segunda-feira, 12 de maio de 2008

Réquiem para a pequena Maria dos Anjos

Maria dos Anjos tinha apenas seis anos. Vivia com seus parentes na aldeia Anajá, Terra Indígena Araribóia, no centro-oeste do Maranhão. Seu povo está sob cerco de vizinhos hostis. A fronteira do "progresso", com suas motosserras e suas patas de gado, há muito declarou uma guerra de aniquilamento contra o que restou da grande nação Guajajara, outrora dominante na região. Era índia e brasileira, com todos os direitos assegurados pela Constituição Federal. Mas, mesmo assim, a criança não teve a menor chance. Recebeu um tiro certeiro na cabeça e morreu na hora, sem chance de socorro.
Os criminosos, provavelmente vindos do município de Arame, bem próximo da reserva, segundo os indígenas, foram os mesmos que no início de 2007 assassinaram Timóteo Guajajara. O ataque faz parte de uma estratégia de espalhar o terror sobre a comunidade, forçando que a tribo abandone suas terras, deixando-a livre para a ação de madeireiros e pecuaristas.
A Polícia Federal abriu inquérito e enviou uma equipe de policiais para a reserva. Talvez os autores materiais dessa tragédia sejam presos. Talvez.
Mas Maria dos Anjos Paulino Guajajara, de apenas seis anos, índia e brasileira, está morta, abatida cruelmente. Seu sangue inocente irrigou a terra de seus ancestrais e virou estandarte da luta de resistência dos povos indígenas à barbárie e à intolerância.
Que sua memória seja preservada e que viva - para sempre - dando forças para os que não deixam de lutar e construir o caminho para a terra sem males.

Um comentário:

Anônimo disse...

Aldenor,
Haverá espaço na imprensa para mais uma menina de seis anos assassinada, mesmo estando este terrível e cruento crime dentro de um contexto grave de terror e agressão ao povo guajajara, diferente da paulista Isabella, cuja morte serve de combustível para a audiência das emissoras e do linchamento dos acusados?
Será que dói menos nas pessoas, pelo fato de se tratar de uma indígena lá nos confins do Maranhão? Se assim for, é tão monstruoso quanto trucidar uma inocente. Será possível que os brasileiros se igualarão apenas na violência e na indiferença???
Artur Dias