terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Variações em vermelho

A carta-renúncia de Fidel, cuja repercussão incendeia a blogosfera desde cedo, precisa ser colocada em um contexto mais realista, menos fantástico. A história da revolução cubana não foi obra solitária de um punhado de homens, muito embora Fidel seja parte - talvez a mais eloqüente e determinada - de uma vanguarda que soube estar à altura (e, muitas vezes, adiante) dos desafios de seu tempo. Heróis, sim, mas humanos, de carne e osso. Mediados pelas circunstâncias e determinações concretas da vida real.
Não cabe alimentar expectativas quanto a mudanças bruscas, rupturas políticas, retornos apoteóticos ao capitalismo ou qualquer coisa do gênero. Quem conhece com o mínimo rigor o cenário político-social cubano sabe que a continuidade da revolução - com todos os seus méritos e contradições - não depende de um único homem, mesmo que seja um líder com as qualidades e dimensões de Fidel. Também não estamos diante de uma solução necessariamente familiar, oligarquia socialista, cujo poder ou irá para Raul Castro, revolucionário e dirigente de primeira hora, ou se dispersará em um torvelinho de desagregação.
O mais provável é que Cuba siga seu rumo, reforçando opções que têm marcado sua trajetória nos últimos 15 anos pelo menos. Sem solavancos, sem retrocessos, mas ainda navegando pelas turbulentas águas do cerco econômico, político e midiático patrocinado pelo governo estadunidense.
Com Raul ou com outro quadro - e há muitos de enorme preparo na cúpula do Partido Comunista - o horizonte cubano continuará sendo pintado de vermelho, infinitas variações do mesmo tema de justiça e igualdade que embala os melhores sonhos da humanidade há tanto tempo.

3 comentários:

Georgina Galvão disse...

Hoje cedo quando ouvi o noticiário sobre a carta-renúncia de Fidel, me veio à mente o poeta americano Walt Whitman:"No dejes que termine el día sin haber crecido un poco,
sin haber sido feliz, sin haber aumentado tus sueños".
Espero que os sonhos inspiradores que Fidel tem legado todos os dias à humanidade, inclusive a lição de grandeza de hoje, guiem seu povo para que continuem no comando de sua própria História.
Saúde à Fidel e toda felicidade ao povo cubano.

Anônimo disse...

O LEGADO DE FIDEL


A rigor, Cuba não teria motivos para ser diferente do Haiti: a miséria absoluta, total.

II
Impressionou-me muito, em Cuba, caminhar na rua às 17 horas. As ruas ficavam repletas de crianças saindo da escola, todas uniformizadas, em sua imensa maioria negras. Na escola, têm acesso a médicos, dentistas, têm acesso a esporte e a lazer. E, claro, são alimentadas na escola.

III
Cuba era o esgoto dos Estados Unidos. A rigor, sua economia era movimentada pelos cassinos e pela prostituição. Em terceiro lugar havia charutos e rum. E era governada por um ditador, o sargento Fulgêncio Batista.

IV
Nesses 49 anos de Fidel Castro Cuba recuperou sua dignidade. A educação é equivalente às melhores do mundo. A saúde é garantia de todos e, de fato, existe. A medicina cubana é avançada, possui tratamentos que nenhum outro país tem para doenças, por exemplo, como o vitiligo e a retinose pigmentaris.

V
Cuba tem problemas, é claro, e comentei sobre esses problemas em um texto específico que publiquei há algum tempo. E foi submetida ao bloqueio econômico dos Estados Unidos. Você sequer consegue entrar nos EUA se tiver um charuto cubano no bolso.

VI
Terminou hoje a era Fidel. Será que valeu a pena? Será que o saldo é positivo?

VII
Todas as crianças estão na escola. Toda a população tem acesso à saúde. Não há desemprego em Cuba. Há pobreza, sim, mas não há miséria. Acima de tudo, Cuba é uma tentativa extremamente humana de construir um modelo onde a economia esteja a serviço da sociedade, e não a sociedade a serviço da economia. Isso com todos os problemas de Cuba. Daí que o saldo da era Fidel consiste em milhões de crianças que foram salvas da indigência, do analfabetismo, das doenças. Salvar crianças é um saldo positivo em qualquer lugar do mundo, em qualquer período da história.

VIII
Cuba mudará. Provavelmente sua economia passe por alguns processos de maior abertura, como já aconteceu em 3 oportunidades. Mas duvido que o povo cubano troque os seus avanços sociais por um regime liberal onde a miséria seja vista como algo normal, onde a mortalidade infantil seja aceita com naturalidade, onde a saúde seja acessível somente a quem tem dinheiro. Dessas mudanças em Cuba talvez surja um novo regime que permita algumas liberdades econômicas mas que garanta os avanços sociais. E é esse o desafio da humanidade: conjugar o avanço social às iniciativas de natureza individual. Submeter as iniciativas individuais àquilo que é útil à população.
Castagna Maia www.castagnamaia.blig.ig.com.br

Anônimo disse...

ei aldenor, vc continua um velho comuna de guerra mesmo, hem? defendendo Cuba e ainda tendo esperanças nela? Acabou-se o tempo da esperança meu amigo, esse negócio de "princípio esperança" é conversa, quem manda agora, com tudo a que tem direito é mesmo o capital.