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quinta-feira, 30 de abril de 2009
Quem será o carbonário?
- Quem leva a sério o mercado?
O entrevistado, sem papas na língua, responde:
- O Banco Central, por exemplo.
Só o Banco Central. Aquilo é um processo incestuoso. Esse tal mercado controla o Banco Central. O Banco Central não controla coisa alguma. Essa história de que o Banco Central controla as expectativas inflacionárias é o maior blefe que nós temos hoje.
O autor dessa frase, absolutamente insuspeito de possuir relações com a esquerda, pode ter sua identidade descoberta aqui.
quarta-feira, 29 de abril de 2009
Com a lança de Zumbi
No Pará, das 401 comunidades quilombolas apenas 118 estão tituladas e com seus respectivos territórios legalmente reconhecidos pelo Instituto de Terras do Pará (Iterpa). Há, portanto, um largo, tortuoso e difícil caminho a percorrer.
Perigo nos Andes
Um detalhe - e que detalhe - é convenientemente esquecido na matéria de O Globo. Os megaprojetos do presidente direitista Alan Garcia pretendem violar uma região encravada na Amazônia peruana, na qual (ainda) sobrevive um inestimável patrimônio socioambiental. Povos indígenas de diversas etnias, inclusive tribos isoladas, lutam para não serem as próximas vítimas do avanço da fronteira da devastação.
Colheita de corpos
terça-feira, 28 de abril de 2009
O bom pastor
Quem, com a coragem de remar contra a maré do senso comum, mantém viva a crítica à lógica que sustenta o chamado PAC e suas, pelo menos, 48 grandes obras que impactam direta e negativamente as populações indígenas brasileiras?
São poucos, de certo, que estão nessa categoria especial de quem não trafica sob nenhuma hipótese com o decoro e a dignidade inerentes à luta do povo. Entre estes, para orgulho dos paraenses, está Dom Erwin Krautler, bispo do Xingu e presidente do Conselho Indigenista Missionário (CIMI).
Em seu pronunciamento na reunião anual da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), em Itaici, São Paulo, cada palavra tem um peso, um significado e encerra uma promessa. Elas não são neutras, nem buscam a impossível conciliação entre os contrários, muito menos entre os antagônicos. Ao contrário: têm lado, tomam partido e escolhem a boa companhia dos que vivem - e sobrevivem penosamente - do suor de seu próprio rosto.
Suas palavras ardem como fogo - ao denunciar a iniquidade das injustiças, mas são bálsamo nas costas em carne viva dos pobres deste país. Que estas palavras honestas e radicais possam seguir germinando. E provocando a justa e imprescindível polêmica.
Um dia a casa cai
Fica, porém, a pergunta sobre a cadeia de comando que permitiu que essas quadrilhas agissem de forma impune e por tanto tempo. Quando e se a investigação for realizada de forma séria e rigorosa, poderão emergir as digitais de gente grande, grandíssima, que coordenava e protegia, de cima, a existência de um milionário vertedouro de recursos públicos.
Em todo caso, as pegadas estão todas aí, fresquinhas, esperando alguém com disposição e coragem para investigá-las.
Bolso furado
Baile sem máscaras
A diferença, visível e incontestável, é que os gendarmes da ditadura não perdiam seu tempo com a propagação incessante da lorota de que as algemas e o tacão de ferro do aparato repressivo estão, em verdade, a serviço de algum insondável projeto "democrático e popular". Eram mais sinceros. Ou menos cínicos.
segunda-feira, 27 de abril de 2009
Com o pé no freio
sábado, 25 de abril de 2009
Mais do mesmo
Sob cerco do agrobanditismo e da mídia de aluguel, era de se esperar que o governo buscasse se amparar na mobilização social e na denúncia, contundente e bem fundamentada, do processo criminoso de grilagem que assola a terra paraense desde tempos remotos. Certo? Não, infelizmente o caminho escolhido - errático e vacilante - se revela incapaz de compor uma face que nem de longe lembra o que se costuma denominar de popular e de esquerda. Disposto a flanar por sobre interesses abertamente antagônicos, mas repetindo ad nauseam o discurso de não tolerar a ilegalidade e "nem excessos de quem quer que seja", o governo da mal alinhavada aliança PT/PMDB deu, ontem, sinais nítidos de que está muito pouco disposto a contrariar, de verdade, os desejos de quem possui o poder real e efetivo.
Primeiro, a "operação desarmamento", realizada com enorme e injustificável atraso, consegue apreender - pasmem - uma única arma, de fabricação caseira e usada para a caça, num dos muitos acampamentos do MST existentes na PA-150. Sobre o reluzente arsenal à disposição dos capangas a soldo dos prepostos de Daniel Dantas, nenhuma palavra. Decerto, a polícia deverá esperar mais algumas semanas até que algum juiz autorize a busca e apreensão nos limites da propriedade privada, grilada até o último centímetro, como o próprio Estado afirma em ações que se arrastam em instâncias e foros judiciais muito pouco ágeis quando precisa impor algum revés aos ocupantes do andar de cima.
E, segundo, para arrematar, veio esse ridículo indiciamento do coordenador do MST, Charles Trocate, acusado de incitamento à violência. Convenhamos, falta criatividade aos estrategistas da governadora. Essa ideia absurda tem o copyright da senadora Kátia Abreu e de seus asseclas, interessados, eles sim, no aprofundamento de um clima de violência generalizada contra os mais fracos.
Daí que as próximas semanas tendem a ser dramáticas no campo paraense, que felizmente ainda possui movimentos que não trocaram suas rubras bandeiras por reluzentes chapas brancas da cooptação. São essas forças vivas da luta do povo que saberão dar a resposta correta aos seus inimigos de classe e a todos os que, direta ou indiretamente, assumem o triste papel de vassalos de uma ordem iníqua e imoral.
Dialética do batismo de fogo
(...)
Se não o fizerdes (converterem-se à fé católica), ou nisto puserdes maliciosamente dilação, certifico-vos que com a ajuda de Deus eu entrarei poderosamente contra vós e vos farei guerra por todas as partes e maneira que puder, e vos sujeitarei ao jugo e obediência da Igreja e de Sua Majestade e tomarei vossas mulheres e filhos e vos farei escravos, e como tais vos venderei, e disporei de vós como Sua Majestade mandar, e tomarei vossos bens e vos farei todos os males e danos que puder...".
Segundo Eduardo Galeano, citando Daniel Vidart (Ideología y realidad de América, Montividéu, 1968), era mais ou menos nestes termos a proclama que os capitães da conquista, lá pelos idos de 1492, deveriam ler para os índios antes de se assenhorar, em nome da cruz e da espada, das magníficas riquezas naturais e humanas do novo mundo que estava nascendo. O anúncio solene era feito, com toda a pompa e circunstância, mas sem intérprete, para nações que jamais tinham ouvido qualquer palavra em espanhol.
Esta preciosa e sempre atual passagem foi incluída na parte 1 (A pobreza do homem como resultado da riqueza da terra) do indispensável best-seller de Galeano, As veias abertas da América Latina, cuja primeira edição data de 1976.
Páginas ácidas e radicais, como a própria vida em tempos cinzentos, podem agora repousar à cabeceira de Barack Obama, após o singelo regalo que recebeu de Hugo Chávez na recente Cúpula das Américas. Chávez, aliás, que afirma ter sido cortés com o colega norte-americano, sem contudo cultivar qualquer tipo de ilusão. Afinal, quem hoje desempenha o papel de senhor do mundo que no passado coube a Fernando de Aragão e Isabel de Castela, não deve possuir nem a mais pálida capacidade de conversão.
sexta-feira, 24 de abril de 2009
A marcha da insensatez
A nova estrada, concebida como corredor de exportação para a soja do Centro-Oeste, servirá de alavanca de uma devastação socioambiental sem precedentes. Alguém ainda duvida?
Difíceis, sujos, perigosos e...descartáveis
Agora, com a violenta recessão que atinge a economia japonesa, o governo resolveu colocar em ação um plano anti-imigração de claro conteúdo xenófobo. Ao trabalhador e seus familiares são oferecidas vantagens (passagem aérea e US$ 2 mil por cada dependente) para que retornem ao seu país de origem (Brasil e Peru, fundamentalmente), desde que aceitem jamais retornar ao Japão. É uma espécie de degredo perpétuo, extensivo aos descendentes, inclusive.
Já está tardando em demasia uma resposta da chancelaria brasileira, com a altivez e firmeza que o caso requer, para protestar contra essas normas que são uma afronta às normas internacionais de proteção ao trabalho e, de forma flagrante, arrebentam com o princípio do tratamento isonômico que deve prevalecer entre os nacionais de ambos os países.
Causa e efeito
A cobiça do agronegócio e das mineradoras pelas terras reivindicadas por essas comunidades - pobres entre os mais pobres - está na raiz desse recuo.
quinta-feira, 23 de abril de 2009
Cavando bem fundo
A mãe de todas as batalhas
Essa dívida não é neutra. Se o país perde, só de juros mais de R$ 10 bi no mês passado, alguém embolsou essa fortuna. E não se espere que esses felizes rentistas e especuladores venham espontaneamente mostrar a face. Estão muito bem, obrigado, assistindo o país pegar fogo, enquanto fecham as malas para uma rápida esticada a Nova York. É que a temporada de shows da Brodway está mesmo imperdível.
Com todas as letras
Afinal, ele se tornou, por iniciativa própria e em estreita articulação com a oposição demo-tucana, em uma espécie de porta-voz oficioso do que há de mais retrógrado na sociedade brasileira. Já era tempo de receber uma descompostura por um de seus pares. Ao vivo e em cores, para todo mundo ver.
Café pequeno
O esquema criminoso adulterava a planta de valores do IPTU, na Secretaria Municipal de Finanças (Sefin), sangrando os cofres municipais em mais de R$ 2,3 milhões.
Em todo caso, sempre é um começo. Um bom começo que pode abrir a temporada de caça a outras quadrilhas, muito mais especializadas e incrivelmente mais ambiciosas.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
Sujeira à flor da pele
Apesar disso, os executivos do grileiro posam de gente de bem, enquanto continuam a espalhar o terror através de sua malta de pistoleiros fantasiados de segurança privada.
Bucaneiros high tech
São estes também que, neste momento, buscam refúgio na caderneta de poupança, de olho na isenção fiscal, mas criando uma bela dor de cabeça para o governo. Afinal, é de triste memória o último governo que resolveu tungar os rendimentos desta verdadeira instituição nacional e seus milhões de pequenos poupadores.
Verdades incômodas
É por isso que a verborragia do presidente do Irã, Mahmud Ahmadinejad, é um gigantesco tiro no pé. Relativizar o holocausto - ou colocar sua existência em dúvida - apenas revive velhos e surrados preconceitos contra os árabes, como se eles em carne e osso estivessem de alguma forma vinculados às atrocidades de Birkenau e Auschwitz. Não, os horrores inomináveis dos lager na Polônia ocupada foram obra dos europeus e dos dirigentes alemãs em particular, justamente aqueles que julgavam ter alcançado o padrão mais elevado de civilização. Naquele momento, os árabes estavam sob ocupação colonial e assistiam sua luta de libertação ser afogada em sangue por tropas britânicas e francesas, e, sem dúvida, já sofriam na própria pele o terror disseminado pelos grupos armados sionistas do Irgun e do Stern na Palestina histórica.
Não custa, portanto, repetir que o sionismo, apresentado como a ideologia que justifica o massacre da nacionalidade palestina é efetivamente uma forma de racismo e de discriminação racial. E isso já foi afirmado pela ONU desde 1975 (depois, em 1991. revogada já no contexto do mundo unipolar).
Ao mesmo tempo, reverenciar as milhões de vítimas do holocausto (em especial judeus de todas as posições políticas e extrações sociais) é uma obrigação ética e histórica para que não se abra o espaço para a repetição, em pleno século XXI, de tragédias em tudo semelhantes àquelas perpetradas por Hitler e seus carrascos da SS.
terça-feira, 21 de abril de 2009
Com o rabo preso
As mãos invisíveis que manobram os cordéis
Uma análise de conjuntura, ácida e sem floreiros, está no comentário do economista e pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Guilherme Delgado.
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Acredite se quiser
O argumento que a poderosa Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) fez chegar aos ministros do STF é risível, mas revela a mega-operação deflagrada, em todos os níveis e em todos os poderes, para livrar a banca da obrigação de ressarcir milhões de titulares de cadernetas de poupança e de contas de FGTS.
O difícil vai ser encontrar alguém - que não seja dono de banco - que acredite que as instituições financeiras não lucraram nada com os planos econômicos dos anos 80 e 90.
Faça o que eu não faço
Em paz, só nos cemitérios
A alienação, pura e simples, não costuma ser boa companheira. Serve, quando muito, de matéria-prima para o bombardeio do marketing, mas não consegue ocultar o som, dramático e sangrento, dos disparos com munição real.
domingo, 19 de abril de 2009
Fora daqui (de dentro) com o FMI
Recordar para lutar
Mais que isso: um dia para renovar, no fundo peito, a permanência, nos dias cinzentos que correm, da disposição de continuar caminhando em busca de uma terra sem males, que se desenha, como utopia, na dobra do firmamento.
Quais os principais dilemas da luta indígena hoje no Brasil? Como os povos originários tomam para si a tarefa organizar a resistência?
Crise e oportunidade
Na justificativa do atraso a mineradora joga a culpa no suposto atraso na liberação do licenciamento ambiental, esquecendo de ressaltar que o desaquecimento da demanda mundial pelo produto é, sem dúvida, a principal pedra no caminho do projeto.
Minas no Canadá, localizadas em Ontário, também estão paralisadas.
Quem sabe se este tempo não pode servir para que o governo brasileiro intervenha no enclave da Vale e, finalmente, apure a ocorrência das diversas denúncias de grilagem da empresa sobre terras de pequenos agricultores.
sábado, 18 de abril de 2009
Dialética da entranhada violência na Terra Brasilis
A Santa Inquisição tem um agente neste lugar que com a assistência do bispo e dos monges beneditinos agarra todos os suspeitos de judaísmo e hereges, formam seus processos e mandam seus corpos a Lisboa para serem queimados, suas almas para o Demônio e suas propriedades para a abençoada irmandade. Sorte que a maior parte desses criminosos são do tipo próspero.
Neste momento, mas de setenta pessoas de ambos os sexos e de todas as idades estão prontas para serem remetidas."
Joseph Collet, súdito do Império Britânico, em carta à East India Co., relatando sua estadia no Rio de Janeiro, em meados de 1711.
Citado por Alberto Dines. Vínculos do Fogo (Antônio José da Silva, o Judeu, e outras histórias da Inquisição em Portugal e no Brasil), p. 671.
sexta-feira, 17 de abril de 2009
Sinais trocados
As afirmações que abrem este texto podem ser deduzidas da cobertura da grande imprensa paraense de hoje, marcada por um tipo de preconceito ideológico rasteiro e indecoroso.
Ao repercutir o factóide criado por uma comissão da Câmara de Deputados, controlada por um setor hardcore da bancada ruralista, erra de forma flagrante ao atribuir equilíbrio de forças entre as "partes" que se digladiam. Existe um único exército bem armado e este está a soldo dos fazendeiros, que ainda contam, quando se torna indispensável, com o apoio do aparato estatal para proteger seu sacrossanto direito a uma propriedade antagônica a qualquer função social.
Num 17 de abril, 13 anos após o massacre impune de Eldorado dos Carajás, serve para ninguém esquecer que as raízes mais profundas daquela tragédia permanecem mais vivas, atuantes e agressivas do que nunca.
Tambores de guerra
Só que a construção da polêmica usina não depende apenas da vontade dos governantes e da avidez das empreiteiras, tendo à frente uma dupla do barulho, Carmargo Corrêa e Andrade Gutierrez; depende, também, da consulta às comunidades que serão atingidas pelos enormes impactos socioambientais, especialmente indígenas e ribeirinhos. Sem esquecer que o Ministério Público Federal e o Tribunal de Contas da União estão de olho aberto para as transações suspeitas que envolvem essa obra bilionária.
E é aí que o plano dos barrageiros pode fazer água, literalmente.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
Desprestígio federal
Eles sabem o que fazem
A reação do Greenpeace alveja a mãe do PAC, relacionando a medida com a pavimentação da estrada que pretende levar Dilma Rousseff ao Planalto no próximo ano. E uma frente de entidades verdes registra que, se confirmado pelo Senado, o rito sumário na aprovação ambiental de obras de pavimentação e duplicação de rodovias - 40% das 140 previstas pelo PAC - , como no caso da polêmica BR- 319 (Manaus-Porto Velho), será uma tragédia de enormes proporções.
Alta rotatividade
Agente 86
Em cada acampamento do MST, em cada fazenda ocupada nas intangíveis lonjuras do império de Daniel Dantas, já é fácil notar a indefectível presença de agentes policiais infiltrados. São policiais da P2, agentes da PF, espiões lotados na ABIN e, quem sabe, outros terceirizados, com a tarefa comum de bisbilhotar os rumos dos movimentos sociais. Tentam, em vão, é verdade, passar despercebidos, fantasiados de sem terra, maltrapilhos e com olhar desnutrido. Sem dúvida não são mestres em disfarce.
A emergência na calamidade
O fato é que a demora no atendimento às vítimas foi excessiva, escandalosa.
Esse é o ponto fundamental, muito embora, nas sombras, movimentem-se os interesses de sempre, ávidos pelo lucro fácil - político, financeiro, eleitoral, pouco importa - em meio à tragédia que se abateu sobre tantas famílias.
quarta-feira, 15 de abril de 2009
Golpe de Mestre
Os tais estudos, esclarece o ofício assinado pelo próprio prefeito, não custará nada para o município, mas "terão seus custos reembolsados pelo licitante vencedor". Bingo! As peças se encaixam para revelar mais uma daquelas operações onde mãos invisíveis atuam para favorecer uma meia dúzia de espertos.Trocando em miúdos: orquestra-se, à vista de todos, a privatização de um dos serviços públicos mais essenciais à vida e à saúde da população.
Como se estivessem certos da impunidade, não se importam em deixar pelo caminho uma fornida coleção de indícios de que nessa jogada tudo já nasce viciado.
Resta saber se haverá alguém - com poder e prerrogativa legal - disposto a enfiar a mão nesta cumbuca.
Contrabando devastador
terça-feira, 14 de abril de 2009
Rompendo trevas
As críticas, portanto, que este plano recebe à esquerda, são igualmente claras. Elas guardam coerência com a busca de um modelo alternativo capaz de romper com as amarras desse sistema onde potificam os interesses das grandes corporações e seu alegre mundo de mega-empreiteiras e insaciáveis oligopólios da indústria eletrointensiva.
Mas as armas do conhecimento e da crítica podem ser tornar um perigo quando sejam apropriadas pelas multidões que pagam, em última instância, o terrível preço pelas escolhas dos que manejam os cordões, do alto e, na maior parte das vezes, de fora.
Contracorrente
A grande mídia alinhada aos interesses estadunidenses dissemina seu lixo tóxico por todos os cantos do mundo ao anunciar uma suposta boa nova: Barack Obama, em um gesto majestático, estaria estendendo a mão ao povo cubano. Sua intenção, sem data para ser concretizada, de levantar de forma unilateral várias das medidas que compõe o odioso bloqueio àquela pequena nação caribenha há quase 50 anos, é saudada como a demonstração da vitalidade da democracia dos monopólios.
Jogada de marketing às vésperas da Cúpula das Américas, esconde muito mais do que revela acerca das verdadeiras intenções do império, servindo de plataforma para mais uma onda de ataques ao povo cubano. Felizmente, remando contra a maré do senso comum, ergue-se uma voz com autoridade para produzir uma resposta à altura e colocar os pingos nos is.
A lógica da máfia
A imposição do silêncio não se resume a uma simples estratégia de intimidação. Vai além e mais profundo. Trata de sinalizar para o que pode ainda vir - e virá, cedo ou tarde - na forma de outras violências, abertas ou dissimuladas.
Reagir a este ataque à liberdade de expressão é um ato de resistência tão vital como aquele que impulsiona o ser humano a continuar respirando e pensando, sem se deixar brutalizar por esta profusão de sicários cujas mãos são tão sujas quanto o dinheiro que as sustentam.
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Dessa vez, não
Temeroso de que a operação - atípica para dizer o mínimo - pudesse ser descoberta, o até então prestimoso gerente não teve como tirar seu amigo do aperto.
As fontes do blog ainda não descobriram se a dinheirama migrou para outro banco ou se forrou, durante todo um final de semana, o colchão do tal político multimilionário.
Via Dolorosa
Pouco a pouco, como um câncer, vai avançando a destruição que não se detém por nada. Culpar o clima, com as fortes chuvas dos últimos meses, ou a incúria dos moradores, aliás uma família de 30 integrantes, de baixíssimos recursos, é malhar em ferro frio. O descaso oficial e o estato catatônico em que a sociedade está submetida são explicações bem mais plausíveis, porém que estão longe de atenuar a dor de quem vê, manietado, a feroz degradação que transforma em pó o que simplesmente não tem preço.
Desigual e combinado
sexta-feira, 10 de abril de 2009
Em boa companhia
Nesses dias de feriado de Páscoa, façamos como José Saramago, um eterno navegante pelas muitas vezes turbulentas águas do grande rio da língua portuguesa.
Este espaço, pois, entra em recesso até a próxima segunda-feira, 13. Que as águas de "uma língua cheia de sabor e de ritmo" sirvam de alimento e de bálsamo para o corpo e para a alma de todos que aceitem o risco desse salto no imponderável.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Balão furado
Diante da grita geral, Lula mandou arquivar a ideia, determinando ao ministro Guido Mantega (Fazenda) que busque outras alternativas. O que se espera é que as novas sugestões não venham maculadas pelo pecado original de sempre: transferir o maior ônus da crise para os trabalhadores, que jamais são lembrados nos banquetes dos tempos de bonança, mas não escapam na hora de pagar a conta.
Araguaia, Araguaia: quem chora por ti?
A decisão história da Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH), órgão ligado à OEA (Organização dos Estados Americanos), de abrir processo contra o Brasil pelos crimes de detenção arbitrária, tortura e desaparecimento forçado cometidos pelos militares no início da década de 70 contra dezenas de militantes do PCdoB e camponeses durante a feroz repressão à Guerrilha do Araguaia, deve ser encarada como uma oportunidade que não deve ser desperdiçada.
Mas, diante do histórico de pusilanimidade do governo Lula, poucos ainda devem crer em uma mudança de rumos. Para estar à altura desse desafio é preciso coragem e altivez, artigos que parecem estar em falta no Palácio do Planalto.
quarta-feira, 8 de abril de 2009
A arte de furtar
Bancos estrangeiros praticam no Brasil taxas inacreditavelmente maiores do que aquelas de seus países-sedes, beneficiando-se das condições de lucratividade máxima que lhes são asseguradas pelo Banco Central sob as bênçãos do governo Lula. O levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) traz os números do escândalo.
Reductio ad absurdum
Ora, nunca na história deste país chegado a absurdos se ouviu falar numa bobagem desse quilate. O fato da existência da operação de crédito com o BID - premissa verdadeira - não obriga o mandatário municipal gastar uma pequena fortuna apenas para assinar um suposto cartão de autógrafo em território estrangeiro - conclusão despropositada.
Mais ainda: é uma agressão à lógica e uma cusparada sobre a face de uma cidadania reduzida à condição de indigência político-eleitoral.
O mundo de ponta cabeça
terça-feira, 7 de abril de 2009
O costume que entorta a boca
Não demora muito para que sapatos voadores comecem a mirar seu rosto de bom rapaz. Quem viver, verá.
Aposta muita arriscada
Ao renunciar, Sefer sabe que está assinando uma confissão de culpa, mas aposta numa dupla possibilidade de se safar. Primeiro, que a Justiça pode ser tanto mais lenta quanto mais eficiente seu batalhão de criminalistas mobilizados a peso de ouro para lançar mão de todos os recursos postergatórios que a legislação faculte. E, segundo, que no próximo ano uma parcela do eleitorado, mais afeita aos impactos do clientelismo e da manipulação eleitoral no sentido estrito, vá reconduzi-lo a uma cadeira na Assembleia Legislativa.
Um aposta muito arriscada, arriscadíssima.
segunda-feira, 6 de abril de 2009
Aprendiz de feiticeiro
E o prefeito Duciomar saiu novamente de cena. Ocupou o centro do palco, nos últimos dias, o novo secretário municipal de saúde, o médico e vereador Antônio Vinagre, cujas entrevistas tem sido um primor de generalidades e de promessas que não se sustentam de pé. Falta-lhe o atributo básico para a missão: legitimidade. Ora, o secretário é do mesmo partido do prefeito e integra sua base de apoio na Câmara. Nesta condição, foi um dos coveiros da CPI da Saúde, em um dos mais lamentáveis episódios de sabujice política de que se têm notícias nos últimos tempos na capital.
Mas, sempre haverá algum repórter para brindá-lo com uma lista de perguntas que de tão ingênuas soam ridículas, como aquelas que embalaram a matéria "Novo secretário vai buscar parcerias", publicada na edição de ontem, 5, em O Liberal.
Suprema humildade
O voto histórico que ele proferiu na condição de relator do processo de demarcação em terras contínuas da Reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima, foi um divisor de águas em meio à aguda polarização social que essa questão tem provocado no país. E é com o coração aberto e despido de quaisquer preconceitos que sergipano revela ao Correio Braziliense o muito que pode aprender em meio a essa batalha pelos direitos indígenas que ainda está bem longe do fim.
Guilhotina afiada
sábado, 4 de abril de 2009
Dialética dos que acreditam no porvir
Do medo criou-se o trágico
No rosto pintou-se o pálido
E não rolou uma lágrima
Nem uma lástima para socorrer
E na gente deu o hábito
De caminhar entre as trevas
De murmurar entre as pregas
De tirar leite das pedras
De ver o tempo correr
Mas sob o sono dos séculos
Amanheceu o espetáculo
Como uma chuva de pétalas
Como se o céu vendo as penas
Morresse de pena
E chovesse o perdão
E a prudência dos sábios
Nem ousou conter nos lábios
O sorriso e a paixão
Pois transbordando de flores
A calma dos lagos zangou-se
A rosa-dos-ventos danou-se
O leito do rio fartou-se
E inundou de água doce
A amargura do mar
Numa enchente amazônica
Numa explosão atlântica
A multidão vendo em pânico
A multidão vendo atônita
Ainda que tarde o seu despertar
Chico Buarque. "Rosa-dos-Ventos" (imortalizada na voz de Maria Bethânia).
Caçadores de índios
Quase ao mesmo tempo em que o ex-presidente da Câmara, deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) joga a história de seu partido no lixo ao patrocinar um projeto claramente inconstitucional e abertamente contrário aos direitos indígenas, no Senado são retomadas as manobras lideradas pelo capitão do mato Mozarildo Cavalcanti (PTB-RR), um dos mais raivosos inimigos da integridade da Reserva Raposa Serra do Sol, que lança mão de sua antiga proposta - a PEC 38/99 -, contando com um parecer favorável do senador Valter Pereira (PMDB-MS), ativo integrante da sempre belicosa bancada ruralista.
Diante do risco iminente de que a proposta seja votada já na próxima semana diversas organizações ambientalistas e de defesa da causa indígena iniciaram uma mobilização nacional. Veja mais detalhes no site do Instituto Socioambiental.
sexta-feira, 3 de abril de 2009
Sem plumas nem paetês
É só o começo
Mais importante que a histórica sentença do juiz Antônio Campelo, titular da 5a Vara da Justiça Federal no Pará, serão seus desdobramentos práticos e sua capacidade de impor um novo padrão de enfrentamento daqueles que insistem em fazer da transgressão, da burla desavergonhada e da malandragem oficial suas marcas distintivas.
Piada sem graça
Não, presidente, soberania é outra coisa muito diferente. Se ocorrer, porque ainda não possui sequer a definição técnica de como esse aporte poderia ser feito, a transferência de recursos para o FMI será mais uma jogada de marketing, um truque que simula tirar coelhos de uma cartola furada.
Afinal, o Brasil continua mais endividado e dependente do que nunca. Mas sempre há incautos para cair nesse tipo de manipulação grosseira, enquanto o povo a tudo assiste como num transe hipnótico.
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Todo pecado será castigado?
A pontinha do iceberg aqui e aqui.
Conexão Internacional
A PF, especialista na investigação do crime de tráfico de seres humanos, já está no caso.
Por trás da queda
A cabeça da ex-secretária teria sido pedida como pré-condição para que Duciomar pudesse receber uma mãozinha providencial do o governo do Estado em meio ao caos da saúde.
Subjacente ao toma lá, dá cá as sempre renovadas esperanças de um acerto eleitoral em 2010, muito embora esteja próximo de zero o índice de credibilidade dos interlocutores envolvidos na costura desse esquisito e heterogêneo palanque.
quarta-feira, 1 de abril de 2009
Baile da Saudade
A presença do general da ativa é um ato simbólico. Confere um ar de sedição e de conspirata à cerimônia que, em tese, poderia até ser vista como um deleite, perverso e indigno é verdade, mas ainda assim uma espécie de tertúlia animada por um grupo de saudosos tiranetes aposentados. A maioria deles enverga lustrosos pijamas e, quando muito, impõem seu rigor militar às enfadonhas assembléias de condôminos de Copacabana.
Mas que ninguém se iluda: carregam sim, sem disfarces, o germe do fascismo e chocam, à vista de todos, o medonho ovo de serpente que tantas vezes já deixou sua marca cruel nas lanhadas costas do povo brasileiro.