terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Livro dos recordes

Lucrar, lucrar e lucrar. O que mais os empresários querem? Mas, está para além de qualquer expectativa poder aumentar o preço de seu principal produto em até 71%. Certo? Pelo menos para a Vale do Rio Doce, gigante mundial de setor de mineração, que acaba de fechar com seus principais clientes a segunda maior elevação do preço do ferro desde 2005, quando a majoração ficou em 71,5%.
Os acordos estão sendo acertados com cada um de seus parceiros comerciais. Por exemplo, as japonesas JFE Steel e Nippon Steel aceitaram uma elevação de 65%. Com a sul-coreana Posco, a tonelada passou a custar US$ 78,90. Em breve, o mercado siderúrgico chinês, que já absorve 30% da produção de Carajás, deve também aceitar um acordo em torno dos incríveis 71%. É essa pelo menos a expectativa de analistas que acompanham as negociações entre a Vale e a Baosteel, que representa as empresas chinesas.
Uma montanha de dinheiro. Caminho seguro para que a ex-estatal continue batendo, ano a ano, todos os seus recordes de produção e de lucratividade.
O que nos sobra desse festim multibilionário? Quase nada. O jornalista Lúcio Flávio Pinto, na edição do Jornal Pessoal que está nas bancas, estima que talvez alcance 10% o valor "devolvido" ao Estado que abriga a maior província mineral do mundo, isso se somados hipoteticamente os valores relativos à massa de salários, pagamento de royalty e compras locais. Para quitar impostos, como se sabe, a Vale não abre mesmo a mão, já que goza desde 1997 de isenção de ICMS através da lei Kandir, esdrúxula invenção tucana que alcançou status constitucional sob o governo Lula.
Com a cabeça ocupada com as intrincadas negociações de mercado para aquisição da anglo-suíça Xstrata, por US$ 90 bilhões, os executivos da Vale não se prestarão a dedicar alguns segundos sequer para analisar a dramática situação de dezenas de famílias de pequenos agricultores do Projeto de Assentamento Campo dos Sonhos, em Ourilândia, sudeste do Pará, que sofrem violenta pressão da Onça Puma, uma das muitas empresas do grupo, dedicada à exploração das reservas de níquel da região. Abertura ilegal de estradas dentro dos lotes, contaminação de riachos e nascentes, aquisição de áreas por preço subavaliado, são algumas das denúncias que os camponeses querem debater em uma audiência pública.
Talvez sem saber, essas famílias de brasileiros embrenhados na floresta, estejam travando uma batalha contra um verdadeiro Estado do mundo, monopólio dos monopólios, que se julga acima e credor dos Estados nacionais que supostamente controlam os territórios nos quais atua. Confronto desigual, quem sabe fadado ao fracasso, mas que possui a coragem de desafiar o estúpido coro dos contentes e sua eterna promessa de um progresso que nunca virá.

2 comentários:

Anônimo disse...

Caro Aldenor, estou aguardando seu poster sobre a saída do Fidel do comando de Cuba....
Uma perguntinha: Quem influenciará mais o governo cubano, a partir de agora?

Abraços

Aline Brelaz

Aldenor Jr disse...

Cara Aline, que bom rever vc aqui pelo Página. Minha humilde opinião sobre o quadro cubano já está postada.
Volte sempre.