sexta-feira, 31 de dezembro de 2010

Crer. Para ver.

Veja:
há mais do que essa trama invisível
e perversa a aprisionar o horizonte
nesse édito da injustiça eterna.

Veja:
o homem-mercadoria e o tudo-coisa
não são tão absolutos quanto querem
fazer crer.

Veja:
Aqui e ali, no espaço-silêncio,
algo se move.
Lenta, desajeitada e ferozmente, move-se.

Veja:
Que 2011, grávido de tantas esperanças,
desfralde todas as bandeiras - rotas mas tão atuais -
para afirmar a liberdade humana como alvo e
como destino.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Zero Ground

A política amapaense está em choque. Um choque de muitos e muitos megatons.
Afinal, não é todo dia que um governador no exercício do mandato vai para trás das grades e um ex, candidato favorito ao Senado, vai lhe fazer companhia.
Com parte do andar de cima em pânico, a plateia espera que não fique só por aí.
Que estes ventos de moralização possam invadir o continente, desbaratando em terras paroaras certos esquemas que se imaginam totalmente blindados diante da lei.

domingo, 29 de agosto de 2010

Chamem a Cavalaria

Esses tucanos são mesmo previsíveis.
Quando a situação aperta, a reação é sempre convocar seus "reservistas".
O mais notório, sem dúvida, é o ministro do Supremo, Gilmar Mendes.
Com a candidatura Serra praticamente demolida, eis que Mendes chama a imprensa para meter sua colher na tal quebra de sigilo fiscal de uma penca de cardeias do PSDB. Aliás, figuras notórias e sempre relacionadas com transações tão suspeitas quanto nebulosas.
"Quebrar sigilo é bandidismo político", bradou à Folha de São Paulo, que dá chamada de primeira página neste domingo para a descoberta acaciana do ex-advogado de FHC.
Afinal, eis um tema em que Gilmar Mendes pode ser considerado especialista.

Dialética de um fio que não se quebra

Ecos da Cabanagem

"446 - Ofício de Lourenço Justiniano da Serra Freire, Tenente Comandante de Breves, a Francisco José de Souza Soares Andréa, informando que na expedição ao Marajó, no Rio Muaná, não foi encontrado um grande ponto de rebeldes, nem Quilombo de desertores e pretos fugidos, apenas cabanas destruídas, os mesmos se dispersaram pelos rios em pequenos grupos após tentarem assassinar o seu comandante (Boca). Foram capturados alguns rebeldes e remetendo dois prisioneiros pela escuna Pirajá. Quartel de Breves, 25 de março de 1838. Lourenço Justiniano da Serra Freire. 4p".

Anais do Arquivo Público do Pará, v. 4, t. 1, p. 1-290, 2001.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Feliz Ano Velho

O ano ainda não acabou.
As eleições presidenciais vão se aproximando da hora decisiva, mas com uma crescente possibilidade de que tudo se resolva - a favor do governo, diga-se - já no primeiro turno.
Enquanto o povo mergulha embevecido nas imagens em alta definição de um Brasil fabuloso, recheado de gente feliz e esperançosa, eis que no andar de cima já se planeja o dia seguinte, ou melhor, o ano 1 do provável governo do PT sem a presença oficial de Lula na Presidência.
A crer na matéria de hoje da Folha de São Paulo, o saco de maldades está muito bem fornido.

domingo, 22 de agosto de 2010

Coincidências não existem

A Rádio Tabajara, do jornalista Carlos Mendes, foi empastelada ontem.
A pesada mão do Estado agiu com a truculência de sempre, mas não se tratou de um ato cego.
Que ninguém se engane: há sim relação entre causa e efeito entre as críticas dirigidas pelo jornalista à campanha do PT e a "inspeção" de rotina realizada pela Anatel e Polícia Federal.
Pouco importa se centenas de rádios alternativas têm sido vítimas do mesmo processo de censura institucionalizada.
No caso específico - e isso é fundamental que se lembre - houve uma ação coordenada.
Mais importante: difícil crer que não tenha havido ordem de cima.
A sociedade paraense ganhará muito em saber de quem partiu a ideia de utilizar métodos que trazem a lembrança do açoite sob ordens de redivivos coronéis de barranco.

Escravo do tempo. Ou da falta dele

O Página Crítica entrou em um quase recesso.
A culpa é do tempo. Ou melhor: da extrema falta dele.
Nas próximas semanas, infelizmente, o quadro somente se agravará.
Peço desculpas aos que por aqui passam, de vez em quando, em busca de algo novo.
Nas pequenas frestas que se abrirem, volto ao que o grande e imortal Haroldo Maranhão chamava de "invariável compromisso de todos os dias (...) ginástica diária. Exercícios de
flexão e (no caso dele, bem entendido) de ficção".
No meu, tenho certeza, apenas tentativa de domar e ser domado pelas palavras.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

É meia-noite e tudo bem. Tudo bem?

O capitalismo financeirizado é uma festa. Para poucos, mas sempre uma festa.
Só que não dura para sempre.
O fantasma da crise está sempre por aí, assombrando uns e outros.
Agora, aquela sensação inquietante que sinaliza um novo abalo global para os próximos meses voltou a tirar o sono dos especuladores em Nova York.
Quando tempo será necessário para a bomba-relógio explodir?
Quanto tempo será necessário para que a onda atravesse o Atlântico e venha dar na praia de um Brasil embebedado pela aparente estabilidade econômica?
Quem viver, verá.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Retratos da barbárie

Quantos estupros ainda sofrerá a adolescente bestializada no cárcere de Abaetetuba?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Infinitas cortinas com palcos atrás

A desfiliação de Almir Gabriel do PSDB, mais um furo da sempre bem informada Rita Soares, é quase uma não-notícia.
Há meses esse desfecho era esperado e, na prática, o ex-governador já havia mudado de mala e cuia para a canoa de Jader e Juvenil.
Então, o que deveria despertar interesse na verborrágica e algo delirante pregação que o agora ex-tucano assume como uma espécie de missão apostólica?
É, justamente, o persistente ataque ao grande eleitor oculto da política brasileira e paraense, a "multinacional da mineração" Vale do Rio Doce e seu "insolente" presidente, Roger Agnelli.
Por que essa denúncia - gravíssima - não é capaz de gerar qualquer comentário na mídia e na blogosfera?
Seria um fato sem importância a tal "intromissão indevida" do monopólio privatizado por sobre a maioria dos partidos e a quase totalidade dos atuais (e pretéritos) governantes dessas terras paroaras?
Esse silêncio parece ir muito além de mera cumplicidade. Antes, revela que o teatro eleitoral está em grande medida maculado por um tipo de nódoa muito difícil de lavar: a submissão aos interesses das poderosas engrenagens do financiamento privado.
E são essas mãos, sempre prepotentes e despudoras, que moldam o discurso e prática dos que se vergaram ao triste papel de vassalos do grande capital.

domingo, 1 de agosto de 2010

Dialética da arte de domar palavras

O aprendiz


Da ponta do arame
a frase
sem (o) equilíbrio
escapa
Tentar o vento
o vulto de uma vela
com o frio alicate
tanto resulta
madeira inerte
ou rocha lisa.

Do côncavo do seio
da curva do arame
partir (ia) o pássaro. Foge
nervo dorido
(asa)

grito,

A imagem branca
dorme na concha
real mas inconsútil
que o arame fere
inútil.

Max Martins (1926-2009). Poeta paraense. H'era (1971) em Poemas reunidos (1952-2001). Belém: Editora da Universidade Federal do Pará/ EDUFPA, 2001, p.318.

Engolidores de elefantes

Nunca houve tantos mecanismos de controle sobre as eleições no Brasil.
Nunca houve tanto abuso do poder econômico - às escâncaras, diga-se - num processo de fraude que deveria desencadear uma ira cívica sem precedentes, mas, contraditoriamente, serve apenas de fermento à apatia e ao desencanto de muitos.
Na raiz de tudo, reina solene, a mãe de todas as maracutaias: o financiamento privado de candidatos e partidos, através do qual mandatos acabam como meros instrumentos de negócios escusos na via dupla onde se encontram a fome e a vontade insaciável de comer.
Mas, que ninguém se esqueça, a roda da história não para de girar.
Em meio a tudo isso, de forma ainda pouco visível, parcelas críticas do eleitorado vão se dando conta de algo preciso ser feito. E feito com o misto de pressa e perseverança dos que vislumbram com clareza o porto de destino.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

Sangue e areia

Serra Pelada está aí como um exemplo.
Um péssimo exemplo de como se vem devastando a Amazônia, impunemente.
A máfia que se instalou nas cooperativas de garimpeiros e as múltiplas relações políticas que sustentam aquela terra sem lei, ganharam as páginas da imprensa nacional.
Para ler (e se indignar), aqui.

domingo, 25 de julho de 2010

Na margem esquerda

Aos 81 anos muito bem vividos, o linguista e cientista político Noam Chomski não depõe armas.
Ao contrário, parece ganhar fôlego a cada batalha, por mais difíceis e intangíveis sejam as causas que abraça com fervor.
Ele acaba de receber uma homenagem inusitada. Indígenas colombianos, sob cerco da violência sem fim de títeres financiados pelos EUA, resolveram denominar o monte El Bosque (incrustrado na região de Cauca) de Carolina, em homenagem à esposa de Chomski, companheira de toda sua vida, que faleceu em 2008.
Com a língua cada vez mais afiada, ele dispara:

"Desde 1967 quando os territórios palestinos foram ocupados, a Faixa de Gaza se transformou na maior prisão ao ar livre do mundo".

"(Barak Obama) é muito parecido a George Bush. Seu expansionismo militar foi até mais longe. O único que mudou foi a retórica."

"(O narcotráfico) é um problema dos Estados Unidos. Imaginem se a Colômbia resolvesse destruir as plantações de tabaco da Carolina do Norte ou de Kentucky, que produzem mais mortes que a cocaina?".

Para ler mais, aqui no Rebelion (em espanhol).

sexta-feira, 23 de julho de 2010

Dialética do eterno recomeço

"O universo é consumido periodicamente pelo fogo que o engendrou, e renasce de suas cinzas para reviver a mesma história.
Uma vez mais as diversas partículas seminais combinam-se, uma vez mais emprestam uma forma às pedras, às árvores e aos homens - e até às virtudes e aos dias, pois para os gregos não existe substantivo sem alguma substância.
Uma vez mais cada espada e cada herói, uma vez mais cada minuciosa noite de insônia".



Jorge Luís Borges, escritor argentino (1899-1986).

terça-feira, 20 de julho de 2010

Colhedores de tempestades

A tentativa de tornar a usina de Belo Monte um fato consumado segue em marcha batida.
A velocidade com seus defensores atuam é apenas proporcional ao interesse de continuar escondendo seus prováveis e desastrosos efeitos.

Fazendo ouvido de mercador às críticas que continuam a surgir no meio acadêmico, o governo Lula maneja os cordéis dos supostos empreendedores privados, postos e dispostos de acordo com um complexo jogo de interesses mediado por bilhões e bilhões sangrados dos cofres públicos.
Nesta semana, mais um poderoso pedardo foi disparado contra a cidadela que reúne, a um só tempo, o alto escalão federal e um conglomerado de estatais, fundos de pensão e empresas sem maior tradição no restrito clube de grandes construtores de barragens. Pesquisadores renomados, do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA) e pelo Fundo Estratégico de Conservação (CSF), atestaram por meio de criterioso estudo de cenários, que Belo Monte possui apenas 28 por cento de probabilidade de gerar retorno financeiro em 50 anos. Da maneira como está projetada, ao contrário, a usina será fonte de prejuízos para seus investidores, com o possível rombo podendo variar entre 3 e 8 bilhões de dólares.
Além disso, os técnicos comprovaram que a capacidade de geração da hidrelétrica não ultrapassará - e isso na melhor hipótese - 39% de sua capacidade instalada.
Se vai dar prejuízo, por que insistir no projeto?
Simples: Belo Monte não se viabilizará sozinha.
Após construída, o governo mandará às favas os solenes compromissos de erguer apenas uma barragem na Volta Grande do Xingu. Na casa do sem jeito, será impossível deter a pressão por construir outras grandes barragens, todas de altíssimo impacto socioambiental, retornando ao cenário elaborado pela Eletrobrás há mais de duas décadas.
Para ler a íntegra do relatório "Incertezas no desenvolvimento hidrelétrico da Amazônia: Cenários de risco e questões ambientais em torno da barragem de Belo Monte" (em inglês), clique aqui.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

Nicarágua, tão violentamente doce (*)

1.

A primeira vez em que me encontrei com a pequena Nicarágua foi diante de uma tela de TV.
A imagem era chocante.
Um homem - um repórter estadunidense - vai se aproximando de uma patrulha da Guarda Nacional somozista. Ele levanta as mãos e parece dialogar com os soldados.
De repente, cai mortalmente ferido.
A câmera treme, de terror. E a notícia ganhou o mundo naqueles dias turbulentos no finalzinho da década de 70. Somoza estava acabado. Era uma questão de tempo. E de sangue, muito sangue, ainda.

2.

O 19 de julho de 1979 - dia da entrada triunfal das forças da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) em Manágua - me remete a um início de noite quando a boa-nova já era manchete na imprensa mundial.
Nicarágua? Somoza? Sandinistas?
Tudo parecia tão distante e tão onírico para um adolescente de 15 anos que há pouco havia descoberto a política e a vontade/necessidade de lutar contra outra ditadura, a nossa e sua abertura contraditoria e limitada.

3.

1987, fazenda La Pintada, Departamento de Matagalpa, norte de uma Nicarágua sob cerco.
Quase uma década da revolução os sinais de senilidade do processo que tantas esperanças despertara estavam por todos os cantos, mas meus olhos e de tantos que ali se entregavam ao trabalho solidário da 2a Brigada Brasileira Zumbi dos Palmares não estavam preparados para enxergar.
No olhar de um povo já cansado de tanta guerra e de uma violência que a tudo esterilizava já se podia antever os percalços que dentre poucos anos se afirmariam.
Mas, isso só é óbvio vendo do ponto de vista do presente.
Naquele momento, com a bandeira rubro-negra da FSNL servindo-nos de coberta, não poderia existir maior demonstração de certeza no futuro (cujo encontro, como se sabe, nem sempre se realiza como esperamos).

4.

Hoje, 19 de julho, são exatos 31 anos da insurreição que fez a cabeça de toda uma geração pelo mundo afora.
A partir da derrota eleitoral de 1990, o sandinismo entrou em crise profunda.
O que subsistiu em seu nome não deixa de ser uma negação dos valores que iluminaram aquela gesta de extraordinária entrega e rebeldia.
Não faz mal.
Lá, entre os vulcões, e nas cidades e campos desta América ultrajada, permanece vicejando - teimosa e valentemente - a flor da liberdade humana que não se deixa perecer.



(*)

Este título é um empréstimo não-autorizado de Julio Cortázar (1927-1984), argentino e cidadão do mundo, que soube traduzir como poucos as emoções, enlaces e desenlaces das eletrizantes últimas décadas do finado século XX.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A voz do profeta

Enquanto houver latifúndio, não haverá justiça.
A voz que se levanta contra as cercas da intolerância é exemplo de destemor e de adesão incondicional à causa dos mais pobres.
Com a palavra, Dom Pedro Casaldáliga.

domingo, 11 de julho de 2010

O homem que sabia mandarim

Brasil, século XXI, afogado em novo ciclo neocolonial.
A metrópole, desta feita, está do outro lado do mundo, entre montanhas geladas e estepes sem fim.
Mas, olhando de outro ângulo, pode estar onde sempre esteve, nos mesmos salões acarpetados pelos quais passeiam os plutocratas do capitalismo globalizado.
O fato - incontestável, por sinal - é que os últimos anos registram sinais preocupantes de uma regressão de amplas e gravíssimas consequências para o futuro de nosso país como um Estado soberano.
Em apenas uma década o peso das matérias-primas em nossa pauta de exportações saltou de 22,8% para 43,4%. Na outra ponta da corda que só estica está a forte demanda por commodities minerais da gulosa economia chinesa.
E que o Pará tem a ver com isso?
Tudo, é claro.
O minério de ferro que a Vale extrai em ritmo cada vez mais alucinante das entranhas do território paraense está no ápice desta lista que consagra a geração de riqueza e empregos no além-mar, deixando por aqui os buracos gigantescos da miséria humana e da devastação socioambiental.
Este é o modelo insano baseado na exploração acelerada das riquezas naturais a fim de gerar superávits na balança comercial, criando o colchão de segurança que permite que a roda da fortuna - para poucos - não pare de girar.

A mãe de todas as tragédias

Um caso exemplar.
Um crime de estupro envolvendo adolescentes da alta classe média.
Pior: um dos acusados é filho do chefão do grupo RBS/TV Globo, um polvo midiático que domina o Sul do país.
Acrescente-se a postura servil e indecente de um delegado de polícia.
E misture tudo com a secular e sempre presente carga de preconceito e de criminalização da vítima em se tratando de crime sexual contra a mulher.
Pronto. Está completa a fórmula que tende a levar ao mesmo destino nefasto: a mais completa e imoral impunidade.
O excelente artigo do jornalista Elio Gaspari, publicado nos principais jornais brasileiros neste domingo, vale como um soco no estômago, bem no centro da anomia social que encoberta e potencializa esta ciranda criminosa.

sábado, 10 de julho de 2010

Lava-pés

Os oligopólios da mídia fazem os seus vassalos.
Há, infelizmente, aqueles que poderiam enfrentá-los mas tremem de medo e se vergam.
Uma pena.
O caminho para a verdadeira democracia no Brasil permenece obstruído.

quinta-feira, 8 de julho de 2010

Crime sem castigo?

Aldo Rebelo, deputado do PCdoB (SP) que resolveu passar de mala e cuia para a bancada ruralista, agregou mais um registro em seu já bem recheado currículo de trânsfuga.
Ontem, sob aplausos dos integrantes da tropa de choque do latifúndio e do agronegócio, o relatório de Rebelo que mutila o Código Florestal foi aprovado numa comissão da Câmara de Deputados. Agora, a batalha se desloca para o plenário.
Ainda há tempo para evitar o pior. Tudo dependerá da capacidade de denúncia e de pressão sobre um parlamento cuja principal tendência é agir como gendarme dos interesses privados, mas que pode, em determinados situações, ser forçado a recuar.
Para saber mais, clique aqui.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

O preço de cada um

Correndo atrás do prejuízo, o governo Ana Júlia e o PT esforçam-se para mitigar os impactos negativos - bem maiores do que supunham - da atropelada e polêmica aliança com o PTB de Duciomar Costa.
Na lista de exigências de Duciomar e seus comparsas - como num sequestro, sem tirar nem por - havia de tudo, numa das exibições de maior fisiologismo e desapego com a coisa pública que se tem notícia na história recente do Pará.
Porém, foi na questão do apoio do governo e do PT ao projeto de privatização do serviço de água da capital, que se expôs, sem retoques, uma política que jogou às favas qualquer escrúpulo de consciência programática.
Não custa lembrar: existe uma parcela crítica do eleitorado e ela pode até não ser fabulosamente grande, mas é ativa e pode agir como uma vertente de formação de opinião.
Desconhecer esse fato, crendo apenas na força da máquina, não chega a ser uma ideia muito luminosa.
A propósito, quem sabe essa negociata que se desenrola aos olhos da multidão não serve para acordar - se é que estão mesmo adormecidos - os diligentes fiscais da lei eleitoral.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

É queima total

Belém em liquidação.
O projeto de privatização do prefeito Duciomar é muito mais amplo do que se imaginava.
Não vende apenas - o que já é um crime - o serviço de água e esgoto.
Passa a régua igualmente em outras áreas tão vitais quanto essa.
Se for aprovado, com a provável e indefensável ajuda da cúpula do PT e do governo Ana Júlia - a proposta de Duciomar abrirá as portas para a privatização - a preço vil e sob a mais completa suspeita de envolver interesses escusos - dos setores de finanças, limpeza urbana, saúde, transporte e até os cemitérios.
Demonstrando que essa matéria se transformou numa verdadeira tara, o prefeito convocou a Câmara para um período extradordinário a partir dfa segunda-feira, 5.
Extraordinários são, com certeza, os milhões de motivos que impulsionam essa turba de malfeitores em direção a uma agressão dessa magnitude à cidadania da capital, até agora sem enfrentar a reação devida.
Mas ainda é tempo de impedir o pior.

quarta-feira, 30 de junho de 2010

De joelhos

Agora é para valer.
O diretório estadual do PT bateu o martelo, no final da manhã de hoje, 30, por amplíssima maioria: os cinco vereadores do partido em Belém estão obrigados a votar a favor do projeto da privatização do serviço de águas do município, a nebulosa Parceria Público Privada (PPP) que se tornou uma obsessão do prefeito Duciomar e de seu PTB.
Resta saber qual atitude tomará o vereador Otávio Pinheiro e seus companheiros de bancada que têm recusado dizer amém à imposição da cúpula partidária.

Que andam combinando no breu das tocas

O Ministério Público Federal (MPF) lançou o alerta: se o Congresso aprovar o relatório do neoagronegocista Aldo Rebelo (PCdoB-SP) ferindo de morte o Código Florestal as consequências serão devastadoras. E não se trata de pura retórica. As porteiras estarão escancaradas para um novo e mais violento ciclo de agressão socioambiental, amplificado e sob a cobertura de uma legislação tornada permissiva com o crime.

terça-feira, 29 de junho de 2010

O que está ruim sempre pode piorar

O PT está disposto a cortar na própria carne para quitar a fatura do acordo (re)eleitoral fechado com o PTB de Duciomar Costa. Cortar literalmente, diga-se.
Diante da rebeldia de pelo menos um integrante da bancada municipal que não admite a desmoralização de se ver obrigado a apoiar o projeto de privatização dos serviços de água e esgoto da capital, passou-se a sinalizar a concreta possibilidade de uma solução dramática. Exige-se que a executiva do Diretório de Belém, controlada em sua maioria por setores adversários da DS, tendência da governadora Ana Júlia, se reúna em caráter emergencial nesta manhã de quarta-feira, 30, e aprove o fechamento de questão sobre o tema. Tudo isso como forma de enquadrar estatutariamente o parlamentar insubmisso.
Caso insista na posição - aliás, posição histórica do PT e, imaginava-se, também do governo - o vereador Otávio Pinheiro pode ser expulso da legenda.
O clima na militância e em parte da direção do PT nunca esteve tão carregado.
Para alguns petistas históricos, que preferem o anonimato, o acordo com Duciomar ultrapassou todas as fronteiras. E pior: a fatura mais amarga está sendo transferida para a conta do partido, que passará à opinião pública um enorme recibo de ser parte de uma negociação nebulosa e marcada por fortes indícios de ser contrária ao interesse público.

O céu não é o limite

Até pouco tempo atrás seria uma sandice colocar nas mãos de grupos privados o desenvolvimento e operação de um satélite de uso militar.
Muito menos seria tida como séria uma proposta que dividisse responsabilidades e recursos com uma empresa de capital aberto, formalmente nacional, como é o caso do grupo Oi, controlado pela oligarquia dos Jereissati. De capital aberto, com ações negociadas na bolsa, ninguém pode efetivamente afirmar que lá entre suas múltiplas alianças societárias não estejam presentes tentáculos de grupos estrangeiros, sabe-se lá de que bandeira.
Mas o governo Lula parece não ver qualquer problema nesta aliança. Aliás, o novo satélite estaria entre uma das muitas condicionantes da aquisição da Brasil Telecon pela Oi, negócio bilionário realizado sob o calor do Planalto.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Assalto ao trem pagador

O último vagão a se atrelar ao reluzente comboio da candidatura de Ana Júlia ao Governo do Estado, trazendo a bordo o PTB de Duciomar Costa, é um caso típico de degradação da política paraense.
Os termos pecuniários do acordo, vazados pela imprensa, revelam uma operação milionária - só da dívida do ICMS sequestrado pelos tucanos durante a gestão de Edmilson Rodrigues (hoje no PSOL), vai a R$ 180 milhões -, mas, evidentemente, tem muito mais.
Já não se faz questão de proteger o público dos detalhes sórdidos. Cargos e orçamentos são abertamente loteados, numa sem-cerimônia que revela apenas a certeza de que, resguardado o quinhão dos diligentes e bem relacionados advogados, tudo vai acabar bem. Para os espertalhões de sempre, é claro.

Jatene diz não ser empregado da Vale

Rompendo o silêncio de meses, o ex-governador Simão Jatene e candidato do PSDB ao governo do Estado declarou à jornalista Rita Soares, do Blog da Repórter, que não é empregado da Vale, desmentindo a acusação, várias vezes repetida, pelo ainda tucano Almir Gabriel.
Fica o registro, enquanto aguarda-se a réplica vociferante de Gabriel em seu estilo de homem-bomba instalado em pleno ninho dos defensores de Serra no Pará.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

A grande patroa

A opinião pública paraense está sob anestesia geral.
Nada, absolutamente nada, consegue abalar a sensação de catatonia reinante.
Vejamos este exemplo:
O ex-governador Almir Gabriel (PSDB) voltou a denunciar que seu ex-aliado, Simão Jatene, após sair do governo em 2006, aderiu de mala e cuia à poderosa mineradora Vale.
E não se tratou de adesão ideológica, essa, com certeza mais antiga e evidente.
Jatene teria passado a integrar a folha de pagamento da mega-empresa na confortável posição de consultor.
Consultor, certamente, muito bem pago.
É curioso que nenhum órgão de imprensa se preocupe em apurar esta notícia.
Será mesmo verdadeira?
Por que não se pergunta diretamente a Jatene?
Por que não se pergunta diretamente à Vale?
Como pessoa pública e, mais ainda, como candidato a governador, Jatene tem obrigação de esclarecer o assunto.
Em sendo verdadeira a informação, por que ele não dá publicidade ao suposto contrato, explicitando qual o objeto do trabalho e os valores recebidos?
O silêncio diante de uma acusação tão grave é quase uma confissão de culpa, uma demonstração de como a política paraense penetrou fundo no abismo da ética de conveniência.

domingo, 20 de junho de 2010

A vida (sempre) é bela

Arrancar humor do horror.
Desvelar a poesia nas coisas mais comezinhas.
Isso é possível?
Sim, é possível, basta cruzar com a genialidade de um Roberto Benigni e seu extraordinário A vida é bela (1997).
Esta aí uma dica para iniciar bem um domingo dedicado a repor energias e preparar o espírito para as batalhas que se avizinham.

sábado, 19 de junho de 2010

Cubo Mágico

Há quem acredite em lobisomem e em mula sem cabeça.
Há, também, os que se apegam a uma longa lista de crendices e superstições.
E, é verdade, são muitos os que têm certeza absoluta que a usina de Belo Monte será - se não for detida pela resistência indígena e popular - uma obra tocada pela chamada iniciativa privada.
Afinal, houve um leilão e sagrou-se vencedor um consórcio de empreiteiros e investidores privados em aliança com fundos de pensão e estatais do setor elétrico.
Mas é justamente aí que a porca torce o rabo.
O governo, direta ou indiretamente, não age como sócio menor do empreendimento.
Muito ao contrário, são os agentes públicos que dão todas as cartas, manipulando a partir de critérios pouco transparentes a modelagem desse negócio de R$ 30 bilhões.
Um detalhe para apimentar o assunto: a escolha de fornecedores, a entrada e saída de sócios, a incorporação dessa ou daquela empreiteira estaria sob o comando de altos dirigentes do governo federal, que agem escondidos trás do biombo de um pretenso consórcio privado.
Cabe, nessa altura do campeonato, lançar uma campanha em busca da desaparecida - e há muito desmoralizada - lei de licitações.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Ana e os lobos

Você pode ser derrotado.
Os inimigos são sempre impiedosos. Passam por cima, abrem feridas nas costas dos vencidos.
De toda forma, após a batalha, mesmo com o corpo sangrando, você pode sentir o gosto de pelo menos ter lutado.
Mas, há outros caminhos.
Sim, há outros e tortuosos caminhos.
Você pode, simplesmente, mudar de lado.
Passar de mala e cuia para a tropa agressora. Trocar de bandeira, virar a casaca.
Aparentemente, agindo dessa maneira, atinge-se o alvo, aprisiona-se a vitória tão esperada.
Pouco importa se o preço seja atirar no lixo décadas de luta, reduzidas a moeda de troca no submundo de uma política que parece desconhecer princípios.
A declaração da governadora Ana Júlia (PT) registrando indignação contra a campanha Carne Legal, movida pelos corajosos membros do Ministério Público Federal (MPF), é de escandalizar.
Para a governadora, falando ontem (17) a uma plateia de ruralistas, o Pará possui um tal "desenvolvimento sustentável" e a carne produzida em nosso território "tem qualidade e respeita o meio ambiente".
Como não é razoável atribuir uma manifestação como essa a simples ignorância, resta apenas uma outra e lamentável hipótese a considerar. Qual seja: a governadora resolveu se alinhar ao lado mais retrógrado e acintosamente anti-popular dos que não conseguem esconder nas digitais a nódoa da enorme responsabilidade pelo desmatamento, pelo trabalho escravo e pela grilagem de terras públicas.
Está na hora - se já não passou o tempo - de dar um basta.
Quem se habilita?


Tanto mar, tanto mar.

José Saramago partiu.
Enquanto dormia, partiu.
Quais teriam sido seus últimos sonhos, enquanto a morte - impiedosa e certeira - preparava seu golpe derradeiro?
Terá sonhado com um mundo livre dos grilhões de toda a maldade?
Terá sonhado com um mundo sem qualquer tipo de cerca e de muro a impedir a completa liberdade humana?
Terá, enfim, sentido o gosto de ter lutado - sem jamais perder a esperança - a boa e justa luta dos que tecem, por caminhos tão diversos, a complexa teia da revolução verdadeira?
Em meio à voragem de mares enlouquecidos, Saramago ainda está lá, firme, íntegro e amoroso a apontar o caminho.
Sua jangada, de pedra, não se deixa naufragar.
A favor dela sopram os ventos da história.
Quem de nós terá a coragem de assumir, com espírito renovado, o timão para prosseguir na eterna viagem em busca da outra margem?



quarta-feira, 16 de junho de 2010

Ao povo, as migalhas

E Lula não decepcionou.
Alguém imaginava que ele iria vetar os 7,7% para os aposentados em pleno ano eleitoral?
Trata-se de migalhas, nada além disso.
O debate acalorado ficou reduzido entre 6,14%, como queria a equipe econômica do governo, e os 7,7% como acabou definindo a maioria dos deputados e senadores, muitos dos quais integrantes convictos da base lulista, mas que não estavam dispostos a marchar para o sacrifício em nome da ortodoxia financeira.
Se a tesoura presidencial tivesse sido acionada, os parlamentares tenderiam a retornar com o reajuste, amplificando o desgaste às vésperas da eleição.
Esse foi o enredo verdadeiro.
O resto obedeceu a um plano para entregar alguns anéis baratos para preservar as jóias da coroa.
Enquanto a mídia se engasgava com esse mosquito, passava goela abaixo o veto naquilo que efetivamente interessava: manter intocado o sacrossanto fator previdenciário, essa garfada extraordinária nos direitos dos trabalhadores brasileiros.
Por trás da cortina de fumaça, Lula ainda pode pousar de "pai dos pobres".
Afinal, o "custo" do reajuste seria de apenas R$ 1,6 bi neste ano. Uma bagatela para quem, por exemplo, não se ruboriza em torrar, em 2009, algo como R$ 147 bi somente de prejuízo do Tesouro em decorrência da política de juros - os maiores do mundo - que o Brasil insiste em praticar para o regalo de um punhado de gulosos especuladores globais.

terça-feira, 15 de junho de 2010

Sob a névoa da guerra

Em quase uma década de invasão, os Estados Unidos e seus aliados já deixaram em solo afegão mais de 1800 soldados mortos.
As vítimas entre a população civil podem ser contadas em dezenas de milhares.
A ocupação militar aliada já se estende por um período superior ao que foi necessário para empurrar para fora daquelas montanhas e desfiladeiros as estropiadas tropas do império soviético em sua fase de quase esclerose.
Apesar de todos os bilhões investidos, esta guerra é um fracasso sob todos os ângulos.
Mas, então, por que ela se prolonga indefinidamente e com esse crescente e imoral custo humano?
Por que não se detém essa guerra que de tão brutal se parece cada vez mais com uma chacina sem sentido?
Mas o sentido existe e agora veio à luz: no Afeganistão, de povo tão pobre e massacrado, repousam enormes jazidas minerais de ferro, cobre, cobalto, nióbio, ouro e lítio, estimadas, por baixo, em US$ 1 trilhão.
É pela posse desse butim extraordinário e não por qualquer outra razão que se alegue, o sangue vai continuar a ser derramado.

domingo, 13 de junho de 2010

Dialética do homem em seu labirinto

"Escancarar as pálpebras e espelhos
recompor a visão
nascer de novo
trazer a mesma face vacilante
da mesma e antiga noite insatisfeita
bem quisera não mais sentir agora
a solidão
o peso dessas horas
de amargo tédio
para sempre cheias
(...)".


Ruy Barata (1920-1990), poeta paraense. Antilogia. Belém: RGB Editora, Secult, 2000, p. 54.


Uma ponte longe demais

Uma greve de fome inusitada.
Petistas históricos se insurgem contra a mão pesada de Lula e da maioria do diretório nacional que acabaram por impor ao PT maranhanse a submissão ao clã Sarney.
Domingos Dutra, deputado federal, e Manoel da Conceição, legendário líder camponês e um dos fundadores do partido, entraram em jejum como forma extrema de protesto.
A rebeldia não terá, infelizmente, maior eco nas fileiras partidárias.
Os grevistas ficarão isolados no gesto de resistência em nome de um programa e de uma bandeira que há muito já perderam o viço.
E a razão é simples: a luta interna no PT por posições mais à esquerda não possui qualquer possibilidade de êxito.
Na melhor das hipóteses essas demonstrações esporádicas de descontentamento servem para revelar a face de um partido transformado em gendarme da ordem ditada de cima para baixo.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Quem quer ser um milionário?

Melhor seria dizer: um bilionário, porque é disso mesmo que se trata.
Muitos bilhões em recursos públicos sendo distribuídos sem a menor cerimônia.
A lei de licitações, essa coleção de letras irremediavelmente mortas, parece que não serve para nada.
Enquanto o país está anestesiado pela Copa, a Eletronorte coordena uma ação entre muy amigos em nome da construção da malfada Belo Monte, essa verdadeira usina de escândalos.

Acelerador de partículas

O processo de rendição programática do PT e de seu líder máximo, Lula, precisou de quase duas décadas para se consolidar.
O marco dessa transição - por cima e à direita, como de resto são quase todas as transições por essas terras - teve na Carta aos Brasileiros, de 2002, seu ponto de inflexão mais visível.
Neste documento, que fez tabula rasa do programa aprovado pela base partidária, estavam consolidados os compromissos com os interesses da banca internacional e com os monopólios daqui e de fora de nossas fronteiras.
A candidatura de Marina Silva, do anêmico PV, não precisou nem de dez meses para fazer o mesmo caminho, radicalizando ainda sua opção pela política econômica vigente, vale dizer, aderindo ao mantra que advoga, como cláusulas pétreas, a salada composta pela política de juros estratosféricos, câmbio livre e de metas de inflação, que vigora desde os idos tempos de FHC.
Aliás, ao se apresentar como herdeira de tucanos e petistas, Marina se desnatura (desculpem o trocadilho algo infame) como candidata capaz de empunhar a bandeira da mudança.
Resta, apenas, a apelação em nome de seu passado de mulher negra e pobre.
Mas desse tipo de embuste o país, se quiser ter futuro, precisa se libertar o quanto antes.

quinta-feira, 10 de junho de 2010

O Código da desonra

Uma imagem que diz tudo: Aldo Rebelo, deputado que se auto-proclama comunista, sendo festejado pelos maiores expoentes da bancada ruralista, no Estadão, de hoje.
Qual a verdadeira razão da troca de afagos e de sorrisos?
Essa estranha aliança, fruto do amálgama do que há de mais rertrógrado na sociedade brasileira, está prestes a mutilar e ferir de morte um dos mais importantes pilares da legislação ambiental vigente nesse dilacerado país.
Se tiverem sucesso, a porteira da destruição socioambiental estará definitiva e tragicamente escancarada.

De barriga quebrada

A banca internacional é insaciável.
Quanto mais recebe, mais quer.
A drenagem de bilhões de dólares e de euros dos tesouros nacionais para aplacar a gula dos banqueiros, em nome da salvação de lucros e dividendos, não tem fim.
Agora, com a crise arrombando a porta de meia Europa, o cálculo do rombo bancário atinge, por baixo, 1,2 trilhão de euros. Uma fortuna, sem dúdiva, que acabará espetada nas costas dos de sempre - trabalhadores, aposentados e imigrantes.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Crime e Castigo

A sentença condenatória do ex-deputado Luiz Sefer (ex-DEM, atualmente filiado ao PP) - 21 anos por estupro de uma criança de 9 anos - vai ficar como exemplo.
Seu significado e repercussão não dependem do tempo - maior ou menor - que os céleres e bem articulados advogados do criminoso condenado gastarão para reverter, em caráter precário, a ordem de prisão que pesa sobre o médico e empresário.
A experiência mostra - à exaustão, diga-se - que posição social e dinheiro - não necessariamente nessa ordem - costumam operar milagres em casos semelhantes.
Não importa. O recado está definitivamente dado.
A lei deve valer para todos. Deve ser proporcional ao agravo praticado e, que ninguém esqueça, no caso específico, esteve permeado da mais cristalina monstruosidade.
As próximas horas vão confirmar se a corajosa decisão da juíza Maria das Graças Alfaia Fonseca significará o início de um novo tempo ou, abatida em pleno voo, restará apenas como um espasmo de retidão e dignidade num mar putrefato de pequenas e grandes covardias.

terça-feira, 8 de junho de 2010

Casa arrombada, trancas na porta (?).

Até Lula já começa a roçar no assunto, na edição da Folha de São Paulo que está nas bancas.
"Esse é um problema que nós precisamos começar a discutir. Uma coisa é o cidadão vir e comprar uma usina, comprar fábrica. Outra coisa é ele comprar a terra da fábrica, a terra da soja, a terra do minério", afirmou ontem (7), durante o lançamento do Plano Safra, alertando para o fato notório de que estrangeiros têm abocanhado cada dia maiores parcelas do território nacional.
Por enquanto, frases vazias, providência nenhuma.
Quando o país achar que está na hora de fazer algo, seja lá o que for, talvez seja tarde demais. O estrago será irremediável.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Band-Aid em fratura exposta

O Datafolha expõe uma sociedade cindida em torno da necessária punição dos agentes do Estado que cometeram assassinatos e torturas durante o último regime militar (1964-1985).
Não deixa de ser um resultado eloquente diante da intensa campanha de boa parte da mídia a favor da tese do esquecimento e da consagração da impunidade.
Aliás, impunidade que malogradamente acabou reconhecida, por 7 a 2, no STF, dando cor constitucional a uma verdadeira ignomínia.

domingo, 6 de junho de 2010

Dialética do ofício de esculpir palavras

"Quero a experiência de uma falta de construção.
Embora este meu texto seja todo atravessado
de ponta a ponta por um difícil fio condudor -
qual? O do mergulho na matéria da palavra?
O da paixão?"


Clarice Lispector (1920-1977). Água viva. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1980. p.27

A segunda morte de Rachel Corrie

A repetição de um crime, tornando-o contumaz, não retira a carga de crueldade que o caracteriza.
Alardear que o sequestro do navio "Rachel Corrie" pela marinha israelense foi realizado "sem violência" é um ultraje, uma deslavada vergonha.
Menos de cinco dias depois de ter patrocinado o massacre de ativistas do Mari Marmara, de bandeira turca, Israel esbofeteia a comunidade internacional em mais uma ação beligerante que somente reforça sua face de Estado fora da lei.
O bloqueio a faixa de Gaza é uma monstruosidade. Uma punição coletiva e um ato de terrorismo de Estado.
Esta é a verdade. Nua e crua.
A frota da Liberdade, cujos primeiros seis barcos foram vítimas do raid israelense no início da semana, deveria ter como nave-capitã o Rachel Corrie, em homenagem a uma jovem mártir de nacionalidade estadunidense.
Com apenas 24 anos ela foi esmagada por uma escaveira do exército de Israel em Rafah, em 16 de março de 2003, quando tentava impedir a demolição de uma casa palestina. Seu crime permanece até hoje impune, símbolo de uma barbárie que parece não ter fim.
Mas a pressão internacional ganhou novo fôlego.
Em toda parte, cresce a consciência de que algo de prático precisa ser feito para barrar o escandaloso processo de extermínio dos palestinos.
As palavras de um antigo provérbio, aliás, não por acaso herança da milenar cultura judaica - "Se não agora, quando?" - deve se tornar a divisa de todos os que não perderam a capacidade de exercitar a indignação diante de qualquer forma de injustiça.

sábado, 5 de junho de 2010

Pardos. São todos pardos.

A política paraense se move nas sombras.
É nos cantos escuros, protegidas pelo véu do silêncio, que as negociações se processam. Aliás, tratos de compra e venda.
Vasta prateleira onde produtos estão à mostra. E à venda.
Siglas e mais siglas, sopa de letrinhas, partidos que não se dão respeito.
Não está em jogo o tamanho de cada um.
Nem todos, evidentemente, valem quanto dizem pesar.
Mas o mercado voraz por tempo de TV e por cabos eleitorais não se detém por nada.
Tudo somado, a vala comum vai ganhando maior profundidade.
Ninguém, mais ninguém mesmo, tem ideia de quando se alcançará o fundo. Nem se chegará.

sexta-feira, 4 de junho de 2010

A escolha de Sofia

Por trás da usina de Belo Monte, essa obsessão do governo Lula, está se jogando o futuro da Amazônia.
Por que insistir tanto numa obra que não se sustenta nem econômica nem socioambientalmente?
Para o pesquisador Célio Bermann, da USP, o governo está apostando na política do fato consumado.
Após Belo Monte, que ninguém se engane, muitas outras virão. E não só no Vale do Xingu mas no Tapajós e em muitos outros rios da região.
A fronteira energética da Amazônia estará, finalmente, ocupada de forma intensiva. Aliás, a palavra-chave é exatamente essa: uso intensivo de energia para assegurar a permanência e a ampliação de plantas industriais sujas como é o caso da indústria do alumínio.

De quebra, ele desmistifica: "A energia hidrelétrica não é limpa, nem barata".
Leia a entrevista completa aqui.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Celeiro de bestas

Uma jovem, gestante de nove meses, brutal e friamente assassinada. Seu corpo arremessado nas água do rio Itacaiúnas, no sudeste do Pará.
Outra mulher, com idade estimada entre 19 e 25 anos, morta com várias facadas, teve seu corpo descoberto na periferia de Belém dentro de uma mala.
Dois exemplos que gritam.
Dois símbolos de que há algo de muito errado.
Mais: algo de doentio e de abjeto vicejando sob o olhar de todos.
A violência contra a mulher, expressão secular do patriarcalismo, é uma chaga aberta.
Os autores materiais de tais atrocidades já estão identificados. Tem rostos e identidades conhecidas, mas não estão sós.
Há, por tais dessas bestas-feras, um contexto que estimula e enaltece a violência e a coisificação extremada da mulher, reduzida a objeto de usufruto e de descarte, quando for o caso.
Há, e quase todo mundo absorve como normal, a excessiva e contundente erotização da figura feminina na propaganda e nos péssimos exemplos de produtos descartáveis da chamada cultura de massa.
Tudo às claras, criando o contexto que enquadra, em franco crescimento e disseminação, cenas de violência dentro e fora do lar, dos assédios tidos como mais inofensivos às cenas mais degradantes da barbárie criminosa.
Já passou da hora da sociedade acordar para essa manifestação doentia. E correr em busca de tratamento profilático antes que a metástase se instale de uma vez por todas.

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Por que essa boca tão grande?

A Vale sabe muito bem, quando é de seu interesse, vestir a fantasia de cordeiro.
Ainda mais quando sua gula incontrolável vai semeando desconfianças por aí, em cinco continentes.
Para os chineses, seus principais clientes, a gigante da mineração lançou uma ofensiva de marketing.
Foi na Exposição Mundial de Xangai e Roger Agnelli não poupou elogios ao capitalismo à moda chinesa. "Na China tudo é previsível, o ambiente de negócios é ótimo e a economia de mercado funciona muito bem", disse o chairman de olho na péssima repercussão entre os tecnocratas da China da última arenga pela elevação do preço do ferro.
O difícil vai ser consolidar a pretendida imagem de bom moço enquanto trata de dar aceno com o chapéu alheio. No caso específico, com as milhões de toneladas de minério de ferro que saem, ano após ano, das entranhas do Pará em direção às siderúrgicas chinesas, a preço de banana.
Esse preço aviltado, bem entendido, vale apenas para o povo paraense, que assiste bestificado o dilapidar contínuo de seu enorme, mas finito, patrimônio mineral.

Dialética dos que não conhecem o medo

Para Georgina, em seu aniversário



"Poema

Encharcado de abelhas,
no vento assediado de vazio
vivo como um galho,
e no meio de inimigos sorridentes
minhas mãos tecem a lenda,
criam o mundo esplêndido,
esta vela aberta."


Julio Cortázar. Último Round (Tomo II, Civilização Brasileira, 2008, p.51)


terça-feira, 1 de junho de 2010

Vence na vida quem diz não

Leia com cuidadosamente a declaração a seguir:

"Hoje é dia de desgraça para o Estado de Israel. Dia de ansiedade, em que os israelenses descobrimos que nosso futuro está entregue a um bando de alucinados, todos de armas engatilhadas, atirando sem qualquer senso de responsabilidade. Hoje é dia de desgraça e loucura e estupidez sem limites. Dia em que o governo de Israel enlameou o nome do país ante todo o mundo, juntou mais provas, a comprovar que a imagem de uma Israel brutal, agressiva, não é invenção de propaganda. Hoje Israel dá um passo gigantesco afastando-se dos poucos amigos que nos restam no mundo."

Da boca de quem terá saído este enérgico ataque à política do Estado israelense?
Se você pensou em algum líder árabe do Hamas ou da Fatah pode tirar seu cavalo da chuva.
Quem teve a coragem de colocar o dedo na ferida é um cidadão de Israel, Uri Avnery, 77, veterano da guerra de independência, ex-deputado no Knesset e fundador do Bloco da Paz (Gush Shalom).
Para ler a íntegra, clique aqui.

Segredos de alcova

Não deveria causar surpresa a presença do senador tucano Mário Couto na articulação e no estímulo à candidatura do deputado Domingos Juvenil (PMDB) ao governo do Estado.
Ao suceder Couto no comando da Assembleia Legislativa, Juvenil teria firmado um pacto de não agressão.
A aliança entre os dois nascia como para garantia que a transição seria tranquila - e mais importante - totalmente sob controle, mantendo todos os esqueletos hermeticamente fechados nos armários da impunidade.
Agora, com a sociedade já testada ao longo de quase quatro anos, tratam de pensar no futuro. E em novos e maiores negócios.

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Um Estado fora da lei

A frota de navios de bandeira turca, com mais de 750 passageiros a bordo, estava em águas internacionais.
Vale dizer: sob a proteção de leis e convenções aceitas por quase todos os países do mundo.
Por quase todos, bem entendido.
Israel, por exemplo, é um Estado que se julga acima dessas leis.
Na verdade, em bom português, trata-se de um estado fora da lei, que pratica a violação do direito internacional de forma contumaz. E não é de hoje. Desde 1948, quando nasceu como país, não faz outra coisa senão praticar a lei da selva e a apologia da barbárie.
Por isso mesmo, não deve causar surpresa que tropas especiais israelenses tenham atacado, como bucaneiros modernos, os navios que traziam toneladas de ajuda humanitária à população palestina da etermanente sitiada Faixa de Gaza.
Ajuda humanitária e não armas, que fique claro.
Os ativistas, desarmados, usaram seu inalianável direito à resistência.
E pagaram caro pela ousadia: pelo menos 19 mortos e muitos feridos.
Um massacre.
Mais um massacre que permanecerá impune.
Até quando?

domingo, 30 de maio de 2010

Tem gato na tuba

Se a candidatura do deputado Domingos Juvenil (PMDB) ao governo do Estado vai ter ou não longevidade só as próximas semanas poderão responder.
Por trás desta inusitada aventura já se pode enxergar uma ou outra figura política exótica, o que deveria acender de imediato o sinal de alerta.
Uma das digitais, por exemplo, responde pelo nome de Mário Couto.
O histriônico senador tucano foi um dos maiores lançadores de lenha nessa fogueira (de tantas vaidades e interesses).
A ação encoberta (?) sinaliza uma traição antecipada ao candidato consagrado pelo partido, o ex-governador Simão Jatene.
O fato de Almir Gabriel também integrar a célula semi-clandestina que trabalha pela viabilização desta suposta - e pouco crível - terceira via, só acrescenta componentes de imponderabilidade em todo o quadro.
Prepara-se, então, uma Noite de São Bartolomeu. Falta apenas definir quantos - e quais - serão imolados quando a hora decisiva chegar.

sábado, 29 de maio de 2010

Dialética das dores&delícias do jornalismo

"(...)

No melhor dos cenários, jornalistas instalam-se à margem da história da mesma maneira que vulcanogistas escalam uma cratera fumegante, tentando olhar para seu interior em meio a fumaça e cinzas, esticando os pescoços sobre a beirada que ameaça cair. Os governos procuram assegurar que tudo permaneça como está. Suspeito de que seja isto de que trata o jornalismo - ou pelo menos aquilo que deveria ser: assistir à história e testemunhá-la e, então, apesar dos perigos e restrições e de nossas imperfeições humanas, registrar tudo da maneira mais honesta possível."


Robert Fisk (1946), jornalista e escritor inglês, considerado o mais importante e completo correspondente de guerra em atividade. Pobre Nação. As Guerras do Líbano no século XX ( Rio de Janeio: Record, 2007, p.10)

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Velas ao mar

A blogosfera é como um enorme oceano.
Ao jogar sua rede tudo pode acontecer.
Não raro, ao invés de um belo e copioso cardume a pescaria pode resultar em frustração total.
Sua rede pode vir à tona lotada de lixo devidamentecoberto com o fino verniz do embuste.
Encontrar grãos de trigo misturados em tanto joio é uma tarefa tão difícil quanto indispensável nestes dias turbulentos.
Por isso mesmo, merece destaque o surgimento do Blog da Repórter, que acaba de ser trazido ao mundo pelas mãos competentes da jornalista Rita Soares.
Eis aí uma leitura obrigatória para quem pretende navegar em busca de informação correta e de qualidade.

Quem tem medo do lobo mau?

Hillary Clinton abriu a caixa de ferramentas.
Sem dó nem piedade, desancou o esforço de Brasil e Turquia para pavimentar uma saída diplomática à crise nuclear iraniana.
A dama estadunidense fez cara de brava e arreganhou os dentes: o Brasil dá "tempo" ao Irã e torna o mundo "mais perigoso".
A retórica da chanceler dos Estados Unidos está no limite da hidrofobia. Não faz qualquer contraste com seus antecessores diretos quanto alertavam o mundo contra o "Eixo do Mal" e tratavam de criar o clima para a guerra, que acabou chegando com choque e pavor.
As armas de destruição em massa de Sadam viraram um traque. Era uma impostura da CIA e do Pentágono.
A suposta capacidade de fabricação de artefatos nucleares pelo Irã - que está longe, mas muito longe disso - também não passa de uma piada de péssimo gosto.
Brasil e Turquia estão se comportando como gente grande, de espinha ereta e com olhos para o futuro.
O tempo - senhor do destino - dirá quem tinha razão quando o que hoje parece ser apenas mais uma ópera bufa explodir em pólvora e aço. E, quando o petróleo - sempre ele - estiver no centro de uma nova e ainda mais sangrenta guerra colonial.

quinta-feira, 27 de maio de 2010

Uma Gestapo verde e amarela?

Estudantes correndo em desespero.
Uma enorme nuvem de gás e muita pancada distribuída fartamente.
Os portões da Universidade são invadidos pelas tropas.
O que ainda existia de autonomia foi pelo ralo na mesma proporção em que os soldados passam a prender os manifestantes. Agem como uma soldadesca furiosa, típica de qualquer ditadura.
Mas, muita atenção: esses militares são brasileiros, pagos com o dinheiro do contribuinte de nosso país.
A missão deles - supostamente, of course - é levar "Paz e Estabilização" ao destroçado Haiti.
Ao reprimir, com violência típica das tropas de ocupação, um ato de protesto civil, pácífico e constitucional, revelam sua verdadeira face de títeres a serviço de potências imperiais.
A propósito, a jornada dos estudantes haitianos que foi duramente reprimida levantava duas bandeiras singelas: a renúncia do presidente-fantoche René Preval e a retirada imediata das forças da ONU, lideradas pelo Brasil.
É hora de nossos soldados voltarem para casa.
Antes que cubram definitivamente de vergonha (e de mais sangue inocente) a bandeira que juraram defender.

quarta-feira, 26 de maio de 2010

Guerra nas Estrelas

Carlos Slim, o plutocrata mexicano que soube como ninguém crescer - e crescer extraordinariamente - na farra das privatizações nos anos 90, está cada vez mais guloso.
Quer lucrar mais, e para isso vai montando e remontando suas múltiplas empresas, no exterior e no Brasil.
Para disputar em melhores condições com a concorrência, quase toda multinacional, sob a bandeira dos portugueses, italianos e, agora, franceses que pretendem ingressar no lucrativo filão da banda 3G.
Aqui, ele controla a Claro, a Embratel e 49% da Net, em sociedade com a família Marinho.
Seu sonho de consumo, porém, é ampliar seus domínios sobre a TV aberta, enfeixando num mesmo pacote as quatro áreas (telefonia fixa, móvel, TV aberta e Tv paga).
Para isso, sonha com a aprovação do PL 29/2007 que tramita no Congresso e pretende, assim sem o menor pudor, permitir que estrangeiros possam ter o controle de empresas de telecomunicações.
Eis aí um bom assunto para ser escancarado à opinião pública antes que seja tarde demais.

terça-feira, 25 de maio de 2010

É a economia, estúpido

A relativa redução no desmatamento, registrada entre 2004 e 2006, teve uma origem objetiva: o desaquecimento na demanda pelas commodities florestais.
O que era óbvio, e desmente o discurso oficial que procurou capitalizar o fato, agora é confirmado por uma interessante trabalho científico coordenado por pesquisadores da UFMG.

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Ecos do passado

1975.
O mundo começa a conhecer os horrores do regime de apartheid na África do Sul.
As ruas de Soweto, as mesmas que dentro de dias receberão multidões de turistas para a Copa do Mundo, em breve seriam varridas pelo fogo das armas dos racistas. Centenas de vítimas civis em enormes poças de sangue.
Entrementes, no regaço de negociações diplomáticas secretíssimas, Shimon Peres, então Ministro da Defesa de Israel e P. W. Botha, seu homônimo da África do Sul, negociavam em silêncio e nas sombras.
Mas sobre o que tratavam?
A África do Sul já estava isolada e previa que o embargo internacional tenderia a se intensificar.
O Estado de Israel, envolto em intermináveis guerras com seus vizinhos árabes, buscava estreitar laços diplomáticos e comerciais com um regime amplamente repudiado.
Identidade de interesses?
Semelhança de métodos?
O jornal britânico de The Guardian, em primeira mão, revela que era muito, muito mais.
Os governantes de Israel agiram, naquele momento, como mercadores. Mercadores da morte em ampla e enorme escala.
Sobre a mesa dos negociantes, armas de todos os tipos. Convencionais, químicas e... nucleares.
Sim, justamente do arsenal - ilegal sob todas as normas internacionais - que Israel jamais admitiu possuir e tampouco se deu ao trabalho de negar publicamente.
Uma história do passado que diz muito, mas muito mesmo, da atual fobia artificialmente criada para isolar o regime iraniano e preparar as condições para novas e mais sangrentas aventuras bélicas dos Estados Unidos e seus aliados.
Aqui, a matéria do The Guardian (em inglês).
Aqui, a repercussão no portal G1.

domingo, 23 de maio de 2010

Dialética da canção que se levanta em rebeldia

"Canto Libertador

Escuta, nos poemas que te oferto,
batidas de tambor, rumor de remos
retalhando essas águas seculares
onde remaram nossos bisavós.

Ouve os gritos de dor rasgando o tempo
nos porões dos navios, nas senzalas,
nos troncos, nas fazendas, nos garimpos
a retumbar no âmago de nós.

É preciso correr! O tempo urge!
Carece remover o esterco, a lama
que a História sobre nós depositou.

E é preciso cantar! Ódio e tristeza
não trarão água e pão à nossa mesa,
não combrirão de flores nosso chão."


Antonio Juraci Siqueira (1948, nas margens do rio Cajary, arquipélago do Marajó), poeta paraense. Uirá-Pirá (Belém: edição do autor, 2004, p.33).

Tudo pelo capital

É uma matemática estranha.
Grande parte do dinheiro sairá dos cofres do BNDES, a juros subsídiados e a longo prazo.
Pelo menos 80% dos quase 20 bi (que serão esticados durante a obra para 30 bi ou mais) serão drenados do Tesouro, deixando de atender as demandas mais urgentes e necessárias ao povo brasileiro.
Parte da infraestrutura e das chamadas medidas mitigadoras - eufemismo para designar a tentativa de amenizar os terríveis impactos socioambientais - também serão custeadas pelos cofres públicos.
Porém, a usina de Belo Monte, esta verdadeira tara do governo Lula&Dilma&Grandes empreiteiras, receberá sócios estatais até o limite de 49,98%.
Por que não 51%?
Por que não atribuir a este dito projeto estratégico, apontado como a própria salvação da lavoura do modelo de crescimento a qualquer custo, a chancela do controle público?
Eis aí uma belíssima pergunta. Melhor: uma pergunta constrangedora e inconveniente.
A privatização, palavra maldita na presente quadra eleitoral, possui mesmo variadas e múltiplas maneiras de se manifestar.
As formas mais sutis, ou mais encobertas, costumam ser as mais eficientes.