terça-feira, 4 de março de 2008

Rompendo o silêncio

Silêncio, medo e impunidade costumam ser complementares. Percorrem os mesmos caminhos, irmanados. São a moldura na qual se movimentam os atores da barbárie urbana, onde os corpos massacrados de hoje apenas antecipam os que amanhã certamente virão. Romper esse véu escuro que protege a ação de criminosos, muitas vezes amparados pela farda ou pela posição social, é o primeiro e muitas vezes doloroso passo.
Com o início da operação Navalha na Carne, começa a vir à luz parte da história de um dos grupos de extermínio que atuava na Grande Belém. A postagem a seguir, coberta pela óbvia proteção do anonimato, relata os passos trilhados por um desses bandos, cuja tarefa de desarticulação as autoridades policiais estão apenas começando.


"No início de 2007, após um ano de muitos assaltos em Icoaraci, alguns comerciantes e empresários que haviam sido vítimas, sendo roubados, alguns até perdendo parentes, e cansados de pedir apoio à policia, resolvem se organizar, pois os ladrões estavam cada vez mais ousados, não agiam mais só na calada da noite, mais em qualquer hora do dia, resultado do abandono a que o Distrito está relegado há anos. São chamados alguns policiais lotados ou residentes na região. Naquele momento, foi acertada a eliminação de alguns ladrões. Era início do grupo de exterminio, que logo sai do controle e começa a matar a todos que o desafiam, inclusive pessoas honestas e pais de famílias.
No início o grupo agia somente em busca dos ladrões, através das informações repassadas pelos comerciantes, pelas imagens dos circuitos de segurança e relato de testemunhas. Era o começo de comércio muito lucrativo para os policiais corruptos e seus amigos, que recebiam para matar pessoas que supostamente não fariam falta à sociedade. As famílias das vítimas se calavam diante dos crimes, com medo de represálias.
Assim se inicia a matança e o grupo foi crescendo e se organizando, agregando sempre novos parceiros do crime, pois agiam por área de interesse. Por exemplo: o policial que morava no Paracuri, agia na sua área, logo tinha que encontrar um ou mais parceiros para agirem juntos. O mesmo acontecia na Pratinha, Buraco Fundo, Agulha, Feira da 8 de Maio, Tapanã e assim por diante. A fama do grupo cresce assim como seus crimes e logo percebem que podem expandir os negócios.
Nesse ínterim alguns desses policiais começaram também a fazer segurança em determinada festa, em determinado comércio, esse era o alerta para os ladrões não se aproximarem. O comerciante que não podia entrar no consórcio da morte, ficava completamente desprotegido.
Da venda de proteção ao tráfico de drogas foi um salto. O grupo começou a vender seus serviços para aos grandes traficantes de Icoaraci, que tinham seu comércio ameaçado pelos pequenos vendedores, aqueles que vendiam somente para seu arcar com seu consumo, mas não roubavam, não matavam, não eram fichados na policia. Em geral essa raia miúda podia transitar livremente pelo local onde negociavam a droga, pois eram tidos como pessoas do bem, já os grande traficantes do Cubatão, Buraco Fundo, etc..., só saiam do toca à noite e perdiam muita venda, aquele dinheiro da diária, assim começaram a encomendar a morte de alguns pequenos traficantes, viciados que estavam tirando sua clientela, principalmente em todo o entorno do Cruzeiro, que agrega um grande número de bocas de fumo.
Havia também a briga entre os grandes traficantes, quem pagava mais mandava eliminar o concorrente. Como na maioria dos casos ninguém reclamava o morto, tudo ficava por isso mesmo.

E grupo cresceu em proporção e ousadia. Agora não tinha mais medo de andar ostentando suas armas, pois de repente o grupo tinha um novo membro, nada menos do que um juiz de direito – Dr Alan Meireles - sujeito era dado as grandes noitadas, sempre acompanhado por belíssimas meninas, todas menor de idade, sua preferência e de seus novos amigos. Era sempre visto no Kuarupp ou na Orla do Cruzeiro, bebendo alguma morte ou negociando alguma morte. Dizem que suas passagens por ali sempre eram motivo de medo por parte dos barraqueiros, não que fosse dado a calote, muito ao contrário, sempre pagava suas noitadas, mas era o medo de desagradar ao homem da lei. Seu último aniversário, por exemplo, foi comemorado na orla de Icoaraci, regado a uma boa partida de futebol entre “mocinhos e bandidos”. Tudo isso era público, não era necessário um ano de investigação e sim vontade política de resolver a situação.
E assim eles trabalhavam para empresariados, traficantes, agiotas e também por conta própria. Ninguém podia olhar diferente que já ficava marcado. Bebiam de graça, vestiam de graça, pois ninguém tinha a coragem de desafiá-los, ostentavam em plena luz do dia suas armas, suas patentes.
Assim agia o grupo de extermínio em Icoaraci. Não pensem que terminará com a prisão dos pistoleiros. Ainda há gente graúda envolvida, juízes, promotores, delegados, aliciadoras de menores, empresários..".

2 comentários:

Anônimo disse...

o nome desse post devia ser nitroglicerina puríssima! Cadê os promotores, quem são eles? delegados, empresários, o que é isso?

Anônimo disse...

Ainda tem mais?
onde vamos parar?