sábado, 23 de fevereiro de 2008

Os boinas vermelhas estão chegando. Para ficar?

Pela primeira vez desde sua criação em 2004, a Força Nacional de Segurança desembarcará em terras paraenses. Serão 157 homens que reforçarão a tropa de mais de 400 PMs que desde hoje ocupam as ruas de Tailândia, a 240 quilômetros de Belém.
A ação das forças de segurança é uma resposta - adequada e indispensável - à violenta reação orquestrada pelo crime organizado que domina o município, com seus tentáculos mais evidentes se expressando através de supostas entidades patronais. Manipulam de forma descarada a miséria e o desespero de uma população que sobrevive dos precários empregos gerados por uma atividade que só sabe atuar na marginalidade, em aberta afronta à legislação trabalhista e ambiental.
Espera-se que mais esta operação de impacto não se esgote em si mesma. A memória recente - basta recuar a fevereiro de 2005, nas ensangüentadas glebas da Terra do Meio, após o martírio da irmã Dorothy Stang - está repleta de exemplos de como ações espetaculares quando não acompanhas de medidas estruturais de combate à grilagem e de execução de um consistente plano de Reforma Agrária, tendem a dar lugar, tão logo as tropas se retirem, ao mesmo cenário de barbárie de antes.
Tailândia se tornou sinônimo do agrobanditismo, na expressão cunhada pelo geógrafo Ariovaldo Umbelino, da USP. A cada dia surgem novas denúncias, revelando o quanto essa região foi e ainda permanece entregue à ação de verdadeiras máfias. Veja-se, por exemplo, a revelação trazida ontem pelo Jornal Nacional, da Rede Globo, de que 20 projetos de manejo localizados no município foram aprovados, em dezembro de 2006, no tempo recorde de duas semanas, no apagar das luzes do reinado tucano. Na época, a Secretaria estadual de Meio Ambiente (antiga Sectam, atual Sema) era feudo do deputado Joaquim Passarinho (PTB), que dominava a área ambiental através de seu irmão, Raul Porto (este, como é sabido, preso em março do ano passado durante a operação Ananias, da Polícia Federal, de combate a quadrilhas de criminosos ambientais). Resultado: tudo não passava de fraude para "esquentar" mais de 170 mil metros cúbicos de madeira, rendendo aos fraudadores - figuras bem postas no mundo político e empresarial daquela localidade- a fabulosa soma de R$ 50 milhões.
Misteriosamente, quando a promotora Ana Maria Magalhães de Carvalho – que tem recebido ameaças de morte - cobrou informações da Sema, descobriu-se o sumiço de todos os processos. Grosseira tentativa de dificultar as investigações que revela a sobrevivência de elementos do ancien régimen atuando com desenvoltura nesta estratégica secretaria do governo estadual.
Tailândia, mais que tudo, para ter futuro e resgatar sua população do círculo vicioso da violência e da impunidade, precisa da presença permanente do Estado – em todos os níveis – dotado da coragem cívica de fazer, custe o que custar, uma exemplar operação mãos limpas.


4 comentários:

Anônimo disse...

Jr., para mim Tailândia foi escolhida como bode expiatório - embora mereça - para um acontecimento midiático. Um dos municípios mais violentos do estado e do pais; a promotora ameaçada por um vidente; o desmatamento na amazônia repercutindo mundo afora, essas coisas. É mais uma daquelas ações de apagar as chamas, com o estado agindo somente depois do estrago ter sido feito. Veja que esse tipo de coisa nå vai se estender para os demais municípios do estado. Vamos lembrar rapidamente: e São Félix do Xingu, após a chacina da fazenda primavera e até mesmo da morte do vereador? E Anapu depois do assassinato de D. Stang? E Abaetetuba, apos o estupro de uma menor? quer mais? Apenas um governo comprometido de fato com a realidade de nosso estado pode construir um plano de média e longa duração com vistas a minorar este estado. Nem a Dra. Vera deu jeito, que se dizia uma das cabeças pensantes do estado na área de DHs. Junior, o que vc propõe?
Descrente

Aldenor Jr disse...

Descrente das 19:43,

Motivos há para reforçar o ceticismo diante mais esta operação espetacular. Por outro lado, se o Estado optasse pela postura de se apequenar diante da provocação do sindicato do crime de Tailândia, seria muito pior.
O central é não transformar a ação em um episódio midiático a mais.
Como sempre, vai ser preciso esperar para ver os desdobramentos.
Não devemos esquecer que outras 11 cidades paraenses estão na lista suja do desmatamento e devem integrar a anunciada operação Arco de fogo. A temperatura vai mesmo aumentar nas próximas semanas. Pode ser uma oportunidade para abrir o debate sobre as medidas de maior fôlego que, sabemos, esbarram no atual modelo agro-mínero-exportador, herdado dos governos passados, mas fortalecido sob Lula.

Alan Lemos disse...

É triste ver que além do problema instalado, existe governante por trás disso. Jota-érri, ainda não tinha raparado para o detalhe do mês exato da liberação dos 20 projetos: o último mês do último dos 12 anos.

Anônimo disse...

Tailandia chora 300 homicidios de 2006/2007, e não se tem um inquérito policial que ultrapossou a notitia crimines do cadaver insepulto, é necessário rigor para unir aponta dos sem tora, madeireiro, pistoleiros, grupo de exterminio que agem sob a tutela do macarrão e seu deputado federal nilson pinto