sexta-feira, 31 de julho de 2009

Barbas de molho

Bases militares dos Estados Unidos na Colômbia, plataforma neocolonial com vocação agressiva já por tantas vezes demonstrada, deveria causar muito mais que diplomáticas notas de preocupação. O tempo conspira contra, assim como de nada deve servir a pulsilanimidade de uns e outros.

Só a rima é pobre

Privatização rima com corrupção. E daquelas graúdas, que vão irrigar dutos secretos que conduzem a paraísos fiscais e a negócios tão escusos quanto escancaradamente suspeitos.
Por essas e outras que não deve passar incólume a tal "concorrência internacional" que o prefeito Duciomar inventou para leiloar, sob cartas marcadíssimas, o filão dos serviços de abastecimento de água da capital.
Cresce, em vários e diversos setores, a disposição de resistir a este embuste. Com todas as armas que estiverem ao alcance.

Canil do terror

José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo, reapareceu para recuperar sua identidade. Há mais de 40 anos vive clandestinamente, sob nome falso, após retornar ao Brasil e protagonizar um dos mais terríveis casos de traição de toda a história recente da resistência armada ao regime militar. Cooptado pelos órgãos de repressão, ele colaborou para a queda - e execução sumária - de diversos militantes, inclusive de sua companheira à época, que foi assassinada grávida de poucos meses.
Ele cobra reparação e se diz perseguido pela "esquerda". De fato, com tantos e hediondos crimes nas costas deve ser muito difícil encontrar a paz.

Riqueza, sim. Para poucos.

Quem disse que a expansão da cultura da soja seria a redenção não estava mentindo. Faltou explicar, entretanto, que o "progresso" e a "riqueza" chegariam com destino certo: os privilegiados de sempre (e, se depender deles próprios, para sempre).
Uma ampla reportagem investigativa do site Repórter Brasil revela a face cruel do agronegócio da soja no vizinho Tocantins. Vale a pena ler e refletir para o futuro que querem impor a vastas regiões paroaras.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Fogaréu

Parecia mesmo bom demais para ser verdade. A cartilha "O Olho do Consumidor" publicada pelo Ministério da Agricultura para promover a produção e consumo de alitos orgânicos teve sua circulação censurada por decisão liminar da Justiça. Quem pediu o bloqueio foi a multinacional Monsanto, interessada em impor, a ferro e fogo, a atual livre circulação de organismos geneticamente modificados, fonte de lucros bilionários no mundo inteiro.
Dentro do próprio ministério a cartilha, aliás ilustrada por Ziraldo, já havia causado forte desconforto. Quando chegou a ordem judicial para cessar a distribuição dos 620 mil exemplares, deve ter sido um alívio nos altos escalões, totalmente alinhados com os interesses das gigantes do setor - Bayer, Syngenta e Monsanto, que agem sob total cobertura da CNTBio e do Palácio do Planalto.
Para baixar a cartilha proibida, basta clicar aqui.

Passou raspando

Ainda não foi dessa vez que a Justiça Federal acertou o prefeito Duciomar Costa (PTB) na parte mais sensível de seu corpo: o bolso, é claro. Apesar de ter recebido a ação de improbidade administrativa proposta pelo Ministério Púbico Federal (MPF) - mais uma -, o juiz federal substituto Arthur Pinheiro Chaves, da 5a Vara, não acatou duas outras iniciativas em caráter liminar propostas pelos procuradores federais: a indisponibilidade dos bens do prefeito de Belém, até o valor de R$ 2 milhões, e a quebra de sigilo fiscal e bancário.
Desta feita, o MPF requer a punição de Duciomar pelo descumprimento de ordem judicial, emitida há quase um ano, obrigando o município a concluir os 10% que faltam da obra de restauração do Palacete Pinho, no bairro da Cidade Velha.

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Mãos ao alto

Nos últimos nove anos, portando alcançando o finalzinho do reinado de FHC e todo o período de Lula, o governo federal garfou a saúde em, pelo menos, R$ 5,4 bilhões. A conta é do Ministério Público Federal de Brasília, que aponta a realização de maquiagem nas contas para burlar a emenda constitucional 29. Entre as artimanhas, por exemplo, está a contabilização de gastos do Bolsa Família como se fossem da área de saúde.

Bandoleiros

Que a chapa de José Sarney está pégando fogo ninguém duvida. O recesso teve o efeito inverso ao desejado e o presidente do Senado está por um fio. Será? Tudo dependerá da capacidade de reação - com maior ou menor poder letal - que a tropa de Renan Calheiros promete executar nos próximos dias. Um festival de representações ao Conselho de Ética contra os principais desafetos de Sarney está no forno, para embarahar o jogo e ganhar o tempo necessário para que se encontre uma saída. Pela porta da frente ou dos fundos, pouco importa.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Dialética dos povos que escolhem o seu caminho

"... a verdadeira pátria não é aquela que é conhecida ou provada. A terra que surge como que de uma equação química ou de um instituto teórico não é uma pátria. Sua necessidade insistente de demonstrar a história das pedras e sua habilidade de inventar provas não lhe dão uma relação prévia com aquele que sabe quando vai chover a partir do cheiro das pedras. Essa pedra, para você, é um esforço intelectual. Para seu dono, ela é o telhado e as paredes."

Mahmud Darwich (1941-2008), poeta palestino. "Crônicas da tristeza ordinária", citado por Paulo Daniel Farah na apresentação de "Apologia dos bárbaros", de Mike Davis (Boitempo, 2008).

sexta-feira, 24 de julho de 2009

O Sol por testemunha

De hoje até segunda, 27, o Página Crítica entra em recesso. Bom descanso a todos.

Cães de Aluguel

Nada mais impróprio que denominar de "justiceiro" aquele que executa a sangue frio, dando cabo à sentença emanada das turbas que espancam, torturam e mutilam nas vielas das inseguras periferias de Belém. Na verdade, esses pistoleiros são a antítese da Justiça. Estão do lado do crime e da barbárie, exatamente como criminosos são muitas vezes suas vítimas, o que não autoriza, de forma alguma, que sejam exterminados sem piedade.
Essa última chacina, que vitimou dois adolescentes no Conjunto Satélite, deve ter o mesmo destino de tantas outras: a mais escandalosa impunidade.
A polícia não se esforça por desvendar esses crimes, dando a cobertura oficial à matança. Até que as milícias, formandas não raro por policiais, alcancem o grau de autonomia e organização para serem, elas mesmas, fonte do terror contra os cidadãos de bem. E tudo isso sob o olhar bovino das autoridades que juraram defender o Estado de Direito.

quinta-feira, 23 de julho de 2009

Porteiras abertas

O Brasil é o 4º melhor país para o capital multinacional, atrás somente da China, Estados Unidos e Índia. Entre os fatores que pesam na avaliação das grandes corporações globalizadas chama a atenção o "acesso a mão-de-obra barata e aos recursos naturais". São, portanto, as fragilidades de um país com tão baixo índice de soberania que alavanca a posição brasileira e faz a festa para os especuladores e neocolonialistas de plantão.

Pesadelo real

Há mais de três décadas prometeram o paraíso terrestre com a chegada dos grandes projetos na região de Carajás. Marabá, cidade-polo de uma das mais importantes províncias minerais do planeta, seria finalmente transformada em terra das oportunidades. Este sonho dourado se desfez na mesma medida em que a riqueza - extraída das entranhas da terra ou multiplicada através da predação indiscriminada dos recursos socioambientais - foi se concentrando nas mãos e nos bolsos das velhas e das novas oligarquias. Para o povo pobre e para a juventude sem futuro restou a morte em vida severina. Ou a morte mesmo, cruel e certeira, muito antes dos 30.
Não é por outro motivo, então, que Marabá ostenta o vergonhoso título de cidade com o pior Índice de Homícidios na Adolescência (IHA) de todo Norte, com 5,2 jovens entre 12 e 19 anos assassinados para cada grupo de mil. Esse número escandaloso corresponde ao 18º lugar no ranking nacional, mais que duas vezes e meia a média nacional (2,03).
Não haverá, porém, quem aceite vestir a carapuça da responsabilidade institucional por essa barbárie. A Vale e os agronegocistas, por exemplo, guardarão silêncio obsequioso, como se isso não lhes dissesse respeito. Mas diz sim e muito. E não haverá nada que se aproxime de uma mudança verdadeira sem que se identifique, com todas as letras, os que lucram com a perpetuação desse nefasto destino há tantos séculos imposto aos povos da Amazônia.

Uma tragédia passo a passo

Ferida aberta em plena selva, a construção das mega-usinas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia, segue sob o empuxo do investimento de bilhões de reais.
Rompendo o cerco midiático, uma equipe de jornalistas do Brasil de Fato passou 11 dias na região e trouxe um relato a um só tempo assustador e revoltante. Velhas práticas de violência institucional estão criando as condições para a repetição de uma tragédia mais que anunciada.

quarta-feira, 22 de julho de 2009

A vaca está indo para o brejo

De uma só penada, a Justiça Federal de São Paulo tornou indisponíveis 25 fazendas e cerca de 450 mil cabeças de gado da Agropecuária Santa Bárbara Xinguara, do banqueiro Daniel Dantas, do Opportunity. Foi um golpe profundo nos negócios deste grupo que há algum tempo saiu das páginas sociais e de economia diretamente para rechear o noticiário de crimes de colarinho branco.
Só mesmo no Pará, onde as possessões de Dantas envolveriam algo como 43 fazendas e 800 mil hectares - a grande maioria fruto da mais descarada grilagem de terras públicas -, um cidadão com esta folha corrida ainda é tratado como um vice-rei, recebendo salamaleques e rapapés por parte de uma elite que não consegue esconder sua natureza de total subserviência diante do que vem do alto e de fora, não necessariamente nesta ordem.

A Era do Gelo

Imagine acordar e descobrir que o famoso sigilo bancário suíço foi para o beleléu. Provavelmente isso não faria qualquer diferença para 99,99% dos terráqueos. Mas, para um punhadinho de super-milionários - nos Estados Unidos, por exemplo, são cerca de 52 mil ricaços - seria o anteato do inferno, literalmente. É o que pode acontecer em poucas semanas se continuar avançando uma perlenga judicial que corre na Justiça de Miami e que está provocando a insônia em muita gente, inclusive neste lado de cá do Atlântico.

Que tal cantar em outra freguesia?

Quando estiver hoje com o presidente Lula em Brasília, Avigdor Liebeman, nascido na ex-república soviética da Moldava, atual ministro israelense das Relações Exteriores, terá uma boa oportunidade para vomitar suas teorias racistas e anti-palestinas. Ultraconservador e com evidentes pendores fascistas, Lieberman lidera um pequeno e xenófobo partido Yisrael Beitenu (Israel é nossa casa), com 15 cadeiras no parlamento de Israel.
Defensor do massacre indiscrimando de crianças palestinas em Gaza e da ampliação da colonização ilegal na Cisjordânia, ele é a mais importante autoridade que visita o Brasil desde 1987. Chegará ao país em meio a protestos. E é muito bom que sinta, se acaso ainda preservou essa faculdade, que não estará pisando num território afeito às barbáries neocoloniais que tanto defende.

terça-feira, 21 de julho de 2009

Só dá ela

Há algum tempo já vem despertando vivo interesse a enorme desenvoltura da absolutamente desconhecida por essas plagas, Varanda Sistema de Habitação Ltda, nos intrincados caminhos que levam ao cofre da Prefeitura de Belém. Devagar, como quem não quer nada, a nova queridinha da turma do prefeito Duciomar foi abocanhando uma tomada de preços aqui, uma concorrência acolá, pavimentando o caminho para voos cada vez mais altos.
Agora surgiu outra bolada: mais de R$ 17 milhões (em valores iniciais, sem os inevitáveis e sempre suspeitos aditivos) para a execução de serviços de urbanização e infraestrutura com construção de de unidades habitacionais da Estrada Nova, 1a e 2a etapa. O resultado da Concorrência Pública Nº 008/2009, realizada pela Secretaria Municipal de Habitação (Sehab) mereceu uma discreta divulgação, através dos quase ilegíveis editais publicados na imprensa da terra, no último dia 8 de julho.

Não chore por mim, Argentina

Os argentinos vivem uma espécie de inferno astral. A gripe suína e os efeitos da crise atormentam a vida da grande maioria das famílias. Não de todas, porque o casal Kirchner vai muito bem, obrigado.

segunda-feira, 20 de julho de 2009

Infâmia insepulta

Ex-mateiros das forças repressivas no Araguaia refazem, mais de 35 anos depois, os passos que os levaram à Clareira do Cabo Rosa, provável local de execução de 41 combatentes do PCdoB, assassinados depois de presos e barbaramente torturados em cárceres secretos em plena selva. A terceira campanha do Exército, entre 1973 e 1974, foi realizada sob o lema de não fazer prisioneiros e de destruir quaisquer vestígios que levassem à verdadeira história de sangue e ignomínia protagonizada pelas tropas deslocadas à região dos combates.

A esfinge que nos devora

O Brasil, sob o império da dupla Lula e Henrique Meireles, vale dizer, debaixo das ordens do capital financeiro e dos grandes oligopólios nacionais e estrangeiros, é mesmo invulnerável à crise que corrói as entranhas do capitalismo mundial?
Resposta complexa, mas que necessita ser resolvida por quem não admite permanecer refém do senso comum e dos embustes cotidianos do chamado jornalismo econômico, sempre a soldo das grandes corporações.
Na edição atual do Correio da Cidadania, quem oferece boas pistas para desvendar esse enigma é Guilherme Delgado, doutor em economia pela Unicamp e consultor da Comissão Brasileira de Justiça e Paz.

O filho pródigo

Quando pisar em solo brasileiro amanhã, 21, ele estará fechando um doloroso ciclo da história recente brasileira. Seu nome: Antônio Geraldo da Costa, 76 anos, ex-marinheiro, o último dos exilados a retornar à Pátria.
Sua saga aqui dentro e por terras estrangeiras é um emblema de dignidade e de compromisso com a luta por um mundo de Justiça. Enfrentou a tortura em 64 e submergiu na luta clandestina, tecendo os laços de confiança e lealdade com seus companheiras de armas e de sonhos. Soube honrar a todos eles, inclusive os que acabaram martirizados nos cárceres da ditadura.
Que Brasil vai recebê-lo? Que decepções e esperanças - estas, sempre renovadas - estarão aguardando este velho lutador do povo?

domingo, 19 de julho de 2009

Três décadas em três tempos

Tempo 1: 19 de julho, 1979, centro de Belém. Um dia qualquer, um final de tarde como de costume, mas com uma diferença: havia, entre pequenos círculos, uma alegria incontida, um brinde ao fim do tirano. "Somoza se foi. Viva a Nicarágua livre", como um quase-grito, um sussurro entre dentes, que o tempo não era de expor o peito ao aço da ditadura verde e amarela.

Tempo 2: Algum dia, entre janeiro e março de 1987, fazenda La Pintada, departamento de Matagalpa, Norte da Nicarágua sandinista, 8º ano da revolução. Era madrugada e o silêncio escondia a tensão reinante no acampamento internacionalista. De repente, o sinal de alerta. Todos a seus postos, o ataque dos contras era iminente. O coração disparado, acordar todos e distribuir as tarefas conforme o treinamento prévio. O alarme foi falso, mas a guerra - sangrenta, estúpida, genocida - era muito real. Gota a gota, a agressão financiada pelos dólares da Casa Branca iria corroer os pilares do novo poder que não teve tempo para germinar.

Tempo 3: Algum dia do cinzento 1990. Era melhor não acreditar. Não podia ser verdade, mas era. E o golpe se mostraria, pelo menos para a geração que aprendera a lutar no final dos 70 inspirada na força moral do sandinismo, mais doloroso e terrível que a débâcle da União Soviética, que estava, naqueles dias, por um fio. A FSLN, a lendária Frente Sandinista estava derrotada. E nas urnas, após anos de feroz cerco militar, diplomático, comercial e ideológico, subiria ao poder uma oligarca, teúda e manteúda do imperialismo. O fim de um começo ou o começo - acidentado e contraditório - de um eterno recomeço?

O fio da meada

No fundo, lá no fundo mesmo do escândalo dos kits escolares, aquela boa ideia transformada por mãos pouco hábeis num desastre cuja implosão ruidosa está apenas começando, pode-se encontrar algo mais que arrogância, senso de impunidade e desprezo com o patrimônio público. Uma boa olhada vai revelar que a propaganda pode ser a alma de muitos negócios. Negócios escusos, é claro.


sábado, 18 de julho de 2009

Dialética do trabalho pelos desvios da arte

"...o trabalho de um homem não é mais que esta lenta travessia para redescobrir, pelos desvios da arte, aquelas duas ou três imagens magníficas e simples diante das quais seu coração primeiro se abriu."


Albert Camus (1913-1960), filósofo e escritor nascido na Argélia, autor de "O homem revoltado" e "A peste", entre outras obras consagradas.

Pegadas de sangue

Uma comissão da Anistia Internacional desembarcou no Peru. Os investigadores independentes vão encontrar, na Amazônia peruana, muitos rastros do maior massacre indígena do novo milênio.

Mais, muito mais, do mesmo

Da inesgotável fonte de malandragens do família Sarney, hoje, no Globo.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

Lanterna dos afogados

A cúpula do G8 em Áquila, Itália, deixou o gosto travoso do fracasso. Faltou vontade dos grandes e dos chamados emergentes, o Brasil à frente, para firmar acordos concretos contra o desastre que se avizinha. Sob o signo da crise global que está longe de encontrar uma solução estável, Obama e seus pares preferiram a cautela, retirando do texto metas e mecanismos de fiscalização para os indispensáveis e algo tardios cortes na emissão dos gases que produzem o efeito estufa.
A posição do Brasil foi além da dubiedade. Houve alinhamento de Lula, mas, como era de se esperar, somando no lado errado da polêmica.
Leia a opinião do jornalista Washington Novaes, originalmente publicada na edição do Estadão de hoje.

Quem tem medo da CPI da Aneel?

Enquanto toda a grande mídia se refastelava com a pantomima encenada pelos cardeais do governo e da oposição em torno da CPI da Petrobras no Senado, outra batalha, talvez mais séria ainda, estava sendo travada na Câmara dos Deputados. Na surdina, o consórcio PT-PMDB-PSDB-DEM et caterva resolveu sepultar, por inanição, a CPI da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), proposta para investigar as evidentes falcatruas do setor elétrico pós-privatização.
A manobra por pouco não dá certo, e só depois de uma ameaça de recurso ao STF a CPI acabou instalada. Se ela vai mesmo funcionar, já são outros quinhentos.
Quase nada se falou, portanto, sobre esse escândalo vergonhoso que revela os intrincados laços entre as empresas do grande capital que abocanharam, por uma ninharia, a cobiçada rede de concessionárias de geração e transmissão de energia elétrica e seus representantes - ou melhor, seus despachantes de luxo - que ocupam incontáveis cadeiras no Congresso Nacional.
Mas sempre há alguma voz que se levante, assumindo a tarefa quase intransponível de se fazer ouvir no meio da algaravia criada para assegurar o silêncio a favor de quem de inocente não tem nada.

Divisão do trabalho

Engana-se redondamente quem pensa que Sarney e sua trupe detém o poder absoluto no disputadíssimo setor elétrico brasileiro. Há, segundo desvela uma interessante reportagem do Valor Econômico, uma intrigante divisão de trabalho entre os prepostos de Sarney - o ministro Edson Lobão (Minas e Energias) e o presidente da Eletrobras, José Antônio Muniz - e a todo-poderosa ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, que responderia pelas diretrizes estratégicas do setor, incluindo as sempre delicadas discussões sobre os gordos financiamentos do BNDES.
Com o garvamento da crise política do Senado, tem muito empresário peso-pesado torcendo para que não se instale um clima de pandemia, levando de roldão o harmonioso relacionamento que há anos faz a festa - e os bilionários lucros - de um punhado de plutocratas.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Máquina mortífera

Recrudesceu a violência policial no Pará ao longo do primeiro semestre deste ano. O que já era escandaloso, com 38 assassinatos ao longo de 2008, saltou para 43 até o final de junho, numa demonstração de que os PMs e policiais civis estão encontrando um campo propício às execuções sumárias, ou, no linguajar dos inquéritos que não dão em nada, os tais "autos de resistência seguidos de morte". Para a Ouvidoria de Segurança Pública, é inaceitável conviver com um homícidio praticado por policiais a cada quatro dias. E mais: que estes crimes permaneçam, como regra, acobertados por uma espessa teia de impunidade.
O fuzilamento nesta semana de Emerson Cruz Freitas, 37, portador de transtornos mentais, em plena avenida Pedro Miranda, no coração do bairro da Pedreira, em Belém, revelou outra faceta perversa do modus operandi da polícia: a adulteração grosseira da cena do crime. Além de terem "plantado" uma arma sem registro para simular uma suposta reação da vítima, os três PMs ainda levaram o cidadão, já sem vida, para o Pronto Socorro, comprometendo o trabalho da perícia técnica.
Se não houver uma forte reação da sociedade, a morte de mais este inocente logo se transformará em um número frio de uma estatística sangrenta, que apenas traduz a abissal distância entre a prática e o discurso propagandístico do governo paraense.

Sob o império da jagunçagem

Não demorou nem 48 horas a ocupação por 200 famílias de sem-terra de mais uma área da fazenda Cedro, uma das 43 propriedades de Daniel Dantas, no Pará. Seguranças privados fortemente armados, com apoio de policiais civis, realizam o despejo das famílias na noite de ontem. Há relatos de violência contra mulheres, idosos e crianças. Os barracos foram queimados e os ocupantes levados para Marabá, onde ficaram horas à espera dos procedimentos realizados pela Delegacia de Conflitos Fundiários (Deca).

Exame de DNA

Notícia redundante: PF indicia filho de Sarney por formação de quadrilha.

Cidadão do mundo

Eduardo Galeano, nascido nos pampas uruguaios, acaba de receber a Ordem de Maio, maior comenda da República Argentina. Para um homem que se reconhece em seu semelhante, independente dos estreitos limites de nacionalidade, cor ou credo, não se trata de um fato banal. Afinal, os mapas da alma não têm fronteiras.

quarta-feira, 15 de julho de 2009

No fio da espada

Agora a denúncia partiu de dentro do próprio exército israelense. Durante a ofensiva contra a Faixa de Gaza, entre o final de dezembro de 2008 e janeiro desde ano, foram cometidos inúmeros crimes de guerra, cuja execução decorreu de ordens diretas dos oficiais superiores das forças de ocupação. A afirmação partiu de 25 soldados ouvidos por uma organização pacifista formada por veteranos que se devotam à luta pela paz entre Israel e os palestinos.
Não foi, portanto, um mero dano colateral que mais de 1,1 mil civis palestinos tenham perdido a vida em mais esta estúpida e insana operação de colonialismo em pleno século XXI.

Pedras no caminho

A estrada de acesso ao canteiro de obras da usina de Jirau, em Rondônia, está ocupada por manifestantes há dois dias. O protesto teria a digital de madeireiros insatisfeitos com a fiscalização do Instituto Chico Mendes e Ibama contra o desmatamento ilegal na região. No meio do conflito de interesses nem sempre confessáveis, 300 pobres, que de tão famélicos viraram munição para seus próprios algozes.

Plantando veneno

Um negócio bilionário e praticamente sem controle algum. É assim a poderoso indústria dos agrotóxicos, que alcança o lucro líquido anual de pelo menos US$ 40 bilhões. À frente destes mastodontes do capitalismo da doença e da destruição do meio ambiente algumas empresas muito conhecidas dos brasileiros e amazônidas: Syngenta, Bayer, Monsanto e Basf.

terça-feira, 14 de julho de 2009

Eles usam black-tie

Qual a fortuna de Daniel Dantas? Ninguém sabe ao certo. Para uma aproximação parcial do tamanho do cofre deste legítimo representante da elite globalizada basta ver os mais de US$ 2 bi que a Justiça brasileira conseguiu bloquear no exterior. Uma pequena parte da bufunfa de Dantas, talvez somente alguns trocados. Talvez.

Caleidoscópio sentimental

O Página Crítica guardou luto, nas últimas horas, pela perda do mestre de todos os mestres da blogosfera paraora, Juvêncio Arruda. Sinal de tristeza, mas não de desânimo ou desencantamento com a vida que prossegue, a partir de agora voltamos à nossa aparência tradicional.
Não creio que o Juca, com sua verve afiada e seu bom humor contagiante, ficasse satisfeito com o prolongamento cerimonial da tristeza. Antes, com certeza, muito pelo contrário.
Estive em seu velório hoje cedo. Lá revi faces conhecidas, amigos e amigas de outros tempos e de outras batalhas, lá pelos idos dos já distantes anos 80. Uma coletividade de amigos tão heterogênea, diversa e rica que só uma pessoa com o talento do Juvêncio poderia ser capaz de equilibrar e acalentar. Essas presenças, todas e cada uma delas, transmitiram à família conforto e a certeza de que as boas ações podem e devem se tornar exemplos perenes.
Como disse, a vida prossegue. E a necessidade de travar o bom combate, também.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

A linha tênue da vida

E se foi Juvêncio Arruda, o Juca, deixando órfã sua enorme e diversificada legião de leitores e admiradores espalhados por esse mundo sem fronteiras.
A morte física, como todos sabem, é uma das poucas coisas definitivas, para a qual não existe recurso de apelação. Ela simplesmente chega e se instala sem pedir licença.
Mas a memória das pessoas de bem, esta sim, sobrevive e sobreviverá.
Juvêncio deixará um legado precioso de honestidade, competência e compromisso com a luta por um mundo melhor.
Que descanse em paz . Sua peleja, que é a mesma de tantos em tantas latitudes, prosseguirá com redobrada força, multiplicada em milhões de vezes pela coragem que nunca lhe faltou.

Cosme Velho às margens do Tejo

Demorou bastante mas a centenária Academia Brasileira de Letras acaba de prestar uma justa homenagem a um dos maiores escritores em língua portuguesa, o Nobel José Saramago. Desde o último 9 de julho, ele ocupa a posição de sócio correspondente da ABL, substituindo o escritor francês Maurice Druon, decano da Academia Francesa, falecido em abril passado.
Saramago, com tantos e tão extraordinários prêmios em todos os continentes, aproveita para revelar seu amor pelo Brasil, país que mais ama depois, é claro, de seu Portugal. E revela sua alegria em poder visitar o nosso país em outubro, para o lançamento da edição brasileira de seu mais novo livro, "Viagem do Elefante", e quando espera sentar-se "à sombra da estátua de Machado de Assis".

domingo, 12 de julho de 2009

No palácio de Calígula

Sílvio Berlusconi é o arquétipo da hegemonia conservadora e direitista em plena expansão na Europa. Seus péssimos hábitos públicos e privados dão a exata dimensão da pequenez moral de uma elite que se imagina acima de qualquer controle.

A terra prometida

Decisão judicial histórica prevê a liberação do território ancestral dos Awá Guajá, no Maranhão. Aguarde-se a reação da tropa de choque do agronegócio com seus tentáculos em todos os poderes da República.

Dialética do nome de todas as coisas

"Mirauiú*


Iandara em tupi é meio-dia
Iaciçuaçu é lua cheia
ou como eles dizem: lua do rosto grande.
Iacipirêra: lua minguante ou casca de lua.
O que prosaicamente diríamos chove,
para eles: o kyr amana = desabam as nuvens.

Tanta poesia assim me é difícil
amar um índio, dono da terra, água.
Inda mais eu que nem sei meu nome.


Do Tupi: Gente de flecha, índio.


Olga Savary, poetisa, escritora, tradutora, nascida em Belém do Pará, em 21 de maio de 1933. Linha-D`Água (1987), na coletânea Repertório Selvagem - Obra poética reunida (1998), página 238.

sábado, 11 de julho de 2009

Do jeito que o diabo gosta

Anotem esse nome: Trata-se de Aloysio de Brito Vieira, conhecido pela alcunha de “Matraca”. Ele, segundo matéria publicada na IstoÉ dessa semana, era o operador do propinoduto montado pelos demos (ex-PFL) no comando há mais de uma década da poderoso e bilionária 1a secretaria do Senado.
Por enquanto, "Matraca" permanece de boca fechada. Por enquanto, mas tudo pode mudar quando o MPF e a PF entrarem com força na jogada.

Tiro de misericórdia?

Demorou, mas apareceu. A Veja que já está circulando traz o que meio mundo já sabia: José Sarney, o cambaleante presidente do Senado, andou mantendo contas secretas no exterior. Aliás, como nove de cada dez integrantes da plutocracia nacional.

As agulhas no insondável palheiro

Não são despropositadas as fortes suspeitas que recaem sobre a mais recente operação de busca das ossadas dos mortos da guerrilha do Araguaia, deflagrada nesta semana pelo Exécito brasileiro. Mais de seis anos após a corajosa sentença da desembargadora federal Solange Salgado, que determinava a abertura de todos os arquivos oficiais sobre a guerrilha em 120 dias, é pouco provável que a comissão criada pelo ministro Nelson Jobim (Defesa) apresente resultados positivos. É como procurar agulhas em um palheiro gigantesco cujo fundo foi movido e removido inúmeras vezes.
Para o Ministério Público Federal a ação deve ser suspensa até que várias pré-condições sejam satisfeitas. Entre elas, a oitiva de testemunhas - militares da ativa e da reserva, especialmente - que podem apontar com maior precisão os locais onde os corpos foram escondidos e, fundamentalmente, a garantia do controle social através da presença de membros das famílias das vítimas, do próprio MPF e de outras organizações defensoras de direitos humanos.
Com um pé atrás mas um tanto menos cético, o ex-vereador Paulo Fonteles Filho acompanha os trabalhos dos militares na região de influência da guerrilha, em pleno Araguaia paraense, indicado como observador pelo governo do Pará. Lança seu olhar crítico a partir do próprio centro de comando da operação, que tem enorme chance de se tornar em um esforço inútil, mas, contraditoriamente, pode servir para despertar o interesse da sociedade para essa cicatriz sangrenta da história brasileira.

sexta-feira, 10 de julho de 2009

O inferno é aqui

Enxovia em pleno século XXI, a Seccional do Comércio, no centro de Belém, é o retrato da falência do sistema prisional no governa Ana Júlia (PT). A fuga de dezoito presos na noite de ontem, 9, apenas lança luz sobre uma situação de absoluta indignidade: 38 detentos divindo um espaço originalmente projetado para apenas três.
Diante do quadro dantesco, um dos presos declarou à reportagem do Amazônia: "Sou bandido, mas sou ser humano". Ele tem razão, pois quem, nos mais altos escalões e em diversos dos poderes do Estado, é conivente com essa barbárie não é menos bandido. Talvez mais, muito mais.

quinta-feira, 9 de julho de 2009

Mangabeira Unger, o breve

Qual o legado do ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos), que teve seu retorno à Universidade de Havard recentemente anunciado pelo presidente Lula?
Suas pegadas ficarão espalhadas por aí, como um dinossauro bem atrapalhado, mas que ninguém se engane: ele trabalhou até agora com objetivos muitíssimos claros.
Por trás do sotaque enrolado e um certo jeitão neocon, Magabeira sempre investiu pesado contra todas as bandeiras da esquerda. Entre seus feitos, certamente, está a criação do cenário para o desmonte da política ambiental, para o deleite dos modernos coronéis do agronegócio.
Quando estiver voando para as terras do Tio Sam, ele poderia fazer um exame de consciência sobre suas mal explicadas e suspeitíssimas relações com o banqueiro Daniel Dantas. O resultado não seria nada agradável.

Águas profundas

Sarney e seu clã parecem ser uma plataforma oceânica de escândalos, que não param de jorrar. No meio da confusão, o Planalto vai insistir, por falta de outra opção, na operação salvamento, torcendo para o que recesso chegue logo, antes que seja tarde demais.

quarta-feira, 8 de julho de 2009

Derrubar todos os muros da opressão

Logo mais às 17h, no auditório do Centro Integrado de Governo (CIG), na avenida Nazaré, será realizado um debate aberto ao público com o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alceben, com o tema "A luta dos povos pela soberania nacional". A promoção da atividade solidária e internacionalista é do Centro Brasileiro de Solidariedade aos Povos e Luta pela Paz (Cebrapaz), presidido por Socorro Gomes, ex-deputada federal pelo PCdoB.

Choro de barriga cheia

Ano passado, no auge da euforia pré-crise, o caixa do governo federal ficou abarrotado com uma arrecadação recorde, elevando a carga tributária a inéditos 35,8% do Produto Interno Bruto (PIB), somatória de tudo que o país produz. Com esse gancho, o jornalismo econômico a serviço da extração máxima de mais-valia vai ter um bom motivo para vituperar contra a suposta sanha arrecadatória do governo, que "asfixia a sociedade como um todo". Como um todo? Nada mais distante da realidade.
A carga tributária no Brasil é, de fato, muito pesada, mas é também injusta e regressiva. Atinge com muito mais violência os pobres e o consumo, enquanto os ricos com seus patrimônios e rendimentos financeiros praticamente isentos de tributação operam, também pela via fiscal, a permanente transfusão de renda dos que têm quase nada para os que crêem nunca ter o suficiente.
Um estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Avançada (IPEA), ligado ao Ministério do Planejamento, desvenda, com números irrefutáveis, o enígma do sistema tributário brasileiro, e prova que são os pobres que pagam a maior parte da conta. E, por vias indiretas, financiam a farra bilionária que faz a roda da fortuna girar incessantemente e somente numa única direção.

Ensaio sobre a cegueira

Cega? Não, a Justiça, quando muito caolha, sabe muito bem escolher para que lado sua balança vai pender. Na esmagadora maioria das vezes serve de cerca protetora aos interesses - confessos ou não - dos poderosos de sempre. Foi o caso da recente sentença que condenou o jornalista Lúcio Flávio Pinto, editor solitário do Jornal Pessoal, por colocar no papel aquilo que até as pedras de lioz que ainda revestem parte de nossas maltratadas calçadas de Belém estão cansadas de saber.
A reação de Lúcio pode ser lida aqui.

terça-feira, 7 de julho de 2009

Blogosfera em transe

No princípio, bem no princípio, era o caos. E dentro dele e contra ele, a palavra, onipotente, criou todo o resto.
Ela, a palavra, era tudo. E, com sua mão criadora, foi moldando todo o resto, todas as coisas, todos os entes.
Por isso, a forja do mundo é a palavra, com sua força, com sua potência criadora e destruidora, num único e poderoso vórtice.
Quem são os artífices da palavra?
Quem alcança o estágio sublime de estabelecer sobre elas o total domínio?
E, mais importante, quem são aqueles artesãos que utilizam, com coragem e dignidade, esse poder a favor da maioria, contra todas as formas de manifestação da prepotência e da boçalidade?
São tão poucos, é verdade. Mas existem e se disseminam. Ainda mais agora, nesta quadra dramática, em que um teclado e um endereço IP podem - e devem - sempre fazer a diferença. São eles que buscam desvelar a realidade através do incontrolável espaço virtual, antídoto moderno contra o sacrossanto poder dos plutocratas da mídia e suas caixas registradoras.
Juvêncio Arruda, nosso maior mestre da blogosfera paroara, é um desses artesãos da palavra verdadeira. O seu Quinta Emenda virou patrimônio e vício diário de centenas, quiçá, de milhares de internautas por esse mundo sem fronteiras. Leitura obrigatória, fonte cotidiana de informação da mais alta qualidade, o blog do Juva é muito mais que necessário. É absolutamente indispensável.
Mas, nesse momento em que Juvêncio trava uma decisiva batalha contra uma doença insidiosa, o que ele precisa receber, de todos e de todos os cantos, é a mais pura solidariedade dos que o admiram e torcem por sua pronta recuperação.
Que seja inaugurada uma corrente entre seus incontáveis amigos e leitores, numa sintonia ampla, geral e irrestrita, para que o mestre encontre carinho, calor humano e, sobretudo, energia para dar a volta por cima.

O massacre nosso de cada dia

Mais uma chacina de trabalhadores rurais sem terra. A matança foi no agreste pernambucano e vitimou, de uma só vez, cinco integrantes do MST no assentamento Chico Mendes, na antiga fazenda Garrote, desapropriada há três anos pelo Incra.
A polícia, como sempre, ainda está sem pistas. Não demora, surge alguém sugerindo que tudo não passou de "crime comum", fruto de alguma desavença entre os agricultores.
A apologia à violência dos jagunços a soldo do latifúndio e do agronegócio continua a semear desgraça e estupidez por esses sertões em fim. Até quando? Eis uma pergunta que permanece dramaticamente sem resposta.

O elo que não se perde

Para o Procuradoria da República em São Paulo as manhas e tramanhas de Daniel Dantas e seu poderoso braço financeiro, o bilionário grupo Opportunity, são rima rica com falcatruas várias e diversas. Lavagem de dinheiro, crimes contra a ordem financeira, sonegação fiscal e - o que não deve surpreender ninguém - tráfico de influência junto a inúmeros escalões do poder político nacional.
O elo quase perdido entre Dantas e o esquema do mensalão, via empresas de Marcos Valério, acaba de ser descoberto e está estampado, com destaque, nas edições de hoje dos principais jornais do país.
Cevando o obscuro relacionamento entre o banqueiro mais famoso (e enrolado) do Brasil e o infeliz esquema de corrupção montado pelo PT, uma quantia estimada em pelo menos R$ 3,3 milhões de reais.

Ponto final

Na surdina, longe dos holofotes da imprensa, a esmagadora maioria conservadora e direitista do Senado, tendo a beligerante bancada ruralista no comando, lançou a pá de cal sobre as últimas esperanças - se é que alguém ainda as tinha - do governo Lula realizar algo que se assemelhe a uma reforma agrária. Saiba os detalhes sórdidos no sempre excelente e oportuno texto de Leonardo Sakamoto.

As muitas faces de um senhor da guerra

Robert S. McNamara morreu ontem, 6, enquanto dormia. Tinha 93 anos e atravessou o século XX como testemunha e protagonista privilegiado das ações belicistas do império norte-americano, a quem serviu com inegável competência.
Qual terá sido seu último sonho, no exato momento em que a morte, implacável e definitiva, pôs fim à sua longa carreira de intelectual orgânico da elite do centro do poder mundial?
O Japão e suas centenas de milhares de vítimas, queimando em agonia sob o intenso bombardeio da aviação dos Estados Unidos enquanto ele, integrado ao alto comando aliado no Pacífico, fazia os cálculos para tornar mais eficiente - e econômica - aquela horrenda máquina de matança de inocentes?
A linha de produção da Ford em seu alucinante crescimento naqueles anos dourados quando ele, um jovem e talentoso profissional , tornava-se o primeiro presidente da corporação que não era egresso da família dos plutocratas que a haviam fundado poucas décadas antes?
A pequena e rebelde Cuba durante os dias que precederam o quase fim do mundo, na grande crise dos mísseis no início dos 60, enquanto ele, tornado principal conselheiro do presidente Kennedy antevia a iminente destruição global?
Ou, na verdade, McNamara perdeu o fôlego para sempre debatendo-se com o pesadelo da tragédia do Vietnan, afogado num mar de sangue de milhões de suas vítimas, enquanto o acre cheiro de napalm e as chamas que a tudo devoravam faziam o pano de fundo do inferno cuja culpa ele carregou até seu último dia?
Próximo do final da vida, já com 86 anos, Robert Macnamara refletiu sobre o seu passado e tentou tirar lições de tudo que viveu. Tornou-se um pacifista confesso, sem contudo abdicar completamente das razões que estiveram na base de sua carreira tão rica quanto contraditória. Rompendo a névoa da guerra tentou retirar ensinamentos e elaborar antítodos à barbárie que se manifesta na voragem estúpida e imoral patrocinada por aqueles que têm os senhores da guerra em suas régias folhas de pagamento.
Nada indica, porém, que o velho pregador tenha partido tranquilo ao perceber a incontornável capacidade de reciclagem do sistema que engendrou as cenas dantestacas que povoaram por tantas décadas o sono e a vigília deste homem atípico e genial.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

No ar, mas nem tanto

Nos próximos dias o Página Crítica vai ficar mais ou menos congelado. As tarefas profissionais do poster obrigam essa parada técnica.
A partir da terça, 7, a vida deverá voltar ao normal.

Minha casa, minha vida

Tem uma casa no caminho do presidente do Senado, José Sarney. Ela vale, pelo menos, R$ 4 milhões e por longos anos foi sonegada do leão da Receita e dos olhos nem sempre vigilantes da Justiça Eleitoral.

Às vésperas do fim do mundo

Centenas de milhares de pessoas sem água na capital por quase 48 horas seguidas.
A internet e parte da telefonia fora do ar e os sistemas bancários em pane. E o mar de lama que escorre por todos os lados e por todas as paredes de vários e diversos palácios.
É o verão que começa quente, aliás, quentíssimo.