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domingo, 30 de novembro de 2008
Loteamento na Lua. Há quem acredite
Seria apenas manifestação de ingenuidade, mas é coisa muito mais séria. O governo Lula não está em início de mandato. Ao contrário, em breve completará seis anos de gestão, tendo consumido a metade de seu segundo período. À luz de tudo que aconteceu neste tempo, é inconcebível que esses dirigentes ainda acreditem na possibilidade de uma alteração substancial na linha estratégica de um governo que desde seus primeiros atos fez questão de romper – na prática e simbolicamente – com os compromissos programáticos que haviam conduzido sua eleição em 2002, em meio a uma enorme expectativa de mudanças sociais, econômicas e políticas.
Apesar de acertar no diagnóstico e, em geral, nas medidas propostas, a carta dos movimentos possui um pecado original, isto é, o de se eximir de quaisquer contrastes críticos aos descaminhos do governo – que pratica justamente o oposto do que os signatários do manifesto dizem professar. Ao agir assim, acabam servindo como instrumento de uma manobra ilusionista, na qual o governo tenta manter vivo o verniz de uma inexistente participação popular.
Em resumo, viraram a cereja do bolo. Por opção própria e consciente, diga-se.
sábado, 29 de novembro de 2008
Dialética da palavra de combate
Troa na praça o tumulto!
Altivo píncaros - testas!
Águas de um novo dilúvio
lavando os confins da terra.
Touro mouro dos meus dias.
Lenta carreta dos anos.
Deus? Adeus. Uma corrida.
Coração? Tambor rufando.
Que metal será mais santo?
Balas-vespas nos atigem?
Nosso arsenal é o canto.
Metal? São timbres que tinem.
Desdobra os lençóis dos dias
cama verde, campo escampo.
Arco-íris arcoirisa
o corcel veloz do tempo.
O céu tem tédio de estrelas!
Sem ele, tecemos hinos.
Ursa-Maior, anda, ordena
para nós um céu de vivos.
Bebe e celebra! Desata
nas veias da primavera!
Coração, bate a combate!
O peito - bronze de guerra.
1917"
Tradução: Haroldo de Campos
Vladimir Maiakóvski (1893-1930), maior poeta russo moderno. Poemas, 6a edição, 1997, p.83-84. Edição organizada por Augusto e Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman.
Liderança infame
O ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) assegura que esse quadro está sendo revertido, com uma queda acentuada nas queimadas a partir do corte do crédito para proprietários ilegais. Esta resolução, entretanto, permanece sob forte ataque dentro do próprio governo federal, sempre sensível às demandas dos ruralistas e de seu influente lobby político. A restrição de financiamento aos devastadores, combinada com ações mais firmes dos órgãos fiscalizadores, teria conseguido reduzir, segundo dados do ministro, as derrubadas de floresta nativa em quase todos os 36 municípios mais críticos do chamada Arco do Desmatamento. Menos em Novo Repartimento, no sudeste paraense, onde a barbárie continua imperando, à vista de todos, aliás.
Um dia para não esquecer
Para conhecer a coletânea das muitas (e inúteis) resoluções da ONU aprovadas entre aquele ano fatídico até 2001, buscando reparar seu erro histórico, basta clicar aqui.
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
Abatida em pleno vôo
Sob forte fuzilaria, parece que soçobrou, pela enésima vez, a mais recente tentativa do governo Lula aprovar uma reforma tributária no Congresso Nacional. Atacada por todos os lados, recebendo fogo de banqueiros, grandes mineradoras e, principalmente, dos Estados ricos do centro-sul, o parecer do deputado mensaleiro Sandro Mabel (PR-GO) submerge rapidamente. Ele próprio já admite que o projeto talvez desembarque no plenário em março, depois do Carnaval. Enquanto isso, os esquálidos governadores do Norte e Nordeste, apontados como os principais beneficiários da proposta, ensaiam um protesto rouco em Brasília. Ninguém acredita que terão qualquer sucesso.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
Geografia da Fome
O mapa da fome e do abandono passa, desde sempre, pelas veredas marajoaras de Muaná, Anajás, Chaves, Melgaço e Bagre, além de Porto de Moz, Pacajá e Nova Esperança do Piriá.
Homem com H
Mais chapa branca impossível
Resta saber se os decibéis do nada espontâneo coro "Dilma, Dilma, Dilma", gritado pelos afoitos manifestantes, terão alcançado, ali mesmo no Plano Piloto, o ouvido sempre atento do procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza.
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Baile de máscaras
Também levaram cartão vermelho, flagradas como patrocinadoras de práticas nocivas ao meio ambiente, outras grandes empresas, como Aracruz, a Copel e a Iochpe-Maxion.
Quilhotina
Nova York sitiada
A megalópole está sob cerco. E não são os fantasmas do terrorismo internacional que a assustam. Seu implacável inimigo nestes tempos em que o sistema estremece e lança milhões na rua da amargura é um velhíssimo conhecido do ser humano: a fome. Só neste ano, segundo dados de entidades não-governamentais, cresceu em 28% o número de famintos na cidade. Agora, são famílias inteiras, incluindo crianças e idosos, que se espremem nas gigantescas filas nos postos de distribuição de alimentos destinados à indigência.
O pior, entretanto, é saber que mais da metade dos centros assistenciais não dispõe de recursos suficientes para atender à nova e crescente demanda. A Coalizão Contra a Fome, articulação similar à nossa Ação pela Cidadania, denuncia que houve nesse período uma sensível diminuição dos fundos governamentais. É a guerra contra os pobres em pleno andamento.
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Terra em transe
Paragominas explode sob o cerco orquestrado pelos meliantes de sempre, agora mais audaciosos e violentos.
Xinguara entra em combustão denunciando a insegurança que sangra o sudeste e o sul, impune e cruelmente.
Novo Progresso é um paiol prestes a ir pelos ares, órfão de autoridades e sem qualquer horizonte que não seja o mergulho cego no caos.
Belém e seus arredores temem pela chegada diária de mais uma fornada de histórias trágicas, na voragem de uma guerra civil não-declarada.
Desse caldo insuportável é que provém a matéria-prima que faz girar rotativas ávidas por transformar em lucro instantâneo essa mistura incandescente de sangue alheio e ganância mercantil sem limites.
O dia do caçador
Sinal dos tempos
Os otimistas sabem que tudo isso é o só o começo. O pior ainda está por vir nesse drama sem final feliz, pelo menos para os que pagarão no futuro imediato a amarga conta para que a roda da fortuna não deixe jamais de girar.
Apartheid na academia
Enquanto pouco a pouco o Brasil vai se reconhecendo negro ou mestiço, a docência em nossas universidades permanece esmagadoramente branca. De cada 10 professores, sete se autodeclaram brancos, enquanto apenas 1,7% admitem ter ascendência afro-brasileira. Os dados estão no site do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e foram sistematizados pelo professor e mestre em educação pela UNB, Luiz Araujo, cujo blog está entre os preferidos do Página Crítica.
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
Por trás da cenografia, Paragominas arde
De primeiro município paraense a divulgar um plano para se tornar uma "Cidade Verde", modelo de supostas práticas "sustentáveis", a palco de violento e organizado cerco a agentes de órgãos ambientais, com direito a carros queimados e depredação de prédios públicos. A velocidade com que o fantasioso marketing ambiental de Paragominas, a 300 km de Belém, veio abaixo só é proporcional à desenvoltura da ação criminosa que lá se instalou faz muito tempo.
Não deu zebra
Vencendo em 17 dos 23 governos estaduais em disputa, o presidente Hugo Chávez, através de seu Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), consolidou uma posição de força nas eleições realizadas ontem (23). Sob intensa fiscalização internacional e evidente torcida contrária por parte dos principais grupos midiáticos nacionais e estrangeiros, empenhados na ininterrupta cruzada para demonizar o líder venezuelano, o eleitorado compareceu em massa, alcançando 65,45% dos aptos a votar. Na Venezuela o voto é facultativo, o que representa em si uma contradição com o discurso dos que pretendem carimbar a democracia vigente nesse país vizinho como uma farsa a serviço de um totalitarismo caricatural.
Mortos, incômodos, perigosos
Lá está ele, com sua lança e seus adereços inbangalas, olhando ao longe a aproximação das primeiras naus do invasor. Angola, terra de seus ancestrais seria sangrada de morte quando o primeiro "civilizado" alcançasse a praia e deflagrasse a guerra sem fim.
Morto em combate, escravizado, violado, ele renasceu entre os cativos. Singrou o Atlântico no ventre de um navio-tumbeiro. Na placenta do horror indescritível temperou seu caráter.
Em Porto Calvo, entre a sacristia e a senzala, descobriu que não havia (re)nascido para sucumbir diante da palmatória da fé alheia ou do açoite inclemente que o reduzia a instrumentum vocale; Aos 14 emigrou para Palmares, na fértil serra da Barriga, e de lá somente sairia morto ou vivo para sempre.
Guerreiro tenaz não parou mais de lutar. Nem mesmo o seu tio, Ganga Zumba, rei de todos os quilombos do vasto território de Palmares, foi capaz de domesticá-lo.
25 de novembro de 1695, a traição encontra Zumbi isolado, fugitivo, mas ainda assim cavando trincheiras ao lado de uma meia dúzia de combatentes. É com eles que trava a última batalha. Nas palavras de Caetano de Melo e Castro, fidalgo português que governava Pernambuco à época, ele "pelejou valorosa e desesperadamente, matando um homem, ferindo alguns e, não querendo render-se, nem os companheiros, foi preciso matá-los, e só a um se apanhou vivo; enviou-se-me a cabeça de Zumbi, que determinei se pusesse em um pau, no lugar mais público desta praça (da cidade do Recife), a satisfazer os ofendidos e justamente queixosos e atemorizar os negros, que supersticiosamente julgavam este imortal...".
Acabava-se Palmares, estava morto Zumbi. Será?
Há quem jure que ele foi visto, encarnado em marujo, entre os que tomaram o Minas Gerais e fizeram daquela nave de guerra a plataforma para por fim aos açoites que a Marinha impunha aos seus homens, todos pobres, quase todos negros. Corria o ano de 1910 e um, dois, muitos Zumbi marcharam ao lado de João Cândido, até que perecessem sob as balas da reação ou de fome e de sede nos cárceres de um Estado que renegou a anistia concedida tão pouco tempo antes.
Estava ele também, feito síntese primorosa dos que se unem para combater a escravidão de ontem e a de hoje, no fusca crivado de balas, à altura do número 806 da alameda Casa Branca, no aristocrático Jardins, São Paulo, capital. 04 de novembro de 1969, morria Marighella, nascia, no mesmo instante o eterno Zumbi.
Lá vai Zumbi-Oswaldão, corpo decapitado, preso à pá de um helicóptero verde-oliva. O sobrevôo é rasante, feito para provocar horror nos povoados do Araguaia, naqueles dias sombrios de 1974, o cerco se fechando como uma sucuri que vai esmagar, um a um, os ossos de sua presa.
Morrer, nascer, lutar, moto-contínuo. Afinal, não foi o olhar de Zumbi, misturado a outros tantos, que foi divisado, em meio à quase-escuridão do amanhecer, rompendo as cercas da morte de mais um latifúndio na Amazônia das Casas-Grandes e Senzalas?
domingo, 23 de novembro de 2008
O preço da pressa
A Justiça Federal em Rondônia acaba de proibir, através de decisão provisória (liminar), o início das obras da hidrelétrica de Jirau, no Rio Madeira. O juiz federal da 3a Vara, Élcio Arruda, determinou a suspensão da Licença Parcial de Instalação concedida pelo Ibama à Energia Sustentável - consórcio formado pela GDF Suez Energy (50,1%), Eletrosul (20%), Chesf (20%) e Camargo Corrêa (9,9%) -, que está sujeita a multa diária de R$ 100 mil em caso de desobediência.
Sob forte pressão do Planalto, o ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) criou a figura esdrúxula da "licença parcial", que não está prevista na legislação brasileira. Agora, a obra deverá receber o licenciamento integral, cumprindo todos os ritos e exigências da Lei, tendo em vista o enorme impacto socioambiental que deverá provocar em Porto Velho e região.
Dentes arreganhados
A irritação de Lula, segundo seus porta-vozes, seria maior diante da inexistência de aviso prévio por parte do Equador. Ora, essa mentalidade senhorial que obrigaria o Equador a comunicar um país estrangeiro sobre um assunto de sua estrita competência deve empolgar apenas a quem possui vocação de lacaio, o que tudo indica não seja o caso das forças políticas e sociais que, a duras penas, sustentam o processo de mudanças democráticas e populares naquele país andino.
O gesto do Itamaraty de ordenar o retorno do embaixador em Quito correspondeu a uma posição de inusitada beligerância. Afinal, confundir interesses nacionais com os eventuais malfeitos de empresas brasileiras no exterior só apequena nossa diplomacia e nos faz parecidos, mesmo que de forma caricatural, com o grande irmão do Norte, acostumado, por séculos, a resolver suas pendências comerciais usando o argumento das canhoneiras.
Valha-nos quem?
Dialética dos tempos da vingança em conta-gotas
"(...)
Fecha o círculo da vida o Brigadeiro Inspetor de Milícias Joaquim Manoel Pereira Pinto de uma febre aguda; e segundo outros de veneno, que lhe propinaram em uma cuia de assahi por vingança dos cristeis de malagueta, das palmatoadas, e do carcere privado, com que vexava os Tapuyas. Subroga-o no Governo Provisional o Coronel Engenheiro Pedro Alexandrino Pinto de Souza."
Antônio Ladislau Monteiro Baena. Compêndio das Eras da Província do Pará (1a edição em 1838; reeditado pela Universidade Federal do Pará, Coleção Amazônia, Série José Veríssimo, 1969, p.291).
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
Ação entre amigos
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Franchising da trampolinagem
Com anos de atraso, o Ministério Público Federal (MPF) denunciou ontem, 19, o notório Marcos Valério pelo esquema criminoso montado em 1998 para desviar e lavar dinheiro para os tucanos mineiros. Foi o começo de um lucrativo negócio que faria muito sucesso, tempos depois, quando o PT entrou com força no ramo da compra de políticos no atacado, tornando-se o principal franqueado do que parecia ser uma operação eficaz e isenta de riscos.
Apesar de todos os desgastes e solavancos, a total falta de punição para os envolvidos no escândalo do Mensalão, denunciados à Justiça desde 2006, demonstra que talvez Delúbio Soares e seus inúmeros cúmplices não tenham comprado gato por lebre como muitos podem imaginar.
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Shoá na terra prometida
Impossível não recordar os castigos que as tropas nazistas praticavam contra as populações civis dos países anexados - na França ou na Polônia, por exemplo - toda vez que os partisans atigiam algum alvo de guerra. Para a ONU e dezenas de ONGs humanitárias o que ocorre na Palestina é uma tragédia humanitária e uma violação flagrante do direito internacional, sob o olhar cúmplice dos demais países, sobretudo dos Estados Unidos e da Europa, que deveriam exercer pressão para deter a barbárie.
Nesse ritmo, não causará espanto se, em breve, algum tiranete de Israel, auto-proclamado como a "única democracia do Oriente Médio", tenha a idéia de afixar, em um dos portões de Gaza ou da Cisjordânia, uma placa com aquela frase carregada de irônica crueldade erguida pelos alemãs no portal dos campos de Auschwitz-Birkenau: Arbeit macht frei ("O trabalho liberta").
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Pânico na floresta
Atualização às 10h00 de 19/11
Às vezes, como todos sabem, operações espetaculares são somo as montanhas: acabam parindo ratos. Os jornais de hoje retificam a informação do total de dinheiro apreendido durante a Operação Arca de Noé. Ao invés de R$ 900 mil, apenas algo entre R$ 81 e R$ 100 mil. Pode parecer um detalhe, e de fato é. O que vai qualificar (ou não) a iniciativa do MPE e da PF é o dia dia seguinte. Finalmente haverá uma repressão permanente e eficaz às quadrilhas que exploram o jogo do bicho no Pará?
Saco vazio se põe em pé
O resto, como se sabe, cabe muito bem no alegre mundo da computação gráfica, que aceita absolutamente tudo, enchendo de carne e osso promessas de obras que transformarão o Pará num "canteiro de obras". Por enquanto, apenas existente no universo em 3D, mas que produz um som bastante concreto do tilintar de milhões nos cofres do insaciável mercado da propaganda institucional.
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Dialética da palavra peregrina
- Me dá uma folha que traz o retrato desse homem que briga lá fora.
- Quem?
- Me esqueceu o nome dele...
Leitor obtuso, se não percebeste que "esse homem que briga lá fora" é nada menos que o nosso Antônio Conselheiro, crê-me que és mais obtuso do que pareces. A mulher provavelmente não sabe ler, ouviu falar da seita dos Canudos, com muito pormenor misterioso, muita auréola, muita lenda, disseram-lhe que algum jornal dera o retrato do Messias do sertão e foi comprá-lo, ignorando que na rua se só vendem folhas do dia. Não sabe o nome do Messias; é "esse homem que briga lá fora". A celebridade, caro e tapado leitor, é isto mesmo. O nome de Antônio Conselheiro acabará por entrar na memória desta mulher anônima, e não sairá mais. Ela levava uma pequena, naturalmente filha; um dia contará a história à filha, depois à neta, à porta da estalagem, ou no quarto em que residirem (...)".
Machado de Assis. Crônica publicada na revista A Semana, em 14 de fevereiro de 1897.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
Uma ponte longe demais
O senhor das armas
Conta macabra
O acordo firmado entre o Ministério Público Federal, Petrobrás, Anfavea (representando as montadoras) e o ministro Carlos Minc, joga para 2014 a solução do problema, impondo um gradualismo inaceitável quando o Conama (Conselho Nacional do Meio Ambiente) já havia concedido um prazo de quase sete anos para que fosse realizado os ajustes industriais necessários. Diante deste escândalo, há ainda os que se escandalizam com os níveis indecentes da saúde pública brasileira.
Boi voador
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Tempos de Cólera
Está frio, gelado como o vento que varre as estepes chinesas, o clima atual entre o prefeito reeleito de Ananindeua e seu pai, o todo-poderoso Jader Barbalho (PMDB). Tudo porque Elder insistiu, contra a vontade dos cardeais de seu partido, em integrar a seleta comitiva da governadora Ana Júlia (PT) no longo (e provavelmente inócuo) périplo pelas diversas províncias do gigante asiático. Afinal, quando a guerra se prenuncia no horizonte, não há nada mais grave que a suspeita de confraternização como os inimigos.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Resíduos (muito) sólidos
Para quem ainda se surpreende com o repentino crescimento da empreiteira Belém Ambiental decorrente de seus milionários contratos na Prefeitura de Belém, é bom saber que seu poderio não se resume às estratégicas áreas da limpeza pública, da pavimentação de vias ou da gerência da frota municipal de caminhões e demais equipamentos herdados da Macrodrenagem. Os tentáculos da firma que é o verdadeiro xodó do prefeito Duciomar Costa (PTB) se estendem a territórios mais amplos e não menos lucrativos. No portfólio da emergente BA consta, por exemplo, o contrato 15/06, que prevê a construção, no lixão do Aurá, de duas novas células de armazenamento de resíduos sólidos. Por razões insondáveis, o tempo passa e nada da obra - se é que alguma coisa efetivamente está sendo feita - mas o contrato segue seu curso, estando neste momento já no sétimo termo aditivo, como comprova a confusa retificação publicada no Diário Oficial do município, de 30 de junho deste ano.
Veja o seguinte trecho: "Considerando que o Sétimo Termo Aditivo ao Contrato 15/06 foi assinado como Sexto Termo Aditivo e publicado como 8o Termo Aditivo, e republicado como Sexto Termo Aditivo, permanecendo a irregularidade (...)". Deu para entender? Não se preocupe. A Prefeitura garante que tudo está dentro da lei e o "vício" pode ser corrigido com a simples republicação do ato. Mais difícil vai ser explicar porque os prazos deste estranho contrato são consumidos com tanta avidez, só comparável à voracidade com que as verbas parecem ser consumidas pelo pagamento sempre pontual de gordas faturas.
Papai Noel existe
Por águas abaixo
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Chore por mim, Argentina
Como se vê, nossos vizinhos do Prata não se deixaram enganar pela odiosa cantilena das viúvas da ditadura, nem de governantes tíbios que não se cansam de requentar os velhos argumentos que estiveram na base dos regimes sustentados pelo terrorismo de Estado, esta praga que vitimou a América Latina durante as décadas em que nossa região cumpria o triste papel de patio trasero dos falcões de Washington.
A voz que não se cala
A África está órfã. Estão órfãos também seus milhões de filhos, espalhados no enorme continente ou submetidos à diáspora pelo mundo afora. Ontem, 10, com o coração fulminado, calou-se, para sempre, a garganta da cantora e militante política sul-africana Miriam Makeba, a "Mama África", com 76 anos de vida e de incessante luta pela afirmação da felicidade humana. Radical, jamais compactuou com os opressores, nem emprestou o seu talento para enfeitar o palanque de ditadores ou de títeres coloniais. Por isso, foi perseguida e ultrajada, em sua própria pátria ensangüentada pelo abominável apartheid e em outras porções do planeta cuja democracia costuma terminar na porta das fábricas ou das cozinhas. Exilada por décadas, somente retornou à sua África do Sul quando Nelson Mandela alcançou, em 1990, a tão buscada liberdade e já era irreversível a revolução pacífica que varreu, para sempre, o monstruoso sistema de discriminação racial naquela porção do continente africano.
Um pouco antes de morrer, Makeba, mesmo com a saúde muito debilitada, em cadeira de rodas e amparada pelas netas, fez questão de participar de um ato público, em Castel Volturno, no sul da Itália, em protesto contra o assassinato de seis imigrantes africanos a mando da Camorra, em setembro passado. As vítimas pereceram nas mãos da máfia, que controla a ferro e fogo uma extensa rede de escravidão contemporânea, entre outros lucrativos negócios criminosos.
A grande voz da África insubmissa se calou, mas, paradoxalmente, será cada vez mais ouvida e apreciada, em todas as latitudes e por pessoas de todas as cores e credos. Seu canto, sua arte, sua mensagem de alegria e de crença na justiça, estarão presentes toda vez que alguém ousar manter vivo o sonho dessa mulher exemplar. Tão bela, tão doce e tão vivamente necessária.
A grande família
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Investigação seletiva
Não se questiona, antes pelo contrário, que deva haver o mais completo empenho na mais rápida apuração desse crime, com a prisão e punição exemplar de todos os envolvidos. O disparate reside na falta de isonomia: não se tem visto nada parecido diante dos inúmeros crimes de morte, fruto de latrocínio ou em decorrência de outras causas, que em todos os finais de semana banham em sangue a região metropolitana de Belém.
Macondo às margens do Guajará
Dignidade que vem dos Andes
Diante do exemplo que parte de um governo assumidamente de direita, pergunta-se quando o Estado brasileiro tomará uma atitude de igual dignidade. O ponto de partida poderia bem ser a luta - judicial inclusive - para o resgate dos seis mantos Tupinambá, peças sagradas deste povo praticamente aniquilado pela guerra de ocupação, todos atualmente ornamentando coleções de museus da Europa. O mais famoso deles, por exemplo, depositado há séculos no Museu da Dinamarca, esteve no Brasil por um curto período durante a grande Mostra do Redescobrimento, organizada com toda pompa e circunstância no ano de 2000.
sexta-feira, 7 de novembro de 2008
Dialética do dia que abalou o mundo
A sessão extraordinária do Soviet de Petrogrado terminara naquele momento. Fiz Camenev parar. Pequeno, movimentos vivos, quase sem pescoço, Camenev traduziu-me rapidamente para o francês a resolução que acabara de ser aprovada:
" O Soviet dos Deputados Operários e Soldados de Petrogrado saúda a Revolução vitoriosa do proletariado da guarnição de Petrogrado. Ao mesmo tempo, deseja salientar, em particular, a união, a organização, a disciplina e a cooperação admiráveis das massas, durante a sublevação. Poucas revoluções venceram com tão pouco derramamento de sangue, venceram tão rapidamente e de maneira tão completa.
" O Soviet declara que está firmemente convencido de que o Governo Soviético Operário e Camponês, que vai ser criado pela Revolução e que assegura a aliança entre o proletariado das cidades e as massas camponesas pobres, entrará no caminho que conduz ao socialismo, uma vez que o socialismo é a única maneira de eliminar para sempre a crise, a miséria e os terríveis horrores da guerra (...)."
John Reed (1876-1920). Dez dias que abalaram o mundo (p. 128-129)
Olha o regatão aí
Em São Paulo, centro propulsor da economia nacional, já são mil os empregados da construção civil (entre operários, engenheiros e outros profissionais) que perdem o emprego diariamente, invertendo de forma perversa a curva do emprego em um dos mais dinâmicos vetores de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Contra todas as evidências de uma crise social que se desenha dramática, o governo só tem olhos e ações para socorrer, às custas do contribuinte, os cofres de bancos e de diversos setores econômicos, das multinacionais automobilísticas aos insaciáveis barões do agronegócio. Que falta faz, nesta ante-sala de um novo período de retração econômica, a combatividade de um sindicalismo classista, como aquele das grandes greves do ABC, soterrado na poeira de um quarto de século.
Spy Vs. Spy
Entrementes, distante dos holofotes e das sirenes que cortam as madrugadas, Daniel Dantas vai amealhando vitórias expressivas em seu manifesto propósito de demolir, uma a uma, as provas recolhidas contra ele. No final, acreditem, não sobrará nada. Aliás, restará apenas o gosto acre de que no Brasil o dinheiro - muito dinheiro, por certo - continua sendo o mais eficaz argumento de defesa.
quinta-feira, 6 de novembro de 2008
Trópico do pecado
Los hermanos
Rede de intrigas
quarta-feira, 5 de novembro de 2008
Terapia do riso
- Por que nunca houve um golpe de Estado nos Estados Unidos?
- A razão é simples. É porque lá na terra do Tio Sam não há ... (silêncio) uma embaixada dos Estados Unidos!
Bem-vindos a 2122
Amigos para sempre
Nem a iminente prisão de Paulo Castelo, condenado a cinco anos de prisão em regime fechado pelo crime de extorsão, será suficiente para abalar sua amizade com o prefeito Duciomar Costa (PTB). Unidos há anos, nem a desgraça que se abaterá sobre seu mais fiel colaborador deverá colocar em risco laços de apoio recíproco e de sólida cumplicidade que vem dos tempos em que Duciomar era deputado estadual e Castelo ainda se metia em perigosas estripulias no comando do Ibama no Pará, naquele não tão distante maio de 2000.
terça-feira, 4 de novembro de 2008
Do jeito que o diabo gosta
Desde 2002, o Conselho Nacional de Meio Ambiente (Conama) determinou através da resolução 315, que o teor de enxofre fosse reduzido dos atuais 500 ppm para 50 ppm, a partir de 1o de janeiro de 2009. Ocorre que a Petrobrás, em acordo com as montadoras de veículos e distribuidoras de combustíveis, propõe esticar ainda mais este cronograma, alegando dificuldades técnicas para cumprir uma determinação para a qual já havia sido concedido um prazo de 6 anos.
Assim, o Brasil continuará no topo do ranking do diesel mais sujo do mundo, na vergonhosa companhia de países como Argélia, Namíbia, Botsuana e Líbia.
Prisão perpétua?
Ainda assim tem banqueiro reclamando da vida e clamando pela inevitável ajuda do tesouro, que virá com a presteza de sempre.
Tão perto, tão longe
segunda-feira, 3 de novembro de 2008
Papel passado
A ação violenta, ao estilo dos sindicatos do crime tão ativos na região, quebrou um acordo que estava firmado entre o juiz federal e o Incra de Marabá, que já havia manifestado interesse em arrematar as propriedades em leilão. O MST, porém, promete apoiar a reocupação da área para denunciar o que considera a falência da política de Reforma Agrária do governo federal.
Sem açúcar e sem afeto
Em meio a discursos que ainda simulam tranquilidade, revela-se toda a extensão da extrema fragilidade de uma economia sustentada na volátil bolha de investimentos especulativos e subordinada aos humores do mercado mundial de matérias-primas.
Que ninguém se engane: a crise veio para ficar e sua extensão e profundidade serão determinadas pelos centros de decisão do outro lado do oceano.
Do pó ao pó
domingo, 2 de novembro de 2008
Dialética da guerra amazônica (vista pelos de cima)
...Expede o Governador (e Capitão General do Estado do Maranhão e Gran-Pará João da Maia da Gama) a Belchior Mendes de Moraes para socorrer as povoações indianas do Rio Negro, e devassar do Princial dos Manáos denominado Ajuricada, e dos seus irmãos Dejari e Bebari, que estão comprimindo ações guerreiras a parte superior do dito rio de tal maneira que se vê o Governador na precisão de dar conta a El-Rei (...)
(1727)
...Envia o Governador em Junho uma força armada sob as ordens do Capitão João Paes do Amaral para o Rio Negro encorporar-se a Belchior Mendes de Moraes, e alli segundo a determinação do Gabinete de Lisboa profligar os Manáos, que conduzidos pelo seu Principal Ajuricaba em grandes Esquadrilhas de canoas com bandeira dos Estados de Hollanda estavam praticando estragos com suas frequentes incursões nas aldeias, e aprisionando os habitantes dellas, e alienando-os como escravos aos Hollandezes."
Antonio Ladislau Monteiro Baena (Lisboa, 1782 - Belém, 1850), militar e cronista, autor do essencial Compêndio das Eras da Província do Pará (Universidade Federal do Pará, 1969, pp.146-147).