A chacina de cinco jovens por militares da PM paraense na semana passada desvela muito mais do que a conhecida - e tão pouco combatida - rotina de violência que permeia a corporação. Revela, entre outras mazelas, a face encoberta de um fenômeno gravíssimo: o segundo "emprego" de policiais, os bicos que os PMs fazem durante seus dias de folga para complementar o esquálido salário que recebem.
O cabo PM Paulo Sérgio da Cunha, cuja morte deflagrou a sangrenta reação de seus colegas de farda, foi assassinado durante um assalto na periferia de Belém no sábado, 17. Ele estava de folga e as primeiras versões davam conta de que tivera o azar de estar na hora e no lugar errados, exatamente no momento em que assaltantes atacavam uma malharia. Mas com o passar dos dias, emergem outros relatos que atestam que o militar, em verdade, estaria trabalhando como segurança privada, usando armamento da PM, fato que está longe de ser uma raridade. Mais ainda: um suspeito detido poucos dias depois da matança confessou ser o autor dos disparos que matou o militar, revelando ainda que a execução teria sido encomendada por um determinado açougueiro, cuja participação efetiva nos acontecimentos ainda está sendo investigada. Entretanto, pesa contra esse pequeno comerciante a suspeita de ser ele quem alugava armas para a prática de assaltos na região, entre outros possíveis delitos.
Locação de armas para a prática de crimes: eis aí outro filão inexplorado que há muito exige uma resposta do poder público, através de um trabalho de investigação que levante o mapa desses pontos de comércio e desbarate as quadrilhas que se alimentam dessa prática criminosa em estreita conexão com a receptação de objetos roubados e, não raro, com o tráfico de drogas e outras práticas criminosas.
E agora? Será que a polícia agiu como uma horda de criminosos, matando indiscriminadamente, não apenas como forma de praticar vingança privada, mas também possivelmente para destruir indícios e provas que pudessem revelar toda a extensão e profundidade do eventual envolvimento de um de seus membros em procedimentos ilegais?
Com certo atraso, entidades de defesa de direitos humanos se levantaram. O silêncio nos primeiros dias foi perturbador e poderia ser interpretado como condescendência com ritos de execução sumária de suspeitos. Já o governo que se diz comprometido com o combate à violência adotou uma postura burocrática. Prometeu investigar com rigor, mas não adotou nenhuma providência que sinalizasse essa intenção, já que o processo caiu na vala comum de dezenas de outras investigações de rotina que as corregedorias de polícia devem fazer toda vez em que uma ação policial resultar em morte. Como se sabe, ao agir assim essas autoridades estão apostando no esfriamento do caso e, no limite, na consagração da impunidade.
Que este caso escabroso sirva de lição: ou a sociedade e o Estado tomam uma atitude enérgica e corajosa para deter o banditismo presente no seio do aparato policial, pagando os custos inerentes a este enfrentamento, ou estará se instaurando o caldo de cultura da mais indecente complacência com aqueles que se especializaram nesse tipo de extermínio praticado sob a proteção oficial.
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terça-feira, 27 de janeiro de 2009
O diabo mora nos detalhes
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Um comentário:
Esta patente que a Pm agiu para vingar, como todas as organizações criminosas a morte é a pena minima, com a palavra a Governadora que se faz de cega, muda e surda.
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