domingo, 29 de agosto de 2010

Chamem a Cavalaria

Esses tucanos são mesmo previsíveis.
Quando a situação aperta, a reação é sempre convocar seus "reservistas".
O mais notório, sem dúvida, é o ministro do Supremo, Gilmar Mendes.
Com a candidatura Serra praticamente demolida, eis que Mendes chama a imprensa para meter sua colher na tal quebra de sigilo fiscal de uma penca de cardeias do PSDB. Aliás, figuras notórias e sempre relacionadas com transações tão suspeitas quanto nebulosas.
"Quebrar sigilo é bandidismo político", bradou à Folha de São Paulo, que dá chamada de primeira página neste domingo para a descoberta acaciana do ex-advogado de FHC.
Afinal, eis um tema em que Gilmar Mendes pode ser considerado especialista.

Dialética de um fio que não se quebra

Ecos da Cabanagem

"446 - Ofício de Lourenço Justiniano da Serra Freire, Tenente Comandante de Breves, a Francisco José de Souza Soares Andréa, informando que na expedição ao Marajó, no Rio Muaná, não foi encontrado um grande ponto de rebeldes, nem Quilombo de desertores e pretos fugidos, apenas cabanas destruídas, os mesmos se dispersaram pelos rios em pequenos grupos após tentarem assassinar o seu comandante (Boca). Foram capturados alguns rebeldes e remetendo dois prisioneiros pela escuna Pirajá. Quartel de Breves, 25 de março de 1838. Lourenço Justiniano da Serra Freire. 4p".

Anais do Arquivo Público do Pará, v. 4, t. 1, p. 1-290, 2001.

segunda-feira, 23 de agosto de 2010

Feliz Ano Velho

O ano ainda não acabou.
As eleições presidenciais vão se aproximando da hora decisiva, mas com uma crescente possibilidade de que tudo se resolva - a favor do governo, diga-se - já no primeiro turno.
Enquanto o povo mergulha embevecido nas imagens em alta definição de um Brasil fabuloso, recheado de gente feliz e esperançosa, eis que no andar de cima já se planeja o dia seguinte, ou melhor, o ano 1 do provável governo do PT sem a presença oficial de Lula na Presidência.
A crer na matéria de hoje da Folha de São Paulo, o saco de maldades está muito bem fornido.

domingo, 22 de agosto de 2010

Coincidências não existem

A Rádio Tabajara, do jornalista Carlos Mendes, foi empastelada ontem.
A pesada mão do Estado agiu com a truculência de sempre, mas não se tratou de um ato cego.
Que ninguém se engane: há sim relação entre causa e efeito entre as críticas dirigidas pelo jornalista à campanha do PT e a "inspeção" de rotina realizada pela Anatel e Polícia Federal.
Pouco importa se centenas de rádios alternativas têm sido vítimas do mesmo processo de censura institucionalizada.
No caso específico - e isso é fundamental que se lembre - houve uma ação coordenada.
Mais importante: difícil crer que não tenha havido ordem de cima.
A sociedade paraense ganhará muito em saber de quem partiu a ideia de utilizar métodos que trazem a lembrança do açoite sob ordens de redivivos coronéis de barranco.

Escravo do tempo. Ou da falta dele

O Página Crítica entrou em um quase recesso.
A culpa é do tempo. Ou melhor: da extrema falta dele.
Nas próximas semanas, infelizmente, o quadro somente se agravará.
Peço desculpas aos que por aqui passam, de vez em quando, em busca de algo novo.
Nas pequenas frestas que se abrirem, volto ao que o grande e imortal Haroldo Maranhão chamava de "invariável compromisso de todos os dias (...) ginástica diária. Exercícios de
flexão e (no caso dele, bem entendido) de ficção".
No meu, tenho certeza, apenas tentativa de domar e ser domado pelas palavras.

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

É meia-noite e tudo bem. Tudo bem?

O capitalismo financeirizado é uma festa. Para poucos, mas sempre uma festa.
Só que não dura para sempre.
O fantasma da crise está sempre por aí, assombrando uns e outros.
Agora, aquela sensação inquietante que sinaliza um novo abalo global para os próximos meses voltou a tirar o sono dos especuladores em Nova York.
Quando tempo será necessário para a bomba-relógio explodir?
Quanto tempo será necessário para que a onda atravesse o Atlântico e venha dar na praia de um Brasil embebedado pela aparente estabilidade econômica?
Quem viver, verá.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Retratos da barbárie

Quantos estupros ainda sofrerá a adolescente bestializada no cárcere de Abaetetuba?

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Infinitas cortinas com palcos atrás

A desfiliação de Almir Gabriel do PSDB, mais um furo da sempre bem informada Rita Soares, é quase uma não-notícia.
Há meses esse desfecho era esperado e, na prática, o ex-governador já havia mudado de mala e cuia para a canoa de Jader e Juvenil.
Então, o que deveria despertar interesse na verborrágica e algo delirante pregação que o agora ex-tucano assume como uma espécie de missão apostólica?
É, justamente, o persistente ataque ao grande eleitor oculto da política brasileira e paraense, a "multinacional da mineração" Vale do Rio Doce e seu "insolente" presidente, Roger Agnelli.
Por que essa denúncia - gravíssima - não é capaz de gerar qualquer comentário na mídia e na blogosfera?
Seria um fato sem importância a tal "intromissão indevida" do monopólio privatizado por sobre a maioria dos partidos e a quase totalidade dos atuais (e pretéritos) governantes dessas terras paroaras?
Esse silêncio parece ir muito além de mera cumplicidade. Antes, revela que o teatro eleitoral está em grande medida maculado por um tipo de nódoa muito difícil de lavar: a submissão aos interesses das poderosas engrenagens do financiamento privado.
E são essas mãos, sempre prepotentes e despudoras, que moldam o discurso e prática dos que se vergaram ao triste papel de vassalos do grande capital.

domingo, 1 de agosto de 2010

Dialética da arte de domar palavras

O aprendiz


Da ponta do arame
a frase
sem (o) equilíbrio
escapa
Tentar o vento
o vulto de uma vela
com o frio alicate
tanto resulta
madeira inerte
ou rocha lisa.

Do côncavo do seio
da curva do arame
partir (ia) o pássaro. Foge
nervo dorido
(asa)

grito,

A imagem branca
dorme na concha
real mas inconsútil
que o arame fere
inútil.

Max Martins (1926-2009). Poeta paraense. H'era (1971) em Poemas reunidos (1952-2001). Belém: Editora da Universidade Federal do Pará/ EDUFPA, 2001, p.318.

Engolidores de elefantes

Nunca houve tantos mecanismos de controle sobre as eleições no Brasil.
Nunca houve tanto abuso do poder econômico - às escâncaras, diga-se - num processo de fraude que deveria desencadear uma ira cívica sem precedentes, mas, contraditoriamente, serve apenas de fermento à apatia e ao desencanto de muitos.
Na raiz de tudo, reina solene, a mãe de todas as maracutaias: o financiamento privado de candidatos e partidos, através do qual mandatos acabam como meros instrumentos de negócios escusos na via dupla onde se encontram a fome e a vontade insaciável de comer.
Mas, que ninguém se esqueça, a roda da história não para de girar.
Em meio a tudo isso, de forma ainda pouco visível, parcelas críticas do eleitorado vão se dando conta de algo preciso ser feito. E feito com o misto de pressa e perseverança dos que vislumbram com clareza o porto de destino.