sexta-feira, 12 de junho de 2009

O avesso do avesso

O ministro Nelson Jobim (Defesa) é um boquirroto. Fala de tudo e de mais um pouco, sempre com opiniões peremptórias, definitivas. Fala - ou melhor, lança proclamas, éditos - sempre com aquela certeza que só os ignorantes são capazes de exibir.
Voltou ontem, 11, ao tema da anistia recíproca que, promulgada em 1979, em plena ditadura, teria livrado os torturadores e assassinos de punição para todo o sempre, amém.
No afã de reiterar seu compromisso com a impunidade fardada, o ministro de Lula foi mais longe. Desenterrou uma expressou antiga, revanchismo, muito em voga no final dos 70 e início dos 80, no exato momento em que ganhava as ruas os primeiros movimentos de contestação ao antigo regime. Ruas cheias de operários, de braços cruzados, desafiantes. Mas também repletas de estudantes e profissionais exigindo o fim da ditadura e a anistia ampla, geral e irrestrita, e não nos moldes limitados que os próceres da Arena, então auto-intitulado o maior partido da América Latina, começa timidamente a admitir.
A revanche, ou vingança, era o temor dos que haviam manchado as mãos com sangue de inocentes, chacinados nas câmeras de tortura. Esquartejados, violados, enterrados como indigentes, incinerados na serra das Andorinhas, enfim, desaparecidos como se nunca houvessem existido.
Quando muito, o arrogante Jobim admite - de evidente má-vontade - o resgate da memória. Da boca para fora, porque nada faz de concreto também nesse campo. É definitivo, porém, seu rechaço a qualquer tipo de punição, seja por sua interpretação canhestra da lei da Anistia e de seus crimes conexos, seja pelo princípio de prescrição, que nem os tratados internacionais assinados pelo Brasil seriam capazes de flexibilizar.

Olha com evidente desdém aos processos vivenciados pela Argentina e Chile, por exemplo, onde, apesar de todos os percalços, a Justiça começou a ser feita em toda sua plenitude.
Mas tudo não passa de bazófia. O ministro e o governo do qual ele faz parte não estão interessados no resgate de coisa alguma. Fazem, isto sim, um pacto para consagrar a injustiça histórica, evitando que a sociedade brasileira penetre no lado mais sombrio dos anos recentes de terror de Estado. Compactuam com criminosos, deixando a porta aberta para a reprodução das atrocidades que sangraram o povo brasileiro por longos 21 anos, entre 1964 e 1985.


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