segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sangue e areia

Serra Pelada está aí como um exemplo.
Um péssimo exemplo de como se vem devastando a Amazônia, impunemente.
A máfia que se instalou nas cooperativas de garimpeiros e as múltiplas relações políticas que sustentam aquela terra sem lei, ganharam as páginas da imprensa nacional.
Para ler (e se indignar), aqui.

domingo, 25 de julho de 2010

Na margem esquerda

Aos 81 anos muito bem vividos, o linguista e cientista político Noam Chomski não depõe armas.
Ao contrário, parece ganhar fôlego a cada batalha, por mais difíceis e intangíveis sejam as causas que abraça com fervor.
Ele acaba de receber uma homenagem inusitada. Indígenas colombianos, sob cerco da violência sem fim de títeres financiados pelos EUA, resolveram denominar o monte El Bosque (incrustrado na região de Cauca) de Carolina, em homenagem à esposa de Chomski, companheira de toda sua vida, que faleceu em 2008.
Com a língua cada vez mais afiada, ele dispara:

"Desde 1967 quando os territórios palestinos foram ocupados, a Faixa de Gaza se transformou na maior prisão ao ar livre do mundo".

"(Barak Obama) é muito parecido a George Bush. Seu expansionismo militar foi até mais longe. O único que mudou foi a retórica."

"(O narcotráfico) é um problema dos Estados Unidos. Imaginem se a Colômbia resolvesse destruir as plantações de tabaco da Carolina do Norte ou de Kentucky, que produzem mais mortes que a cocaina?".

Para ler mais, aqui no Rebelion (em espanhol).

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Dialética do eterno recomeço

"O universo é consumido periodicamente pelo fogo que o engendrou, e renasce de suas cinzas para reviver a mesma história.
Uma vez mais as diversas partículas seminais combinam-se, uma vez mais emprestam uma forma às pedras, às árvores e aos homens - e até às virtudes e aos dias, pois para os gregos não existe substantivo sem alguma substância.
Uma vez mais cada espada e cada herói, uma vez mais cada minuciosa noite de insônia".



Jorge Luís Borges, escritor argentino (1899-1986).

terça-feira, 20 de julho de 2010

Colhedores de tempestades

A tentativa de tornar a usina de Belo Monte um fato consumado segue em marcha batida.
A velocidade com seus defensores atuam é apenas proporcional ao interesse de continuar escondendo seus prováveis e desastrosos efeitos.

Fazendo ouvido de mercador às críticas que continuam a surgir no meio acadêmico, o governo Lula maneja os cordéis dos supostos empreendedores privados, postos e dispostos de acordo com um complexo jogo de interesses mediado por bilhões e bilhões sangrados dos cofres públicos.
Nesta semana, mais um poderoso pedardo foi disparado contra a cidadela que reúne, a um só tempo, o alto escalão federal e um conglomerado de estatais, fundos de pensão e empresas sem maior tradição no restrito clube de grandes construtores de barragens. Pesquisadores renomados, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e pelo Fundo Estratégico de Conservação (CSF), atestaram por meio de criterioso estudo de cenários, que Belo Monte possui apenas 28 por cento de probabilidade de gerar retorno financeiro em 50 anos. Da maneira como está projetada, ao contrário, a usina será fonte de prejuízos para seus investidores, com o possível rombo podendo variar entre 3 e 8 bilhões de dólares.
Além disso, os técnicos comprovaram que a capacidade de geração da hidrelétrica não ultrapassará - e isso na melhor hipótese - 39% de sua capacidade instalada.
Se vai dar prejuízo, por que insistir no projeto?
Simples: Belo Monte não se viabilizará sozinha.
Após construída, o governo mandará às favas os solenes compromissos de erguer apenas uma barragem na Volta Grande do Xingu. Na casa do sem jeito, será impossível deter a pressão por construir outras grandes barragens, todas de altíssimo impacto socioambiental, retornando ao cenário elaborado pela Eletrobrás há mais de duas décadas.
Para ler a íntegra do relatório "Incertezas no desenvolvimento hidrelétrico da Amazônia: Cenários de risco e questões ambientais em torno da barragem de Belo Monte" (em inglês), clique aqui.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Nicarágua, tão violentamente doce (*)

1.

A primeira vez em que me encontrei com a pequena Nicarágua foi diante de uma tela de TV.
A imagem era chocante.
Um homem - um repórter estadunidense - vai se aproximando de uma patrulha da Guarda Nacional somozista. Ele levanta as mãos e parece dialogar com os soldados.
De repente, cai mortalmente ferido.
A câmera treme, de terror. E a notícia ganhou o mundo naqueles dias turbulentos no finalzinho da década de 70. Somoza estava acabado. Era uma questão de tempo. E de sangue, muito sangue, ainda.

2.

O 19 de julho de 1979 - dia da entrada triunfal das forças da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) em Manágua - me remete a um início de noite quando a boa-nova já era manchete na imprensa mundial.
Nicarágua? Somoza? Sandinistas?
Tudo parecia tão distante e tão onírico para um adolescente de 15 anos que há pouco havia descoberto a política e a vontade/necessidade de lutar contra outra ditadura, a nossa e sua abertura contraditoria e limitada.

3.

1987, fazenda La Pintada, Departamento de Matagalpa, norte de uma Nicarágua sob cerco.
Quase uma década da revolução os sinais de senilidade do processo que tantas esperanças despertara estavam por todos os cantos, mas meus olhos e de tantos que ali se entregavam ao trabalho solidário da 2a Brigada Brasileira Zumbi dos Palmares não estavam preparados para enxergar.
No olhar de um povo já cansado de tanta guerra e de uma violência que a tudo esterilizava já se podia antever os percalços que dentre poucos anos se afirmariam.
Mas, isso só é óbvio vendo do ponto de vista do presente.
Naquele momento, com a bandeira rubro-negra da FSNL servindo-nos de coberta, não poderia existir maior demonstração de certeza no futuro (cujo encontro, como se sabe, nem sempre se realiza como esperamos).

4.

Hoje, 19 de julho, são exatos 31 anos da insurreição que fez a cabeça de toda uma geração pelo mundo afora.
A partir da derrota eleitoral de 1990, o sandinismo entrou em crise profunda.
O que subsistiu em seu nome não deixa de ser uma negação dos valores que iluminaram aquela gesta de extraordinária entrega e rebeldia.
Não faz mal.
Lá, entre os vulcões, e nas cidades e campos desta América ultrajada, permanece vicejando - teimosa e valentemente - a flor da liberdade humana que não se deixa perecer.



(*)

Este título é um empréstimo não-autorizado de Julio Cortázar (1927-1984), argentino e cidadão do mundo, que soube traduzir como poucos as emoções, enlaces e desenlaces das eletrizantes últimas décadas do finado século XX.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A voz do profeta

Enquanto houver latifúndio, não haverá justiça.
A voz que se levanta contra as cercas da intolerância é exemplo de destemor e de adesão incondicional à causa dos mais pobres.
Com a palavra, Dom Pedro Casaldáliga.

domingo, 11 de julho de 2010

O homem que sabia mandarim

Brasil, século XXI, afogado em novo ciclo neocolonial.
A metrópole, desta feita, está do outro lado do mundo, entre montanhas geladas e estepes sem fim.
Mas, olhando de outro ângulo, pode estar onde sempre esteve, nos mesmos salões acarpetados pelos quais passeiam os plutocratas do capitalismo globalizado.
O fato - incontestável, por sinal - é que os últimos anos registram sinais preocupantes de uma regressão de amplas e gravíssimas consequências para o futuro de nosso país como um Estado soberano.
Em apenas uma década o peso das matérias-primas em nossa pauta de exportações saltou de 22,8% para 43,4%. Na outra ponta da corda que só estica está a forte demanda por commodities minerais da gulosa economia chinesa.
E que o Pará tem a ver com isso?
Tudo, é claro.
O minério de ferro que a Vale extrai em ritmo cada vez mais alucinante das entranhas do território paraense está no ápice desta lista que consagra a geração de riqueza e empregos no além-mar, deixando por aqui os buracos gigantescos da miséria humana e da devastação socioambiental.
Este é o modelo insano baseado na exploração acelerada das riquezas naturais a fim de gerar superávits na balança comercial, criando o colchão de segurança que permite que a roda da fortuna - para poucos - não pare de girar.

A mãe de todas as tragédias

Um caso exemplar.
Um crime de estupro envolvendo adolescentes da alta classe média.
Pior: um dos acusados é filho do chefão do grupo RBS/TV Globo, um polvo midiático que domina o Sul do país.
Acrescente-se a postura servil e indecente de um delegado de polícia.
E misture tudo com a secular e sempre presente carga de preconceito e de criminalização da vítima em se tratando de crime sexual contra a mulher.
Pronto. Está completa a fórmula que tende a levar ao mesmo destino nefasto: a mais completa e imoral impunidade.
O excelente artigo do jornalista Elio Gaspari, publicado nos principais jornais brasileiros neste domingo, vale como um soco no estômago, bem no centro da anomia social que encoberta e potencializa esta ciranda criminosa.

sábado, 10 de julho de 2010

Lava-pés

Os oligopólios da mídia fazem os seus vassalos.
Há, infelizmente, aqueles que poderiam enfrentá-los mas tremem de medo e se vergam.
Uma pena.
O caminho para a verdadeira democracia no Brasil permenece obstruído.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Crime sem castigo?

Aldo Rebelo, deputado do PCdoB (SP) que resolveu passar de mala e cuia para a bancada ruralista, agregou mais um registro em seu já bem recheado currículo de trânsfuga.
Ontem, sob aplausos dos integrantes da tropa de choque do latifúndio e do agronegócio, o relatório de Rebelo que mutila o Código Florestal foi aprovado numa comissão da Câmara de Deputados. Agora, a batalha se desloca para o plenário.
Ainda há tempo para evitar o pior. Tudo dependerá da capacidade de denúncia e de pressão sobre um parlamento cuja principal tendência é agir como gendarme dos interesses privados, mas que pode, em determinados situações, ser forçado a recuar.
Para saber mais, clique aqui.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O preço de cada um

Correndo atrás do prejuízo, o governo Ana Júlia e o PT esforçam-se para mitigar os impactos negativos - bem maiores do que supunham - da atropelada e polêmica aliança com o PTB de Duciomar Costa.
Na lista de exigências de Duciomar e seus comparsas - como num sequestro, sem tirar nem por - havia de tudo, numa das exibições de maior fisiologismo e desapego com a coisa pública que se tem notícia na história recente do Pará.
Porém, foi na questão do apoio do governo e do PT ao projeto de privatização do serviço de água da capital, que se expôs, sem retoques, uma política que jogou às favas qualquer escrúpulo de consciência programática.
Não custa lembrar: existe uma parcela crítica do eleitorado e ela pode até não ser fabulosamente grande, mas é ativa e pode agir como uma vertente de formação de opinião.
Desconhecer esse fato, crendo apenas na força da máquina, não chega a ser uma ideia muito luminosa.
A propósito, quem sabe essa negociata que se desenrola aos olhos da multidão não serve para acordar - se é que estão mesmo adormecidos - os diligentes fiscais da lei eleitoral.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

É queima total

Belém em liquidação.
O projeto de privatização do prefeito Duciomar é muito mais amplo do que se imaginava.
Não vende apenas - o que já é um crime - o serviço de água e esgoto.
Passa a régua igualmente em outras áreas tão vitais quanto essa.
Se for aprovado, com a provável e indefensável ajuda da cúpula do PT e do governo Ana Júlia - a proposta de Duciomar abrirá as portas para a privatização - a preço vil e sob a mais completa suspeita de envolver interesses escusos - dos setores de finanças, limpeza urbana, saúde, transporte e até os cemitérios.
Demonstrando que essa matéria se transformou numa verdadeira tara, o prefeito convocou a Câmara para um período extradordinário a partir dfa segunda-feira, 5.
Extraordinários são, com certeza, os milhões de motivos que impulsionam essa turba de malfeitores em direção a uma agressão dessa magnitude à cidadania da capital, até agora sem enfrentar a reação devida.
Mas ainda é tempo de impedir o pior.