quinta-feira, 31 de julho de 2008

Por baixo dos panos

Emergiu, nos últimos dias, por trás das manobras diversionistas de praxe, a questão do prometido aumento da tarifa de ônibus urbano em Belém, prometido muito convenientemente para sair somente depois que o último voto, no eventual segundo turno, for computado.
O enredo não chega a ser original. Os empresários derramam lágrimas de sangue, alegando não ter mais como sustentar o sistema - cada vez mais caótico e canibalizado -, enquanto a Prefeitura faz de conta que o assunto não lhe diz respeito. Enquanto isso, longe dos holofotes e do olhar curioso da opinião pública, vai se desenhando os termos, envolvendo custos, condições e partilhas, de um tarifaço de enorme impacto sobre o combalido orçamento da grande maioria da população.
Logo logo, algumas línguas venenosas, por pura maldade, começarão a insinuar que tudo pode terminar em festa. Para uns poucos, é claro.

Oh, abre alas!

O Grêmio Recreativo dos Unidos da Grilagem pede passagem. Em nota pública, publicada nos jornais paraenses de hoje, a Federação da Agricultura, sindicatos rurais e outros congêneres cerraram fileiras na defesa da Agropecuária Santa Bárbara Xinguara S/A, da quadrilha de Daniel Dantas.
A nota cobre de elogios um empreendimento suspeito da prática de vários crimes, da grilagem de terras públicas até a lavagem de dinheiro através da compra, em larguíssima escala, de ativos no campo paraense. Em poucos mais de dois anos, o grupo Opportunity já se diz dono de 500 mil hectares e de um rebanho de meio milhão de cabeças. Coroados como os novos reis do gado, podem contar com uma tropa de fiéis vassalos, dispostos a defender a perpetuação dos crimes cometidos contra o patrimônio público.

Um ciclo sem virtude

O governo Lula acaba de anunciar, sob intenso foguetório, que atingiu no primeiro semestre um superávit primário de R$ 86, 12 bilhões, correspondente a 6,19% do PIB (Produto Interno Bruto). Um recorde, afirmam os técnicos do Banco Central.
Mas, logo vem a revelação da outra face da moeda: no mesmo período, o gasto da União, Estados e municípios para o pagamento da dívida pública interna também bateu todos os recordes, suplantando em quase dois bilhões o esforço fiscal realizado. Foram cair nos alforjes dos banqueiros, rentistas e especuladores nada menos do que R$ 88,03 bilhões, o maior valor desde 1991.
E, como era de se esperar, eles ainda estão famintos e torcem para que a política de elevação dos juros, retomada com vigor por seu maior representante, o banqueiro Henrique Meireles, prossiga nos próximos meses.
Só muita cara de pau para, em paralelo, o presidente Lula continuar insistindo no surrado argumento de que o financiamento da saúde entrará em colapso se o Congresso não se ajoelhar, penitente, recriando até dezembro a antiga CPMF, agora sob novo nome - CSS - mas sem perder o travo amargo do embuste político.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

Palavras de Fogo

Para além da luta fratricida que consome militantes petistas entrincheirados no governo de Ana Julia, uma frase escrita por Charles Alcântara, ex-chefe da Casa Civil e agora ativo integrante da blogosfera, deveria despertar a atenção de uma seleta audiência. Diz ele que o governo petista “não é meio para enriquecer uns e conferir prestígio a outros”. Pois bem: o distinto público tem o direito de saber quem são esses “uns” que utilizam o governo para enriquecer.
Perdida na selva de centenas de palavras flamejantes, eis aí uma declaração que estar por merecer uma atenção especial, muitíssimo especial, por parte de quem possui, por dever funcional e por imperativo de consciência, a obrigação de proteger o patrimônio público e os direitos da sociedade paraense.

Um prêmio à traição

José Anselmo dos Santos não é um homem qualquer. Sob seus ombros repousa a responsabilidade direta pelo extermínio de dezenas de militantes políticos durante o regime militar. Cabo Anselmo, como ficou conhecido, foi um traidor. Em circunstâncias nunca totalmente esclarecidas, ele "trocou de lado", tornando-se um infiltrado nas organizações da resistência armada. Um "cachorro", no jargão das forças repressivas.
Agora, tantos anos depois, através de seus advogados, ele demanda junto à Comissão de Anistia, em Brasília, o suposto direito à "indenização" em decorrência das "perseguições" que teria sofrido durante a ditadura.
Em 1984, ao lendário repórter Octávio Ribeiro, o Peninha, Anselmo concedeu uma antológica entrevista à revista Isto É. Nela, ele revelou estar vivendo sob nome falso e com o rosto modificado por cirurgias plásticas. Perguntado quantas pessoas teriam morrido em função de seu trabalho como delator, Anselmo respondeu: "Umas cem, duzentas". Dormia tranqüilo apesar disso? Ele foi direto: "Absolutamente. Durmo com a consciência tranqüila. Se fosse necessário, faria tudo outra vez.".
Entre suas vítimas estão militantes experientes - alguns ex-militares como ele e quadros da luta armada que haviam recebido treinamento militar em Cuba. Muitos foram presos com vida e depois supliciados até a morte em prisões oficiais ou em campos clandestinos de extermínio. Para não deixar dúvida sobre o caráter criminoso desse personagem, é sempre conveniente lembrar que ele não hesitou sequer em entregar para a morte sua própria namorada, a paraguaia Soledad Barret Viedma, que à época estava grávida de quatro meses. Segundo relatos de sobreviventes, o corpo de Soledad foi colocado dentro de um barril metálico, nu e encharcado em seu próprio sangue. Ela e mais cinco guerrilheiros morreram na chacina da Chácara São Bento, na periferia de Recife, em 1973.
Somente a pressão das entidades de direitos humanos e das ONGs que representam os familiares dos mortos e desaparecidos poderá impedir a consumação dessa ignomínia.

Lombroso está vivo e passeia pelas ladeiras cariocas

Vejamos esta afirmação: os criminosos do Rio de Janeiro trazem do "ventre da mãe" a cultura da violência. Esta opinião já seria motivo para escândalo pelo racismo que poreja, mas alcança níveis inimagináveis de escárnio quando proferida pela autoridade que ocupa o ápice da pirâmide de segurança do Estado, o delegado José Mariano Beltrame.
A cidade do Rio de Janeiro, em guerra civil não-declarada, com milhares de vítimas todos os anos, não merece assistir a ressurreição das teorias do "criminoso nato", arrancadas das trevas do século XIX para tentar justificar o mais completo fracasso no combate às causas reais - e, portanto, profundas e históricas - que explicam o banho de sangue que mancha diariamente a paisagem carioca.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Dialética do mundo e seus múltiplos espelhos

"(...) Para poder fazer o mundo a minha imagem, foi preciso me converter eu mesmo no mundo, e me descobrindo com ele, oferecido, aberto. Passo por cima do mundo com cada um que passa por cima de mim. No grande espelho do amor o mundo e eu nos contemplamos, surpresos, cada um com a máscara do outro, tratando de ler nessa inversão multiplicada como um palimpsesto impossível."

Juan José Saer (1937-2005), escritor e ensaísta argentino. El Espejo (Cuentos Completos - 1957-2000, p. 198-199, Seix Barral, 2001)

Uma oportunidade de ouro

Esta aí a chance que faltava: se quiser, o governo do Estado pode iniciar pelas terras do Opportunity a devassa fundiária capaz de revelar como, ao logo das décadas, o patrimônio público engordou fortunas pelo Pará afora, impunemente. Se quiser de verdade, tomando as medidas com a profundidade e zelo exigidas. O que significa escolher um dos lados dessa sangrenta disputa territorial, que opõe o latifúndio e o moderno agronegócio, de um lado, e a massa informe de despossuídos, no limite do desespero e da revolta surda, de outro. É pegar ou largar.

Podem esperar que ela vem aí

O Ministério da Saúde adverte: 2009 será o ano da dengue, com o provável alastramento de uma epidemia em escala nacional, expandindo para, pelo menos, 14 Estados a tragédia vivenciada pelo Rio de Janeiro neste verão. E vejam quem está muito bem posicionado na lista macabra: o Pará e seu sistema de prevenção em frangalhos.

Grampolândia

Para cada grampo autorizado pela Justiça, pelo menos três são realizados ilegalmente no país. Em 2007, segundo estimativa da CPI das Escutas Telefônicas, 1.250.000 linhas foram xeretadas em todo o Brasil, a enorme maioria alimentando um lucrativo mercado paralelo da espionagem.

segunda-feira, 28 de julho de 2008

Be-a-bá

Acossado por uma incorrigível mania de engolir os "s" finais das palavras, entre outros pecados contra a última flor do Lácio, tem candidato a prefeito de Belém obrigado a recorrer à ajuda especializada, antes que tais subtrações se reflitam na contabilidade eleitoral. Lá nas terras de além-mar, essa disciplina médica recebe o nome de Terapia da Fala. Ou, como chamamos aqui sob os trópicos, Fonoaudiologia.

Todos os homens do presidente

Com a diminuição gradativa da exploração midiática em escala global da controvertida operação que libertou Ingrid Betancourt e uma dezena de outros reféns das Farc, começa a vir à tona o lado tenebroso do governo do direitista Álvaro Uribe, na Colômbia. As agências internacionais de notícia veicularam neste final de semana, por exemplo, a prisão do senador Carlos García, principal líder do Partido da Unidade Social Nacional, por ordem da Suprema Corte colombiana, que investiga a relação de políticos com os paramilitares, acusados do assassinato de milhares de pessoas nos últimos anos.
Com a prisão de García, que era o maior defensor do terceiro mandato para Uribe, já são 31 políticos detidos por envolvimento com os "paras", algo como 10% dos membros do Congresso Nacional, que se somam a outros 10% processados por diversos crimes, sempre relacionados com os métodos criminosos das antigas (e, aparentemente, desmobilizadas) Autodefesas Unidas da Colômbia (AUC). Milícias criadas originalmente para combater as guerrilhas de esquerda, mas que logo se conformaram em braço armado do narcotráfico e da chamada narcopolítica, os “paras” são responsáveis por um banho de sangue sem fim, que agora se volta contra ex-integrantes desses mesmos bandos. Organizações de direitos humanos reportam o assassinato de, pelo menos, 819 ex-"paras", de 2006 para cá, em supostas pugnas internas ou simples acertos de contas.
Por tudo isso, guardar distância e Álvaro Uribe deveria ser um procedimento padrão, recomendável para os que não queiram macular de maneira definitiva suas biografias presidenciais no atual quadro político sul-americano.

Dados viciados

A trinca formada pelas gigantes Andrade Gutierrez, Camargo Correa e Norberto Odebrecht é pule de dez para ganhar a "concorrência" para a futura - e ainda incerta - construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Xingu paraense, consumindo uma verba que inicialmente prevista para R$ 7 bilhões poderá tranqüilamente romper e ultrapassar em muito essa estimativa, como já é costume nas grandes obras de construção no setor elétrico.
É que coube a elas, por decisão unilateral da Eletrobrás, sem licitação, elaborar o EIA-Rima, em processo que continua sob bombardeio cerrado do Ministério Público Federal (MPF). De posse de informações estratégicas, não será difícil para esse futuro consórcio superar os eventuais outros concorrentes quando for aberto o leilão para a escolha dos construtores da obra. Cartas marcadas e devidamente enlameadas pela relação promíscua entre os interesses privados (de sempre) e os dóceis administradores da maltratada coisa pública.

sábado, 26 de julho de 2008

Drop out

Aproveitem o restinho do final de semana. Na segunda, sem falta, o Página Crítica estará de volta com postagens e moderação dos comentários. Até lá.

sexta-feira, 25 de julho de 2008

Senso de Oportunidade

Perto de mil integrantes do Movimento dos Sem Terra (MST) ocuparam na manhã de hoje a fazenda Maria Bonita, em Xinguara, sudeste do Pará. Seria apenas mais uma das tantas ações para lembrar a passagem do 25 de julho, Dia do Trabalhador Rural, não fosse a pretensa proprietária da área uma das empresas integrantes do grupo Opportunity, do encalacrado Daniel Dantas. A fazenda integra um enorme latifúndio de 28 mil hectares, hoje sob o mando da Agropecuária Santa Bárbara, controlada por Carlos Rodenburg, ex-cunhado de Dantas, que é detentora de um dos maiores rebanhos do Brasil, com 500 mil cabeças, mas que até 2005 pertencia a Benedito Mutran Filho, um dos remanescentes do clã que durante décadas dominou a região do entorno de Marabá, utilizando-se de métodos particularmente violentos e sempre através da apropriação ilegal de extensas áreas públicas no antigo Polígono dos Castanhais.
A suspeita de que, pelo menos, parte da Santa Bárbara - integrada a partir da junção das antigas fazendas Maria Bonita, Espírito Santo e Cedro -, seria formada por terras aforadas pelo Estado exclusivamente para fins de colonização ou de extrativismo, e ilegalmente vendida ao Opportunity, serve agora de argumento para a ação dos sem terra, que se declaram dispostos a resistir até que o Incra e o governo do Estado revertam a propriedade para o assentamento de centenas de famílias que estão, há anos, acampadas na região na espera de uma cada dia mais improvável Reforma Agrária.

Butantan

Sutil como um elefante numa sala de cristal, dizendo mais nas entrelinhas que nas linhas inteiras, a carta aberta do advogado Manoel Aroucha, ex-diretor geral e agora demissionário da diretoria de Planejamento da Secretaria de Estado de Transportes, publicada como matéria paga em O Liberal de hoje, dá a exata medida do clima, algo irrespirável, na ferrenha guerra por posições inter e intra correntes do PT.

"Hoje - diz o advogado e militante petista - tenho clareza que o que podia fazer já fiz e não há mais a contribuir, ou, pelo menos, pra quem contribuir", buscando consolidar a sua versão do lento e delicado processo de fritura que sofreu durante meses. Comenta-se, entretanto, que na origem de tudo não estaria exatamente a alegada qualidade profissional e política do que já foi o homem forte numa das principais secretarias do governo Ana Julia.

Bodas do Chacal

Um homem que tenha passado à história como a "Hiena de La Perla" ou simplesmente como "Cachorro", de certo tem muitas contas a pagar, não podendo sua idade avançada, 81 anos, servir de anteparo aos caminhos da Justiça. Pelo menos na vizinha Argentina, embora com décadas de atraso, começa-se a punir, com o rigor devido, os que afogaram o país em sangue durante o último regime militar (1976-1983). Luciano Menéndez, ex-general e comandante à época do Terceiro Corpo do Exército, responsável pelo controle e repressão nas províncias do centro e noroeste argentino, acaba de ser condenado à prisão perpétua pela tortura e assassinato de quatro militantes políticos, massacrados em "La Perla", um dos três principais centros clandestinos de tortura e execução nos anos de chumbo.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

Gênesis

Descobre-se o elo perdido, a ponte que une as duas mais reluzentes fortunas do capitalismo brasileiro. Eike Batista e Daniel Dantas têm mais coisas em comum do que imaginam os pobres mortais excluídos das manhas e tramas do mercado das altas finanças. Segundo revelou a Folha de São Paulo de hoje, citando fontes da PF, a MMX Mineração e metálicos, a holding que alavancou a carreira bilionária de Batista, surgiu de uma costela do Opportunity, através da aquisição em 2005, por R$ 461 mil, de uma empresa de papel, a Tressem Participações, que funcionava no 280 andar do prédio do banco, no Rio de Janeiro. Em poucos anos, estava criado um império de bilhões de dólares, sempre envolto nas névoas da suspeita. Bem Brasil, portanto.

Diplomacia pendular

De dia, ataques acerbos à recente retomada, após 60 anos, das atividades da Quarta Frota norte-americana na América Latina.
À noite, sob as bênçãos do Departamento de Estado e em meio a confetes e serpetinas, um navio da Marinha brasileira ganha o status de convidado especial para os jogos de guerra que as Forças Armadas estadunidenses realizam nesta semana. Os nomes das operações não poderiam mesmo ser mais sugestivos: "Operation Brimstone" (operação enxofre) e "Operation Red Flag" (operação bandeira vermelha); a primeira altamente evocativa dos propósitos do governo Bush e a última que revela o flerte com o redivivo - pelos menos nas alucinantes maquetes dos neocons - mundo bipolarizado dos tempos da Guerra Fria.

Claro Enigma

O milagre pode ser revelado, mas o santo deve permanecer, pelo menos por enquanto, sob o véu protetor do anonimato. Ele, o diligente (ex) ordenador de um dos nacos mais suculentos do orçamento estadual. Ela, uma empresa com nome que remete a antigas brincadeiras infantis. Entre os dois a solução de um problema de moradia que pode ainda dar muito panos para mangas.

O senhor e seus anéis

Do alto de pretensas "razões técnicas", veio o alerta: a decisão de não construir as demais três usinas à montante do rio Xingu, reduzindo a capacidade do Complexo Belo Monte, foi "essencialmente política", numa típica manobra para "dar os anéis e preservar os dedos". O autor das frases que pecam pela sinceridade, ou pelo cinismo, a depender do ponto de vista, é o diretor-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), Jerson Kelman.
O que ele não disse, porém, é o mais importante. Por trás da decisão do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), desde logo passível de revisão a qualquer tempo, esconde-se a velada intenção de reduzir o alcance dos estudos de impacto ambiental, apressando os trâmites de concessão das licenças pelos órgãos do governo, na exata contramão do que exigem os procuradores federais e as comunidades diretamente envolvidas nessa longa e desgastante polêmica.
Na prática, se for exitosa a manobra, os anéis prometidos em garantia poderão ser perfeitamente recuperados quando Belo Monte for uma realidade tão incontrastável que tudo mais não passará de "jus esperniandi".

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Caixa Seletivo

A conclusão do prolongamento da avenida Primeiro de Dezembro e a implantação do Binário, duas das mais propaladas obras da atual administração de Belém, estão devagar, devagar, quase parando. A empreiteira responsável, Estacon S.A, que é a maior do Pará e uma das 20 maiores do país, alega que há muito não vê a cor do dinheiro.
Muito mais sortuda é a Belém Ambiental (BA), empresa novata que não esconde suas relações carnais com o prefeito e candidato à reeleição Duciomar Costa (PTB). Dirigida por um ex-assessor dele no Senado e na própria Prefeitura, a BA trabalha a todo vapor em diversas frentes, que se multiplicam sem o menor planejamento. Ou melhor, algum cálculo deve mesmo estar por trás dessa súbita, e igualmente suspeita expansão no mundo dos negócios.

terça-feira, 22 de julho de 2008

Grande irmão

No rastro da Operação Satiagraha, com sua pertinaz perseguição à quadrilha multibilionária de Daniel Dantas, ficaram muitas dúvidas e algumas poucas certezas. Dentre estas, a de que não existem quaisquer mecanismos de comunicação - telefônica ou telemática - capazes de escapar à teia do poderoso aparelho de espionagem oficial. No grampo da PF foram flagradas conversas por telefone fixo, celular, troca de e-mails, mensagens instantâneas (torpedos) e até o popular Skype caiu na rede dos federais.

Perigo real e imediato

O discurso xenófobo que identifica nas ONGs estrangeiras uma ameaça à soberania nacional, ao transmitir um alarmismo exagerado e despido de fundamento acaba trazendo como subproduto que se releve a existência de alguns casos de atuação deletéria de determinadas entidades na Amazônia. Muito embora estejam longe de representar um risco à integridade territorial brasileira, certos grupos podem sim contribuir decisivamente para o desaparecimento de povos que se encontram em situação de vulnerabilidade extrema. É o que acontece com algumas etnias isoladas ou que convivem sob fortíssimo cerco das frentes de devastação, como os Suruwahá (Zuruahã, Soroaha ou Jokihidawa), povo que habita a região entre os rios Purus e Juruá, na margem direita do Amazonas, nas proximidades da cidade de Labréa (AM).
Segundo denúncias da Funai, a presença entre os indígenas de uma missão norte-americana denominada Jocum (Jovens com uma missão), tem contribuído para a desestruturação da vida social e cultural da tribo, agravando a situação de cerco a que estão submetidos. Como conseqüência, aumentou muito no último período o número de suicídios, um traço que já faz parte da cultura e da complexa cosmologia desse povo, que segundo estudos antropológicos valoriza entre os jovens a noção de recusa e de certo desprezo à velhice e à decadência física. Daí a grande quantidade de suicídios - 38 casos relatados entre 1980 e 1995 - por ingestão voluntária de konaha (timbó, variedade vegetal largamente conhecida pelas populações indígenas sul-americanas).
Para os técnicos do governo federal, os missionários da Jocum são um "veneno lento e letal dos Suruwahá", que pode levá-los à extinção.
Diante de um risco tão iminente, questiona-se se o Estado brasileiro, tão lerdo e pesado quando se trata de defender os mais humildes e desprotegidos, vai esperar para agir com o rigor exigido quando mais nada houver a fazer.

De Chávez para Bush, com carinho

Imaginem um programa social focado nas milhares e milhares de famílias que vivem na indigência nos... Estados Unidos. Isso mesmo, no coração do país mais rico do planeta. E não se trata de uma mera demonstração propagandística, como alegam seus mais acerbos críticos. Tem alcance e, talvez, eficácia social a ser devidamente comprovada.
A Missão para a Revolução Energética, ONG inspirada e financiada pelo governo de Hugo Chávez, da Venezuela, lançou suas âncoras na terra do Tio Sam. Em 11 cidades norte-americanas, incluindo a capital, Washington, o projeto pretende distribuir 500 mil lâmpadas de baixo consumo de energia, para alcançar uma economia de US$ 15 milhões de dólares ao longo dos dez anos de vida útil destes equipamentos. O financiamento do trabalho vem do lucro obtido pelo país sul-americano com a venda, cada vez mais lucrativa, de suas reservas petrolíferas. Ironicamente, mais de 40% desse comércio tem como destino as bombas de gasolina do país que colocou Chávez no índex a ser combatido, neutralizado ou até aniquilado, através da utilização de todas as armas que estiverem disponíveis.
Se alguém achar que isso é um devaneio chavista, uma manobra propagandística como muitas que a mídia internacional faz questão de vincular à imagem do dirigente bolivariano, não custa ampliar um pouco a abordagem, procurando outros exemplos - menos ideológicos, por certo - da parceria que a Venezuela tem celebrado com países do chamado mundo desenvolvido. Encontrará um inusitado acordo que permite à poderosa Grã-Bretanha oferecer desconto no transporte coletivo a usuários de baixa renda em função da compra, por preço altamente subsidiado, de petróleo venezuelano, para ficar em apenas um dos muitos exemplos de cooperação existentes.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Devastação S.A.

Por onde que passe, o polêmico Eike Batista, deixa um rastro de atropelos às leis ambientais e um ambiente propício para o tráfico de influência e todas as modalidades de corrupção. Depois do escândalo revelado pela Justiça Federal no Amapá, que pode colocar areia no negócio de US$ 5 bi envolvendo a Anglo American, agora é a vez de a Polícia Federal detectar sinais de falcatruas nas atividades da MMX no pólo siderúrgico de Curumbá, Mato Grosso do Sul. Entre outros delitos, estão sob investigação os crimes de falsificação de documentos, pagamento de propina e desmatamento ilegal.

Trocas desiguais, ontem e hoje

O velho Brizola não cansava de denunciar as perdas internacionais que garroteavam a economia brasileira e limitavam o horizonte do crescimento soberano do país. O que diria ele se tivesse sobrevivido mais alguns anos a ponto de ver, de forma nua e crua, o processo de regressão neocolonial a que a maior nação latino-americana está submetida, por imposição de fora, mas também com o beneplácito de uma elite que se acomoda ao papel de sócia menor dos verdadeiros centros do poder.
Números trazidos hoje pela Folha de São Paulo dão bem a dimensão da tragédia embutida na prevalência do modelo exportador de commodities (agrícolas ou minerais, tanto faz). O país arca com os pesados ônus sociambientais de uma atividade no geral predatória e realizada sob enorme proteção tributária - não foi à toa que a antiga lei Kandir foi elevada à disposição constitucional já sob o governo Lula, desonerando pesadamente a exportação dos chamados semi-elaborados. E, apesar disso, o lucro e os empregos são gerados além-mar, fortalecendo as economias dos países compradores, com destacada liderança do insaciável parque fabril chinês.

De todos os trilhos ferroviários reformados ou implantados anualmente no Brasil, mais da metade vem das fábricas chinesas. O detalhe é que a matéria-prima utilizada pelos chineses - o minério de ferro - primeiro sai do Brasil, da província mineral de Carajás, no Pará, ou Quadrilátero Ferrífero de Minas Gerais, atravessa 16.500 quilômetros de distância, atravessando oceanos, até retornar com um enorme valor agregado.
Para produzir uma tonelada de trilho que é vendida ao Brasil por US$ 850, as siderúrgicas chinesas precisam comprar quase duas toneladas de ferro, a um custo médio de US$ 144. Fazendo as contas, resta um "prejuízo" de mais de US$ 700 por tonelada de trilho, que é o preço que o Brasil paga por ter desmantelado seu parque siderúrgico em meio à privatização selvagem desencadeada desde o governo Collor. Para se ter idéia do tamanho do rombo basta citar que o Brasil deve investir na aquisição de trilhos, somente neste ano, algo superiora US$ 135 milhões, com previsão de dobrar este valor até o final de 2009. Ficamos com os buracos e com a miséria social em escala ampliada, enquanto os lucros e os postos de trabalho florescem no gigante asiático.

Sujeitos ocultos

O leitor de O Liberal de hoje ficou sem saber duas informações fundamentais sobre a primeira pesquisa IBOPE na capital: quem contratou e pagou a sondagem e a rejeição de cada candidato. Assim, fica difícil interpretar os números, neste precário e ainda morno início de campanha.
Como o Página Crítica não é baú, aí vão as informações sonegadas: o IBOPE trabalhou a soldo dos Democratas (ex-PFL) e de sua candidata Valéria Pires Franco. E o mais rejeitado, ostentando sólida e absoluta liderança, é o atual prefeito Duciomar Costa, nada mais natural para quem está colhendo os frutos (amargos) de uma gestão ruinosa.

domingo, 20 de julho de 2008

A muleta para o novo gigante

Quebrou a cara quem imaginou que a nova empresa resultante da compra da Brasil Telecom - aquela da briga interminável de Daniel Dantas et caterva - pela Oi (ex-Telemar, controlada pelo grupo La Fonte, da família Jereissati e pela empreiteira Andrade Gutierrez) resultará principalmente da capacidade empreendedora do empresariado nacional. Por trás da operação bilionária, estimada em R$ 12,3 bi, estão os mais poderosos fundos de pensão (Previ, Petros e Funcef), além de uma operação de crédito do Banco do Brasil - a maior efetuada com um tomador individual - da ordem de R$ 4,3 bilhões.
Assim, a chamada supertele, com uma expectativa de atingir em cinco anos mais de 110 milhões de clientes, dos quais 38 milhões em celular e 22 milhões em telefonia fixa, espera fazer frente ao avanço das multinacionais TIM, América Móvil (Claro) e Telefónica, que hegemonizam as principais fatias de um mercado em ascensão. Mas, atenção: não dispensará o acesso fácil e subsidiado aos fundos públicos, repetindo exatamente os mesmos pecados que macularam o processo de privativação do sistema Telebrás há uma década, no segundo mandato de FHC, cujas ruidosas conseqüências são sentidas até hoje.

A terra dos sem-direitos

Deveria estarrecer os dados divulgados nesta semana sobre a realidade paraense. Mas, não se deve esperar reação de uma sociedade submetida a um sono letárgico e conveniente. Um de cada três eleitores sabe apenas ler e escrever seu próprio nome, refém da cegueira da ignorância. Dos 7 milhões de habitantes, quase 3,5 milhões sobrevivem com meio salário mínimo por mês, uma parte considerável destes abastecendo a clientela que vive acorrentada ao Bolsa-Família e congêneres.
Com esses indicadores, custa crer que alguém ainda se espante com a crise social - e seu rescaldo de violência - que bate à nossa porta diariamente.

A casa caiu

Está na revista Época que hoje chega às bancas: é explosivo o material apreendido pela Operação Satiagraha nas residências de Daniel Dantas, Nagi Nahas e Humberto Braz, o único do trio que permanece preso. No apartamento do dono do Opportunity, por exemplo, os policiais encontraram um fundo falso recheado de CDs e DVDs - algo como o equivalente à memória de cem computadores domésticos. Já na mansão do doleiro Nahas, num bunker localizado no subsolo, listas e planilhas comprometedoras.
Essas descobertas podem estar na raiz do nervosismo de uns e do mutismo de outros, atingindo transversalmente a elite política nacional e deixando sem dormir cabeças coroadas do tucanato e do petismo, além das já notórias reverberações no Poder Judiciário e na agitada e sempre dividida Polícia Federal.
Quem deve, teme. E é esse medo dos desdobramentos do inquérito policial ensejaram a operação abafa dos últimos dias.

sábado, 19 de julho de 2008

Um homem e seu pé de meia

Duciomar Costa nunca foi um cidadão de grandes posses. Desde 1988, quando foi eleito vereador na capital, exerce de forma ininterrupta mandatos eletivos, dos quais deveria retirar seu sustento, além de administrar suas economias, já que não consta que tenha sido, pelo menos formalmente, proprietário de empresas. Pois bem, neste quesito, sem dúvida, o candidato à reeleição em Belém demonstrou uma habilidade ímpar. Em apenas seis anos, entre 2001 e 2007, seu patrimônio quase triplicou, revelando uma rara capacidade de fazer brotar riqueza, em especial no ramo agropecuário.
Vejamos sua declaração de Imposto de Renda, referente ao ano-calendário 2001, anexada à sua candidatura de senador em 2002. Ele se apresentou como um homem de bens modestos, com patrimônio de apenas R$ 634.180,42, formado por duas casas na periferia de Belém, uma camioneta Sportage modelo 2001/2002, dois ônibus usados, dois velhos tratores CBT, ano 1982, um caminhão Chevrolet ano 1997 e 986 cabeças de gado, estas correspondendo a mais de 40% dos bens e direitos declarados à época.
Como num passe de mágica, o patrimônio do prefeito petebista deu um salto para R$ 1.795.191,15, com destaque para as cabeças de gado que agora alcançam o valor de R$ 792.000,00, além de aparecer, pela primeira vez, uma propriedade rural – no município de Tracuateua, no valor de R$ 150.000,00, provável destino de seu fabuloso rebanho.
Não menos surpreendente foi o notável incremento em todas as suas aplicações financeiras, multiplicadas várias vezes neste relativamente curto espaço de tempo, em que se imaginava que a principal ocupação de Duciomar era a política pública e não os domínios da iniciativa privada.

Patrimônio Pai D'Égua

Com um patrimônio superior a R$ 7 milhões, de longe a mais rica entre todos os demais concorrentes à Prefeitura de Belém, a candidata democrata Valéria Pires Franco vai mesmo ter muita dificuldade para vender uma imagem mais próxima do eleitorado da capital, majoritariamente marcado pela pobreza e exclusão social. Aliás, são os eleitores mais pobres os que menos têm engolido, desde 1996 para cá, candidaturas que tragam o inconfundível perfume dos berços de ouro.

Atestado de pilantropia

Sob o surrado (e inverídico) discurso de que a Previdência acumula gigantescos déficits, trama-se a terceira reforma para cassar direitos de quem já possui tão pouco ou quase nada. Enquanto segue a gestação lenta e persistente dos projetos destinados a aumentar a idade limite para a aposentadoria e artimanhas para tornar ainda mais ferozes as regras do chamado fator previdenciário - que recebeu um golpe de misericórdia no Senado recentemente, mas ainda aguarda nova votação na Câmara -, soa como um escárnio que o governo federal assista passivamente o rombo no INSS de mais de R$ 2 bilhões patrocinado por duas mil entidades que se dizem filantrópicas e gozam de vultosos benefícios fiscais.
O pior é que a bandalheira recebe a chancela do Conselho Nacional de Assistência Social (CNAS), conhecido por sua prodigalidade em matéria de proteger alguns espertalhões e seus impérios surgidos, como por milagre, a partir de organizações supostamente sem fins lucrativos.

Dialética de um encontro possível

"Continente

Pro branco ser Madalena,
pro negro mamãe Oxum,
pro índio talvez Iara:

como as três raças, América".

Olga Savary, poetisa, tratudora, escritora paraense. Repertório Selvagem (Obra reunida, 1947-1998, Biblioteca Nacional/MultiMais/Universidade de Mogi das Cruzes, 1998, p.212).

sexta-feira, 18 de julho de 2008

O direito de duvidar

Pode ser uma manobra - mais uma, entre tantas já tentadas nas últimas duas décadas - para neutralizar a resistência à implantação dos projetos de aproveitamento hidrelétrico do Xingu. E as raízes da dúvida estão ancoradas em sólidas razões técnicas, decorrentes de estudos científicos realizados com apuro e seriedade ao longo de todo esse período, afirmando que somente a construção de Belo Monte, com seus alegados 11,1 mil MW de potência, não possui sustentabilidade em função do regime irregular de chuvas naquela região, o que provoca variações de vazão muito significativas. Surge daí, justamente, os diversos planos de construção, desde os anos 80, de um gigantesco complexo de usinas no Xingu e seus afluentes, com indescritíveis impactos socioambientais.
Eram, a princípio, seis usinas; nos anos 90 e mais recentemente falava-se em três barragens. E agora, como forma de facilitar a retomada e mesmo a agilização do tumultuado processo de licenciamento de Belo Monte, vem a decisão, chancelada nesta semana pelo Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) de que apenas Belo Monte será construída.
Quase simultaneamente a este anúncio, o ministro Carlos Minc, sempre afeito à geração de factóides, divulgou a decisão de "decretar" o prazo máximo de 13 meses para a tramitação dos licenciamentos de grandes projetos no Ibama, alegando que a burocracia do órgão era um dos entraves que levava os processos a demorar, em média, dois anos de tramitação. Ora, o que impede a concessão das licenças no tempo exigido pelos empreendedores é uma conjugação nada inocente entre os flagrantes erros nos projetos e estudos e a contumaz disposição de atropelar os direitos legítimos das populações diretamente afetadas pelas obras, em especial os povos indígenas.

Essas verdades - de resto incontestáveis - não parecem servir às manobras midiáticas do apressado ministro.

Dos mais pobres, a parte do leão

Quem disse que rico paga imposto no Brasil. A sanha arrecadatória se abate, sobretudo, sobre os mais pobres, perdendo a intensidade na mesma medida em que vai subindo o padrão de renda. Um sistema de escancarada injustiça tributária.
Para não deixar dúvidas: o percentual da renda familiar aboncanhada pelos impostos no Brasil é de 48,9% para os que ganham até dois salários-mínimos. Já as famílias que percebem mais de 30 mínimos são mordidas em 26,3%, para uma carga tributária que não parou de crescer nos últimos 15 anos. Em 1991, era de 23,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Desde então, passando pelos oito anos de FHC e pelo primeiros cinco anos da era Lula, esse percentual alcançou, em 2007, quase 36% de tudo que é produzido no país.

Isonomia macabra

Um crime brutal, mas sem nenhum punido. 19 camponeses mortos a bala e a golpes de arma branca, mas nenhum dos policiais militares envolvidos no massacre de Eldorado dos Carajás até hoje recebeu qualquer punição. Agora, sabe-se que os oficiais e sargentos que lideraram a operação sangrenta, já tinham reconhecido pela PM o acesso às promoções na carreira, e que por decisão liminar do juiz José Torquato Araújo de Alencar, da 1a Vara da Fazenda Pública da capital, assinada nesta semana, todos os demais 66 soldados que integravam as tropas de Marabá e Parauapebas, naquele fatídico 17 de abril de 1996, vão também ter, por isonomia, o direito às devidas progressões funcionais.
Um bom exemplo de como a Justiça pode ser completamente cega, quando está em jogo a perpetuação da impunidade dos crimes contra os pobres da terra.

quinta-feira, 17 de julho de 2008

O tombo da cowgirl

Definitivamente a senadora Kátia Abreu (DEM-TO) parece estar em pleno inferno astral. Depois de ter seu nome envolvido em um caso de uso ilegal de recursos da poderosa Confederação Nacional da Agricultura (CNA) em sua campanha ao Senado, em 2006, agora ela aparece nos grampos da Operação Santiagraha como suspeita de ter recebido R$ 2 milhões da OAS para relatar, a favor de interesses de privados, uma MP que disciplinava a movimentação de cargas nos portos brasileiros. Por trás da propina, estariam os tentáculos do onipresente Eike Batista e de mais 11 empresas do setor, incluindo a sempre generosa empreiteira de origem baiana.

Na parte mais sensível

Enquanto o Brasil se verga ao lobby dos monopólios internacionais produtores de transgênicos, a Europa vai fechando o cerco contra a importação de soja proveniente de organismos geneticamente modificados. E a arma utilizada é aquela única que abala o coração dos empresários do ramo: o bolso. É por isso que os maiores compradores de soja do país, liderados pelo grupo Caramuru, Maggi e Imcopa, resolveram criar uma organização que represente apenas empresas que cultivem soja tradicional.
O argumento é simples: o mercado europeu oferece um prêmio de 10% ao comprar a soja não originária da transgenia, tornando o produto muito mais competitivo.
Apesar de tudo isso, sob as bênçãos do governo Lula, a produção de lavouras transgênicas não pára de crescer no Brasil, que expandiu o cultivo em 3,5 milhões de hectares entre 2006 e 2007, superando até mesmo o incremento havido nos Estados Unidos, de 3,1 milhões de hectares. Para a safra 2008/2009, a estimativa é o que país se torne o segundo neste tipo de agricultura, superando a Argentina.
Não é por outro motivo que a CNTBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança) atropela sem a menor cerimônia o princípio da precaução para abrir caminho às polêmicas sementes alteradas em laboratório, como é o caso das últimas duas variedades de milho transgênico liberadas recentemente: a Guardian, da norte-americana Monsanto, e o Libertylink, da alemã Bayer.

Pânico na torre

O cenário é um dos prédios mais altos e chiques no elegante bairro do Umarizal, no centro de Belém. A rotina foi quebrada na terça-feira, 15, com a inusitada visita de três auditores da Receita Federal. E não se tratava de um simples compromisso social. Eles estavam a trabalho e se dirigiram diretamente ao síndico em busca de dois prosaicos documentos: primeiro, a relação completa de todos os moradores, com seus respectivos CPFs; e, segundo, cópias das declarações de renda de cada um deles, a fim de comprovar se, de fato, a propriedade dos requintados apartamentos havia sido ou não informada ao fisco. Em poucos minutos, como rastilho de pólvora, disseminou-se um clima de tensão entre os condôminos - empresários, profissionais liberais e, pelo menos, um detentor de mandato eletivo -, que jamais imaginavam que o leão pudesse ser assim tão feroz.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Senhores de gados e de gentes

Saiu a mais nova versão da "lista suja" do trabalho escravo no Brasil, regularmente publicada pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). Agora são 212 nomes de pessoas físicas ou jurídicas, a grande maioria relacionada à pecuária, ao setor sucroalcooleiro e às carvoarias. Uma parte considerável dos modernos escravocratas está localizada na grande região denominada de Arco do Desmatamento na Amazônia Legal, onde é mais intensa a pressão do agronegócio sobre as áreas de floresta nativa.
Dos 43 novos incorporados à lista, 13 são do Pará. Conheça quem são eles:

- Adelino Gomes de Freitas - Faz. Campelobo - Santana do Araguia (PA)
- Eliane Balestreri Oliveira - Faz. Vitória - Paragominas (PA)
- Enivaldo Canêdo - Faz. Santa Terezinha - São Félix do Xingu (PA)

- Herlon Pedro Pinto Ribeiro - Faz. Rio Branco - Rondon do Pará (PA)
- Humberto Eustáquio de Queiroz - Faz. Rio Grande - Itupiranga (PA)
- João Antônio de Farias - Faz. Minas Gerais - Ulianópolis (PA)
- Luiz Caetano da Silva - Faz. São José - Brejo Grande do Araguia (PA)
- Miguel Gomes Filho - Faz. do Miguelito - Itupiranga (PA)
- Nei Amâncio da Costa - Faz. Progresso São Félix do Xingu (PA)
- Nivaldo Barbosa de Brito - Fazenda Ladeirão - Pacajá (PA)

- Valdemar Rodrigues - Faz. Santa Rita - São Domingos do Araguaia (PA)
- Vicente Nicolodi - Fazenda Uruará - Uruará (PA)
- Weslei Lafaiette Guimarães - Carvoaria do Weslei - Goianésia do Pará (PA).


Não há vagas

Por trás da sonora e persistente vaia que atingiu a governadora Ana Julia (PT) e seus auxiliares, ontem (15) no lançamento da segunda etapa das obras da macrodrenagem do Tucunduba, em Belém, está a repulsa das lideranças comunitárias à investida de candidaturas petistas que usam e abusam do calor da máquina governamental. Fala-se da oferta de muitos empregos aos futuros cabos eleitorais, arregimentados às expensas da Asipag, Seduc e da Leme Engenharia, prestadora de serviço da Sedurb.

My Beautiful Laundrette

De longe parece um saudável banco de investimento, vitaminado pela nuvem de bilhões de dólares que cobre o planeta, ávido por alcançar alta rentabilidade em ambientes de perfeita "segurança jurídica". Seus gerentes são executivos tão fartos em ambição quanto econômicos em termos éticos. Nada, absolutamente nada, deveria obstruir sua trajetória ascendente rumo ao Olimpo da lucratividade máxima. Mas, olhando com atenção, tratava-se de uma gigantesca lavanderia, especializada em gerar fortunas instantâneas e lavar uma montanha de dinheiro de origem duvidosa.
Tudo se encaminharia para um final feliz caso não houvesse, como pedras pontiagudas no meio do caminho, persistentes e resolutos jovens integrantes do Poder Judiciário - o juiz e o promotor, ambos carregando sobrenomes que remetem à distante Itália de seus antepassados, berço de tantas máfias e também de magistrados de honra e mãos limpas - além uma equipe de policiais federais disposta afrontar o establishment da corporação.
Pois bem. O caso Daniel Dantas e de seu Opportunity pode dar em nada, ou quase nada. Ou, ainda, cedo ou tarde, pode destampar o caldeirão de imundices em que a elite brasileira está afundada até o pescoço.
Um dos fios que pode servir de estopim de um escândalo de proporções oceânicas é a lista de 84 pessoas físicas ou jurídicas que a PF julga ter pilhado em remessas ilegais para o Opportunity Fund, sediado nas paradisíacas Ilhas Cayman. Apesar de protegidas pelo sigilo, foi possível mapear a autoria de contas referentes a pouco mais de US$ 230 milhões dos quase US$ 2 bilhões movimentados pelo fundo entre 1992 e 2004. É dessa montanha de dados que podem surgir histórias escabrosas de sonegação fiscal e, sobretudo, de remessa e multiplicação de fortunas obtidas por meio de fraudes, corrupção ou até de atividades relacionadas com outros estamentos do amplo mundo do crime.
Mas, pelo andar da carruagem, tudo pode terminar em nada, ou quase nada.


terça-feira, 15 de julho de 2008

Leilão mal-assombrado

Será que a solidariedade de classe dos pecuaristas foi determinante no fracasso do leilão das três mil cabeças de gado apreendidas pelo Ibama em áreas públicas nos rincões da Terra do Meio, no oeste paraense?
Os boizinhos-piratas vão esperar até a próxima segunda-feira, 21, para que a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) faça uma nova tentativa de vender os lotes estimados em quase R$ 4 milhões.

O compadre-bomba

Nem bem esfriou o último escândalo palaciano envolvendo a suspeitíssima venda da Varig e da Varig Log, e o advogado Roberto Teixeira, primeiro-compadre do presidente Lula, já retorna às manchetes sob suspeita de integrar o batalhão de advogados-lobistas do banqueiro Daniel Dantas. Em 2005, em plena efervescência do mensalão, a Brasil Telecom, na época controlada pelo Opportunity, pagou R$ 1,2 milhão a título de serviços advocatícios ao escritório de Teixeira. O detalhe intrigante é que até hoje não foi possível encontrar, nos arquivos da empresa, qualquer vestígio que comprove o "serviço técnico" supostamente realizado. Afinal, tráfico de influência não costuma deixar recibo.

O marketing da empulhação

Uma gigantesca corporação mundial que carrega em seu portfolio um bem nutrido estoque de incontáveis crimes contra a saúde pública e de sérios agravos ao meio ambiente não tem porque ser sincera em sua publicidade. Falar a verdade equivale a uma sentença de morte e senso de sobrevivência é marca característica dos tubarões que disputam, centímetro a centímetro, os espaços de um mercado globalizado.
Ao contrário, precisa lavar sua imagem, apropriando-se para tanto do verniz da chamada responsabilidade ambiental. É o caso da Monsanto, multinacional norte-americana especializada na área de herbicidas e uma das líderes mundiais na produção e disseminação dos organismos geneticamente modificados, que promove, no Brasil, o Prêmio Agroambiental Monsanto, de "incentivo à criatividade e ao conhecimento para o desenvolvimento de uma agricultura mais sustentável". Palavras empoladas, vazias de conteúdo, mas dotadas de um forte potencial de disseminar o véu da ilusão.
Resta saber se alguém ainda se ilude com o canto dessas sereias encharcadas de napalm.

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Do fogo para a frigideira

O The New York Times desde sábado, 12, estampou uma notícia no mínimo intrigante: a partir de setembro o Pentágono planeja apressar o processo de retirada de suas tropas do Iraque. Fontes ouvidas pelo NYT asseguram que entre uma e três das 15 brigadas que hoje atuam em território iraquiano seriam deslocadas nos próximos meses.
Mas não se imagine que os soldados tomarão o rumo do lar. Ao contrário, a movimentação de forças militares pretende fazer frente à intensificação da resistência afegã, que a cada dia cobra mais vidas de militares estadunidenses.
É nesse contexto de agravamento da guerrilha contra a presença dos Estados Unidos e de seus aliados da Otan (aliança militar do Ocidente) em território afegão, invadido desde 2001, que deve ser lido o mais recente atentado realizado pelo Taleban, neste final de semana, na Província de Kunar, que deixou nove militares norte-americanos mortos, no pior incidente registrado nos últimos três anos.

Contagem regressiva

Sabe-se que os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) estão de férias, com exceção de seu presidente, ministro Gilmar Mendes, aquele que não pensa duas vezes em mandar abrir o ferrolho da cela onde a PF jogou o mega-especulador Daniel Dantas. Os integrantes da mais alta corte de Justiça do país gozam de merecido descanso, enquanto as placas tectônicas da crise social dão renitentes sinais de que se movimentam nos subterrâneos de uma nação fraturada.
Em Roraima, que espera há meses que o STF resolva de uma vez por todas o conflito na Terra Indígena Raposa/Serra do Sol, os bandos de pistoleiros arregimentados pelos arrozeiros continuam agindo, sob completa impunidade, espalhando o terror nas comunidades makuxi. Quem denuncia é o Conselho Indígena de Roraima (CIR), entidade que representa os interesses dos milhares de indígenas que reivindicam a demarcação da reserva em áreas contínuas e a desintrusão dos grandes proprietários que grilam suas terras ancestrais.
Na sexta-feira, 4, homens ligados ao fazendeiro Paulo César Quartiero, que lidera a resistência contra a demarcação, tomaram dois jovens indígenas como reféns e sob a ameaça de armas de fogo foram humilhados e ameaçados. Por pouco não ocorre mais uma matança, exatamente na mesma comunidade em que dez índios foram feridos a bala no início de maio, durante uma violenta desocupação de uma área da fazenda de Quartiero.
A denúncia e a exigência de providências por parte da Funai e da Polícia Federal estão sendo feitas pelo Conselho Indigenista Missionário (Cimi), que alerta para a crescente tensão social e étnica na região. Um barril de pólvora prestes a explodir, afirma a combativa organização da Igreja Católica.

Calma, pessoal. Tem para todo mundo

O cheiro de queimado que emana das milhares de páginas de grampos autorizados pela Justiça Federal durante a Operação Satiagraha está apenas no começo. Foi oferecida à opinião pública uma mínima amostra do enorme lodaçal que exporá, cedo ou tarde, as relações promíscuas entre a banca financeira e o Estado brasileiro. De forma democrática, atingirá praticamente toda a arena política - manchando os grandes partidos, a começar pelos tucanos e demos, criadores do semi-Deus Daniel Dantas, e petistas de variados quilates, que herdaram e se tornaram, desde o primeiro mandato de Lula, em "amigos" ou "prestadores de serviço" do sempre diligente banqueiro.
Por isso é apressado o diagnóstico que parte da imprensa busca fomentar, alvejando apenas a banda petista do esquema. Erigir o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalg e o ex-ministro José Dirceu como peças-chave de Daniel Dantas é uma rematada injustiça. Mensalão, tráfico de influência, acesso a informações privilegiadas, tudo e mais alguma coisa do mesmo jaez, fazem parte de um determinado modus operandi. Mas, atente-se, podem ser moeda divisionária, meros detalhes, de uma ação criminosa muito mais ampla e profunda. Que o diga o ex-presidente Fernando Henrique e toda a malta de tucanos da mais elevada estirpe, como o governador paulista José Serra, por exemplo, que durante anos cultivaram uma suspeita intimidade com Dantas e seu grupo de especuladores, que sem dúvida estão entre os principais beneficiários da razia que foi realizada contra o patrimônio nacional, a tristemente famosa privataria, que está na origem de tudo.

sábado, 12 de julho de 2008

Dum vivimus, vivamus

Da antiga expressão latina, "enquanto vivermos, vivamos", recolher o estímulo para aproveitar o final de semana de verão. Política, leitura, um bom filme. Ou, simplesmente, o indispensável direito ao ócio.
Na segunda-feira, 14, o Página Crítica retorna às atividades. Até lá.

Negócios de risco

No epicentro da ação da PF que tenta fisgar o multibilionário Eike Batista, acusado de uma coleção de falcatruas no vizinho Amapá, aparece a quarta maior mineradora do mundo, a Anglo American. De origem sul africana, a corporação tem valor de mercado estimado em US$ 86 bilhões, com fortíssima atuação na produção de ferro - espera alcançar, no Brasil, até 2012, a marca de 100 milhões de toneladas - e com tentáculos na área de não ferrosos e metais preciosos (paladium, platina e ouro).
Saiu do caixa da multinacional, que aparece freqüentemente como objeto do desejo da Vale, sempre em busca de novas aquisições no mercado internacional, a quantia de US$ 5,5 bilhões por quase metade da MMX. Dentro do pacote, as operações de Eike Batista no Amapá, que podem se transformar no mico do século.

sexta-feira, 11 de julho de 2008

Uma coleira para Eike

O mais novo bilionário brasileiro segundo a revista Forbes, Eike Batista, apontando com patrimônio de US$ 6,6 bilhões, está em apuros com a mais recente operação deflagrada pela Polícia Federal (PF). Dezenas de policiais cumpriram na manhã e tarde de hoje (11) vários mandados de busca e apreensão em sedes do conglomerado MMX e na própria mansão do megaempresário, no Rio de Janeiro. A suspeita da Justiça Federal é que a concessão conquistada em 2006 pela MMX logística da linha férrea da Serra do Navio até o Porto de Santana, no Amapá, tenha sido resultado de uma gigantesca fraude no processo licitatório comandando pelo governador Waldez Góes (PDT). Além disso, o Ministério Público Federal (MPF) no Amapá suspeita que esteja ocorrendo desvios da quantidade de ouro lavrado pela Mineração Pedra Branca do Amapari, outra empresa do grupo MMX, provocando pesada evasão de divisas e sonegação tributária milionária.
Filho de Eliezer Batista, o czar da Vale do Rio Doce durante os anos do milagre brasileiro, em pleno regime militar, Eike tem uma trajetória pontuada por uma postura sempre agressiva e polêmica. Por trás da aparente fórmula do sucesso empresarial, sabe-se agora, que se escondia o mesmo vício patrimonialista, fonte propulsora da corrupção endêmica que corrói a sociedade brasileira.

Uma lei sem-vergonha

Por estreita margem de votos (37 votos a favor, 23 contra e três abstenções), o bloco governista no Senado aprovou na quarta-feira (09) a Medida Provisória (MP) 422 que legaliza a grilagem de terras públicas na Amazônia. Agora quem estiver na posse de áreas públicas federais de até 1500 hectares poderão ter sua situação regularizada, sem licitação. O limite anterior era de apenas 100 hectares.

O nome da rosa

Então, está combinado: notícia nos jornais do Pará sobre a Vale do Rio Doce, a segunda mineradora do mundo, só se for positiva. Caso contrário, funciona uma espécie de habeas corpus midiático. Multada pelo Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) em R$ 5 milhões por venda ilegal de quase 9.000 m3 de madeira em Paragominas (326 km de Belém), as matérias de ontem se limitavam a citar uma "empresa mineradora", sem ter coragem de declinar-lhe o nome.
Como no célebre poema de Vinícius de Moraes, é uma rosa "sem cor e sem perfume", mas incrivelmente blindada por uma imprensa que está permanentemente à venda.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

O mundo fora dos autos

Não passa de coincidência o fato do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, ter sido, no governo FHC, subchefe para assuntos Jurídicos da Casa Civil (1996-2000) e advogado-geral da União (2000-2002), período em que Daniel Dantas construiu seu fabuloso império amealhando, a preço de banana, as maiores fatias do antigo sistema Telebrás, com a pressa com que proferiu decisão liminar mandando relaxar a prisão provisória do banqueiro e de outros executivos do banco Opportunity, todos flagrados em transações escabrosas pela Polícia Federal.
Diante da nova prisão de Dantas, decretada pela Justiça Federal paulista poucas horas depois e agora em caráter preventivo, aguarda-se para qualquer momento um novo despacho do célere ministro, cujo forte apego à defesa das liberdades individuais não havia se manifestado explicitamente, mesmo depois de seis anos de permanência da mais alta corte do País. Também não é mesmo todo dia que as celas da PF ficam repletas de tantas figuras de colarinhos impecavelmente alvos e engomados.

Barriga de Aluguel

Valendo um pôster da campanha Lula Presidente, autografado pela dupla Zé Dirceu e Delúbio Soares, para quem acertar de onde veio o financiamento dos milhares de panfletos distribuídos nas ruas de Belém durante a manhã e tarde de hoje (10), atacando a bancada paraense no Senado pelo voto contrário à prorrogação da impopular CPMF, fato acontecido há mais de seis meses. A panfletagem teve a assinatura formal do Sindsaúde, um notório aparato controlado pelo PT, que resolveu exumar o cadáver do finado imposto do cheque, por estranha coincidência, exatamente no dia em que uma comissão do Congresso Nacional estava inspecionando as dependências da Santa Casa, a mais recente - e, pelo jeito, inesgotável - fonte de irritação para os atuais inquilinos do Palácio dos Despachos.

Vespertinas

Fora de Belém nesta manhã, o editor do blog retomará a atualização de postagens e comentários a partir da tarde.

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Eles têm a força

Quem disse que os recordes na produção de grãos no Brasil devem ser creditados unicamente aos tratores e colheitadeiras do agronegócio. Pois os pequenos produtores, espalhados em milhões de propriedades da chamada agricultura familiar, respondem conjuntamente por mais de um terço dos grãos colhidos anualmente no País. Vêm de pequenas propriedades, por exemplo, 80% do feijão, 30% da soja e 40% do milho, demonstrando que as grandes empresas rurais e seu elevado índice de mecanização já encontram um setor rival com bons indicadores de competitividade, desde que possam receber o indispensável suporte creditício e apoio tecnológico por parte do governo federal.

O vôo da águia

Nem é apenas o retorno, após 58 anos, da ameaçadora Quarta Frota dos Estados Unidos às águas da América do Sul que deve servir de alerta de uma ameaça colonial latente. A pouca distância da fronteira brasileira com o Paraguai, na região do Chaco, está encravado o misterioso - e aparentemente abandonado - aeroporto Mariscal Estigarribia, construído pela ditadura de Alfredo Stroessner, nos anos 80, com uma pista de 3,5 mil metros de extensão e 40 de largura, em condições para receber aviões de guerra como os gigantescos B-52 ou os C-5 Galaxy, armas de ponta do arsenal estadunidense.
Para os que ainda tomam esse fato como uma espécie de lenda ou fruto da paranóia antiimperialista, recomenda-se não esquecer que em 2005 o parlamento paraguaio autorizou o ingresso e movimentação em seu território de tropas norte-americanas, assim como, em um ato humilhante, outorgou-lhes completa imunidade penal, algo semelhante ao regime que as forças de ocupação gozam no Iraque e Afeganistão.

Pânico no andar de cima

O estoque de lexotan deve estar quase esgotando. O consumo explodiu depois que foram parar atrás das grades Daniel Dantas e uma penca de doleiros e outros operadores do alto mundo das finanças, por onde circulam bilhões de dólares de origem nem sempre sadia. A Operação Satiagraha, iniciada no amanhecer de ontem (08), tem um fabuloso potencial explosivo, mas ainda é cedo para dizer exatamente quem seus estilhaços vão atingir. Dos que estão com as barbas de molho, merecem atenção especial os tucanos de reluzente plumagem, a turma que constituiu o núcleo estratégico do governo do ex-presidente FHC, responsável com ele pelo controle dos cordéis da gigantesca e bilionária xepa que torrou, por preço de banana e ainda com grande subsídio dos bancos públicos, boa parte do patrimônio nacional no setor da telefonia e da mineração.

terça-feira, 8 de julho de 2008

Antes tarde do que nunca

Mais uma decisão da Justiça Eleitoral coloca o prefeito Duciomar Costa (PTB), candidato à reeleição em Belém, numa saia justa. Hoje expira o prazo para que sejam retiradas todas as placas de (supostas) obras e serviços, espalhadas nos últimos meses por todos os bairros da cidade, como parte da estratégia de campanha extemporânea que tardiamente está sendo combatida pelo Judiciário.
Caso decida afrontar a lei, Duciomar deverá pagar uma multa diária de R$ 15.961,50. Uma quantia modesta diante do estupro aos mais básicos princípios da moralidade que a gestão petebista executa na capital paraense, há anos, sob espantosa impunidade.

No beco escuro explode a violência

Sim ou sim, o Pará não abandona as manchetes da mídia nacional. Ontem a Rede Globo, que vinha fazendo seguidas matérias sobre a crise sem-fim da Santa Casa, abriu espaço para as cenas de violência em Parauapebas, sudeste paraense, quando a tropa de choque da PM dispersou um protesto de dezenas de trabalhadores sem-terra. Eles denunciavam os maus-tratos que um dos integrantes do movimento estaria sofrendo na delegacia de polícia do município, onde estava preso desde 21 de junho. Para o MST, tratava-se de um protesto pacífico. Para a PM, uma provocação e uma "estratégia de terror".
Resumo da ópera: um policial militar levemente ferido e 11 sem-terra com ferimentos variados, depois que a tropa investiu sobre os manifestantes disparando balas de borracha e detonando seu conhecido arsenal anti-motim.
Por mais que os estrategistas palacianos tentem ocultar, repetindo à exaustão seus slogans de propaganda, o Pará real ferve sob fogo alto. Essas chamas, insufladas por uma crise social profunda e crescente, não serão domadas a patadas ou através de uma pretensamente esperta combinação de mordidas e assopros.

Tantos relatos. Tantas perguntas

1626, na boca do grande rio, sob o calor das imensas fogueiras nas quais ainda ardiam os restos calcinados das grandes malocas tubinambá, com o ar contaminado pelo odor de uma torrente de sangue humano que parecia não ter fim, pisou no sítio onde nasceria, pouco tempo depois, a cidade do Pará, Bento Maciel Parente, um exímio exterminador de índios. Sua missão: quebrar a espinha dorsal da resistência indígena que infernizara, nos últimos sete anos, as tentativas de penetração do exército colonial. Cabia a ele e a seus soldados portugueses, auxiliados por centenas de outros tapuios feitos prisioneiros e cúmplices do massacre de seus iguais, silenciar a guerra de guerrilhas que tivera início tão logo o forte de Belém fora construído, na beira do rio, mas com seus canhões apontados para o território, mirando a floresta e os povos que dela faziam abrigo e trincheira.
Era preciso dar uma lição aos resistentes, que afirmasse de uma vez por todas a supremacia dos invasores. O meio escolhido foi mandar prender 24 dos principais líderes indígenas e que decretar que fossem mortos sem demora. Mas não uma morte qualquer. Uma morte que servisse de exemplo, atroz e definitivo.
O que terão pensado os jovens guerreiros, encobertos pela vegetação, ao ver seus líderes com os pés amarrados a duas canoas e, um a um, cruelmente despedaçados quando os remeiros impulsionavam-nas em direções opostas?
Tantas perguntas terão feito aqueles que, apesar do horror, não tardaram a realizar novos e infrutíferos ataques contra os homens de bombardas e arcabuzes, até que não houvesse mais condições de resistir ali e os sobreviventes se embrenhassem na floresta, fugindo para bem longe, descendo os braços do rio-mar em busca da terra sem-males.
Como lembrou Bertold Brecht, ao encerrar seu poema "Quem construiu Tebas de sete portas?", são tantos relatos, tantas perguntas, para tentar rasgar o inescrupuloso manto de silêncio que faz da história da humanidade uma sucessão de fatos heróicos a partir do olhar exclusivo dos vencedores. Mas, incrivelmente, as pegadas dos tubinambá e seus gritos de guerra estão aí para quem tiver capacidade para perceber. Basta olhar e ouvir com atenção e zelo para descobrir que os vencidos de ontem não pararam jamais de caminhar.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

A sombra do passado

Um calafrio percorre a espinha da alta tucanada: na medida em que avançam as investigações na Suíça sobre o propinoduto da Alston é maior o temor de que novas revelações venham manchar a memória de Mário Covas, tido como exemplo de moralidade administrativa. Pois foi principalmente em seu governo (1995-2001) que as transações suspeitas foram realizadas e que milhões de dólares vieram irrigar campanhas políticas do PSDB. Dentre outras, dinheiro sujo teria circulado pelas contas da campanha de reeleição de FHC em 1998. O pior é que não há absolutamente nada a fazer senão torcer para que o vento mude de rumo e que os maus presságios se dispersem sem prejudicar as claudicantes campanhas do partido, em especial na capital paulista onde Geraldo Alckmin purga os pecados da espalhafatosa divisão da legenda.

Mentir faz mal à saúde

As quatro páginas de propaganda paga - muito bem paga, por sinal - pelo governo do Estado no Diário do Pará de ontem devem ser debitadas a um determinado tipo de vale-tudo, onde o interesse público é substituído pelo esperto jogo de palavras a serviço de justificar o injustificável.
Se tudo que é dito no encarte for verdade, estaremos diante de uma contradição insolúvel: como explicar tantas mortes - cerca de 30 em pouco mais de uma quinzena - em um hospital público com padrão de atendimento de primeiríssimo mundo, com "um médico e uma enfermeira para cada dez bebês e um técnico de enfermagem para cada dois recém-nascidos"?
O texto também é uma expressa desautorização das reiteradas entrevistas da secretária de Saúde, Laura Rossetti, barbalhista de quatro costados, que anunciou um déficit de, pelo menos, 70 de médicos e de outros profissionais na Santa Casa, além de reconhecer a necessidade de habilitar maior quantidade de leitos de UTI neonatal, tanto em Belém como no interior.
Definitivamente, o governo Ana Júlia (PT) é incapaz de lidar com as crises que batem à sua porta, expressão de um Estado fraturado e profundamente injusto. É essa crise social - renitente e a cada dia mais dramática - que não dará tréguas, mesmo que se tente encobrir o firmamento com um gigantesco guarda-sol da publicidade cotada a peso de ouro.

Dialética do jeitinho brasileiro de construir uma nação

"705- Pará - 11 de janeiro de 1799 - Ordenando ao Intendente da Marinha, que forneça aguardente e ração diariamente aos índios que trabalham no Pântano do Piri, na abertura de estradas de comunicação.
Secretaria da Capitania do Grão Pará, Códice.554, Documento.308".

Anais do Arquivo Público do Pará, Volume 2, Tomo 1, 1996, SECULT/PA.

sábado, 5 de julho de 2008

Um silêncio ensurdecedor

A Oi/Velox deixou a internet surda e muda durante horas a partir do início da tarde de hoje. A pane deve ter provocado prejuízos generalizados, além de azedar o humor dos internautas, sobretudo dos amantes da blogosfera, acometidos de súbita crise de abstinência.
Diante do retorno da conexão ainda em velocidade de dar inveja aos quelônios, resta a opção de decretar já o recesso de fim de semana.

Segunda-feira, 7, o Página Crítica retorna ao ritmo costumeiro. Bom domingo a todos.

Os números do escândalo

O Brasil ocupa o quarto lugar entre os países que impactam negativamente o clima do planeta. É uma posição incômoda, mas que possui um diagnóstico relativamente simples. Cerca de 75% das emissões de dióxido de carbono no país são decorrentes das queimadas e desmatamentos, sobretudo na Amazônia, que perdeu 17% de sua cobertura vegetal para dar espaço ao gado e à produção em larga escala de grãos, com destaque para a soja.
Os números são do Greenpeace e ilustram artigo publicado em sua última revista trimestral (janeiro, fevereiro e março), cujos trechos principais podem ser lidos no síte da ONG ambientalista (www.greenpeace.org/brasil/).

Colômbia em tempos de cólera

A guerra civil colombiana tem raízes muito mais profundas do que sonha a vã filosofia dos que se deixam enganar por esses conceitos made in USA como é o caso da suposta "narcoguerrilha".
Aliás, existe mesmo na Colômbia uma fortíssima presença dos cartéis da droga, que abastecem o mercado de consumidores nos Estados Unidos. Essas máfias se articulam com os grupos paramilitares de extrema direita, criados nas últimas décadas pelos grandes proprietários do campo para fazer frente ao crescimento da influência das Farc e ELN, principalmente. Alvaro Uribe e sua família têm tudo a ver com isso.
Por outro lado, setores da guerrilha foram criando relações de promiscuidade com os narcotraficantes; primeiro, através da cobrança de uma espécie de "imposto"; depois, num esquema de proteção às atividades ilegais que se desenvolvem nas chamadas zonas liberadas no interior do país. Note-se que esse tipo de desvio cedo ou tarde cobra um pesado preço, desmoralizando uma luta por justiça social que se prolonga há décadas.
Por isso, é fundamental lançar um olhar mais amplo e crítico sobre o problema, evitando os estereótipos e a simples repetição dos chavões da imprensa conservadora.

Fala, Cacciola, fala

O ex-banqueiro Salvatore Cacciola vai ser finalmente extraditado para o Brasil. Nos próximos dias chegará ao fim uma perseguição policial que durou oito anos, desde quando ele fugiu para a Itália e lá se abrigou na condição de dupla nacionalidade para não ter de responder pelo rombo de R$ 1,6 bilhão durante a lambança cambial de 1999.
Aliás, faria um grande serviço se, na condição de apenado a 13 anos de prisão, Cacciola revelasse tudo que sabe sobre os subterrâneos do Banco Central, sob a gestão FHC, quando transitava com desenvoltura suficiente para transferir ao Tesouro Nacional o prejuízo de seus negócios privados. Como era impossível fazer tudo sozinho, a revelação de seus comparsas localizados em todos os andares do sistema financeira nacional poderia ser de grande utilidade. E, também, de boa fonte de dor de cabeça para alguns cidadãos que se julgam acima de qualquer suspeita.

sexta-feira, 4 de julho de 2008

Yes, tem gringo na batucada

Não podia ser mesmo diferente. A midiática operação que libertou Ingrid Betancourt e mais 14 reféns das Farc, entre eles três mercenários norte-americanos, foi planejada, executada e financiada em estreita articulação entre o governo direitista de Álvaro Uribe e o Pentágono. A revelação, que não deve causar espanto diante do enorme poder exercido pela Casa Branca nos assuntos internos colombianos, foi feita pelo embaixador estadunidense em Bogotá, William Brownfield, que admitiu que várias decisões sobre o resgate "foram tomadas nos mais altos níveis do governo americano", de acordo com matéria do jornalista Sérgio Dávila, publicada na edição de hoje da Folha de São Paulo.
Uribe, que há semanas enfrentava sua maior crise a partir da eclosão do escândalo da compra de votos que garantiram sua reeleição (qualquer semelhança com o segundo mandato de FHC e com o mensalão de Lula não são meras coincidências), pode agora respirar aliviado. Virou um ícone de um determinado tipo de líder latino-americano cuja estatura não ultrapassa os limites dos rodapés do Salão Oval em Washington.

A mina de ouro da preservação

Para o presidente Lula, entre preservação de um "cerradinho" e o aumento da produção de soja, a opção de seu governo já está tomada. Ele prefere estimular o avanço da fronteira agrícola e catapultar a safra de grãos, para a alegria de sojeiros e das megaindústrias de fertilizantes e sementes. Não é, entretanto, o que pensam os ambientalistas das ONGs Conservação Internacional (CI) e The Nature Conservancy, que em conjunto com pesquisadores da Universidade Federal de Goiás, calcularam os enormes ganhos de se manter esse bioma livre da devastação. A preservação das áreas remanescentes do Cerrado brasileiro, e o reflorestamento de áreas degradadas, pode representar a gigantesca soma de, de pelo menos, US$ 20 bilhões (cerca de R$ 34 bilhões) em crédito de carbono.

Rotos e esfarrapados

Finalmente as estatísticas da tragédia das mortes de bebês na Santa Casa retroagiram para além de 2007, início do tumultuado e instável governo de Ana Julia, da coalização PT-PMDB. Era evidente que se tratava de mais um caso de continuidade e não de ruptura. Segundo dados revelados pelo governo do Estado, a taxa de mortalidade na unidade neonatal tem se mantido elevada nos últimos três anos, pelo menos. Em 2005, em pleno reinado tucano, foi de 14,3% a proporção de mortes de recém-nascidos frente ao total de nascimentos; no ano seguinte, o último da gestão Simão Jatene (PSDB), este índice subiu para 17,5%, e em 2007, quando assumiu a equipe indicada por Ana Júlia e Jader Barbalho, a mortalidade ficou praticamente no mesmo patamar, alcançando 16,2%.Trocando em miúdos: o caos na Santa Casa não começou agora. Possui raízes históricas e deriva de um quadro mais amplo de abandono da saúde pública, em todos os níveis, sem isentar de responsabilidades as prefeituras e o próprio governo federal.
Soa demagógico quando os tucanos buscam surfar sobre a crise, como se lá, em meio à dor das famílias, não estivessem também suas delicadas digitais.
Assim como, para Ana Júlia e seu governo de pseudo-mudança, esta crise, somada a todas as outras que vêm se repetindo mês a mês, revela que entre a propalada intenção e o efetivo gesto existe um abismo. Que não pára de crescer na mesma medida em que se aprofunda sua escolha de ser apenas a repetição – com nuances e sotaques irrelevantes – do velho e carcomido modo direitista de governar.

quinta-feira, 3 de julho de 2008

A maldade por trás do besteirol

A Amazônia não pode ser "uma coleção de árvores" para estrangeiros, muito menos uma "reserva ambiental absoluta", o que só seria possível com a morte de seus 21 milhões de habitantes. Quem imaginou que essas idéias estapafúrdias teriam saído da cabeça de algum líder da bancada ruralista, acometido de repentino ataque de hidrofobia, está completamente equivocado. Essas pérolas foram expelidas pelo ministro Nelson Jobim (Justiça) ao defender a militarização das fronteiras, como resposta a suposta ameaça representada pela demarcação em terras contínuas da Reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima.
É evidente que os fantasmas que o ministro ataca - quem, afinal, defende algo parecido com uma "reserva ambiental absoluta"? - servem apenas para criar o contexto para a reiterada investida contra os direitos dos povos indígenas e influenciar a decisão que o Supremo Tribunal Federal (STF) promete para o próximo agosto. Sim, serve de senha para que a frente de devastação continue avançando, atropelando tudo e todos que se coloquem em seu caminho, como se sua ação predatória fosse condição para a manutenção da soberania nacional.

Atualização das 12:15:

Um ato falho do redator deste Blog trocou a pasta de Nelson Jobim. Ele é, na verdade, ministro da Defesa e não da Justiça, posto que ocupou durante o primeiro mandato de FHC.


Sem eira nem beira

Quando surgiu em 2007, o auto-intitulado Bloco de Esquerda (PSB, PCdoB e PDT) prometia ser o fato novo na política brasileira e um instrumento poderoso para pavimentar o acesso de Ciro Gomes (PSB-CE) ao Planalto em 2010. Submetido a seu primeiro teste eleitoral, a aliança negou fogo. satelitizados pelo PT, os partidos se dividiram, não tendo forças para se firmar como uma alternativa independente. Também pudera. Seria até estranho um resultado diferente quando todas essas legendas - acrescidas do PRB e PMN que se incorporam mais tarde - fazem parte do condomínio governista do presidente Lula, em alegre parceria com os demais partidos de centro-direita.
Como sintoma do total fracasso do que nasceu como promessa de independência e de caminho próprio, o bloquinho foi retirando uma a uma suas candidaturas que incomodavam o PT, até ficar restrito a apenas uma capital, Aracaju, onde tentará reeleger Edvaldo Nogueira, do PCdoB, que assumiu o cargo depois que o petista Marcelo Deda conquistou o governo sergipano em 2006.

Lei de Talião

Israel é uma democracia, a única do conturbado Oriente Médio. Certo? Esse sofisma não resiste a alguns poucos minutos de acompanhamento isento da situação política deste pequeno país, o único na atualidade que se recusa a definir, oficialmente, suas fronteiras, e aplica penas cruéis extensivas aos familiares dos acusados por delitos tidos como de terrorismo.
Ontem, por exemplo, um trabalhador palestino, residente em Jerusalém Oriental ocupada por Israel desde a Guerra dos Seis Dias, em junho de 1967, teve um acesso de fúria. Pilotando uma retro-escavadeira, ele investiu violentamente contra ônibus e veículos de passeio em uma movimentada avenida daquela cidade, patrimônio cultural da humanidade. O resultado sangrento foi a morte de três civis e o ferimento em outras 40 pessoas. O atacante foi sumariamente morto pela polícia, à vista de todos e sob as câmeras de equipes de TV. Pois bem, o governo israelense já anunciou que, muita embora não esteja comprovada a motivação política para o atentado, considerará o fato como terrorismo. Em conseqüência, a casa da família do rapaz será demolida, como determina a lei em Israel. Isso mesmo, em pleno século XXI, a “única democracia do Oriente Médio”, pratica a retaliação contra familiares de um criminoso, na mais evidente e degradante manifestação da milenar e execrável "olho por olho, dente por dente".

Que ninguém se assuste quando a espiral de violência e sangue voltar a explodir em Israel e na Palestina ocupada, tornando uma quimera o frágil cessar fogo recentemente conquistado com o beligerante Hamas.

quarta-feira, 2 de julho de 2008

Plantando deserto

Era o que faltava. Deu hoje no Repórter 70, de O Liberal: Paragominas, um dos 36 municípios flagrados pela Operação Arco de Fogo, quer porque quer mudar sua imagem de paraíso dos predadores. Promete plantar mais de 80 milhões de árvores. Mas, atenção: as espécies selecionadas são paricá e eucalipto, expoente da monocultura que soa como música aos ouvidos dos grandes monopólios do setor mineral e siderúrgico.

Predadores em pânico

Após intensa polêmica, passou a vigorar desde ontem, 1, a resolução do Banco Central que proíbe a concessão de crédito público ou privado a proprietários rurais na Amazônia com Certificado de Cadastro de Imóvel Rural (CCIR) irregular ou suspenso. A medida colocou na ilegalidade, pelo menos, 10 mil proprietários - com áreas superiores a quatro módulos fiscais (cerca de 350 hectares) nos 36 municípios do chamado arco do desmatamento na Amazônia Legal.

Dura Lex

Pode terminar na Justiça Eleitoral a escandalosa dança em torno da cadeira de vice-prefeito protagonizada por quatro dos oito partidos ou coligações que se apresentaram à disputa da Prefeitura de Belém. Em aberta fraude à lei eleitoral, que determina expressamente a escolha das chapas até o dia 30 de junho, as legendas se envolveram em frenéticas e algo impublicáveis negociações que avançaram pelas madrugadas adentro, onde a cooptação e oferecimento de vantagens parece ser a pedra de toque.
Eis aí um bom tema para o Ministério Público Eleitoral analisar com rapidez, antes que se consume o estupro de inocentes atas partidárias.

terça-feira, 1 de julho de 2008

Mal na foto

Atravessando seu pior momento desde a posse em janeiro de 2007, a governadora paraense Ana Júlia (PT) não pára de conquistar espaços na imprensa nacional. Além de freqüentar diariamente a mídia com o mais novo escândalo da morte de 22 bebês na Santa Casa, ela mereceu destaque especial na edição da revista Época que está nas bancas. O título da matéria diz tudo: "A campeã da impopularidade".

O grilo da Vale

Após meses de denúncias dos movimentos sociais e da Comissão Pastoral da Terra (CPT), agora foi a vez do Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária) reconhecer que a Vale é invasora em uma área de 7.400 hectares da União em Ourilândia do Norte, sudeste do Pará, onde hoje implanta o bilionário projeto Onça Puma de exploração de níquel. Pelo menos 53 assentados foram coagidos pela empresa a vender seus lotes, entre 2003 e 2007, sem que o órgão fundiário federal concedesse qualquer tipo de autorização.
Se for levado às últimas conseqüências, o processo pode levar à suspensão do projeto de US$ 2,2 bilhões. Não há, porém, quem acredite que o governo Lula seja capaz de fazer valer a lei quando interesses tão fabulosos estão em jogo.

O exemplo que vem dos Andes

Buenos Aires, 30 de setembro de 1974, às 0h40, uma bomba acionada por controle remoto faz voar pelos ares o automóvel em que estavam o ex-Comandante em Chefe do Exército Chileno, general Carlos Prats González, e sua esposa, Sofia Cuthbert Chiarleoni, matando-os instantaneamente. Quase 34 anos depois do que ficou conhecido como o Crime da Rua Palermo, a Justiça chilena dá uma importante lição às demais nações latino-americanas que ainda hesitam em ajustar contas com o passado de terror dos regimes militares das décadas de 60 e 70. Foi condenado ontem (30) à prisão perpétua o general Manuel Contreras, que chefiou durante a ditadura de Augusto Pinochet a terrível polícia política do regime, acusado de ser o autor intelectual do crime.
Contreras está preso e já havia sido condenado a 70 anos de prisão por outros crimes cometidos durante o período em que comandou, com descomunal selvageria, a Direção Nacional de Inteligência (Dina), órgão responsável pela execução de, pelo menos, 3.000 dissidentes políticos a partir da deposição, em 11 de setembro de 1973, do presidente constitucional Salvador Allende.

Espelho invertido

Os tucanos, que se arvoram os campeões da moralidade no Congresso Nacional, mostraram em São Paulo que essa fúria investigativa tem limites estreitos. Ela termina exatamente quando tem início a operação abafa para preservar seus próprios interesses.
Foi o que fez a maioria da Assembléia Legislativa sob o comando do governador paulista José Serra (PSDB), que ontem arquivou a CPI da Eletropaulo sem encontrar qualquer irregularidade. Uma façanha diante das denúncias, reiteradas pela imprensa e fartamente amparadas em documentos oficiais da Justiça suíça, comprovando o milionário propinoduto montado pela multinacional francesa Alston, grande fornecedora de equipamentos para o setor elétrico e de transportes, no período entre 1997 (Covas) a 2003 (Alckmin).