quinta-feira, 29 de abril de 2010

Sangue na Fronteira

O Paraguai está em virtual estado de sítio. Em cinco departamentos - o equivalente a estados no Brasil - vigora a suspensão de direitos políticos e a possibilidade de prisões sem mandados, além de outras medidas típicas de situação de guerra civil.
O presidente Fernando Lugo, eleito na esteira de um amplo sentimento mudancista, vai de crise em crise aprofundando uma situação de crescente ingovernabilidade.
A emergência de um guerrilha no campo está servindo de pretexto para a demonização dos movimentos sociais insubmissos, que de uma posição inicial pró-governo migraram ações de contestação cada dia mais radicalizadas. Suas bandeiras, aliás, constam do programa eleitoral de Lugo mas foram sendo convenientemente largadas pelo meio do caminho.
Para tornar o caldeirão social ainda mais explosivo existe a fortíssima presença do narcotráfico e do contrabando, cujas raízes estão fincadas há muitas décadas naquele destroçado país, um dos mais pobres da América Latina.
Enquadrar o conflito com a utilização do modelo inspirado pelos Estados Unidos na Colômbia, onde qualquer insurgência é imediatamente carimbada como narco-guerrilha, representa o caminho mais curto para a generalização e descontrole total do quadro que vem degenerando com enorme rapidez.
Luiz Carlos Azenha, respeitado jornalista e correspondente internacional, lança sobre a crise atual paraguaia uma luz distinta daquela emanada pela grande mídia. Seu artigo A segunda guerra do Paraguai merece ser lido com a máxima atenção.

O mundo aos nossos pés

O presidente de facto do Brasil, o banqueiro Henrique Meireles, já havia dado a senha: o BC daria uma "paulada" e os juros voltariam a subir. De novo, após 18 meses de trégua, o governo elevou a taxa básica de juros, aquela que serve somente regular seus contratos da dívida pública que já beira os 2 trilhões de reais.
Com o acréscimo de 0,75 ponto a Selic alcançou 9,5% em evidente retomada de elevação. O onipotente mercado, com seus agentes que respíram especulação por todos os poros, já projeta seguidas altas até atingir em dezembro algo próximo de 11,75%, o que representará em 12 meses uma transferência líquida de R$ 15 bi (valor superior ao orçamento anual do programa Bolsa Família) para a plutocracia daqui e de fora.
Assim, o Brasil se consolida na liderança isolada do campeonato mundial de usura. E de falta de vergonha na cara, é claro.

Colhendo flores no deserto de ideias

Há muito se deixou de falar em crise brasileira. Tapam o sol com a peneira, envolvendo a realidade - dura, nua, cruel - num manto de pura ideologia mistificadora.
Mas nem todo mundo - felizmente - assinou esse pacto de rendição incondicional às ordens que são ditadas de cima e, na maior parte das vezes, de fora de nosso ultrajado território.
Plínio de Arruda Sampaio, com mais de meio século de militância, é um que insiste em remar contra a maré, pois sabe que a chegada é sempre um eterno recomeço.
Hoje, às 18h30, no auditório da Faculdade de Medicina, na Generalíssimo, ele estará expondo suas propostas para a construção de uma alternativa para o Brasil. Uma alternativa que interesse à maioria do povo e que por isso mesmo não frequenta as manchetes dos jornais.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

Toda forma de amor vale a pena

Decisão histórica do Superior Tribunal de Justiça (STJ), carregada de coragem cívica. É o Brasil se descolando, mesmo que ainda tão parcialmente, de nosso passado-presente de homofobia e preconceito secular contra as diferenças.

terça-feira, 27 de abril de 2010

O Sétimo Círculo

Não adianta a agronegocista Kátia Abreu (DEM-TO) ficar apoplética em mais um de seus ataques contra os movimentos sociais. Tampouco vai ter alguma valia sua reiterada tentativa de negar a existência de trabalho escravo no campo cada vez mais dominado por empresas que por trás do verniz de modernidade escondem o frio metal do açoite.
Em Santa Maria das Barreiras, extremo sul do Pará, o Grupo Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego acaba de libertar 28 trabalhadores reduzidos à escravidão. Detalhe: a fazenda Jarumã, pertencente à CSM Agropecuária S/A possui 30 mil cabeças de gado, campo de pouso e emprega tecnologia de ponta no melhoramento genético de seu rico rebanho. Porém, seu diretor-responsável, Celso Silveira Mello Filho, é um antigo frequentador da "lista suja" do trabalho escravo desde 2003.
Estas e outras ligações perigosas foram desvendadas pela Repórter Brasil.


segunda-feira, 26 de abril de 2010

Dinheiro na mão é vendaval

Ouro, platina, paládio e sabe-se lá o que mais. Uma montanha de metais preciosos - e estratégicos - sairá das entranhas da Serra Pelada, sudeste do Pará, diretamente para os cofres de uma multinacional canadense, a Colossus.
Anuncia-se, com toda pompa e circunstância, o início de um novo ciclo do ouro, agora sob controle do mercado em aliança com uma suspeitíssima representação dos garimpeiros.
Em qualquer hipótese, a riqueza voltará a bamburrar. Como no passado, tudo será drenado para engordar os bolsos de uns poucos enquanto sobre a terra encharcada de suor e sangue de tantos brasileiros continuará a florescer a flor amarga da miséria mais abjeta.

domingo, 25 de abril de 2010

Grande Expediente

Presa quadrilha que assaltava cofres da Assembleia Legislativa.
Calma, pessoal, não é preciso entrar em pânico.
A operação policial que prendeu dez larápios do dinheiro público foi realizada muito longe daqui, na distante e fria Curitiba (PR).

A Cela de Vidro

Com prisão temporária decretada, o empresário e ex-candidato a prefeito de Barcarena (123 Km de Belém), Antônio Carlos Vilaça sumiu na capoeira. Ele é acusado do crime de pedofilia e de alimentar, com muito dinheiro, uma rede de aliciadores de crianças e adolescentes que acaba de de ser desmantelada pela polícia paraense.
Vilaça, que fez fortuna como prestador de serviço da Vale, é um arquivo-vivo. Sua prisão e posterior julgamento poderá abrir um leque interessante: pela primeira vez estará no centro da ribalta os endinheirados que sustentam a máfia especializada em comercializar o corpo (e a alma) de crianças de até 11 anos. Quem são seus parceiros neste crime hediondo? Que se revele, de uma vez por todas, a face cruel dos que são capazes de praticar barbaridades sem fim e, como é de costume, posar sorridentes nas colunas sociais como exemplos de probidade e sucesso empresarial.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Até tu, Brutus?

O custo da usina de Belo Monte é um verdadeiro Santo Graal. Ninguém é capaz de dizer por quanto essa fabulosa (e desastrosa) obra poderá ser feita. Nos primeiros tempos, falava-se em 6 bilhões de reais. Depois, 16 bi, até que o governo fixou o número algo cabalístico de 19 bilhões ( sem contar 6 bi de subsídios fiscais e creditícios). Enquanto isso, o onipotente "mercado" aposta em 30 bi, para começo de conversa, é claro.
A memória de cálculo de outra obra gigantesca - a hidrelétrica de Tucuruí - mostra como os orçamentos iniciais podem ser catapultados quase ao infinito.
A novidade é que nem as estatais envolvidas falam a mesma língua, como foi revelado nesta interessante matéria de O Globo, edição de hoje.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Dialética da criação do mundo (muito antes de Cabral)

"A descida do céu

Lá na terra do céu um índio cavou um buraco de tatu.
O tatu caiu pelo buraco.
Pelo buraco o índio viu a terra daqui, com muito buriti. Era nos campos.
Os índios todos juntos se amarraram com um cinto de linha vermelha e preta (me-prê) (1).
Amarraram num pau e desceram.
Uma vez na terra cortaram o me-prê que o vento levou.
Lá em cima não ficou ninguém (2).


______________________

1. Me-prê: o informante explica que é um cinto como os que usam durante a desta de nominação Nhiok (Coleção XIKRIN do Museu Paulista).
2. Outro informante diz que um certo número de índios ficou com medo de descer, permanecendo lá em cima.

Lux Boelitz Vidal (Alemanha, 1930), é Professora Emérita da USP. Morte e vida de uma sociedade indígena brasileirea: os Kayapó-Xikrin do rio Cateté. São Paulo, HUCITEC, Ed. da Universidade de São Paulo, 1977, p.206.

A família Adams

O homem certo para abrir a caixa de maldades: Luís Inácio Adams, atual Advogado-geral da União. Além de trazer estampado o nome do chefe e mentor, a cara dele não treme quando é escalado para defender o indefensável, nem quando alguém precisa assumir a face visível de um trabalho tão sujo quanto truculento. Aliás, lidar com sujeiras e cercar tudo com o verniz da legalidade parece ser sua maior qualidade.

Pode ser a gota d'água

O governo Ana Júlia acaba de dar o sinal: pelo menos para contemplar o setor fardado do funcionalismo haverá recursos adicionais. Uma escala de abonos - entre R$ 500 e R$ 1.500 - será implantada para tentar deter os focos de rebeldia que já se alastram nos quartéis.
Poucos são os que acreditam que depois dessa demonstração de suposta saúde financeira o governo possa manter de pé seu discurso de não há qualquer possibilidade de melhorar a proposta de reajuste para o restante dos servidores, em especial para os trabalhadores em educação, sempre mais mobilizados e com uma greve engatilhada para o dia 27.

V de Vingança

O telhado de vidro dos tucanos só tem equivalência em termos de tamanho e amplitude se comparado ao de seus antagonistas abrigados na constelação que gira em torno do PT e do governo Lula.
Como o vale-tudo eleitoral está apenas no início, é conveniente abrir bem os ouvidos para a troca de munição que vem por aí.
O propinoduto da multinacional francesa Alston, montado pelo PSDB paulista desde os anos 90, vai render ainda muito mais, sobretudo quando o caminho da dinheirama desviada começar a receber nome e sobrenome. A conferir cenas dos próximos capítulos dessa nada edificante novela da vida real.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Antes tarde do que nunca

Ex-ditador, responsável por torturas e assassinatos, acaba de ser condenado a 25 anos de prisão.
Calma, senhores, foi na Argentina, onde se tem a estranha mania de buscar passar o passado a limpo, deixando o horizonte muito menos arriscado.

Passa no caixa

Belo Monte, se for mesmo construída, deixará um rastro de tragédias em série.
Mas, e talvez por isso mesmo, tende a ser um grande, um fabuloso negócio.
Segundo matéria de O Globo, na edição desta terça-feira (20), só em subsídios fiscais e creditícios, o consórcio vencedor levará a bolada de R$ 6 bilhões, um terço do valor projetado para a obra. Ou meio ano de Bolsa Família, programa vitrine do governo Lula que atende mais de 11 milhões de famílias pobres em todo o país.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

A ilustração que faz falta

O professor e pesquisador Célio Bermann (USP) não manda que esqueçam o que escreveu. Sua alma e sua dignidade acadêmica não estão à venda.
Por isso, já com a paciência esgotada, ele parte para o ataque contra os barrageiros de Belo Monte e seus acólitos de plantão.
Mais um grito de alerta está lançado.
Quem terá a capacidade para ouvi-lo antes que o desastre se torne irreversível

Máquinas de fazer dinheiro

Entra crise, sai crise e tudo bem.
Os plutocratas nunca lucraram tanto e tão rápido.
Jamais poderiam imaginar que essa proeza seria alcançada justamente no governo de um ex-operário, que tanto temor já havia causado no andar de cima.
Mas, é a pura e cristalina verdade.
Ou, por favor, alguém arrume outra maneira de explicar essa imensa montanha de R$ 127,8 bi que, ao longo dos últimos sete anos, vem enchendo os cofres dos alegres (e cada vez mais ricos) banqueiros no Brasil.

sábado, 17 de abril de 2010

Caravelas em chamas

A leitura atenta da página 6 do caderno Cidades de O Liberal de domingo (18), já nas bancas a partir do final da tarde deste sábado, revelerá que chegou no ponto máximo de ebulição a tormentosa relação de amor e ódio entre o governo do PT e seus (ex) aliados do PMDB.
A troca de chumbo grossíssimo pode, entretanto, estar apenas no começo.
Não custa preparar os ouvidos e os estômagos para o que vem por aí.

Um dia para jamais esquecer

Para Oziel Pereira



O sol sobre as cercas e o cerco já estava decidido.
17 de abril de 1996. As tenazes se fechando enquanto bandeiras desfraldadas ondulavam, inocentes de que em poucas horas seriam farrapos em meio à carnificina.
A voz majestática ainda ressoa: "Desocupem. De qualquer maneira. Isto é uma ordem".
De qualquer maneira, a qualquer preço, custe o que custar.
E custou. Custou 19 vidas e sangue, muito sangue a empapar aquele trecho perdido da PA-150.
Quando a tarde estava para cair, 17 horas, e o lusco-fusco já se insinuava, ouviram-se os primeiros tiros de fuzil. Bombas. Fumaça. Terçados, foices, paus e pedras. É a guerra? Não, está mais para um abatedouro de seres humanos, dessangrados ali mesmo, com os golpes e tiros de misericórdia sendo desferidos em meio à algaravia de impropérios e insultos que os fardados despejavam sobre os camponeses já rendidos.
Muitos foram executados a sangue frio,sem piedade. À bala ou à faca, o serviço deveria ser feito. Custe o que custar. De qualquer maneira. Essa era a ordem.
Eldorado, Eldorado, teus gritos de pavor são trazidos pelo vento da memória.
O cheiro de morte ainda pode ser sentido. Está lá, entre as 19 castanheiras fincadas em lembrança dos caídos. Mas está aqui, em qualquer lugar, nesse imenso território onde a injustiça e a impunidade são o pão nosso de cada dia.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Sem defesa

E, como era de se esperar, o presidente do Tribunal Regional da 1a Região (TRF-1), Jirair Aram Meguerian, acaba de detonar as duas liminares que suspendiam a licença prévia e o leilão de Belo Monte.
O Planato deve estar em festa diante de uma decisão que envergonha a magistratura brasileira, além de demonstrar como as mais altas instâncias da Justiça brasileira podem se tornar refúgio de indignidades sem conta.

Mãos sujas de sangue

Vez por outra saltam das entranhas dos arquivos secretos estadunidenses histórias verdadeiramente terríveis. Essas tragédias vêm à luz por conta de uma lei que não permite o sigilo eterno - como vergonhosamente ainda prevalece no Brasil - mesmo em se tratando de assuntos sensíveis aos interesses da grande potência mundial. A desclassificação desses textos e gravações revelam, não raro, o quão criminosa tem sido a política externa da Casa Branca e de como a CIA e outras agências se tornaram tentáculos dos mais abjeto terrorismo de Estado.
A Ong The National Security Archive revelou que Henry Kissinger, então secretário de Estado, foi avisado de que assassinatos políticos seriam realizados no exterior sob a coordenação da chamada Operação Condor - articulação de militares golpistas do Cone Sul - e nada fez para impedí-los. Antes, muito pelo contrário.
Apenas cinco dias depois, um carro-bomba mataria, em pleno centro de Washington, o ex-chanceler de Allende, Orlando Letelier e sua secretária norte-americana, no fatídico 21 de setembro de 1976. Este atentado foi realizado por ordens diretas do ditador Augusto Pinochet e dos generais de sua sanguinária polícia política, a famigerada DINA.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Um silêncio ensurdecedor

A punição dos agentes do Estado brasileiro que torturaram, mataram e desapareceram centenas de lutadores sociais durante o regime militar (1964-1985) continua a pairar, como um fantasma, sobre as cabeças dos 11 ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Provocada por uma ADPF (Argüição de Descumprimento de Preceito Fundamental) de autoria do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), o tema permanece como uma batata fervente, agora saltitando no colo do ministro Eros Grau, relator da matéria, que acaba de negar pedido de realização de audiências públicas, alegando que isso levaria a um atraso no julgamento da questão que se arrasta desde outubro de 2008.
Talvez devesse o ministro, ele próprio um ex-preso político torturado pelos militares nos idos de 1972, refletir sobre o que significa para um país como o Brasil conviver há mais de quatro décadas com a nódoa infame da impunidade. É deste atraso que o Brasil precisa se livrar o quanto antes.

Déjà vu

O clã Sarney não se emenda.
A notícia parece velha, mas é somente a última de uma série de escândalos à sombra dos mais importantes gabinete de Brasília.
O trem da corrupção, porém, está longe de descarrilar.

Calçada da Fama

Jirair Aram Meguerian. Anote esse nome. Ele é o - até a próxima quinta (22) - presidente do Tribunal Regional Federal da 1a Região (TRF-1) e sobre sua mesa, a qualquer momento, vai aterrissar o recurso da Advocacia Geral da União (AGU) para cassar as liminares suspendendo a licença prévia e, por consequência, o leilão de Belo Monte, ainda marcado para o dia 20 de abril.
A pressa do governo tem um singelo motivo. Por duas vezes, no ano passado, Meguerian tomou decisões favoráveis ao governo, suspendendo liminares da Justiça Federal de Altamira, todas referentes ao polêmico licenciamento de Belo Monte. Agirá diferente desta vez? É pouco provável, mas não custa acreditar que o bom senso e a responsabilidade socioambiental devem prevalecer sobre os interesses privados.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Acredite se quiser

Um patrimônio natural da humanidade, em pleno Brasil Central, dilapidado impunemente durante anos.
Parece roteiro de filme B, mas é a mais pura (e constrangedora) verdade.

terça-feira, 13 de abril de 2010

O começo do fim?

Fim do suspense. O Ministério Público Eleitoral cravou o prego que faltava para que o processo da cassação do prefeito de Belém, Duciomar Costa (PTB) e de seu vice, Anivaldo Vale (PR), volte a tramitar, depois de meses de congelamento.
Apesar de previsível, o parecer do procurador Ubiratan Cazetta deve estar causando calafrios naqueles espertalhões que, há seis anos, fizeram da administração municipal mera extensão de seus negócios privados.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Para acabar com o pelourinho. De uma vez por todas

Luiz Felipe de Alencastro é um dos mais respeitados historiadores do país.
Seu parecer a favor da política afirmativa de cotas raciais é uma peça irretocável e põe por terra as falácias dos que, no limite, negam a escravidão e as sequelas que até hoje dividem e adoecem a sociedade brasileira.
Por seu conteúdo, abrangência e profundidade, trata-se de uma leitura obrigatória. Aqui, na íntegra.

domingo, 11 de abril de 2010

Deu no The New York Times

A luta contra Belo Monte gira o mundo.
Na primeira página do NYT deste domingo (11): Tribes for Amazon find and ally out of "Avatar".
Na manhã de segunda-feira, Brasília vai ter uma primeira visão de que existe vida - e vida inteligente e disposta a resistir - fora dos gabinetes herméticos e luxuosos onde se engalfinham os monopólios que pretendem disputar o leilão previsto para o dia 20. Uma passeata reunindo povos indígenas, movimentos sociais do Xingu e ambientalistas percorrerá a Esplanada dos Ministérios.
E isso, bem entendido, é só o começo de uma jornada que promete tirar o sono dos que imaginam que tudo podem. Até a prática impune do maior crime socioambiental de toda a história recente do Brasil.

sábado, 10 de abril de 2010

Dialética de uma lágrima amazônica

"Cântico XXXVII

Atrás de cada hora
atroz, aterra
a terra entre grilagens
e parágrafos de erros
sobre as horas...

Rio, por que choras?

Quem sabe a trama que se arma,
quen reconhece a noite entre nascentes
de rios negros de aurora?
Quem acendeu as chamas das queimadas
com título de posse des-fraudado
entre colonos em pânico?

E que pássaro ávido
mais-que-de-aço
põe seus ovos letais
em núbeis praias de Conde?

Aeroportos ocultos
revelam-se em radares.
A dúvida aterriza.
Aterroriza-se."


João de Jesus Paes Loureiro, poeta, professor e pesquisador paraense, nascido em Abaetetuba (1939). Porantim (1979, p.86. Obras Reunidas, Volume 1, São Paulo: Escrituras Editora, 2000)

Canudos. Sempre Canudos

Um verdadeiro palavrão está de volta: desfavelização.
Claro, tudo apresentado como imperativo para salvar vidas diante da tragédia climática no Rio de Janeiro.
Será mesmo?
A prefeitura da capital carioca anunciou que vai desapropriar todas as casas do morro do Livramento, no centro da cidade, diante da ameaça iminente de novos desastres.
A Rede Globo, fiel a seu estilo, faz campanha aberta contra as obras realizadas, há duas décadas, pelo projeto Favela-Bairro, que levou calçamento e infraestrutura àquela comunidade. Insinua que foi dinheiro jogado fora e que a "remoção" era a melhor saída.
É a volta do velho sonho das elites de "limpar" a Zona Sul, escondendo a pobreza para os confins mais distantes. Longe dos olhos de turistas e da classe média.
Na década de 60, de triste memória, foi realizada uma tentativa traumática de "higienização" social na chamada Cidade Maravilhosa. Os métodos foram tão violentos - incêndios criminosos e intimidação estatal - que não pode ser levado adiante. Mas ficou a ferida aberta como forma de lembrar o tipo de sociedade o Brasil gerou ao longo de décadas.
Tudo isso faz recordar a origem pouco conhecida da palavra Favela.
Na Guerra de Canudos, no finalzinho do século XIX, em pleno sertão baiano, foram escritas, a sangue e fogo, uma das mais belas páginas da resistência do povo brasileiro. E um dos ícones dessa epopéia foi o morro da Favela - cujo nome remonta a uma planta típica do sertão, a faveleira - que dominava aquele sítio que foi ponto privilegiado da guerrilha camponesa contra as tropas legalistas.
Ao término do massacre, os soldados desmobilizados foram lançados na miséria e muitos ao retornarem ao Rio de Janeiro - negros e extremanente pobres - foram construir seus casebres nos morros inabitados da antiga capital federal. Daí a denominação acabou se generalizando e entrando no vernáculo nacional.
Da mesma forma, muitos migrantes do nordeste, baianos na maioria, seriam expulsos do centro do Rio pela reforma urbana elitizada do prefeito Pereira Passos no início do 1900. Subiram os morros para encontrar abrigo e moradia, levando consigo a memória do Arraial de Belo Monte, àquela altura transformado em cinzas pela brutalidade da revanche oficial.
Funciona, assim, como uma metáfora: a guerra contra a pobreza não termina nunca. Canudos renasce, como alegoria e como alerta de que aos pobres somente é apontado o caminho da senzala, se possível bem distante e convenientemente escondida ao olhar dos habitantes da Casa Grande.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Gol de Placa

Uma causa justa vai entrar em campo em Belém.
Os principais clubes do futebol paraense vão aderir à campanha nacional pela erradicação do trabalho escravo e pela aprovação da PEC 438/2001.
Saiba como fazer parte deste time, aqui.

Meia Lua (não mais) Inteira

Rachou, e rachou de vez o bloco direitista que se opõe, a ferro e fogo, contra a hegemonia que Evo Morales vai consolidando na Bolívia.
O departamento de Pando - local de recentes massacres promovidos por opositores instrumentalizados de fora para dentro - acaba de passar para as mãos do Movimento ao Socialismo (MAS), partido que dá sustentação ao governo Morales. Ficam, assim, isolados e enfraquecidos, os governantes de Santa Cruz, Tajira e Beni, da outrora poderosa e beligerante "Meia Lua", agora ingressando na fase minguante.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

A máfia não manda flores

Parece Palermo, mas não é.
O atentado cinematográfico lembra as ferozes pugnas entre os gângsteres da 'Ndrangheta às margens do Mediterrâneo.
Entretanto, tudo aconteceu em plena avenida das Américas, na sofisticada Barra da Tijuca, no coração do Rio de Janeiro.
Depois disso, não é possível alguém imaginar que o controle das máquinas de caça-níqueis seja um negócio inofensivo, capaz inclusive de financiar o barulhento lobby de deputados e senadores a favor da legalização do jogo no Brasil.

Efeito Sanfona

Não dá mesmo para comemorar.
Depois dos fogos de artifício do governo Lula, há poucos meses, festejando uma suposta queda "sustentável" no desmatamento na Amazônia, eis que os novos números, consolidados pelo Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), para os sete meses de agosto de 2009 a fevereiro de 2010, confrontado com dados do mesmo período entre 2008 e 2009, registram uma aceleração expressiva de 23%.
Cai por terra a tese de que as frentes de devastação estavam controladas pelas Operações-Espetáculo dos órgãos ambientais.
A queda registrada no ano passado era, efetivamente, resultado da crise econômica mundial e da momentânea retração da demanda. Agora, o barulho ensurdecedor das motosserras começa a se impor novamente.

Mortes na conta da incompetência

Diante da multiplicação dos mortos na tragédia do Rio, fica mais evidente que algo poderia - e deveria - ter sido feito para minimizar os efeitos da catástrofe.
Verbas federais para prevenção de desastres simplesmente não foram liberadas. O Estado do Rio de Janeiro não recebeu nenhum centavo dos R$ 318 milhões alocados pelo Ministério da Integração.
De quem é a culpa de tamanha incúria?
Veja a matéria completa no Jornal do Brasil.

Pedindo o boné?

A gula das empreiteiras - das gigantes, inclusive - não tem tamanho. São insaciáveis.
Camargo Corrêa e Odebrecht desistiram do leilão de Belo Monte. Será mesmo verdade ou estamos em meio a uma cena explícita de chantagem?
Só os próximos capítulos esclarecerão mais estes cotornos dessa ópera bufa.

A volta dos que não foram

Depois de meses de manobras e gincanas jurídicas variadas, estará, pela primeira vez, diante da juíza da Infância e da Adolescência, na condição de réu no processo que apurar o estupro de uma criança, à época, de nove anos, o ex-deputado Luiz Sefer.
A sessão está marcada para começar hoje às 9h, no Fórum Criminal no centro histórico de Belém.
Durante este tempo Sefer submergiu. Renunciou a seu mandato de deputado estadual, eleito pelo DEM (ex-PFL) para não perder o direiro de disputar uma nova vaga em outubro. Trocou de partido, ingressando no sempre solícito PP (igualmente formado de uma costela da antiga Arena pelas mãos operosas de Paulo Maluf) e anda por aí fazendo o que sempre fez, mantendo a mesma rede de aliciamento de eleitores que explica sua reeleição, por cinco mandatos, à Assembleia Legislativa.
Tudo isso, claro, na maior desfaçatez e sem qualquer sinal de constrangimento.
Oxalá ele não saia desse processo como um exemplo vivo de que o crime, para certas castas da elite brasileira, não somente compensa como pode ser um método eficaz de perpetuação no poder.

quarta-feira, 7 de abril de 2010

À sombra do vulcão

Às vésperas do leilão de Belo Monte, algo se move. E na direção correta.
Veja aqui as medidas que o Ministério Público Federal pretende fazer para chamar o governo à razão, enquanto ainda há tempo.
A festança, porém, possui data marcada, 20 de abril.
Mas, sempre o inusitado pode ocorrer.
Quem sabe se não será o Baile da Ilha Fiscal, reunindo, com pompa e circunstância, grandes empreiteiras, monopólios daqui e de fora e uma legião de neo-conversos à cartilha dos barrageiros ?

Tragédias não tão naturais assim

Como um filme antigo e brutal, mais cidades brasileiras chorando dezenas de mortos e milhares de desabrigados em decorrência de fortes chuvas e deslizamentos de encostas. O Rio de Janeiro e diversas outras cidades de sua região metropolitana reproduzem, neste momento, as mesmas cenas dramáticas que poucos meses atrás estiveram presentes em São Paulo e na região dos Lagos, principalmente em Angra dos Reis.
Debitar apenas à natureza e suas forças incontráveis é o caminho mais fácil, mas também mais falso.
A mão do homem e sua irresponsabilidade socioambiental estão no topo desta cadeia de culpados que, na hora H, procuram o abrigo das sombras.
A insustentabilidade das cidades, com os pobres sendo obrigados a ocupar áreas de risco por ausência de uma política efetiva de moradia popular, abre o caminho para novas - e cada vez mais letais- tragédias.
Até quando?

terça-feira, 6 de abril de 2010

Laços de Família

O Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) em Belém está prestes a ter sua gestão terceirizada, após anós de sucateamento e precarização deste serviço essencial.
Os funcionários insatisfeitos levantam uma grave suspeita: a empresa escolhida teria o DNA da família do prefeito Duciomar Costa (PTB), através de seu polêmico sobrinho, Saulo Costa, cuja passagem pela área de saúde não deixou qualquer vestígio de respeito ao interesse público.

Quem conhece, não compra

Hoje é dia de colocar o pé na estrada.
É dia de por em movimento uma legião de órfãos do Eldorado tão prometido e, ao mesmo tempo, tão intangível.
Logo mais, às 8h30, na Vila do Conde, em Barcarena, será realizado o ato que marca o início da etapa paraense do movimento Justiça nos Trilhos, articulação internacional de comunidades atingidas pelas políticas da Vale do Rio Doce. Além de Barcarena, Marabá e Parauapebas receberão os bons ventos dos que não se acovardam diante dos éditos de Roger Agnelli e seus miquinhos adestrados.
No balanço de perdas e danos, resta sempre um enorme passivo a ser administrado e pago justamente por quem jamais terá acesso aos lucros dos bilionários empreendimentos que continuam a desembarcar - arrogantes e verticais - tal qual as caravelas cabralinas que por aqui aportaram há 510 anos.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

ABC da destruição

A Amazônia não é o único bioma sob cerco e aniquilamento.
O Pantanal sucumbe diante do avanço da fronteira devastadora das indústrias sujas e da implacável pata do boi.
Nos últimos três anos, 270 mil hectares viraram carvão.
O tamanho do escândalo equivale a duas vezes a extensão da cidade de São Paulo. Tudo impunemente, como reza a cartilha dos modernos donatários destes rincões brasileiros.

domingo, 4 de abril de 2010

As aparências que enganam

Foram sete anos de espera para a primeira visita de Lula a Israel.
Ao longo deste período, não foi pequena a pressão para que houvesse um claro alinhamento da política externa brasileira aos ditames do Pentágono e de sua manifesta - e quase absoluta - postura de alinhamento com os falcões israelenses e sua faxina étnica na Palestina ocupada.
A ascensão de Obama não alterou o quadro, e as eventuais turbulências são acidentes de percurso, como esta última crise detonada pela ilegal, imoral e truculenta decisão do gabinete israelense de avançar na colonização de Jerusalém.
O Brasil, pelo menos na aparência, vinha mantendo sua tradicional posição de defender uma saída política negociada para o conflito que se arrasta há mais de seis décadas, sem qualquer perspectiva de desenlace à vista. Essa solução sempre passou pelo reconhecimento do direito dos palestinos à auto-determinação e pela fundação de um Estado próprio, cuja capital indivisível é (e será um dia) Jerusalém.
Pois bem. Lula este em Israel. Lá discursou no Knesset defendendo o reatamento do diálogo direto entre israelenses e palestinos. De passagem ainda se recusou a participar de uma agenda não oficial, mas bastante simbólica para os israelenses, causando um certo desconforto diplomático. Ao contrário da maioria dos chefes de Estado que visitam Israel, Lula não depositou flores no túmulo de Theodor Herzl, fundador do movimento sionista.
Ademais, Lula fez questão de pisar no solo ensanguentado da Cisjordânia, nos mesmos dias em que as tropas de ocupação desfechavam mais uma ofensiva, com os costumeiros assassinatos de jovens palestinos desarmados.
O que, entretanto, obteve quase nenhum registro na imprensa foi seu gesto mais concreto e que vai produzir consequências imediatas e duradouras. Este sim em aberta contradição com os que no mundo inteiro lutam pelo fim imediato do holocausto palestino.
Lula anunciou, em 15 de março, o início oficial das relações entre Israel e o Mercosul, tornando este país o primeiro a integrar o bloco fora das Américas.
Desde 2005 se arrastavam as negociações para incluir Israel e, em paralelo, os movimentos sociais e de direitos humanos impulsionam uma campanha mundial para o estabelecimento de um total boicote a produtos made in Israel. Tal qual ocorreu com o regime do Apartheid sul-africano, somente um amplo boicote comercial irá pressionar a direita israelense e forçar a retomada das negociações de paz. Uma paz justa, e não a dos cemitérios que Israel produz todos os dias, impunemente.
Todo esse esforço solidário virou pó. Agora, os produtos israelenses, muitos produzidos em terras ocupadas e manchados pelo sangue dos mártires, terão tratamento aduaneiro absolutramente privilegiado, avançando sobre mercados do Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai.
Um enorme deserviço à verdadeira luta pela paz. Uma enorme contribuição aos que já deram reiteradas demonstrações de que pretendem, em pleno terceiro milênio, continuar executando um genocídio semelhante àquele que vitimou os armênios no alvorecer do breve e dramático século XX.

Dialética de um racismo nada cordial

"Em um dos dias da semana passada receberam o sacramento do batismo na freguesia da Sé sete indivíduos, escravos, do Sr. Pedro Lourenço da Costa, há pouco chegados do interior da província. Eram todos menores, sendo o mais velho talvez de 16 anos de idade, filhos de uma preta, escrava do mesmo senhor, a qual havendo fugido em 1835, teve aqueles filhos durante o tempo em que esteve em fuga. A preta acha-se igualmente recolhida à casa de seu senhor; foi agarrada em Camutá, onde se inculcava livre, e confessa ter vivido quase sempre entre os gentios Anhambés, habitantes da selva do Tocantins, em companhia de um preto, criminoso, evadido da cadeia pública desta capital naquele ano de dolorosa rendição".


Jornal Treze de Maio, Belém, n. 277, 10 jan. 1854, p. 8. Citado por Vicente Salles (O Negro no Pará sob o regime da escravidão - 3.ed. rev. ampl. - Belém : IAP; Programa Raízes, 2005). Os grifos são nossos.

sábado, 3 de abril de 2010

Aos pobres, nem as pedras

A campanha odiosa contra a política nuclear iraniana avança a passos largos.
Estados Unidos e Europa incrementam uma escalada que todo mundo sabe o destino: numa nova guerra de recolonização, tão sangrenta ou ainda mais destruidora que as que, neste exato momento, as potências ocidentais continuam mergulhadas no Afeganistão e no Iraque.
Poucas são as vozes sensatas e com autoridade suficiente para apontar o dedo e acusar a manobra diversionista dos senhores da guerra.
Sem dúvida, Samuel Pinheiro Guimarães, decano do melhor que a diplomacia brasileira gerou nas últimas décadas e atual ministro de Assuntos Estratégicos, é uma delas. E sua fala revela a altivez de quem age sem medo de remar contra a maré e de enfrentar a cara feia da mídia oligopolizada e da direita que se espalha feito erva daninha na pasmaceira em que se transformou a política nacional.

sexta-feira, 2 de abril de 2010

A Caixa Preta

Ildo Sauer é um dos mais respeitados cientistas da área energética brasileira. Até 2007 comandou a diretoria de Petróleo e Gás da Petrobras, quando de lá foi defenestrado. Ele possui elogiada carreira acadêmica como professor do Instituto de Eletrotécnica e Energia da USP.
Sauer desvenda em entrevista exclusiva ao Correio da Cidadania os segredos do processo de crescente monopolização e privatização do setor elétrico brasileiro, sob a batuta dos mais importantes operadores do Planalto.

Um Judas para chamar de seu

Depois de quase seis anos de agonia, Belém merece uma Páscoa verdadeira. Merece enxergar o fim do calvário de ser governada por quem só tem apego aos trinta dinheiros. E bota dinheiros nisso.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Me dá um dinheiro aí

Os lucros de Belo Monte serão todos privados.
Os ônus - financeiros e socioambientais - serão espetados nas costas do distinto público.
O BNDES já escancarou seus cofres para financiar a mais polêmica das obras que o governo Lula insiste em deixar como herança.
As empreiteiras e especuladores não precisarão colocar a mão no bolso. Deles, é claro.

O dia da Infâmia

1º de abril, 1964. A Operação Brother Sam está em pleno andamento.
Do litoral brasileiro, belonaves dos Estados Unidos estão a postos. Um porta-aviões, seis contratorpedeiros, um porta-helicóptero e quatro petroleiros fizeram a retaguarda daquilo que se imaginava poder resultar numa prolongada guerra civil.
No Pentágono, analistas aguardam ansiosos os primeiros telegramas que darão conta de que o golpe - urdido e financiado de fora para dentro - obtivera sucesso. E melhor: com muito mais facilidade do que apontavam os relatórios da inteligência estadunidense.
As tropas golpistas avançaram com rapidez. Em poucas horas cruzaram Minas Gerais e sitiaram a então capital federal. O Rio de Janeiro em poucas horas estava sob controle dos militares sediciosos e a esperada resistência foi uma promessa frustrada.
Mas não é verdade que todos se acovardaram.
Naquele dia, que jamais deverá ser esquecido, centenas levantaram a voz e procuraram meios de combater. Foram, quase todos, presos e muitos experimentaram nas próximas horas a violência que acorrentaria o país por longos 21 anos.
Em Recife, militares hidrófobos percorrem a cidade levando sob pontapés o líder comunista Gregório Bezerra. Sua foto no pátio de um quartel com o olhar de amargura e com as evidentes marcas de seus algozers no corpo ficou parta sempre como lembrança daquele dia pavoroso.
Os que apanharam jamais deveriam esquecer. Esquecer equivale a perdoar. Perdoar equivale a vergar a espinha e passar a vassalo da gorilagem, essa nódoa que permanecem até hoje bastante viva na ideologia que anima boa parte dos militares desta maltratada Pátria.