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domingo, 31 de maio de 2009
Poucas velas. Muito choro
A caça aos culpados já começou e com forte estrépito. As causas do infortúnio, sabe-se muito bem, estão fincadas em décadas de abandono e de incúria.
Uns e outros, com as armas de que dispõem, erguem barricadas de defesa e ensaiam manobras ofensivas. Todo mundo de olho em 2010. É a politização oportunista de um revés que, sim, poderia ter sido evitado.
Faltou ação, criatividade, protagonismo, de um lado. De outro, como de costume, pontificou a verborragia rasteira que ressalta, aos gritos e com redobrada histeria, as mazelas sociais de cuja responsabilidade nenhum dos grupos da elite paroara pode se eximir.
Na mesma proporção, sobrou um misto de arrogância com a crença excessiva num suposto prestígio junto ao Planalto, que ao final se demonstrou mera ilusão de ótica.
Verter lágrimas sobre o leite derramado não terá qualquer serventia. Como todo choque coletivo poderá, ao menos, contribuir para revelar o verdadeiro caráter - ou a falta dele - nos muitos cartolas de meia-pataca que ocuparão o picadeiro nos próximos dias.
sábado, 30 de maio de 2009
Diálética dos tempos da esperança órfã
vou de branco pela rua cinzenta.
Melancolias, mercadorias espreitam-me.
Devo seguir até o enjôo?
Posso, sem armas, revoltar-me?
Olhos sujos no relógio da torre:
Não, o tempo não chegou de completa justiça.
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e espera.
O tempo pobre, o poeta pobre
fundem-se no mesmo impasse.
Em vão me tento explicar,
os muros são surdos.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos.
O sol consola os doentes e não os renova.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase.
(...)"
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987). "A flor e a náusea" (A Rosa do Povo, 1945)
sexta-feira, 29 de maio de 2009
Muito barulho por (quase) nada
Muito mais perigoso, para a Ásia e para o mundo inteiro, é o gigantesco complexo militar nuclear do Paquistão, aliado incondicional dos Estados Unidos, sob controle de uma ditadura acossada pela guerrilha de seus ex-aliados do Taliban.
Enquanto a grande mídia se farta de desenhar o armagedon na península da Coreia, desce a cortina de silêncio sobre o seleto clube de proprietários da bomba atômica, muito mais perigosos e imprevisíveis. Ou as ex-repúblicas da Uniâo Soviética, atoladas até o pescoço na corrupção e na teia de crime de suas máfias, não são um risco maior ainda? Isso para não falar de Israel e seus dirigentes da extrema direita, para quem promover um pogrom atômico nunca esteve totalmente fora de cogitação.
Não colou
A regra que consagrava a impunidade iria beneficiar os artesãos do escândao do Proer, em 1995, mas também ergueria um escudo à equipe de Henrique Meireles empenhada em salvar, com bilhões das reservas do Tesouro, bancos e empresas metidas em enrascadas devido à crise global.
A medida polêmica foi sorrateiramente enfiada na medida provisória 449 que tratava de conceder vantagens tributárias a pequenos devedores do fisco federal. Com apoio da mão amiga do PMDB, a proposta havia também sido desnaturada através da inclusão de benefícios indevidos para beneficiar grandes devedores. Tudo parecia que está dominado até que mais um veto presidencial suspendeu essa parte da festança com dinheiro público.
O governo acha que já concedeu vantagens suficientes ao capital, o que, de resto, está mais que evidente. O excesso de benevolência estava pegando mal, além de sangrar ainda mais a arrecadação nestes tempos bicudos.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Batata fervente
Desde ontem, porém, os autos estão conclusos nas mãos do desembargador Raimundo Holanda Reis, de cuja decisão dependerá a sorte imediata do mais ilustre interno do sistema penal paraense.
Atualização das 14h39:
Não deu zebra. Veja aqui como é mesmo quase impossível rico ser hospedado nas dependências da Susipe.
Colhendo tempestade
quarta-feira, 27 de maio de 2009
Yes, nós temos escravos
Acertou quem respondeu que todos esses ilustres homens de governo e de negócios dividem as quotas da mais famosa multinacional criada para surfar na onda do etanol brasileiro, a Brenco (Brazil Renewable Energy Company, Companhia Brasileira de Energia Renovável, em Português). Mas não disse tudo: eles também são acusados de reproduzir em nosso país as piores práticas laborais, com a utilização de mão-de-obra reduzida à degradante condição de escravos contemporâneos. Utilizam-se, inclusive, de outro ilustre homem de negócios, João Pereira da Silva, vulgo "João Paracatu". Saiba um pouco mais da folha corrida deste delinquente no site Repórter Brasil.
O grande golpe
O perigo mora ao lado
terça-feira, 26 de maio de 2009
Street Fighter
O Repórter Diário de hoje, principal coluna do jornal Diário do Pará, acerta no fundamental, mas derrapa no acessório ai relatar, em primeira mão, a troca de sopapos entre o chefe da Casa Civil, Cláudio Puty, e o secretário de Transportes, Valdir Ganzer. O bafafá ocorreu mesmo, mas não foi ontem à noite, no Palácio dos Despachos, e nem na presença da governadora Ana Júlia.
A cena de vale-tudo ocorreu, segundo uma acreditada fonte com amplo trânsito no PT, há poucos dias numa reunião da executiva estadual com secretários de governo. E as causas do entrevero podem ser explicadas, não necessariamente nesta ordem: 1) a desconfiança de que o governo vai puxar o tapete da candidatura de Paulo Rocha ao Senado em 2010, em função das evidentes sinalizações de que Duciomar Costa, prefeito da capital e eventual postulante de uma vaga no Senado, goza de acessos muito mais largos e profundos que os palacianos ousam admitir; 2) a ultra-centralização da DS na condução dos assuntos de governo, isolando e subestimando as demais correntes internas do PT; 3) a tentativa de colocar o cargo de Ganzer, titular da Setran, na cesta de espaços a serem ofertados na repactuação com os partidos da tal base aliada; e 4) a intempestiva candidatura de Puty à Câmara Federal, fonte permanente de tensões e de disputas intestinas.
Apesar disso tudo, os cardeais do PT apostam na possibilidade de colocar panos quentes e seguir adiante. Não se sabe, entretanto, até quando as margens vão segurar a força das águas do rio de raivas no qual o partido se transformou.
Pode ser a gota d'água?
Os dois quase ex-aliados, cada dia mais beligerantes, chegam a milímetros do rompimento, e estacam. Tudo indica que ninguém quer pagar o preço de tomar a atitude definitiva, arrumar as trouxa e sair batendo a porta.
Enquanto isso, permanece o suspense.
Ipiranga com São João
Na matéria exclusiva de Janio de Freitas, na edição de hoje da Folha, um detalhe não deve passar despercebido: agentes do FBI e da agência antiterrorismo dos Estados Unidos estariam agindo em território brasileiro, supostamente em cooperação com a PF. Como se sabe, essa turma de espiões não tem entre suas qualidades o respeito à soberania dos países onde atuam. E o Brasil não chega a ser exemplo de país que se dá respeito.
Bala de ouro
Um dos jovens, de 20 e poucos anos, foi obrigado a se ajoelhar. Humilhado e sangrando recebeu o tiro de misericórdia. A cabeça explodiu com o impacto do projétil. Sangue, muito sangue, empapando o asfalto.
O segundo jovem é salvo por inusitado acaso. Estudara com um dos agressores. Foi sua salvação.
Esta cena não é ficção. Retrata mais uma execução das tantas que se repetem todas as semanas. Marginais que se auto-proclamam "justiceiros" saem enlouquecidos agarrando os primeiros que encontram, para então iniciar a sessão de barbárie. Lichamentos como esse estão virando rotina na mesma medida em que a voragem da violência atinge níveis de completo descontrole.
O que está faltando para que a polícia passe a prender em flagrante os agressores, fazendo com que paguem pelo crime de homicídio qualificado?
segunda-feira, 25 de maio de 2009
As aparências enganam
Tucanos e demos juram pela fé da mucura que não defendem a privatização da Petrobras. Ao contrário, querem a sua completa "estatização", livrando-a dos grupos privados que "aparelharam" sua gestão. Esses "grupos", dizem, indicados por petistas e aliados, estariam praticando a maior rapinagem com dinheiro público. Mas não foi justamente sob o reinado de FHC, em 1998, que foi dado o golpe de misericórdia na Petrobrás, com a aprovação da lei n° 9.478, que quebrou o monopólio estatal do petróleo, abrindo, na prática, vastas áreas do setor para a ganância multinacional?
Petistas de todos os quilates, de dentro e de fora do governo, já vestem, sem o menor pudor, a fantasia conveniente da luta contra a privatização da Petrobras. Ensaiam discursos raivosos, nas tribunas do Senado e da Câmara, mas também agitam bandeiras nas ruas. Os tucanos e demos, afinal, são aqueles que tramaram até mudar o nome da empresa, nos anos 90, para Petrobrax, e agora investem contra o "colosso" da área pública de nossa economia emergente. Mas não foi o governo Lula, numa mistura de pulsilanimidade e cinismo, que não só manteve como ampliou a medida que, adotada ainda pelo PSDB, siginificou na prática a "desestatização" da Petrobras? Isso mesmo: desde que as ações da empresa foram negociadas na bolsa de Nova York que o controle acionário já está nas mãos dos capitalistas privados, principalmente estrangeiros. Os "sócios" privados da Petrobras dominam 68% do total de ações, contra 32% sob controle do Estado brasileiro. Claro, alguém vai lembrar que esses números se referem às ações preferenciais, sem direito a voto. Tanto faz, mesmo se levarmos em conta as ações ordinárias, a participação privada alcança expressivos 44%, cuja maior parte, como era de se esperar, está engordando os ativos de grandes especuladores estrangeiros.
A CUT, a UNE e outros movimentos sociais ensaiam manifestações contra a CPI do Senado. Algumas organizações, como o MST, justificam que marcham em defesa do petróleo que precisa voltar a ser nosso. Objetivamente, esses movimentos se deixam utilizar, com maior ou menor grau de consciência, por uma estratégia diversionista do Planalto. Mas não foi Lula, Dilma e seus ministros que impuseram a vários desses movimentos sociais uma derrota extraordinária ao manter e realizar a toque de caixa os leilões dos lotes para exploração por empresas estrangeiras das reservas do Pré-Sal, um crime inominável contra a soberania nacional?
Diante dos indícios de falcatruas na Petrobras, nada a opor que uma CPI realize uma investigação independente. A questão é que talvez - numa hipótese otimista - o barulho da apuração no Senado resulte na descoberta de alguns punguistas de quinta categoria, se tanto. Enquanto isso, de forma tão impune quanto escandalosa, vai se continuar a praticar os maiores crimes de lesa-pátria de que se tem notícia contra a mais importante empresa brasileira, com a anuência velada de tucanos e petistas, irmãos siameses dessa inglória e imoral operação desmonte.
domingo, 24 de maio de 2009
Soletrando
sábado, 23 de maio de 2009
Dialética da mentira a serviço da guerra
T. E. Lawrence, sir Lawrence de Arabia, escrevendo no Sunday Times de 22 de agosto de 1920 sobre a guerra do Iraque. Logicamente, ele fala de outra ocupação, tão sangrenta e estúpida quanto a que transcorre atualmente. Os soldados que matam (e que morrem) pelos interesses escusos por trás da bandeira da Coroa (e dos demais donos do mundo) são bastante parecidos com seus antepassados de quase um século atrás. O controle e instrumentalização da mídia, porém, consegue ainda ser mais brutal nestes tempos de censura high tec.
A citação acima faz parte do indignado artido do jornalista britânico Robert Fisk, publicadom originalmente no The Independent e traduzido para o espanhol no site Rebelión.
sexta-feira, 22 de maio de 2009
Praga bíblica
A Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) acaba de aprovar mais uma variedade transgênica - o algodão Bolgard II, que seria resistente a uma série de insetos e pragas. Porta-vozes do agronegócio brindam mais esta vitória da multinacional estadunidense, sem se importar com a fatal cobrança da fatura, que se abaterá sobre os produtores, escravizando-os com a cobrança de pesados royalties. Isso, é claro, além dos imprevisíveis impactos socioambientais, que já seriam suficientes para uma atuação muito mais cautelosa por parte do organismo governamental.
Quanto maior, maior o tombo
Levar vantagem em tudo, mesmo quando o cenário se apresenta cinzento, parece ser mesmo o lema levado às últimas consequências pela segunda maior mineradora do mundo.
quinta-feira, 21 de maio de 2009
Crime sem castigo
Não é sem motivo, portanto, a ação movida pelo Ministério Público de São Paulo contra a Petrobras e 13 montadoras de veículos. Afinal, não existe crime sem autor.
Cavaleiros do Apocalipse
São velhos conhecidos do noticiário político-policial. Sandro Mabel, por exemplo, é um sobrevivente do escândalo do mensalão. Tem nome engraçado, algo juvenil, mas não está para brincadeiras. É dele uma das mais perigosas propostas que circulam, de mão em mão, em torno da elegante távola em torno da qual as grandes legendas tramam sequestrar, sem dó nem piedade, qualquer possibilidade de alternância de governo no país.
Mas o que pretende o deputado goiano? Simples: que sejam prorrogados todos os mandatos executivos e legislativos por dois anos. Assim haveria a coincidência geral entre as eleições, em 2012. Ele defende a prorrogação como algo absolutamente patriótico: o país economizaria bilhões de reais e, de quebra, não teríamos turbulências em tempos cinzentos de crise.
Se alguém acha que isso é maluquice, pode tirar o cavalo - ou o dragão - da chuva. É sério e, se não houver a reação devida, pode crescer e ultrapassar o atual estágio de um mero balão de ensaio.
É que junto a Mabel existem outros cavaleiros, talvez mais perigosos ainda, levantando o suspeito estandarte da terceira reeleição consecutiva. Entre alguns menos famosos eis que desponta, ressuscitado , o deputado cassado Roberto Jefferson, não por coincidência o criador do mesmo mensalão. É dele a mais enfática defesa do terceiro mandato para Lula. Mas que ninguém se iluda: tem gente muito mais importante por trás da manobra.
Como se sabe, esse golpe não é apenas música aos ouvidos de Lula, mas de toda uma geração de políticos - de prefeitos e governadores - que receberiam de presente o pó mágico para a tão sonhada perenização no poder.
quarta-feira, 20 de maio de 2009
Tragédia silenciosa
Por vergonhosa ironia, esta área faz parte da Reserva Biológica do Vale do Guaporé, em Rondônia, e é habitada por dezenas de comunidades ribeirinhas, indígenas e quilombolas. São justamente as famílias dos remanescentes dos quilombos as principais vítimas dessa vergonhosa epidemia, cuja existência vinha sendo sistematicamente negada pelo governador do Estado, Ivo Cassol, representante do que existe de mais retrógrado na política brasileira.
Na raiz dessa situação estúpida está a existência, há muitos anos, de prostíbulos instalados nos barrancos amazônicos, como pontos de apoio às turbas de devastadores de todos os quilates que usam e abusam de uma população escrava da miséria e da impotência.
Divinas tetas
E, a este propósito, o Estado com suas apetitosas tetas do BNDES já está pronto para amamentar, com incontáveis milhões, o mais novo rebento do capitalismo sem riscos.
Na companhia do medo
Pois bem, Regina Duarte continua com medo, muito medo. E não é mais (nem principalmente de Lula e do PT). Agora, ela morre de medo dos índios, dos quilombolas, dos ribeirinhos. Isso mesmo. A fazendeira-atriz, criadora de gado da raça Brahman, no ultra-conservador interior paulista, teme o avanço da luta pela demarcação de terras indígenas (e de outros povos da floresta), nova fonte de preocupação para os potentados de sempre.
O jornalista Leonardo Sakamoto revela onde e quando o pavor voltou a atormentar a ex-namoradinha do Brasil.
terça-feira, 19 de maio de 2009
Via Crucis
O professor Fábio Castro, neófito em política partidária e em gestão pública, subiu aos céus do governo petista por indicação direta de Cláudio Puty, chefe de gabinete e figura-chave no comando político do governo Ana Júlia. Sua eventual derrocada, se confirmada, receberá necessariamente o sinete de seu antigo patrono.
Pra trás, Brasil, pra trás
Quem fala o que quer, como ensina o ditado, acaba ouvindo o que não quer.
Uma luz que não se apaga
Como na música de Leo Masliah (Biromes Y Servilletas, imortalizada na voz de Milton Nascimento), Benedetti passou pela vida como um cometa, em denso céu de metal fundido, porém espalhando luz e aquecendo o espírito dos que não se vergam à barbárie e à feiúra impostas pelo Deus-Mercado.
Não cabe derramar uma única lágrima por sua morte. Mário Benedetti não merece homenagens pontilhadas pela tristeza, nem epitáfios recheados de palavras tão empoladas quanto cínicas. Quem dedicou toda sua existência à beleza da vida humana - a vida em plenitude que ainda haverá de ser conquistada - merece uma homenagem singela, uma simples leitura - em voz baixa ou a plenos pulmões - de um de seus muitos poemas, estes sim, imortais, e para sempre preservados como uma das mais ricas expressões da cultura latino-americana.
segunda-feira, 18 de maio de 2009
Um vale de lágrimas
Adivinhe quem vem para o jantar?
Para uma análise crítica da MP aprovada na Câmara, basta clicar aqui.
domingo, 17 de maio de 2009
Planejamento Estratégico
O martírio das crianças afegãs não deve passar como um "dano colateral", um acidente de percurso na cruzada "civilizatória" que a administração Obama insiste em manter e ampliar naquela ensanguentada porção da Ásia. As mais de 140 mortes em um único ataque - supostamente destinado a eliminar guerrilheiros do Taleban - representam a face mais cruel de um plano milimetricamente estudado. Afinal, espalhar o terror entre a população civil - secar a água onde os peixes nadam - vem marcando a estratégia estadunidense desde quando as matas do Vietnam eram inceneradas por milhares de toneladas de napalm.
O Departamento de Estado não confirma os números do massacre e até ironiza a relação das vítimas. Qualquer um pode compor uma lista dessas, dizem. Mas agora é oficial. O próprio governo títere instalado e mantido pelos EUA em Cabul acaba de admitir a terrível contabilidade: 140 mortos, sendo 93 crianças, 25 mulheres adultas e apenas 22 homens maiores de 18 anos.
A cada dia a face jovial de Obama vai se tornando mais parecida com a carranca de seu antecessor. A ilusão de mudança, por sua parte, vai se esvaindo na mesma proporção.
sábado, 16 de maio de 2009
Carrascos de aluguel
Por isso, não chegou a ser surpresa a ordem judicial de soltura, emitida na tarde de ontem, 15, para boa parte dos detentos.
Menos estranho, porém, foi a permanência no cárcere de quatro dos ativistas, justamente aqueles apontados como líderes do movimento de resistência às trapalhadas da Eletronorte na região. Afinal, desde o começo, estava muito claro que a governadona Ana Júlia (PT) agiu para preservar os interesses do governo federal, assim poupado de uma ação truculenta e de péssima repercussão entre os círculos defensores das mínimas garantias constitucionais.
No cálculo de perdas e danos, o consórcio PT-PMDB no Pará resolveu pagar para ver. Aguarde-se, para o momento seguinte, a cobrança da fatura.
sexta-feira, 15 de maio de 2009
Uma no cravo. Várias na ferradura
A abertura dos arquivos das ditaduras - desta última, de 1964, e de todas as outras -, parece ser uma novela sem fim. Pelo menos, sem um final feliz.
Nesta semana, após seis anos e meio, o governo Lula tomou uma iniciativa positiva, mas muito limitada. Enviou ao Congresso um projeto de lei de direito de acesso a informações públicas, através do qual ameniza, mas não extirpa vários dispositivos constantes de decretos presidenciais - de FHC e do próprio Lula - que vergonhosamente consagraram o sigilo eterno de parte dessa documentação.
Ao mesmo tempo, em uma iniciativa meritória, o governo disponibilizou na rede um sítio denominado de Memórias Reveladas, com um rico - e ainda muito incompleta acervo relativo aos anos de chumbo. Incompleto, sobretudo, porque abrange somente algo como 15% dos documentos existentes. Ou seja, mais de dois terços da documentação produzida nos porões da ditadura militar continuam sumidos, sob a guarda criminosa de viúvas do antigo regime ou espalhados em dezenas de repartições para que o tempo, sempre implacável, sele o fim de cada um deles.
A guerrilha do Araguaia, por exemplo, tornou-se um caso emblemático. Desde 2003 uma sentença da juíza federal Solange Salgado estabeleceu o prazo de 120 dias para que toda a papelada relativa ao cerco e aniquilamento dos guerrilheiros - e camponeses da região - fossem tornados públicos. Mais de dois mil dias já se passaram e nada, absolutamente nada foi feito. Os militares alegam que a documentação teria sido destruída, o que é além de inverossímil, completamente improvável. Na verdade, as forças armadas, através de seus comandantes, debocharam da decisão judicial, sob o olhar pusilânime do presidente Lula e de todos os seus ministros.
Na semana passada, diante de um escândalo tão flagrante - e talvez apenas para ganhar tempo - o ministro da Defesa, Nelson Jobim, determinou que mais uma comissão fosse constituída para, entre outras tarefas, realizar a busca pelos corpos de mais de 70 brasileiros chacinados durante a repressão nas matas do Araguaia entre 1972 e 1974. Quem acredita que dessa vez a "ordem ministerial" será cumprida?
Dialética da memória a ser resgatada
Antígona, personagem de Sófocles, mestre da tragédia grega.
Epígrafe do livro "Direito à verdade e à memória: Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos" (Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos - - Brasília : Secretaria Especial dos Direitos Humanos, 2007), disponível para download aqui.
Noves fora zero
quinta-feira, 14 de maio de 2009
Novas guerras de um eterno lutador
Por aqui, o foguetório é intenso para comemorar os recordes seguidos gerados pelo saque neocolonial liderado pela Vale, em obediência aos ditames emanados, na maior parte das vezes, pelo insaciável mercado chinês.
Dizer não, muitas vezes, significa manter aberta a porta para o futuro de dignidade para a grande maioria. Mas, para tanto, é imprescindível ter coragem. E coragem não é um atributo que se encontre em abundância nos dias de hoje na política brasileira.
A primeira vez a gente nunca esquece
Em tempo: atualização às 17h00
Ainda não foi dessa vez. A CPI da Saúde parece que foi abortada por mais um golpe de mão. São definitivamente insondáveis os (des)caminhos nos quais se entrelaçam os beligerantes interesses em confronto na arena da política de Belém.
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Gatos pardos
Não terá sido mera coincidência, então, que tenha partido de lideranças do PMDB na Câmara dos Deputados, partido que trata a Eletrobrás como uma espécie de Capitania Hereditária, a introdução de uma emenda nada inocente que permitirá que a empresa holding do sistema elétrico brasileiro possa realizar compras e obras - muitas das quais bilionárias - contornando as exigências da lei 8.666, a exemplo do que faz a Petrobras desde o governo FHC.
O custo da escravidão
Túnel do tempo
Sepultado em cova rasa, no cemitério de Xambioá, os restos de Farias só foram localizados quase 25 anos depois. Desde 1996 aguarda a identificação definitiva. Agora, um parecer do perito gaúcho Domingos Tocchetto, professor de criminalística da Escola Superior de Magistratura, pode trazer a verdade à tona.
Muitas pedras no caminho
terça-feira, 12 de maio de 2009
A fera da guerra
Cuidado: cassandras midiáticas em ação
Dia sim, dia não, são as mesmas versões estapafúrdias: os sem-terra estão matando e roubando centenas de cabeças de gado; os sem-terra estão roubando e sequestrando (sic) tratores da fazenda; os sem-terra, apresentados como uma espécie simbiótica das Farc e Al Qaeda, são mesmo malvados e não hesitam em atormentar a vida dos inocentes seguranças armados - até os dentes - a soldo dos supostos proprietários das áreas ocupadas.
De tanto prever, de tanto insuflar, a mídia vai acabar colhendo o que tanto almeja: uma boa e bem fornida colheita de corpos.
É por debaixo dos panos
segunda-feira, 11 de maio de 2009
Mapa do tesouro
Um detalhe, porém, vai deixar muita gente graúda de orelha em pé: esta Conservo é velha conhecida da PF e do Minsitério Público Federal. Há três anos ela foi investigada na chamada Operação Mão-de-Obra, que denunciou o esquema criminoso envolvendo as terceirizadas Conservo e Ipanema e seus contratos milionários no Senado. No topo do esquema, apontado como chefe da quadrilha, Agaciel Maia, na época todo-poderoso diretor geral da Casa.
À sombra do vulcão
A matéria do portal Globo Amazônia serve de alerta para o que espera o Brasil se a gula do desenvolvimento a qualquer custo, que tem no PAC sua maior expressão, não for submetida a processos eficazes de controle social.
domingo, 10 de maio de 2009
Tiro ao alvo
O governo do Pará, que não desiste da atitude algo esquizofrênica de se proclamar defensor de direitos humanos e, na prática, lançar mão dos mesmos métodos policialescos de sempre, deve estar esperando o próximo massacre para se mexer.
Charles Trocate, dirigente do MST e um dos principais coordenadores do movimento no conflagrado sul e sudeste paraense, recentemente foi indiciado pela polícia de Ana Júlia (PT) como incitador de invasão de terras. Diga-se, terra griladas, roubadas do patrimônio estadual, como o próprio governo admite. Pois bem, Trocate continua ameaçado de prisão, mas não se intimida. Saiba aqui suas razões para continuar resistindo.
sábado, 9 de maio de 2009
Chamas da vingança
Segurança zero
Em tempo: os dois assaltantes, engravatados e de boa aparência, conseguiram escapar impunemente carregando R$ 8 mil. As câmeras de segurança, que poderiam servir para identificá-los, estavam em manutenção. Por mera coincidência, é claro.
sexta-feira, 8 de maio de 2009
Sem defesa
Enquanto isso, a Alemanha acaba de banir a mesma variedade de milho transgênico que tem trânsito livre no país desde 2008, o MON810, da Monsanto. A decisão não é inédita, apenas segue as pegadas já trilhadas pela França, Grécia, Luxemburgo, Áustria e Hungria.
Quem põe o dedo na ferida é o jornalista Washington Novaes. Vale a pena ler aqui.
Um mercador com surdez seletiva
Álbum de família
quinta-feira, 7 de maio de 2009
Serial Killer
A ressalva, entretanto, não conserta de forma alguma o raciocínio torto. Em nenhuma hipótese, o Estado brasileiro pode se eximir de suas responsabilidades. O "bom número" do dirigente do governo Lula deveria ser razão suficiente para a queda - de fio a pavio - de todos os dirigentes da Funasa, não por acaso tida e havida como um dos polos mais dinâmicos no processo de apropriação de recursos públicos por quadrilhas altamente especializadas.
O relatório anual do Cimi, um vigoroso testemunho sobre as atrocidades cometidas contra os povos indígenas no Brasil, deveria ser leitura obrigatória. Para amplificar a indignação e fomentar a resistência, estes dois ingredientes indispensáveis para traçar a linha divisória entre a civilização e a barbárie.
Transfusão de sangue
A porta de saída
quarta-feira, 6 de maio de 2009
A cultura do pau de arara
Uma nuvem de palavras. Uma oração poética
Pelo mundo todo, a partir da feliz provocação de Pilar, esposa de José Saramago, foi tecida uma gigantesca corrente virtual em favor de seu mais pronto restabelecimento.
Para Saramago, a tarefa dos milhões de amigos e admiradores de Benedetti, neste momento tão crítico, é arrancar "os seus poemas à imobilidade da página" e fazer "com eles uma nuvem de palavras, de sons, de música, que atravesse o mar atlântico (as palavras, os sons, a música de Benedetti)".
Desafio lançado, desafio aceito. Está no ar a Cadena de poesía por Benedetti, a qual o Página Crítica também se associa e lança, ao vento, um punhado de versos de amor e de crença na imorredoura permanência da capacidade humana de amar:
Te quiero
Tus manos son mi caricia
mis acordes cotidianos
te quiero porque tus manos
trabajan por la justicia
si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo
y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos
tus ojos son mi conjuro
contra la mala jornada
te quiero por tu mirada
que mira y siembra futuro
tu boca que es tuya y mía
tu boca no se equivoca
te quiero porque tu boca
sabe gritar rebeldía
si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice y todo
y en la calle codo a codo
somos mucho más que dos
y por tu rostro sincero
y tu paso vagabundo
y tu llanto por el pueblo
porque sos pueblo te quiero
y porque amor no es aureola
ni cándida moraleja
y porque somos pareja
que sabe que no está sola
te quiero en mi paraíso
es decir que en mi país
la gente viva feliz
aunque no tenga permiso
si te quiero es porque sos
mi amor mi cómplice
y todoy en la calle codo a codo
somos mucho más que dos.
Canciones de amor y desamor, p.330 (Inventario I, Poesia Completa, 1950-1985)
terça-feira, 5 de maio de 2009
Com as mãos sujas de sangue
Brutalidade em 3D
Rasgando a fantasia
Desvelar a linguagem dos dominantes pode ser o primeiro passo para por abaixo o império da desigualdade. Vale a pena ler e refletir.
segunda-feira, 4 de maio de 2009
A longa marcha
Encoberta por um véu de silêncio e cumplicidade, a outra dívida - verso de uma mesma moeda - permanece desconhecida. Quanto é que o país precisa para liquidar, de uma vez por todas, o histórico déficit social, base sobre a qual se ergue a nossa tragédia de cada dia?
O economista Márcio Pochmann, professor da Unicamp e atual presidente do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), tem a resposta. São necessários R$ 7,3 trilhões (em números de 2004) para satisfazer integralmente a demanda nacional por educação, saúde, habitação, cultura, informática, combate à pobreza, previdência e reforma agrária.
Uma montanha de dinheiro - um pouco mais que o dobro do PIB de 2008. A questão não está na grandeza dos recursos necessários, mas na direção que se escolheu para enfrentar a crise. Sem uma alteração substancial no rumo que o país está trilhando - cada vez mais integrado e dependente das decisões emanadas pelo centro do capitalismo mundial - essa dívida social será adiada para um futuro incerto que funciona como miragem. Quanto mais se imagina estar próximo de alcançá-lo, mais inatingível ele se torna.
Que a esperança, matéria-prima que move os homens pobres e “pendurados no tempo”, não falte ao longo dessa dramática e decisiva travessia. Ela, a esperança, não é apenas a última que morre; é dela que se arranca a força para seguir adiante.
Tempo quente
Acossado por todos os lados, ele não poderá simplesmente desconhecer o movimento, cuja força está sustentada na revolta crescente e generalizada do funcionalismo da saúde e da educação, principalmente.
Resta saber se o labioso prefeito será capaz de driblar os grevistas com a mesma ginga com que tem fitado as reiteradas decisões judiciais de primeira instância contra o descalabro administrativo instaurado em Belém.
No ventre da besta
A estarrecedora história pode ser melhor conhecida aqui.
domingo, 3 de maio de 2009
Dialética da eternidade em uma folha de papel
Ana Miranda. Noturnos (1999, p.58, Companhia das Letras)
sábado, 2 de maio de 2009
Terra arrasada
Em algum tempo aquela área será utilizada para a construção de um condomínio residencial para famílias judias, consolidando a limpeza étnica e a supremacia político-territorial que interessa ao Estado de Israel, que faz pouco caso da persistente condenação internacional que se mantém ao longo de mais de quatro décadas.
A ONU, por exemplo, acaba de emitir mais um comunicado condenando as demolições. Palavras ao vento, sem eficácia alguma, servem apenas para reafirmar o quanto o mundo se limita ao triste papel de cúmplice de um lento e cruel genocídio.
sexta-feira, 1 de maio de 2009
Com as mãos sujas
Por trás do lance de marketing do presidente Lula, que por razões técnicas e de segurança foi impedido de pessoalmente lambuzar as mãos com o "ouro negro" e, quem sabe, marcar o macacão de sua principal auxiliar, a czarina Dilma Rousseff, esconde-se uma história de entreguismo e de lesa-pátria.
Ao manter os leilões dos blocos para exploração petrolífera, inclusive para as novas áreas do pré-sal, o governo brasileiro abriu a possibilidade para que o capital estrangeiro viesse fincar suas garras nessa que poderá ser a maior descoberta energética deste início de século. Ora, somente Tupi e Iara, os dois poços vizinhos explorados pela Petrobrás, concentram potencial que pode chegar a 9 bilhões de barris, na hipótese mais otimista, quando todas as reservas brasileiras até então descobertas não ultrapassam os 14 bilhões de barris.
Muito bem, próximo dali, no bloco BM-S22, a gigante norte-americana Exxon Mobil, a maior petroleira privada do mundo, anunciou recentemente que achou petróleo a uma profundidade de 2.223 metros da superfície marítima. Neste empreendimento, a Exxon é sócia da também estadunidense Hess, ambas possuindo 40% das ações, enquanto a Petrobrás se contentou com uma participação minoritária de apenas 20%. Ocorre que o potencial do BM-S22, conhecido como Azulão, pode, segundo especialistas, alcançar a marca estimada para os campos de Tupi e Iara.
Mas, o Planalto não precisa se preocupar. Esse tipo de informação dificilmente surgirá nom momento em que mais um embuste estiver sendo servido, com toda pompa e circunstância, ao enebriado povo brasileiro.