domingo, 1 de junho de 2008

Dialética dos que não se rendem

"Estava bloqueado Canudos. (...) A insurreição estava morta. Sucedeu, então, um fato extraordinário de todo em todo imprevisto.
O inimigo desairado revivesceu com vigor incrível. Os combatentes, que o enfrentavam desde o começo, desconheceram-no. Haviam-no visto, até aquele dia, astucioso, negaceando nas maranhas das tocaias, indomável na repulsa às mais variadas cargas, sem par na fugacidade com que se subtraía aos mais imprevistos ataques. Começaram a vê-lo heróico.
A constrição de milhares de baionetas circulantes estimulara-o; e dera-lhe, de novo, a iniciativa nos combates. Estes principiaram desde 23, insistentes como nunca, sulcando todos os pontos, num rumo girante, estonteador, batendo, trincheira por trincheira, toda a cercadura do sítio.
Era como uma vaga revolta, desencadeando-se num tumulto de voragem".

Euclides da Cunha (1866-1909). Os sertões (1902, p. 527).

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