sábado, 1 de agosto de 2009

Destilaria de ódio

É notável como as elites reagem a qualquer movimento que aponte para uma distribuição de renda menos indecente no Brasil. Por menor e mais superficial, pouco importa, essas medidas costumam sofrer ataque cerrado do andar de cima. Mesmo que seja apenas um reajuste - de menos de 10% - nos miseráveis valores pagos pelo Bolsa Família, maior programa de transferência de renda do governo federal. Aumentar em quase R$ 500 milhões o orçamento do programa é apontado como uma heresia, ou mesmo como uma espécie de crime contra a economia nacional.
O editorial de O Globo de hoje, por exemplo, a pretexto de combater o "populismo" de Lula, chega a duvidar da existência de famintos no Brasil. Segundo o jornal da família Marinho, o número de famintos sempre foi superestimado e não chegaria a 4% da população (cerca de 8 milhões de pessoas). Logo, o Bolsa Família que atende quase 12 milhões de famílias seria um claro exagero e uma forma de retirar recursos das áreas de saúde, educação e - lógico - infraestrutura, porque os empreiteiros também precisam ganhar o seu.
Destinar, ao menos, 30% da arrecadação federal para pagar os mandarins da dívida pública - interna e externa - é visto como um indicador de responsabilidade e saúde fiscal. Mas drenar para as famílias muito pobres algo como R$ 12 bilhões de um orçamento anual que ultrapassa R$ 1,5 trilhão chega a ser inaceitável para os que jamais tiveram a menor ideia do que significa dormir com fome e acordar mais faminto ainda.
As intenções eleitorais de Lula parecem evidentes, o que não diminui a necessidade de se recompor o poder de compra de um benefício que assegura o sustento de quase 50 milhões de brasileiros atualmente, muito embora submetidos ao círculo vicioso da dependência eterna aos programas sociais do governo.
O que deveria ser entendido como uma política emergencial acabou virando um instrumento permanente, com viés manipulatório e perfeitamente assimilado no seio de uma política econômica voltada a aumentar o lucro dos que sempre faturam em qualquer contexto. Mas que parecem jamais estar de barriga cheia.


Um comentário:

Bia disse...

Bom dia, caro Aldenor

os que uivam são os que consideram que dinheiro para rico é financiamento e para pobre é politicagem.

É preciso considerar, no entanto, que o próprio governo, através do IPEA, sabe que que o que vem reduzindo a proporção de pobres é o aumento do salário mínimo. Vai daí que o investimento na criação de oportunidades de trabalho daria mais sustentação a essa redução do que o investimento crescente no BF.

Mas, Nosso Guia tem caminhos que a razão não reconhece.

Abração.