Conselho Indígena de Roraima (CIR), entidade que representa os interesses dos milhares de indígenas que reivindicam a demarcação da reserva em áreas contínuas e a desintrusão dos grandes proprietários que grilam suas terras ancestrais.
Na sexta-feira, 4, homens ligados ao fazendeiro Paulo César Quartiero, que lidera a resistência contra a demarcação, tomaram dois jovens indígenas como reféns e sob a ameaça de armas de fogo foram humilhados e ameaçados. Por pouco não ocorre mais uma matança, exatamente na mesma comunidade em que dez índios foram feridos a bala no início de maio, durante uma violenta desocupação de uma área da fazenda de Quartiero.
A denúncia e a exigência de providências por parte da Funai e da Polícia Federal estão sendo feitas pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que alerta para a crescente tensão social e étnica na região. Um barril de pólvora prestes a explodir, afirma a combativa organização da Igreja Católica.
Calma, pessoal. Tem para todo mundo
Por isso é apressado o diagnóstico que parte da imprensa busca fomentar, alvejando apenas a banda petista do esquema. Erigir o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalg e o ex-ministro José Dirceu como peças-chave de Daniel Dantas é uma rematada injustiça. Mensalão, tráfico de influência, acesso a informações privilegiadas, tudo e mais alguma coisa do mesmo jaez, fazem parte de um determinado modus operandi. Mas, atente-se, podem ser moeda divisionária, meros detalhes, de uma ação criminosa muito mais ampla e profunda. Que o diga o ex-presidente Fernando Henrique e toda a malta de tucanos da mais elevada estirpe, como o governador paulista José Serra, por exemplo, que durante anos cultivaram uma suspeita intimidade com Dantas e seu grupo de especuladores, que sem dúvida estão entre os principais beneficiários da razia que foi realizada contra o patrimônio nacional, a tristemente famosa privataria, que está na origem de tudo.
sábado, 12 de julho de 2008
Dum vivimus, vivamus
Na segunda-feira, 14, o Página Crítica retorna às atividades. Até lá.
Negócios de risco
Saiu do caixa da multinacional, que aparece freqüentemente como objeto do desejo da Vale, sempre em busca de novas aquisições no mercado internacional, a quantia de US$ 5,5 bilhões por quase metade da MMX. Dentro do pacote, as operações de Eike Batista no Amapá, que podem se transformar no mico do século.
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Uma coleira para Eike
Filho de Eliezer Batista, o czar da Vale do Rio Doce durante os anos do milagre brasileiro, em pleno regime militar, Eike tem uma trajetória pontuada por uma postura sempre agressiva e polêmica. Por trás da aparente fórmula do sucesso empresarial, sabe-se agora, que se escondia o mesmo vício patrimonialista, fonte propulsora da corrupção endêmica que corrói a sociedade brasileira.
Uma lei sem-vergonha
O nome da rosa
Como no célebre poema de Vinícius de Moraes, é uma rosa "sem cor e sem perfume", mas incrivelmente blindada por uma imprensa que está permanentemente à venda.
quinta-feira, 10 de julho de 2008
O mundo fora dos autos
Diante da nova prisão de Dantas, decretada pela Justiça Federal paulista poucas horas depois e agora em caráter preventivo, aguarda-se para qualquer momento um novo despacho do célere ministro, cujo forte apego à defesa das liberdades individuais não havia se manifestado explicitamente, mesmo depois de seis anos de permanência da mais alta corte do País. Também não é mesmo todo dia que as celas da PF ficam repletas de tantas figuras de colarinhos impecavelmente alvos e engomados.
Barriga de Aluguel
Vespertinas
quarta-feira, 9 de julho de 2008
Eles têm a força
O vôo da águia
Para os que ainda tomam esse fato como uma espécie de lenda ou fruto da paranóia antiimperialista, recomenda-se não esquecer que em 2005 o parlamento paraguaio autorizou o ingresso e movimentação em seu território de tropas norte-americanas, assim como, em um ato humilhante, outorgou-lhes completa imunidade penal, algo semelhante ao regime que as forças de ocupação gozam no Iraque e Afeganistão.
Pânico no andar de cima
terça-feira, 8 de julho de 2008
Antes tarde do que nunca
Caso decida afrontar a lei, Duciomar deverá pagar uma multa diária de R$ 15.961,50. Uma quantia modesta diante do estupro aos mais básicos princípios da moralidade que a gestão petebista executa na capital paraense, há anos, sob espantosa impunidade.
No beco escuro explode a violência
Resumo da ópera: um policial militar levemente ferido e 11 sem-terra com ferimentos variados, depois que a tropa investiu sobre os manifestantes disparando balas de borracha e detonando seu conhecido arsenal anti-motim.
Por mais que os estrategistas palacianos tentem ocultar, repetindo à exaustão seus slogans de propaganda, o Pará real ferve sob fogo alto. Essas chamas, insufladas por uma crise social profunda e crescente, não serão domadas a patadas ou através de uma pretensamente esperta combinação de mordidas e assopros.
Tantos relatos. Tantas perguntas
Era preciso dar uma lição aos resistentes, que afirmasse de uma vez por todas a supremacia dos invasores. O meio escolhido foi mandar prender 24 dos principais líderes indígenas e que decretar que fossem mortos sem demora. Mas não uma morte qualquer. Uma morte que servisse de exemplo, atroz e definitivo.
O que terão pensado os jovens guerreiros, encobertos pela vegetação, ao ver seus líderes com os pés amarrados a duas canoas e, um a um, cruelmente despedaçados quando os remeiros impulsionavam-nas em direções opostas?
Tantas perguntas terão feito aqueles que, apesar do horror, não tardaram a realizar novos e infrutíferos ataques contra os homens de bombardas e arcabuzes, até que não houvesse mais condições de resistir ali e os sobreviventes se embrenhassem na floresta, fugindo para bem longe, descendo os braços do rio-mar em busca da terra sem-males.
Como lembrou Bertold Brecht, ao encerrar seu poema "Quem construiu Tebas de sete portas?", são tantos relatos, tantas perguntas, para tentar rasgar o inescrupuloso manto de silêncio que faz da história da humanidade uma sucessão de fatos heróicos a partir do olhar exclusivo dos vencedores. Mas, incrivelmente, as pegadas dos tubinambá e seus gritos de guerra estão aí para quem tiver capacidade para perceber. Basta olhar e ouvir com atenção e zelo para descobrir que os vencidos de ontem não pararam jamais de caminhar.
segunda-feira, 7 de julho de 2008
A sombra do passado
Um calafrio percorre a espinha da alta tucanada: na medida em que avançam as investigações na Suíça sobre o propinoduto da Alston é maior o temor de que novas revelações venham manchar a memória de Mário Covas, tido como exemplo de moralidade administrativa. Pois foi principalmente em seu governo (1995-2001) que as transações suspeitas foram realizadas e que milhões de dólares vieram irrigar campanhas políticas do PSDB. Dentre outras, dinheiro sujo teria circulado pelas contas da campanha de reeleição de FHC em 1998. O pior é que não há absolutamente nada a fazer senão torcer para que o vento mude de rumo e que os maus presságios se dispersem sem prejudicar as claudicantes campanhas do partido, em especial na capital paulista onde Geraldo Alckmin purga os pecados da espalhafatosa divisão da legenda.
Mentir faz mal à saúde
As quatro páginas de propaganda paga - muito bem paga, por sinal - pelo governo do Estado no Diário do Pará de ontem devem ser debitadas a um determinado tipo de vale-tudo, onde o interesse público é substituído pelo esperto jogo de palavras a serviço de justificar o injustificável.
Se tudo que é dito no encarte for verdade, estaremos diante de uma contradição insolúvel: como explicar tantas mortes - cerca de 30 em pouco mais de uma quinzena - em um hospital público com padrão de atendimento de primeiríssimo mundo, com "um médico e uma enfermeira para cada dez bebês e um técnico de enfermagem para cada dois recém-nascidos"?
O texto também é uma expressa desautorização das reiteradas entrevistas da secretária de Saúde, Laura Rossetti, barbalhista de quatro costados, que anunciou um déficit de, pelo menos, 70 de médicos e de outros profissionais na Santa Casa, além de reconhecer a necessidade de habilitar maior quantidade de leitos de UTI neonatal, tanto em Belém como no interior.
Definitivamente, o governo Ana Júlia (PT) é incapaz de lidar com as crises que batem à sua porta, expressão de um Estado fraturado e profundamente injusto. É essa crise social - renitente e a cada dia mais dramática - que não dará tréguas, mesmo que se tente encobrir o firmamento com um gigantesco guarda-sol da publicidade cotada a peso de ouro.
Dialética do jeitinho brasileiro de construir uma nação
Secretaria da Capitania do Grão Pará, Códice.554, Documento.308".
Anais do Arquivo Público do Pará, Volume 2, Tomo 1, 1996, SECULT/PA.
sábado, 5 de julho de 2008
Um silêncio ensurdecedor
Diante do retorno da conexão ainda em velocidade de dar inveja aos quelônios, resta a opção de decretar já o recesso de fim de semana.
Segunda-feira, 7, o Página Crítica retorna ao ritmo costumeiro. Bom domingo a todos.
Os números do escândalo
Os números são do Greenpeace e ilustram artigo publicado em sua última revista trimestral (janeiro, fevereiro e março), cujos trechos principais podem ser lidos no síte da ONG ambientalista (www.greenpeace.org/brasil/).
Colômbia em tempos de cólera
Aliás, existe mesmo na Colômbia uma fortíssima presença dos cartéis da droga, que abastecem o mercado de consumidores nos Estados Unidos. Essas máfias se articulam com os grupos paramilitares de extrema direita, criados nas últimas décadas pelos grandes proprietários do campo para fazer frente ao crescimento da influência das Farc e ELN, principalmente. Alvaro Uribe e sua família têm tudo a ver com isso.
Por outro lado, setores da guerrilha foram criando relações de promiscuidade com os narcotraficantes; primeiro, através da cobrança de uma espécie de "imposto"; depois, num esquema de proteção às atividades ilegais que se desenvolvem nas chamadas zonas liberadas no interior do país. Note-se que esse tipo de desvio cedo ou tarde cobra um pesado preço, desmoralizando uma luta por justiça social que se prolonga há décadas.
Por isso, é fundamental lançar um olhar mais amplo e crítico sobre o problema, evitando os estereótipos e a simples repetição dos chavões da imprensa conservadora.
Fala, Cacciola, fala
Aliás, faria um grande serviço se, na condição de apenado a 13 anos de prisão, Cacciola revelasse tudo que sabe sobre os subterrâneos do Banco Central, sob a gestão FHC, quando transitava com desenvoltura suficiente para transferir ao Tesouro Nacional o prejuízo de seus negócios privados. Como era impossível fazer tudo sozinho, a revelação de seus comparsas localizados em todos os andares do sistema financeira nacional poderia ser de grande utilidade. E, também, de boa fonte de dor de cabeça para alguns cidadãos que se julgam acima de qualquer suspeita.
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Yes, tem gringo na batucada
Uribe, que há semanas enfrentava sua maior crise a partir da eclosão do escândalo da compra de votos que garantiram sua reeleição (qualquer semelhança com o segundo mandato de FHC e com o mensalão de Lula não são meras coincidências), pode agora respirar aliviado. Virou um ícone de um determinado tipo de líder latino-americano cuja estatura não ultrapassa os limites dos rodapés do Salão Oval em Washington.
A mina de ouro da preservação
Rotos e esfarrapados
Soa demagógico quando os tucanos buscam surfar sobre a crise, como se lá, em meio à dor das famílias, não estivessem também suas delicadas digitais.
Assim como, para Ana Júlia e seu governo de pseudo-mudança, esta crise, somada a todas as outras que vêm se repetindo mês a mês, revela que entre a propalada intenção e o efetivo gesto existe um abismo. Que não pára de crescer na mesma medida em que se aprofunda sua escolha de ser apenas a repetição – com nuances e sotaques irrelevantes – do velho e carcomido modo direitista de governar.
quinta-feira, 3 de julho de 2008
A maldade por trás do besteirol
A Amazônia não pode ser "uma coleção de árvores" para estrangeiros, muito menos uma "reserva ambiental absoluta", o que só seria possível com a morte de seus 21 milhões de habitantes. Quem imaginou que essas idéias estapafúrdias teriam saído da cabeça de algum líder da bancada ruralista, acometido de repentino ataque de hidrofobia, está completamente equivocado. Essas pérolas foram expelidas pelo ministro Nelson Jobim (Justiça) ao defender a militarização das fronteiras, como resposta a suposta ameaça representada pela demarcação em terras contínuas da Reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima.
É evidente que os fantasmas que o ministro ataca - quem, afinal, defende algo parecido com uma "reserva ambiental absoluta"? - servem apenas para criar o contexto para a reiterada investida contra os direitos dos povos indígenas e influenciar a decisão que o Supremo Tribunal Federal (STF) promete para o próximo agosto. Sim, serve de senha para que a frente de devastação continue avançando, atropelando tudo e todos que se coloquem em seu caminho, como se sua ação predatória fosse condição para a manutenção da soberania nacional.
Atualização das 12:15:
Um ato falho do redator deste Blog trocou a pasta de Nelson Jobim. Ele é, na verdade, ministro da Defesa e não da Justiça, posto que ocupou durante o primeiro mandato de FHC.
Sem eira nem beira
Como sintoma do total fracasso do que nasceu como promessa de independência e de caminho próprio, o bloquinho foi retirando uma a uma suas candidaturas que incomodavam o PT, até ficar restrito a apenas uma capital, Aracaju, onde tentará reeleger Edvaldo Nogueira, do PCdoB, que assumiu o cargo depois que o petista Marcelo Deda conquistou o governo sergipano em 2006.
Lei de Talião
Ontem, por exemplo, um trabalhador palestino, residente em Jerusalém Oriental ocupada por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, teve um acesso de fúria. Pilotando uma retro-escavadeira, ele investiu violentamente contra ônibus e veículos de passeio em uma movimentada avenida daquela cidade, patrimônio cultural da humanidade. O resultado sangrento foi a morte de três civis e o ferimento em outras 40 pessoas. O atacante foi sumariamente morto pela polícia, à vista de todos e sob as câmeras de equipes de TV. Pois bem, o governo israelense já anunciou que, muita embora não esteja comprovada a motivação política para o atentado, considerará o fato como terrorismo. Em conseqüência, a casa da família do rapaz será demolida, como determina a lei em Israel. Isso mesmo, em pleno século XXI, a “única democracia do Oriente Médio”, pratica a retaliação contra familiares de um criminoso, na mais evidente e degradante manifestação da milenar e execrável "olho por olho, dente por dente".
Que ninguém se assuste quando a espiral de violência e sangue voltar a explodir em Israel e na Palestina ocupada, tornando uma quimera o frágil cessar fogo recentemente conquistado com o beligerante Hamas.
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Plantando deserto
Predadores em pânico
Dura Lex
Eis aí um bom tema para o Ministério Público Eleitoral analisar com rapidez, antes que se consume o estupro de inocentes atas partidárias.
terça-feira, 1 de julho de 2008
Mal na foto
O grilo da Vale
Se for levado às últimas conseqüências, o processo pode levar à suspensão do projeto de US$ 2,2 bilhões. Não há, porém, quem acredite que o governo Lula seja capaz de fazer valer a lei quando interesses tão fabulosos estão em jogo.
O exemplo que vem dos Andes
Contreras está preso e já havia sido condenado a 70 anos de prisão por outros crimes cometidos durante o período em que comandou, com descomunal selvageria, a Direção Nacional de Inteligência (Dina), órgão responsável pela execução de, pelo menos, 3.000 dissidentes políticos a partir da deposição, em 11 de setembro de 1973, do presidente constitucional Salvador Allende.
Espelho invertido
Foi o que fez a maioria da Assembléia Legislativa sob o comando do governador paulista José Serra (PSDB), que ontem arquivou a CPI da Eletropaulo sem encontrar qualquer irregularidade. Uma façanha diante das denúncias, reiteradas pela imprensa e fartamente amparadas em documentos oficiais da Justiça suíça, comprovando o milionário propinoduto montado pela multinacional francesa Alston, grande fornecedora de equipamentos para o setor elétrico e de transportes, no período entre 1997 (Covas) a 2003 (Alckmin).