Construía casas, paredes sólidas que jamais o abrigariam.
Suas mãos, calejadas, estão inertes.
Sua vida, aos 45 anos, chegou ao fim em circunstâncias obscuras e trágicas.
Para a polícia, suicídio por enforcamento.
Para a família, assassinato, "queima de arquivo".
O pedreiro Manoel não tinha motivos para tirar a própria vida.
Mas ele tinha medo, muito medo.
Desde que seu filho, Rafael, foi brutalmente assassinado por uma quadrilha de PMs na periferia de Belém, ele e sua família entraram no sétimo círculo do inferno.
Vivia aterrorizado, refém de ameaças abertas ou veladas, para que mudasse seu depoimento no processo que apura a participação dos policiais na tortura, morte e ocultação do cadáver do jovem, também pedreiro, em novembro de 2007.
E tinha motivos para temer: uma outra testemunha, José, de 28 anos, foi morto por dois pistoleiros, em um crime até hoje envolto em mistério.
A quem interessava aterrorizar essa família já tão marcada pela violência?
Não é preciso ser vidente para saber que a suspeita possui endereço certo: a matilha de criminosos que se esconde atrás da farda. Três deles estão presos, mas nem por isso deixam de contar com a cumplicidade silenciosa de muitos de seus pares.
Espera-se que a saga dessa família pobre não sirva apenas para engrossar a robusta estatística de crimes sem solução.
Ou se pune exemplarmente todos os culpados ou toda a sociedade estará reduzida à condição de cumplicidade voluntária com esse estado de barbárie.
Um comentário:
Aldenor, o que preocupa ainda mais é a pouca repercussão desta covardia na opinião pública. Soube que até entre alguns integrantes do Movida, que deveriam assumir a denúncia deste crime, andaram comentando que "o senhor Manoel não é o primeiro caso de suicídio na família". As consciências parecem amortecidas, anestesiadas! Quanto tempo mais teremos de viver batendo na porta da Justiça? Estou envergonhado da nossa sociedade.
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