domingo, 24 de janeiro de 2010

Retrato em sépia

Pouco a pouco a tragédia do Haiti parece que vai esmaecendo. As cores brutais de um país devastado e de um povo em frangalhos perdem o vigor, envelhecem na alucinante velocidade com que as notícias vão girando e se sobrepondo umas às outras.
Não demora muito e somente se ouvirá, de vez em quando, um eco distante daquilo que foi (e é) a maior catástrofe na história americana.
Imagine, porém, se não fosse Porto Príncipe a cidade devastada.
Imagine, só por um minuto, que Nova York, vitrene do capital e da exuberância do mercado, tivesse sentido, em pleno Central Park, o epicentro de um terremoto das mesmas dimensões e consequências daquele que massacrou o Haiti há apenas 11 dias.
Proporcionalmente, teríamos algo como 415 mil mortos, ou o equivalente a 138 vezes o número de vítimas do atentado ao World Trade Center, no sempre lembrado 11 de setembro de 2001.
É impensável que o mundo - e a grande mídia - virassem tão rápido uma página assim tão dolorosa.
A hecatombe haitiana , esta última que foi fruto de um fenômeno natural, apenas amplia e aprofunda os enormes efeitos de 200 anos de um massacre sem fim.
É a criminosa forma de tratamento que os Estados Unidos (e as demais potências) sempre dispensam ao Haiti que está na raiz da pobreza e da violência que dilaceram aquela pequena e sofrida nação caribenha.
Sem colocar o dedo nesta ferida, o mundo estará apenas receitando analgésico para o paciente vitimado por uma doença terminal.

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