sábado, 31 de janeiro de 2009

Tinta fresca

Nem precisou terminar o clima onírico construído em torno do Fórum Social Mundial para que a dura realidade da onda de insegurança pública, que se alastra no Pará inteiro, revelasse sua face cruel.
Nas últimas 48 horas várias ocorrências dispersas mostraram que esta área está longe de ser controlada. Fuga em massa de detentos em penitenciária dita de segurança máxima e em seccional urbana abarrotada de presos, furto de mais de 100 armas de fogo de depósito do Instituto Médico Legal, assassinato de capitão da PM na sempre insegura PA-160, entre Parauapebas e Canaã dos Carajás, no sudeste do Estado, além da rotina diária de matanças na periferia da capital, sempre atribuída a acerto de contas entre traficantes, dão a exata dimensão da extensão e da profundidade da crise.
Um abismo tão colossal que marketing algum é capaz de esconder.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

O Fórum invisível. Para quem não quer ver

O site Carta Maior, de longe, produz a mais completa cobertura do FSM, que se realiza em Belém até o próximo domingo. A cegueira, voluntária e oportunista, da grande mídia em relação a um evento tão representativo aparece com todas as letras nesta análise do sociólogo Emir Sader.

Cadeira vazia

Carregado de importante simbolismo foi a ausência de convite a Lula para o encontro de presidentes sul-americanos com os militantes da Via Campesina e de outros setores de esquerda durante o Fórum Social Mundial ontem à tarde, em Belém. O ato, realizado no ginásio da Universidade Estadual, reuniu milhares de ativistas e celebrou a unidade de setores sociais que buscam um caminho alternativo para o enfrentamento da crise. Em comum, estes segmentos não estão dispostos a dançar o minueto inspirado pelos estrategistas do Planalto, que recorrem ao discurso ricos versus pobres apenas quando isso lhes é conveniente.
Enquanto as atenções estavam voltadas para o palanque de Chávez, Morales, Correa e Lugo, e a platéia fervia em meio a discursos que colocavam na mesma trincheira militantes do MST e do PSOL, Lula estava recolhido - solitário - a despachos administrativos, gastando as horas para que o seu ato com esses mesmos presidentes fosse iniciado no luxuoso Hangar Centro de Convenções, cercado de todos os cuidados para que somente lá estivessem aqueles que rezam por sua cartilha.
Um sinal de que a era hegemônica do lulismo nos movimentos sociais está chegando ao fim? Talvez, mas existe um largo, acidentado e complexo caminho a percorrer.
O FSM, esse caldeirão efervescente de simbolismos, mostrou mais uma vez que pode despertar energias novas. Novas e grávidas de rebeldias que não podem ser domesticadas.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Tostões que causam escândalo

Ampliar em mais 1,3 milhão de famílias o programa de transferência de renda do governo federal - o Bolsa-Família - e estender o acesso à merenda escolar para 7,3 milhões de alunos do ensino médio resultará em um investimento de R$ 871 milhões ao longo do ano. Isso é muito? Depende. Para os do andar de cima isso é um disparate, como se vê na matéria publicada hoje pela Folha de São Paulo (para assinantes). Para o jornalão paulista o Planalto se deixa seduzir pelo populismo e está de olho nas eleições de 2010, buscando manter estrito controle sobre um imenso curral eleitoral representado fundamentalmente pelos pobres do Norte e Nordeste. Óbvio que não diz uma única palavra - nem relaciona os fatos entre si - quando o mesmo governo anuncia que, em 2008, alcançou quase R$ 58 bi a título de superávit primário, aquela fabulosa Bolsa-Banqueiro que religiosamente as multidões famélicas do Brasil transferem para um punhado de alegres credores nacionais e internacionais.

Sob a lente do preconceito

Ainda muito se falará sobre a cobertura que a imprensa paraense faz do Fórum Social Mundial. Inciativas arrojadas, como os cadernos especiais bilíngues, não devem deixar de ser comemoradas. Porém, essa ânsia por transformar um evento de tamanha riqueza, magnitude e pluralidade num palco onde desfilam, com primazia, naturistas, adeptos da liberalização da maconha ou da distribuição em massa do Santo Daime é apostar no preconceito e na desinteligência.
Cortinas de fumaça, essas notícias editorializadas tendem a reduzir o FSM a uma espécie de Woodstock caboclo. Nada mais distante da pujança e da legítima radicalidade que brotam, nestes dias luminosos, das margens do Guamá.

Tropa de Elite

Grandes empresários de Roraima estão por trás de garimpos clandestinos que infestam vastas regiões daquele Estado, inclusive em áreas indígenas, como a Yanomami. A denúncia é da Polícia Federal e foi registrada em matéria da Folha de Boa Vista.
O clima de violência produz vítimas por atacado. Na semana passada, por exemplo, um índio da etnia Yekuana, do tronco Karib, foi assassinado por garimpeiros ilegais. É o rastilho de pólvora de uma tragédia socioambiental que se desenvolve aos olhos de todo mundo.
A elite de Roraima, armada e perigosa como demonstrou nos atos de vandalismo contra a homologação contínua da Raposa Serra, tem mais segredos do que admite. E como são inconfessáveis as trilhas que percorrem para prosseguir em sua insana acumulação de riqueza e poder.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

O mundo inteiro na palma da mão

A nona edição do Fórum Social Mundial (FSM), em Belém, forçará que as postagens e a moderação de comentários entrem em compasso de espera.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Gritos do Silêncio

Uma proposta da esquerda israelense para a conquista de uma paz duradoura com o povo palestino. Aqui no Carta Maior.

Homens ao mar

Grandes corporações multinacionais continuam, a cada dia, espalhando péssimas notícias. Empresas da Europa e dos Estados Unidos de vários setores - telefonia, indústria farmacêutica, montadoras de carros e fabricantes de máquinas e equipamentos de construção - anunciaram a demissão de mais de 70 mil trabalhadores em escala global.

O diabo mora nos detalhes

A chacina de cinco jovens por militares da PM paraense na semana passada desvela muito mais do que a conhecida - e tão pouco combatida - rotina de violência que permeia a corporação. Revela, entre outras mazelas, a face encoberta de um fenômeno gravíssimo: o segundo "emprego" de policiais, os bicos que os PMs fazem durante seus dias de folga para complementar o esquálido salário que recebem.
O cabo PM Paulo Sérgio da Cunha, cuja morte deflagrou a sangrenta reação de seus colegas de farda, foi assassinado durante um assalto na periferia de Belém no sábado, 17. Ele estava de folga e as primeiras versões davam conta de que tivera o azar de estar na hora e no lugar errados, exatamente no momento em que assaltantes atacavam uma malharia. Mas com o passar dos dias, emergem outros relatos que atestam que o militar, em verdade, estaria trabalhando como segurança privada, usando armamento da PM, fato que está longe de ser uma raridade. Mais ainda: um suspeito detido poucos dias depois da matança confessou ser o autor dos disparos que matou o militar, revelando ainda que a execução teria sido encomendada por um determinado açougueiro, cuja participação efetiva nos acontecimentos ainda está sendo investigada. Entretanto, pesa contra esse pequeno comerciante a suspeita de ser ele quem alugava armas para a prática de assaltos na região, entre outros possíveis delitos.
Locação de armas para a prática de crimes: eis aí outro filão inexplorado que há muito exige uma resposta do poder público, através de um trabalho de investigação que levante o mapa desses pontos de comércio e desbarate as quadrilhas que se alimentam dessa prática criminosa em estreita conexão com a receptação de objetos roubados e, não raro, com o tráfico de drogas e outras práticas criminosas.
E agora? Será que a polícia agiu como uma horda de criminosos, matando indiscriminadamente, não apenas como forma de praticar vingança privada, mas também possivelmente para destruir indícios e provas que pudessem revelar toda a extensão e profundidade do eventual envolvimento de um de seus membros em procedimentos ilegais?
Com certo atraso, entidades de defesa de direitos humanos se levantaram. O silêncio nos primeiros dias foi perturbador e poderia ser interpretado como condescendência com ritos de execução sumária de suspeitos. Já o governo que se diz comprometido com o combate à violência adotou uma postura burocrática. Prometeu investigar com rigor, mas não adotou nenhuma providência que sinalizasse essa intenção, já que o processo caiu na vala comum de dezenas de outras investigações de rotina que as corregedorias de polícia devem fazer toda vez em que uma ação policial resultar em morte. Como se sabe, ao agir assim essas autoridades estão apostando no esfriamento do caso e, no limite, na consagração da impunidade.
Que este caso escabroso sirva de lição: ou a sociedade e o Estado tomam uma atitude enérgica e corajosa para deter o banditismo presente no seio do aparato policial, pagando os custos inerentes a este enfrentamento, ou estará se instaurando o caldo de cultura da mais indecente complacência com aqueles que se especializaram nesse tipo de extermínio praticado sob a proteção oficial.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

A banca que lava mais branco

Dinheiro do narcotráfico inundando o sistema financeiro mundial. Novidade? Nem tanto, mas agora quem põe o dedo na ferida é um órgão da própria ONU, o Unodc (Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime).

Viúva eternamente estropiada

Em 2008 os ruralistas continuaram ditando as regras. Em tudo ou quase tudo prevaleceu os interesses desses que não largam o poder por nada nesse mundo. Entra governo, sai governo, e lá estão eles: sempre por cima e em cima da montanha de recursos públicos, combustível maior para que a roda da fortuna dos senhores da terra não pare de girar jamais.
A ONG Repórter Brasil dissecou o processo de renegociação das dívidas do setor agrícola brasileiro no ano passado. Veja aqui.

domingo, 25 de janeiro de 2009

E a motosserra de ouro vai para...

Matéria de O Liberal revela que o posto de maior devastador do Pará tem um dono inconteste: Daniel Dantas, ele mesmo, o homem de bilhões de dólares e de infindáveis artimanhas, sempre com a polícia e a Justiça em seus calcanhares.
A Agropecuária Santa Bárbara, com seus 510 mil hectares e rebanho estimado entre 500 mil e 1 milhão de cabeças de gado, seria a responsável por uma vasta coleção de crimes ambientais flagrados pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), resultando em multas que ultrapassam os R$ 12 milhões. Pouco, muito pouco para tamanho e irremediável estrago.

Dialética da palavra que se faz imagem

"Nuvens

A primeira coisa que guardei na memória foi um vaso de louça vidrada, cheio de pitombas, escondido atrás da porta. Ignoro onde o vi, quando o vi, e se uma parte do caso remoto não desaguasse noutro posterior, julgá-lo-ia sonho. Talvez nem recorde bem do vaso: é possível que a imagem, brilhante e esguia, permaneça por eu a ter comunicado a pessoas que a confirmaram. Assim, não conservo a lembrança de uma alfaia esquisita, mas a reprodução dela, corroborada por indivíduos que lhe fixaram o conteúdo e a forma. De qualquer modo a aparição deve ter sido real. Inculcaram-me nesse tempo a noção de pitombas - e as pitombas serviram para designar todos os objetos esféricos. Depois me explicaram que a generalização era um erro, e isso me pertubou".

Graciliano Ramos (1892-1953), escritor brasileiro. Infância (p.7)

Um voto pelo futuro

Os bolivianos vão às urnas neste domingo num referendo constitucional. Estará em jogo a não só continuidade da revolução pacífica liderada por Evo Morales. O que os 3,8 milhões de eleitores estarão decidindo é a própria existência do país como construção soberana, plurinacional, democrática e popular.
Como toda transformação verdadeira o processo boliviano não se realiza fora de um contexto de enfrentamento brutal e por vezes sangrento. Mas não entrarão armados com as cores do ódio nas cabines eleitorais hoje. Em cada voto pelo "Si", uma aposta de que o protagonismo popular é a única chave para a abertura de um novo tempo.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Velocidade Mínima

O festejado corte de um ponto percentual na taxa Selic, aprovado com pompa e circunstância pelo Comitê de Política Monetária (Copom), teve um impacto risível a curto prazo. No comércio, por exemplo, a redução ficou em apenas 0,08. Quase nada, portanto. Dificilmente o consumidor sentirá alguma diferença em seus financiamentos.
É um excesso de conservadorismo que não existe por acaso. O Banco Central não é o guardião da moeda e da estabilidade como apregoa. Seus executivos agem como cães de guarda dos rentistas, aquela ínfima parcela dos que se dá bem com a crise, qualquer que seja seu contorno e alcance.
Se fosse para vale - e não apenas um jogo de cena - os juros deveriam ser reduzidos, de forma rápida e consistente, para patamares civilizados, a tempo de incidir sobre o cenário de evidente desaceleração da economia. Segundo o economista Amir Khair, no Le Monde Diplomatique Brasil, que já está nas bancas, uma queda da taxa de juros para 5% ao ano seria capaz de estimular fortemente o consumo, o investimento e a produção. E mais: geraria uma economia ao Tesouro de cerca de R$ 100 bi, que deixariam de irrigar as contas dos detentores de títulos públicos. Este valor equivale a cinco vezes o previsto para investimentos este ano no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) ou quase oito vezes o valor investido no Bolsa-Família, carro-chefe da política assistencialista do governo Lula.

Vale das sombras

Duas notícias, duas faces da Vale. No mesmo dia, os executivos da segunda maior mineradora do mundo anunciaram a distribuição de lucros para 2009: US$ 2,5 bi, o mesmo patamar que vigorou ano passado. Comparado ao triênio anterior, os acionistas foram aquinhoados com o crescimento de quase 25% na lucratividade da empresa. E, para o andar de baixo, veio mais uma porretada (para usar o jargão de Lula): quase 20 mil trabalhadores das unidades de MG e MS serão submetidos a corte de 50% de salário através de uma licença de seis meses, sem qualquer garantia de que não serão demitidos após esse intervalo laboral.
Desde o início do agravamento da crise em outubro, a Vale já mandou embora cerca de 2% de sua força de trabalho no mundo.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Um passo na direção certa

Cumprindo uma de suas promessas de campanha, o presidente Barack Obama determinou o fechamento do campo de concentração de Guantánamo, enclave em território cubano. Na mesma cerimônia, foi assinado decreto banindo a prática de tortura e maus-tratos contra prisioneiros e reafirmado o compromisso de respeitar a Convenção de Genebra.

Esquadrão antibomba

A área de saúde municipal de Belém fechará as portas a partir de hoje. É a greve por tempo indeterminado dos trabalhadores do setor, que protestam contra o corte de gratificações salariais.
Porta de entrada do sistema, as unidades da Sesma são indispensáveis para o atendimento da população e das dezenas de milhares de visitantes do Fórum Social Mundial.
Enquanto se avolumam os indícios de que se avizinha o caos, com imprevisíveis consequências, nada justifica o silêncio, até o momento, do Ministério Público e de outros órgãos fiscalizadores.
Mas ainda há tempo para agir. Basta querer.

Exterminador do futuro

Que tal retirar, de uma só tesourada, um em cada cinco reais previstos no orçamento 2009 para a estratégica área de ciência e tecnologia? Em números redondos, o Congresso Nacional podou R$1,1 bi do total previsto para o setor, deixando as entidades científicas, como a SBPC, em polvorosa.
O autor da façanha foi o senador petista Dalcídio Amaral (MS), até então conhecido como um implacável inimigo dos direitos indígenas, mas que pelo jeito resolveu ampliar seu campo de atuação devastadora.

Bolsa-Patrão

Quem mais recebeu os mais cobiçados créditos oficiais em 2008, a grana subsidiada do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social), foi também quem mais destruiu postos de trabalho. O setor de alimentos e bebidas recebeu quase R$ 9 bi, cerca de 11% dos financiamentos do banco, mas mandou embora no final do ano mais de 120 mil trabalhadores.
Para quem achar pouco a montanha de dinheiro público drenada para quem não tem nenhum compromisso social, basta lembrar que o Bolsa-Família, vitrene dos programas sociais do governo Lula, gastou no mesmo período cerca de R$ 12 bi.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

L’État c’est Moi

O ministro Gilmar Mendes é um ser de variadas faces. É um verdadeiro bólido que se move na velocidade da luz para livrar da cadeia, duas vezes seguidas em menos de 48 horas, o banqueiro Daniel Dantas. Entretanto, age com lerdeza indefensável quando o que está em jogo é a liberdade de Cesare Battisti, um cidadão italiano que acaba de receber o asilo em solo brasileiro.
Mais do que a demora no cumprimento de uma medida administrativa, Mendes parece interessado em ganhar tempo, apostando numa incerta virada de mesa. Atua como líder oposicionista, apequenando a cadeira de presidente da corte mais importante da Justiça do país.

Abram alas: vem aí a Grilobras

Está forno, quentinha, a mais nova invenção do esquisito Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos). Se depender a vontade dele será criada uma agência executiva para substituir o Incra na regularização fundiária na Amazônia. Em meio a forte bombardeio, de dentro e de fora do governo, a idéia pode ou não prosperar, mas, de qualquer forma, vai pavimentando o caminho para que se legitime 297 mil posses em 436 municípios amazônicos, onde vivem 6,7 milhões de pessoas.
Neste balaio, misturados entre os pequenos posseiros, lá estão os se apoderaram de grandes extensões de terras públicas e fizeram fortuna a partir da extração ilegal da madeira e da pecuária.
O sinal de alerta de que sob o manto do combate ao caos fundiário poderia se abrir as porteiras para mais um ciclo de concentração de terras e de devastação ambiental soou estridente quando a maioria governista passou goela abaixo a MP 442/08, não por coincidência apelidada de MP da Grilagem.

Filé mignon

Na surdina, como covém a este tipo de assunto, seguem os estudos para a futura privatização do setor aeroportuário nacional. Mas, que ninguém se engane: só será oferecido à iniciativa privada a parte mais lucrativa do sistema, nada de aeroportos deficitários e problemáticos. É a velha e indecente forma de entregar o patrimônio público, sempre a preço de banana, para um punhado de espertalhões.
Dentre as joias da coroa, como não poderia deixar de ser, despontam os aeroportos de Guarulhos e Viracopos, em São Paulo, além do Tom Jobim, no Rio de Janeiro. O desmonte está a cargo do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social).

Veneno à la carte

A União Européia acaba de banir, através de uma nova lei de pesticidas, o uso do agrotóxico glufosinato de amônio, produzido pela Bayer e largamente utilizado nas lavouras transgênicas de milho, algodão e arroz. Uma boa notícia, sem dúvida.
Entrementes, no Brasil, por pressão do governo Lula e das corporações mundiais da transgênia - a Bayer e a Monsanto à frente - o movimento é justamente o oposto. No ano passado, contrariando pareceres técnicos de órgãos do próprio governo, a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) aprovou a licença para dois tipos de milhos resistentes ao glufosinato de amônio. E existe outro produto na fila esperando aprovação. É o milho T25 da Bayer.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Rompendo cercas, há 25 anos

Há um quarto de século, exatamente em um 20 de janeiro, a história do Brasil deu um salto. Era o início do 1o Encontro Nacional dos Sem Terra, no Paraná, marco inaugural do MST. Desde então a bandeira rubra do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra é a voz que não se cala diante do silêncio brutal imposto pelos de cima. Vida longa ao MST.

A rota da matança

Será que alguém ainda duvida que a Ronda Ostensiva Tática Metropolitana (Rotam) praticou, neste final de semana, uma chacina contra os suspeitos da morte do cabo PM Paulo Sérgio da Cunha Nepomuceno, assassinado no sábado, 17, durante um assalto? Mais uma vítima fatal da caçada policial - a quinta - foi localizada em um matagal próximo à estrada do Curuçambá, palco da tragédia. Segundo familiares, Marcelo Piedade Santana, 22, foi levado da porta de sua casa por soldados da Rotam.
O silêncio das autoridades, de todos os níveis, tende a se transformar, em pouquíssimo tempo, em perigosa e indefensável cumplicidade.

Obama na encruzilhada

Para Tariq Ali a ascensão de Obama, o primeiro negro a ocupar a Casa Branca no país da Ku-Klux-Klan, não deve ser subestimada. Tampouco será lógico depositar todas as fichas em seu discurso mudancista. Seus limites e possibilidades estão relacionados aos caminhos a serem trilhados pelas elites dos Estados Unidos em meio à voragem da crise.
"Se a mudança acabar em nenhuma mudança, então poderá ocorrer que, passados alguns anos, quem apoiou Obama para a Casa Branca decida que a criação de um partido progressista nos Estados Unidos tornou-se uma necessidade", afirma.
Leia mais aqui no Carta Maior.

Sob os escombros, mais atrocidades em Gaza

Firmado o precário (e unilateral) cessar-fogo, Gaza começa a revolver seu cenário de destruição após 22 dias de feroz agressão militar israelense. E os muitos crimes de guerra vão surgindo e sendo revelados. A Anistia Internacional, por exemplo, enviou para lá um especialista britânico que pode comprovar in loco o uso indiscriminado de fósforo branco contra a população civil.

A marca do Zorro

Deu no The New York Times...com sotaque espanhol! O mais importante jornal dos Estados Unidos se rende aos encantos e aos dólares de Carlos Slim, o bilionário mexicano dono de quase tudo e agora de parte das ações do jornalão que circula desde 1851. São ecos da crise que começa a fazer vítimas no seio dos grandes corporações da mídia mundial.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Verdugos fardados?

Quatro suspeitos mortos na caçada aos assassinos de um cabo da PM. A versão oficial aponta que houve resistência e troca de tiros. Mas o fato de que o desfecho sangrento tenha sido protagonizado por homens da Rotam, mesma unidade da qual fazia parte o cabo assassinado, já é razão suficiente para que uma investigação séria e isenta seja realizada. Ou se faz isso, ou estará aberta a temporada em que a eficiência policial será medida pela letalidade de suas ações.

A segunda morte de Wladimir Herzog

Ainda falta muito para que o Brasil ajuste contas com seu passado recente de tortura e terrorismo de Estado. Na Justiça Federal, por exemplo, o tema permanece polêmico, ensejando decisões contraditórias. Foi o caso da sentença da juíza Paula Mantovani Avelino, da 1ª Vara Criminal de São Paulo, mandando arquivar as investigações da morte do jornalista Wladimir Herzog, torturado e morto nos porões do DOI-Codi paulista em 1975. Para ela, o delito já prescreveu e não pode ser qualificado como "crime contra a humanidade". Mais aqui.

Quanto mais quente, pior

Os efeitos do aquecimento global tendem a ser catastróficos. Até 2100, mais da metadade da popilação mundial estará passando fome e a elevação da temperatura poderá comprometer a produção de alimentos em até 40%. É o pensam cientistas que lançaram o alerta na prestigiada revista “Science”.

domingo, 18 de janeiro de 2009

Cartão de Visita

Para nossos milhares de visitantes - perto de 80 mil pessoas, pelo menos - que chegarão a Belém para o Fórum Social Mundial, uma relevante informação de utilidade pública. Duciomar Costa é o prefeito da cidade, reeleito em 25 de outubro passado para mais um mandato de quatro anos.
Para conhecer um pouco da trajetória, uma rápida visita ao Congresso em Foco pode ser muito útil.
Com um clique apenas e se descortina uma densa e malcheirosa folha corrida (incompleta, por certo).

Os nomes do terror

Irgun. Haganá. Stern. Quem ainda se lembra?
Deir Yassin. Askalaan. Kibya. Alguém recorda?
São palavras estranhas, geradas por idiomas milenares, mas todas tem em comum a marca do terror.
Irgun, Haganá e Stern eram grupos armados constituídos pelos judeus durante o mandato britânico na Palestina, nas primeiras décadas do século XX. Organizações paramilitares, clandestinas durante a maior parte de sua existência, elas operavam espalhando o terror entre a população civil palestina. Explodiam bombas, realizam atentados contra alvos civis e também contra as autoridades britânicas, arrasavam aldeias inteiras e expulsavam centenas de milhares de palestinos. E quem eram seus líderes? Ben Gurion, Isaac Shamir, Menahen Bengin e outros tantos que são até hoje considerados - pelos israelenses - como herois nacionais, os pais do Estado de Israel.
Para os árabes, entretanto, são terroristas, criminosos de guerra.
Deir Yassim não sobreviveu ao 9 de abril de 1948. Seus habitantes foram massacrados pelo Irgun (Menahen Begin) em conjunto com 40 homens do Stern (Isaac Shamir). Ao término do ataque, 300 civis, entre mulheres, crianças e idosos - jaziam mortos. A aldeia foi queimada e o horror decorrente do massacre serviu para "convencer" vastas populações palestinas a fugir, "abandonando" o território que a Resolução da Partilha (25 de novembro de 1947) havia estabelecido para compor o Estado Palestino. Foi a primeira grande onda da diáspora. Com o passar dos anos (e das guerras), muitas outras levas de refugiados foram sendo alimentadas com carne e sangue de um povo empurrado à destruição física e espiritual.
Em 1953, a Unidade 101 do exército de Irael, esquadrão de elite liderado por Ariel Sharon, ele próprio um remanescente do Haganá, ocupou a aldeia palestina de Kibya. A operação tinha o sabor da vingança e da punição coletiva, ingrediente que parece indissociável da política do Estado de Israel frente à resistência palestina. A missão da tropa era vingar o assassinato, por grupos palestinos, de uma mulher israelense e de suas duas filhas. Resultado: 45 casas foram explodidas, 69 civis mortos, dentre eles 45 crianças.
Askelon, hoje cidade israelense às próximidades de Gaza, e por isso mesmo alvo constante dos foguetes caseiros do Hamas, já foi, há apenas quatro décadas, a aldeia palestina de Askalaan, demolida para dar lugar ao assentamento judaico.
Por isso tudo, não chega a ser extraordinário os métodos utilizados por Israel em Gaza, nessa última e sangrenta operação militar. Matar, em 22 dias, mais de 1200 civis, um terço dos quais crianças, e ferir outros 5 mil, infelizmente, é apenas a reiteração de um método que vem sendo utilizado há tantas décadas, sob o silêncio cúmplice da comunidade internacional.
O jornal britânico The Independent, um dos poucos veículos ocidentais que realiza uma cobertura profunda e imparcial da tragédia humanitária em Gaza, traz a denúncia, atribuída a fonte médidas palestinas, de que Israel utilizou armamentos ilegais contra a população civil. É o caso das bombas de tungstênio - Dime (dense inert metal explosive), em inglês -que produzem enormes danos às vítimas. "Estou na zona de guerra há 30 anos e nunca vi ferimentos como esses", afirmou o médico norueguês Erik Fosse, que trabalha em hospitais de Gaza nestes dias cinzentos da invasão israelense.
Que falta faz um novo tribunal de Nuremberg para que esses e outros tantos crimes de guerra possam ser julgados e seus autores exemplarmente punidos?

Sinais. Para quem quiser ler

A poderosa indústria paulista fechou em dezembro perto de 100 mil a 120 mil postos de trabalho. Em apenas três meses - a partir de outubro - foi queimado todo o saldo líquido de 167 mil empregos gerados até setembro, período virtuoso de intenso crescimento econômico. Os dados são da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo) e sinalizam para o agravamento da crise da chamada economia real numa proporção muito superior ao que as autoridades do governo federal querem fazer crer.
A onda de desemprego, que antes parecia apenas uma ameaça, já é efetiva e desenha um cenário de forte retração no primeiro trimestre de 2009. Como se sabe, quando o PIB começa a despencar não adianta procurar o fundo do poço. Ele está sempre mais além, num ponto onde se encontra com o imponderável.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Não em nosso nome

A proposta de Plano Decenal de Energia (2008-2017), lançada às vésperas do Natal pelo governo Lula, é uma decepção. Mais: é um desastre e expõe o país internacionalmente no momento em que cresce no mundo a luta por medidas efetivas de combate ao aquecimento global. O Brasil, se prevalecer a posição dos tecnocratas do setor elétrico, vai na próxima década reforçar as piores alternativas, optando pelas fontes mais sujas e poluentes. Fere de morte as belas (e descartáveis) promessas de sustentabilidade.
O Greenpeace colocou a boca no trombone.

Dialética da palavra da memória ancestral

"Quando foi mesmo que ela chegou pela primeira vez a meus ouvidos, não sei.
Era apenas uma palavra, mas trazia um cheiro violento de terra e de liberdade, gosto de fruta madura, uma palavra apenas, porém usando paladar e olfato.
Por que me embalava tanto como se fossem os braços de minha mãe ? Pés se arrastavam, corpos dançavam, vozes cantavam e ela vinha clara e sonora, não se explicando ou definindo, mas evocando lembranças, saudades, passado, distante país, temos idos, mocidade, vida vivida.

"Cipó caboclo onde é que você mora?
Eu moro em Aruanda, na raiz do Aruá
Onde tem cobra coral
E onde canta o sabiá."


Todos moram em Aruanda, terra livre e bela, capital dos sonhos, ambições e desejos (...)".


Eneida de Moraes. Aruanda (Cejup, 1997, p.23-24).

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Abecedário

Sem surpresas, deu o que todo mundo já sabia. Como o Página Crítica adiantou, aqui e aqui, a onipresente B. A Meio Ambiente Ltda levou a melhor na Concorrência Pública No 14/2008, que o governo Duciomar acaba de homologar. O pacotão de obras de implantação, conservação e manutenção de serviços de engenharia rodoviária - tradução: asfalto com alto teor eleitoral - servirá de guarda-chuva para que os sócios da empresa - tanto os de face pública como os que se escondem sob contratos de gaveta - comecem o ano com um largo sorriso. Não é para menos. Serão, para começar, R$ 35.120.759,80, sem os aditivos que são tão certos quanto o nascer do sol no Ver-O-Peso.

A tragédia nossa de cada dia

Violência urbana sem controle, execuções extrajudiciais, tortura como prática cotidiana nas cadeias e presídios, atentados contra camponeses, quilombolas e indígenas, a impunidade como regra. Este é o diagnóstico dramático traçado pela Human Rights Watch, organização internacional de defesa dos direitos humanos, que acaba de divulgar seu relatório anual.
No Brasil, o total de homicídios equivale a 50 massacres de Gaza, se for considerado o saldo de mortos em apenas 20 dias de invasão militar israelense. Segundo a ONG, são 50 mil homicídios por ano no país. As vítimas possuem, em sua maioria, o mesmo perfil: são pobres, jovens, negros e habitam as irrespiráveis periferias das cidades brasileiras. A análise está no Repórter Brasil. Para ler o artigo, clique aqui.

O anatomista

Sucedendo a si mesmo, Duciomar protagoniza com espalhafato a negação de tudo que prometeu há tão poucos meses. Afinal, não era ele que havia "arrumado a casa", conquistando incrível situação de saúde financeira para o município a ponto de ter - pasmem - R$ 500 milhões em "caixa" para investir?Pois bem: o castelo de cartas parece que estava grudado com cuspe. Não resistiu a uma transição entre os mesmos, e desmorona inapelavelmente.Em duas semanas, o prefeito reeleito se viu diante do espelho: o município está falido, saqueado, desgovernado.
À população que assiste o caos, que está só no começo, não existe consolo: a conta a ser paga será demasiado pesada e seus efeitos podem se estender por anos. A não ser que o imponderável dê o ar de sua graça. Mas uma dádiva como essa não cai dos céus. Ou será obra de seres concretos, que se levantem da atual letargia que a todos envergonha, ou simplesmente não será.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

A guerra que dá lucro

A Embraer é uma indústria de ponta. Já foi orgulho do setor estatal aeronáutico, até sucumbir na maré privatizante, em 1994, no governo Itamar Franco. Hoje, é a terceira maior fabricante de aviões do mundo, despontando como uma das mais importantes exportadoras brasileiras, vendendo aviões de reconhecida capacidade tecnológica e perfil competitivo. Entre outras áreas, a ex-estatal avança no restrito clube de fornecedores de equipamentos bélicos, aquele punhado de empresas que torcem mesmo para que o mundo pegue fogo. Quanto mais quente, melhor.
Segundo a Gazeta Mercantil de hoje, a Embraer acaba de fechar com a República Dominicana uma encomenda de oito turboélice Super Tucano, no valor de US$ 94 milhões. As aeronovares de uso militar são do mesmo modelo que em 2006, num barulhento conflito comercial, os Estados Unidos proibiram o Brasil de vender ao governo de Hugo Chávez. O veto se deu pelo fato da aeronave utilizar componentes patenteados por empresas estadunidenses, que por isso se acham no direito de pisotear a soberania de outras nações. Claro: de nações que perderam o respeito por si mesmas.

Coro dos descontentes

Um amplo consenso, nem sempre fácil de ser alcançado, foi sentido na última reunião dos bispos da CNBB Norte 2, realizada a portas fechadas no início desta semana. O objetivo do encontro era prestar apoio a Dom José Maria Azcona, bispo do Marajó, que estava convocado para reiterar suas denúncias de exploração sexual de crianças e adolescentes na CPI da Pedofilia da Assembléia Legislativa. Mas, ao lado da solidariedade ao bispo marajoara, formou-se outra posição unânime: todos os bispos, absolutamente todos, expressaram graus variados de decepção com os rumos do governo Ana Julia (PT). O calcanhar de Aquiles, como era de se esperar, foi a inanição na área de segurança, mas não só nela. É cada vez maior o sentimento de que as prometidas políticas públicas de inclusão social não resistem ao crivo da realidade, cada vez mais dramática e explosiva.
Em breve, os religiosos esperam ter a oportunidade de dizer isso e muito mais diretamente à governadora, em uma agenda do tipo que não costuma ser carimbada como "positiva". Muito ao contrário.

Infância roubada

Os dados são do último relatório do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). Uma criança nascida em um país em desenvolvimento tem 14 vezes mais chance de morrer durante o primeiro mês de vida. Ao mesmo tempo, as mulheres desses mesmos países tem 300 vezes mais chances de morrer em função de complicações decorrentes do parto.
O Brasil, país que combina indicadores de riqueza com níveis de pobreza extrema, ocupa o 107o lugar entre os 194 países no ranking da mortalidade infantil, com 22 mortes por cada mil nascidos vivos em 2007, registrando uma leve piora em relação ao ano anterior.

A longa e inútil espera

Os Pareci cansaram de esperar. Desde a década de 30 aguardam a demarcação de uma área de 3.600 hectares no Mato Grosso (MT), promessa feita ainda pelo marechal Cândido Rondon. Nesses mais de 70 anos os indígenas assistiram suas terras sendo cercadas primeiro pelas grandes fazendas e, hoje, pelas modernas empresas do agronegócio. Vivem confinados, sob constante ameaça. São prisioneiros na terra de seus ancestrais.
No último sábado, 10, a cacique pareci Valmireide Zoromará, 42, foi assassinada por pistoleiros da fazenda ironicamente denominada de Boa Sorte. Ela e mais um grupo de 11 índios pescavam num lago que está nos limites da fazenda que lutam por incorporar à Terra Indígena, mas cujo processo não consegue avançar. Está preso nos labirintos da burocracia e permanentemente boicotado pelas forças políticas dominantes no Estado do Mato Grosso.
O caso de Valmireide não é isolado. O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) acaba de divulgar um relatório parcial sobre as mortes de indigenas em 2008. Foram pelo menos 53 casos de assassinatos em nove Estados. Esse número tende a aumentar quando forem sistematizadas todas as ocorrências no relatório final a ser publicado até o próximo mês de maio.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Mãos de Tesoura

Afasta de mim esse cálice, parece dizer a nata do empresariado nacional reunido hoje na Fiesp. Diante da crise que começa da se tornar mais aguda, os maiorais da indústria, tendo a poderosa Vale à frente, tem um discurso bem afinado: que os trabalhadores, sempre eles, paguem o pato, que a lucratividade que andou tão alta nos últimos anos não pode ser ameaçada. O coro dos barões da avenida Paulista prega a redução da jornada de trabalho com corte de salários em até 25%. Estabilidade no emprego, nem pensar. E, ainda, o empresariado derrama caudalosas lágrimas em busca de mais crédito oficial. Aquele dinheiro bom e barato que decorre do suor e do sangue da grande maioria que jamais é chamada a participar do eterno e farto banquete dos de cima.

Mordaça nos Andes

Fazer jornalismo independente e crítico no Peru pode fazer muito mal à saúde. A censura, a intimidação e a perseguição judicial são as formas mais comuns de enquadramento dos recalcitrantes.É o caso do jornalista Raúl Wiener, do jornal La Primera, publicação de esquerda de circulação nacional.
Suspeito de ligações com as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), Wiener recebeu uma notificação da polícia política peruana onde é acusado dos crimes contra a paz pública e de terrorismo. Tudo começou com uma matéria que o repórter escreveu em novembro do ano passado revelando que outras 13 pessoas estavam sendo processadas por supostos vínculos com os guerrilheiros colombianos, a partir de investigações iniciadas pela decoberta de arquivos no computador pertencente ao comandante Raúl Reys, segundo na hierarquia das Farc, assassinado durante ataque do exército colombiano em pleno território do vizinho Equador, em março de 2008.
A ONG Repórteres Sem Fronteiras divulgou nota protestando contra o governo peruano.

Blindar o emprego. Antes que seja tarde

Os primeiros e dramáticos sinais da queda do emprego começam a aparecer nas pesquisas dos órgãos especializados. O IBGE, por exemplo, mostra que a desaceleração em novembro foi a maior desde 2003. E dezembro deve ter sido bem pior.
A indústria está demitindo como nunca e esse movimento vai se processando em ondas. Dos setores mais dinâmicos e monopolizados, como o automobilístico e o mineral, a maré de dispensas pode se alastrar rapidamente, contaminando outras áreas vitais da economia até atingir o varejo.
O governo promete mais um pacote anticrise. Promete medidas para combater o desemprego. Até agora o Estado socorreu bancos e indústrias, mas deixou a força de trabalho desamparada. A hora de agir é agora, com mão forte, estabelecendo mecanismos de proteção ao trabalho, condicionando a concessão de qualquer benefício fiscal ou creditício à efetiva manutenção do atual nível de emprego. Ou seja, dinheiro público não pode jamais financiar o desemprego e o agravamento da miséria social dos brasileiros.
Com a palavra, as mastodônticas centrais sindicais que precisam despertar de seus esplêndidos berços.

O justo abrigo

Merece aplauso a corajosa decisão do ministro Tarso Genro (Justiça) de conceder asilo político ao ativista italiano Cesare Battisti. Preso há dois anos e ameaçado de extradição, Battisti sempre negou a autoria de dois assassinatos imputados à extinta Proletários Armados pelo Comunismo (PAC), nos conflagrados anos 70 na Itália.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

A conta (parcial) do massacre em Gaza

Os dados são do Unicef e foram divulgados há pouco: desde 27 de dezembro até hoje, a guerra de agressão do Estado de Israel contra a população palestina de Gaza resultou na morte de 275 crianças e 85 mulheres. Já os serviços de saúde palestinos apresentam uma conta semelhante e igualmente aterradora: 919 palestinos já morreram, incluindo 277 crianças, 97 mulheres e 92 idosos. São ainda 4.100 palestinos feridos. Do lado israelense, os mortos alcançam a cifra de 14, sendo 4 civis atingidos pelos foguetes e 10 soldados mortos em combate.

Dialética do combate às idéias subversivas

Belém, 28 de julho de 1848,

Do presidente da província ao chefe de polícia:


“Em resposta ao ofício de Vmce. datada de ontem tenho a dizer-lhe, que proceda com a maior severidade a respeito do escravo Bento procedendo a todas as possíveis diligências e indagações, a ver se pode descobrir-se algum plano ou tendência subversiva em relação ao melindroso assunto, em que parece vai tomando parte a escravatura, e principalmente procurar descobrir se há alguns agentes ou emissários estrangeiros, que tratem de propagar ideias perigosas entre os escravos. Desconfie do mal que atacou subtamente o escravo, pois tudo me inclina a crer que é simulado. Finalmente quando nada se descubra, deve ser o pardo Bento severamente castigado na cadêa, e entregue a seu senhor, para o mandar immediatamente para algumas das províncias do sul.
Vmce. terá a seu cuidado a maior vigilância sobre a escravatura, e sobre certos estrangeiros suspeitos, e previno-o que por notícias vindas particularmente no último vapor, as mesmas idéias vão lavrando em várias outras províncias, e até na capital do império” .


Segurança Pública: Chefatura de Polícia da Província, Livro de Registro de Ofícios, Livro
07: Abril a junho de 1848, Arquivo do Estado do Pará — APEP, citado por José Maia Bezerra Neto. Ousados e insubordinados: protesto e fugas de escravos na província do Grão-Pará – 1840/1860, p.79.

Guantánamo, ferida aberta

Assessores do presidente eleito Barack Obama declaram que o fechamento de Guantánamo será uma de suas primeiras medidas, logo após a posse marcada para o dia 20 deste mês. Oxalá estejam falando a verdade. Guantánamo é uma ferida aberta, que sangra sem parar. Lá, em um enclave ilegalmente mantido pelos Estados Unidos em pleno território cubano, são praticadas atrocidades que nivelam Washington ao que existe de mais dantesto em termos do maus-tratos a prisioneiros em todo o mundo.

As primeiras baixas. E a crise só está começando

Mal a crise começou a se insinuar e o sensível setor mineral dá sinais de grande abatimento. Segundo dados do Departamento Nacional de Produção Mineral (DNPM), de outubro do ano passado até agora, 1523 áreas de pesquisa foram devolvidas à União, correspondendo a mais de dez vezes o volume de devoluções no período imediatamente anterior. Sem crédito e diante da queda na demanda mundial por minérios, puxada pela economia chinesa repentinamente em compasso de espera, o setor mineral sentiu o baque e foi bater às portas do BNDES. Quer linhas de crédito para continuar prospectando.

"Patrulhão", o retorno

Prisões em massa, indiscriminadas. Dezenas de jovens da periferia detidos para "averiguação", eufemismo que esconde (ou revela) um método particular de triagem: o preconceito de renda (e de cor).
A chamada "Operação Reação", deflagrada nesta semana pela Polícia Civil, é um atestado da falência da política de segurança do governo do Estado. Atordoado, agindo por espasmos, e encurralado pelo dado objetivo do aumento da criminalidade, reage como um animal ferido. A irracionalidade dessas medidas desmontam a existência de um setor de inteligência atuante no seio da polícia. Inteligência, planejamento, ações integradas, eis produtos que estão em falta ou são coisas muito raras, quase uma lenda urbana.
A "tolerância zero" - de novo, a falta de criatividade que pontifica - costuma ser o anteato de mais violência. Exemplos disso são abundantes e não é preciso ir muito longe. O Rio de Janeiro, sob o governo Sérgio Cabral, está aí para que ninguém duvide. Não é espelho a ser seguido, definitivamente.
É cedo para afirmar que a truculência policial e a falta de respeito aos direitos cidadãos darão o tom de agora em diante, reforçando o que sempre existiu nesta área. O governo está atordoado, reagindo por impulso, refém de sua própria incapacidade de gestão. Mas é aí, justamente aí, que mora todo o perigo.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Corrente do bem

Naomi Klein, respeitada intelectual e ativista canadense, sabe do que está falando. Para ela, apenas palavras e manifestos não serão suficientes para fazer Israel parar com sua política de extermínio do povo palestino. Só um boicote comercial, em grande escala, pode efetivamente produzir efeitos concretos. Exatamente como ocorreu, anos atrás, na luta contra o apartheid sul-africano.
"Israel deve ser alvo de boicote e sanções", diz a escritora em artigo publicado em vários jornais no mundo e que está na edição de hoje da Folha de São Paulo.

Planalto em chamas

Confirmado: na primeira semana de fevereiro, tão logo os trabalhos legislativos forem retomados, baterá ponto na CPI da Pedofilia, do Senado Federal, o deputado Luiz Afonso Sefer (DEM), acusado de molestar uma adolescente na época com apenas 9 anos de idade.
Segundo o senador Magno Malta (PR-ES), antes de interpelar o parlamentar paraense, a CPI ouvirá, em sessão secreta, a adolescente vítima dos abusos, que encontra-se sob os cuidados do Pró-Paz, vinculado ao governo do Estado.

Da arte de não ter o que dizer

O governo Duciomar sumiu da mídia. Bem, explica-se: da mídia paga, justamente no dia do aniversário da capital, 12 de janeiro. Fato inusitado, que pode se explicar por múltiplos e intricados fatores. Falta do que dizer, dirão alguns. Falta de dinheiro para forrar, bem forrado, os alforjes dos barões da imprensa local, dirão outros.
Como o papel aceita tudo, até a repetição das velhas e surradas promessas, não terá sido exatamente falta de repertório o que impediu a mídia da prefeitura. Sobra, então, a segunda hipótese, bem mais factível, nestes tempos em que a crise - sempre ela - vai passar a justificar tudo.

domingo, 11 de janeiro de 2009

A sementeira do ódio

Robert Fisk, o mais respeitado correspondente estrangeiro no Oriente Médio, não esconomiza indignação ao comentar o massacre promovido por Israel na Faixa de Gaza. Que o Ocidente não alegue desconhecimento, afirma.
"Quando os árabes enlouquecerem de fúria e virmos crescer seu ódio incendiário, cego, contra o Ocidente, sempre poderemos dizer que "não é conosco". Sempre haverá quem pergunte "Por que nos odeiam tanto?" Que, pelo menos, ninguém minta que não sabe por quê".
O artigo completo no site da Adital.

A parte que nos cabe

De cada 10 casos registrados de trabalho escravo no Brasil, quase sete ocorreram na Amazônia Legal. Dos mais de 30 mil trabalhadores libertadores, de 1995 para cá, mais de um terço saíram das "senzalas" localizadas no Pará.
Leia mais no Portal Globo Amazônia.

sábado, 10 de janeiro de 2009

Dinheiro Sujo

Quais as dez piores transnacionais de 2008? Veja aqui a relacao definida pela ONG Observatorio das Multinacionais. Dentre elas, algumas bem conhecidas dos paraenses, como a norte-americana Gargill, uma das que maiores lucros obteve com a recente crise mundial de alimentos.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Cães de Aluguel

As tenebrosas relações das forças armadas colombianas com os paramilitares vinculados ao tráfico de drogas, com apoio integral e dinheiro farto fornecidos pelos Estados Unidos, não são propriamente um segredo. Há muito tempo que a guerra suja e sangrenta patrocinada por Washington vem sendo contada pela imprensa e por entidades humanitárias. Agora, uma parte importante desse capítulo brutal veio à luz através da desclassificação de documentos oficiais da CIA e do Pentágono.
Segundo a ONG National Security Archive, da Universidade George Washington, sediada nos Estados Unidos, o governo estadunidense tinha pleno conhecimento dos métodos criminosos aplicados pelos militares colombianos, com a sistemática matança de civis, além do uso regular da tortura e do desaparecimento forçado.
Inúmeros civis foram mortos e seus corpos "contabilizados" como sendo de guerrilheiros das Farc. Esse método foi denominado de "falsos positivos", e sua extensão e profundidade no seio do Exército colombiano conduziu a uma verdadeira "mentalidade de contagem de corpos", que prevalece até hoje.
Mais detalhes, em inglês, aqui.

Por baixo da lama, mais lama

Colocando carne e sangue no esqueleto revelado com exclusividade pelo Espaço Aberto, o site do Cláudio Humberto, na edição de hoje, traz três notinhas que denotam o nível baixo, baixíssimo, do caso envolvendo o deputado Luiz Sefer (DEM):


Pedófilo do Pará é processado na Paraíba

O deputado estadual do Pará Luiz Afonso Sefer (DEM), acusado do crime de pedofilia contra uma criança de nove anos, é réu em ação no Tribunal de Justiça da Paraíba sobre reconhecimento de paternidade. O processo, que teve início em meados de 2005, tramita em segredo de Justiça e nenhuma audiência foi realizada até agora. Quando a criança nasceu, a mãe teria apenas 15 anos de idade.

É segredo

Em razão do segredo de Justiça do processo contra o deputado Luiz Sefer, o TJ-PB não divulga a identidade da mãe da criança.

Após as acusações

Sefer se afastou da liderança do Democratas na Assembléia Legislativa e do posto de suplente da CPI da Pedofilia no Estado.

Napoleão no hospício

A crise tem a capacidade de provocar o inusitado. Alguém já imaginou banqueiro clamar pela reducação da taxa de juros? Pois foi exatamente isso que o presidente do Bradesco, Márcio Cypriano, fez ao apelar pela antecipação da reunião do Copom nesta semana e pelo corte de 0,5 na taxa Selic.
E o presidente do Banco Central, o também banqueiro Henrique Meirelles, culpando os spreeds bancários pela taxa de juros nas alturas? Esta pérola está hoje no Correio Braziliense, dando continuidade a um jogo que quer demonstrar uma espécie de "fratura" no bloco dos que, em qualquer cenário, sempre levam a melhor.
Não demora nada e o "sólido e sustentável" sistema financeiro nacional aparece, de cartola na mão, pedindo um "programa emergencial de ajuda" ao Estado brasileiro. Conta bilionária, por certo, que todos sabem quem vai pagar.

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Capitais sem controle

Pela primeira vez desde 2002, o fluxo de dólares para o Brasil fechou negativo em US$ 49 bi. Um recorde que revela como é rápido o processo de desmonte dos "fundamentos macroeconômicos" do banqueiro Henrique Meirelles.
Para se ter uma ideia da largura e da profundidade do rombo, é só recordar que as contas de 2007 fecharam com um superávit nas transações cambiais de US$ 87 bi. Tempos róseos que já parecem tão distantes.

Um copo de cólera

Os casos trágicos da violência urbana vão se repetindo em Belém numa sucessão monótona e sangrenta. Ontem à noite foi a vez do procurador municipal Marcelo Castelo Branco Iudice perder a vida estupidamente, alvejado por um assaltante em fuga, no centro da capital.
Será que alguém ainda acredita que avança, a passos largos, a decantada "Segurança Cidadã" do governo do Estado?

Com a marca de Che

Aleida Guevara March, pediatra cubana, é uma internacionalista e ardorosa defensora das conquistas do povo de seu país. A filha do lendário Che encabeçará com outros expoentes da sociedade civil da Ilha de Fidel a delegação ao Fórum Social Mundial, e desembarcará em Belém já no dia 21.
Antes do FSM, ela cumpre extensa agenda de visitas a áreas do Movimento dos Sem Terra no sudeste do Pará. Em Parauapebas, participará da inauguração do estádio de futebol que levará o nome de seu pai.

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Doce Janeiro

Jano, o deus romano que emprestou o nome ao primeiro mês do ano, ser de duas faces, simbolizava a um só tempo o término e o começo. Preside tudo o que se encerra e chancela tudo que estar por nascer.
Janeiro, síntese de um tempo de mudanças, tantas vezes dolororas, mas igualmente indispensáveis, está grávido de efemérides que dizem muito para os que não se cansam de tripudiar sobre a suposta imutabilidade das coisas e de seus confiantes proprietários. É neste mês, que já começou sobre o signo de uma guerra odiosa, que o mundo pode guardar, num único relicário de acontecimentos únicos, pelo menos quatro datas que a história já consagrou.
Trata-se dos 174 anos da conquista de Belém pelos revolucionários cabanos, dando início à gloriosa epopeia de índios, negros e brancos contra o domínio colonial na Amazônia; do cinquentenário da Revolução Cubana, vitoriosa no alvorecer do primeiro dia de 1959; dos 25 anos de fundação do Movimento dos Sem Terra (MST) e do 15o aniversário da insurreição zapatista, camponesa e indígena, no México.
Quatro revoluções, quatro rupturas, sem deixar de ser continuidades (em muitos sentidos) das lutas, derrotas e vitórias que as precederam.
Que venham os dias do doce e sempre desafiador janeiro. O que tudo encerra. O que se abre para o futuro.

Dialética da palavra que incendeia rebeldias

1835, com as primeiras luzes do 7 de janeiro. Era o tempo da Cabanagem.

"(...)
Belém era então uma espécie de cidade encaixada na floresta, que não somente a circundava como até mesmo se intrometia por ela em certos trechos. Rio acima e rio abaixo, atrás e para além da cidade, tudo era mata, mata bruta, primitiva, compacta.
A floresta realçava e ameaçava ao mesmo tempo a capital paraense, e o efeito psicológico da sua presença não deixou de influir por certo na fulminante tomada da cidade pelos cabanos. Protegidos pela floresta, conhecedores de seus segredos e afeitos à rudeza das suas condições, eles tinham sobre as tropas regulares a vantagem da procedência mateira. A floresta protege, acoberta, dissimula, sobretudo quando se trata de pessoas criadas em seu seio. Se em vez da floresta, fosse Belém circundada por campos ou savanas, teriam eles conseguido conquistá-la tão facilmente?".

Eidorfe Moreira. "Belém e sua expressão geográfica", 1966, p. 131-134.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Detenham a mão assassina

Não dá mais para esconder o terror. Mesmo as grandes redes de TV, tradicionalmente aliadas a Israel, começam a dar destaque à tragédia humanitária em Gaza. Imagens de crianças mortas, civis em desespero sem água, comida e assistência médica, destruição material sem precedentes numa região já tão massacrada, enfim toda a face cruel da operação militar israelense vai tomando conta do noticiário, deixando em segundo o plano a surrada versão do "ataque defensivo para destruir a infra-estrutura terrorista".
Hoje, segundo o G1, Israel bombardeou dois estabelecimentos educacionais mantidos pela ONU. Num deles, mais de 40 civis foram mortos. O nome disso é chacina. É crime de guerra.
E, diante do escândalo, o presidente eleito Barack Obama resolveu hoje romper, de forma tímida, o silêncio que vinha mantendo há mais de dez dias. "A perda de vidas civis em Gaza e Israel é uma fonte de grande preocupação para mim". disse ele numa lacônica mas reveladora declaração.
Para o próximo presidente do país que patrocina e dá respaldo estratégico à escalada belicista de Israel é emblemática a linha isonômica traçada entre as vítimas de ambos os lados do conflito. Um expectador desavisado poderá supor que tanques do Hamas estariam, neste momento, às portas de Tel Aviv, bombardeando escolas e sinagogas, massacrando centenas de civis indefesos.
A espiral sangrenta parece não se deter por nada. A charlatanice diplomática de Sarkozy e Blair apenas serviu para dar mais tempo para que os tanques e os F-16 continuassem a fazer o trabalho sujo.
Só a mobilização das pessoas de consciência limpa, em todas as latitudes, poderá deter essa barbárie. Mas deve ser agora. Antes que seja tarde demais.

Artesãos do desastre

Que tal o Brasil se propor a aumentar, até 2017, em 172% o despejo de CO2 originado das termelétricas? Pode parecer loucura, mas está tudo descrito, número por número, na proposta de Plano Decenal de Energia (PDE), em consulta pública desde o dia 23 de dezembro.
Segundo os técnicos do setor elétrico, para impedir o tão temido apagão, no próximo decênio, deverão ser incorporadas ao sistema interligado mais 81 termelétricas, que inundarão a atmosfera com nada menos que 39,9 milhões de toneladas de CO2, contra as atuais 14,4 milhões produzidas atualmente.
Destas usinas, 4 serão movidas a carvão mineral, de longe a fonte mais poluidora. A UTE de Barcarena, essencial para os planos de expansão da Vale, integra esse esforço de desenvolvimento a qualquer custo.
Uma bomba-relógio que contradiz o discurso oficial das metas internas de redução do desmatamento, na opinião da senadora Marina Silva (PT-AC), ex-ministra do Meio Ambiente, na edição de hoje do Valor Econômico.

A marcha da insensatez

O deputado santareno Antônio Rocha (PMDB) deu um péssimo exemplo de incivilidade. Mais ainda: ao se envolver no espancamento de um grupo de adolescentes, ainda que motivada por uma suposta agressão verbal que sofrera, ele atravessou a fronteira da legalidade, indo ferir gravemente os preceitos que regem o decoro parlamentar.
Após o recesso, uma representação junto ao Conselho de Ética pode estar esperando o deputado, cobrando explicações para seu destempero.

A mordida do mutante

E a vênus platinada perdeu um pouco mais de seu brilho. Em 2008, a rede Globo perdeu 6% de sua audiência, confirmando a tendência de queda que vem se registrando desde 2006. Já a Record, sob o influxo de sua relação simbiótica com os cofres da Igreja Universal, prossegue em sua escalada de crescimento, abocanhando mais um ponto percentual no Ibope. A emissora de Edir Macedo alcançou uma audiência média de 6,6%, o que representa um aumento de 17% frente aos números apurados em 2007.

Terra de negro

A Fundação Cultural Palmares, ligada ao Ministério da Cultura, acaba de divulgar no Diário Oficial da União o reconhecimento de mais 37 áreas de remanescentes de quilombos. Ao todo, são 1.289 comunidades já legalizadas das, pelo menos, cinco mil existentes no país.
Com muito trabalho ainda por fazer, o movimento quilombola luta, desde o ano passado, contra as novas regulamentações estabelecidas pelo governo Lula, que burocratizam o processo de reconhecimento. Foi uma concessão - mais uma - ao lobby ruralista no Congresso.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Para o dia de São Nunca

Reforma Agrária durante o governo Lula? Pode esquecer. Pelo menos é a opinião de um especialista no tema, o geógrafo Ariosvaldo Umbelino, da USP. Para ele, a opção de Lula pelo aprofundamento do modelo agroexportador, sob o controle das grandes corporações, fecha todos os caminhos possíveis.
O artigo "Lula dá adeus à Reforma Agrária" na íntegra aqui.

No olho do furação

A Al Jazeera é a única rede de TV presente na Faixa de Gaza. Todos os demais correspondentes foram impedidos de penetrar no território quando iniciada, há dez dias, a agressão militar israelense. Seus repórteres já estavam lá, marcando uma posição de estar sempre no centro da notícia, tal qual havia feito durante a invasão do Iraque.
Vale a pena acessar o link internacional da emissora, que transmite em inglês ao vivo da cidade de Gaza, sitiada e sob intenso bombardeio.

O direito de nascer

Tem gente que acha pouco. Geralmente são os mesmos que acham natural que o Brasil seja um dos campeões mundiais da desigualdade. Mas, é fato incontestável, que os 50 anos da Revolução Cubana trouxeram ao povo da ilha conquistas sociais extraordinárias, jamais sonhadas se o país houvesse permanecido como bordel dos estadunidenses.
Veja-se o exemplo da taxa de mortalidade infantil. Os últimos dados disponíveis revelam que Cuba alcançou, mesmo sob o imoral bloqueio econômico que já se prolonga por mais de 40 anos, a menor taxa de toda a sua história: 4,7 por cada mil nascidos vivos. Antes da Revolução, eram 60 por cada mil.
Os indicadores cubanos nesta área, baseados no acesso pleno e universal aos serviços de atenção à saúde, são inclusive melhores que os vigentes em seu grande e arrogante vizinho. Nos Estados Unidos, morrem em média seis para cada mil crianças nascidas vivas.

domingo, 4 de janeiro de 2009

Barrados no baile

Durante o ano de 2008 cerca de 700 mil latino-americanos foram detidos e deportados dos Estados Unidos. Destes, como era de se esperar, 660 mil são cidadãos mexicanos que tentam vencer os horrores do deserto e da violenta patrulha de fronteira do Tio Sam. Foram contabilizadas, ainda, 386 mortes.

Dialética da Amazônia (pelo olhar do estrangeiro)

"A viagem terminou num lugar que seria exagero chamar de cidade. Por convenção ou comodidade, seus habitantes teimavam em situá-lo no Brasil; ali, nos confins da Amazônia, três ou quatro países ainda insistem em nomear fronteira um horizonte infinito de árvores; naquele lugar nebuloso e desconhecido para quase todos os brasileiros, um tio meu, Hanna, combateu pelo Brasão da República Brasileira; alcançou a patente de coronel das Forças Armadas, embora no Monte Líbano se dedicasse à criação de carneiros e ao comércio de frutas nas cidades litorâneas do sul; nunca soubemos o porquê de sua vinda ao Brasil, mas quando líamos as suas cartas, que demoravam meses para chegar às nossas mãos, ficávamos estarrecidos e maravilhados. Relatavam epidemias devastadoras, crueldades executadas com requinte por homens que veneravam a lua, inúmeras batalhas tingidas com as cores do crepúsculo, homens que degustavam a carne de seus semelhantes como se saboreassem rabo de carneiro, palácios com jardins esplêndidos, dotados de paredes inclinadas e rasgadas por janelas ogivais que apontavam para o poente, onde repousa a lua de ramadã. Relatavam também os perigos que haviam enfrentado: rios de superfície tão vasta que pareciam um espelho infinito; a pele furta-cor de um certo réptil que o despertou com o seu brilho intenso quando cerrava as pálpebras na hora sagrada da sesta; e a ação de um veneno que os nativos não usavam para fins belicosos, mas que ao penetrar na pele de alguém, fazia-lhe adormecer, originando pesadelos terríveis, que eram a som dos momentos mais infelizes da vida de um homem".

Milton Hatoum. Relato de um certo oriente (Companhia das Letras, 1989, p. 71-72)

Empregos, sim. Lá fora

O agronegócio, tão cantando em verso e prosa, é devedor ao povo brasileiro. Os enormes impactos socioambientais da soja e do gado, por exemplo, não são mitigados nem de longe pela geração de renda e emprego aqui no país. Basta ver que o complexo da soja - grão, farelo e óleo - ocupa o terceiro lugar na pauta de exportações dessas commodities, mas só a soja em grão tem assistido um crescimento expressivo nos últimos anos, em detrimento de seus subprodutos mais elaborados. Já a carne bovina é exportada em sua forma bruta em mais de 80%.
Resultado: emprego e renda se deslocam para os países importadores, sobretudo na Europa e Estados Unidos.

Pé no freio

O plano da Vale construir uma siderúrgica no Ceará, anunciado com pompa e circunstância há dois anos, está fazendo água. A sul-coreana Dongkuk, parceira da Vale no empreendimento, anunciou nesta semana que está pulando fora. As mudanças no mercado de energia, com o aumento do preço do gás, estaria tirando a competitividade do negócio.

sábado, 3 de janeiro de 2009

O lado das vítimas não tem vez

A imprensa internacional não vê o lado palestino na guerra de Israel contra os palestinos de Gaza. Não vê porque não quer, mas também porque seu trabalho continua limitado por um rígido e ilegal bloqueio israelense ao trabalho dos jornalistas estrangeiros. A opinião é de um jovem repórter brasileiro, Gustavo Chacra, correspondente de O Estado de São Paulo e que está há dias na região tentando fazer uma cobertura minimamente equilibrada.
O seu "Diário do Oriente Médio", nestes dias de cinza e de sangue, é leitura obrigatória.

Inventário de culpas

O cenário é o mesmo: a sucateada Unidade Municipal de Saúde da Marambaia, na Augusto Montenegro, periferia de Belém. Aquela mesma que apareceu, reluzente e bela, na propaganda reeleitoral do prefeito Duciomar há coisa de três meses. Agora, aparece na imprensa como cenário de morte por falta de atendimento, mais uma entre tantas.
Desta feita, o aposentado Francisco Cristovão Melo de Oliveira chegou à Unidade em meio a um ataque do coração. Lá, como sempre, não havia médicos. A família precisou arrombar o portão para tentar forçar um atendimento, mas era tarde demais. O caso acabou na delegacia, com o registro de um boletim de ocorrência por omissão de socorro.
Em julho de 2007, um cidadão morria ali, sob as luzes das câmeras dos telejornais das redes nacionais de TV, enquanto os familiares tentavam em vão reanimá-lo. Virou escândalo. O Ministério da Saúde enviou uma equipe de auditores para investigar o fato. O Ministério Público anunciou a abertura de procedimento. E, rigorosamente, não aconteceu nada. Ou melhor: a situação só fez piorar.
Até quando o caráter homicida da política de saúde do governo Duciomar Costa continuará a fazer vítimas?

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Cegueira seletiva

Relacionar as terras indígenas nas fronteiras com insegurança nacional é pura ideologia. Quem assegura é o missionário italiano Carlo Zacquini, coordenador do Cimi em Roraima. Para ele, em entrevista ao Estadão, o Exército e a PF deveriam coibir a invasão das áreas indígenas por garimpeiros ilegais. "Os militares falam do risco das ONGs internacionais, mas ignoram os aviões que pousam e decolam - todos os dias - de pistas clandestinas rasgadas no meio das terras dos ianomâmis em Roraima", afirmou.

Consumismo insano

Os dados são da feminista Rose Marie Murano em recente artigo pubicado no Correio Braziliense. A humanidade - vale dizer, sobretudo quem habita os países do centrais do capitalismo - está utilizando em consumo e desperdício algo como 1,3 planeta Terra. Isso é não só insustentável como profundamente injusto para os 3/4 restantes, que afundam na desesperança no que outrora se chamou de Terceiro Mundo. Nos anos 90, por exemplo, o PIB mundial cresceu em 134%, enquanto isso miséria saltou perto de 1.000%.
Romper essa cadeia que levará à destruição permanece como o desafio mais dramático para esse e todos os próximos anos.

Dialética da palavra Revolução

"1959, Havana

Cuba amanhece sem Batista

no primeiro dia do ano. Enquanto o ditador aterrissa em São Domingos e pede refúgio a seu colega Trujillo, em Havana os verdugos fogem, salve-se quem puder, em disparada.
Earl Smith, embaixador norte-americano, comprova, horrorizado, que as ruas foram invadidas pela ralé e por alguns guerrilheiros sujos, cabeludos, descalços, iguaizinhos à quadrilha de Dillinger, que dançam guaguancó marcando a tiros o ritmo".

"Só ganhamos o direito de começar"

diz Fidel, que chega no alto de um tanque, vindo da serra Maestra. Frente à multidão que fervilha, explica que é apenas o princípio de tudo isso que parece o final. Enquanto fala, as pombas descansam em seus ombros (...)".


Eduardo Galeano. Memórias do fogo: o século do vento (p.199 e 201).

Fade Out

A Rede Celpa deve explicações - e, além disso, indenização pecuniária - aos milhares de veranistas e comerciantes que amargaram a passagem do ano na mais completa escuridão em Mosqueiro, principal balneário da capital paraense.
O blackouts constantes em Belém não correspondem a nenhuma novidade, nesses tempos em que o sucateamento dos serviços de manutenção da rede elétrica é diretamente proporcional à elevação dos lucros da companhia privatizada.