sexta-feira, 31 de outubro de 2008

Dia da caça

Até a bancada ruralista, acostumada a mandar e desmandar no Congresso Nacional, tem seus percalços de vez em quando. Foi o que aconteceu neste mês quando a Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados derrubou, por voto da maioria, projeto de Valdir Colatto (PMDB-SC), que pretendia simplesmente tornar sem efeito o Decreto nº 4.887/2003. Poderia ser uma proposta qualquer se este decreto presidencial não fosse o instrumento que tem permitido nos últimos anos o mais amplo trabalho de identificação e titulação das terras ocupadas por comunidades remanescentes de quilombos em todo o país. Ora, revogar o decreto seria tornar letra morta o art.68 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT) da Constituição Federal, que consagrou o direito dos quilombolas às suas terras tradicionais, hoje objeto de enorme interesse de grandes grupos interessados na exploração vegetal e mineral, além da insaciável sede do grande capital por incorporar novas áreas para as frentes de expansão da pecuária e o dos agrocombustíveis.
Diante da derrota parcial, os ruralistas anunciam recurso ao plenário. Aguarde-se, para os próximos meses, os novos rounds a serem disputados contando com o declarado apoio da grande mídia e, por baixo dos panos, por movimentos tíbios do governo Lula que até providenciou recentemente, após um simulacro de consulta às entidades do movimento negro, uma revisão administrativa que introduz mais entraves burocráticos à continuidade do reconhecimento legal de extensas áreas quilombolas. Como se percebe, a abolição por essas plagas parece estar fadada a não se completar nunca.

Pará no pelourinho

Mais trabalhadores escravos libertados no Pará. Desta feita, foram 51 retirados do trabalho forçado em carvoarias e numa fazenda na área rural de dos municípios de Abel Figueiredo e de Rondon, sudeste paraense. Com mais esta operação do Grupo Móvel do Ministério do Trabalho e Emprego, o Pará continua liderando o ranking do maior número de autuações por este crime. De 1995 para setembro deste ano, segundo a última estatística divulgada pela Frente Nacional de Combate ao Trabalho Escravo, o Pará foi palco do resgate de 10.774 trabalhadores escravizados, nada menos que 34% do total do país.

Para muitos, lamparina

O governo federal não cumprirá as metas do programa Luz para Todos, menina dos olhos do presidente Lula e apontado como um dos principais cabos eleitorais entre a população pobre do interior do país. Quase 200 mil famílias, cujas ligações deveriam ser concluídas neste ano, serão jogadas para o incerto 2009. Assim, a meta de atingir 2 milhões de domicílios até o final de 2008 foi para o espaço, devendo aguardar melhores ventos, sobretudo aqueles que ganham forças às vésperas das eleições.

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

A sangue frio

O pequeno Isac Gabriel Barbosa, de um ano e sete meses, morreu ontem no Pronto Socorro do Umarizal, no centro de Belém, depois de quase 24 horas de agonia. A família denuncia que faltou atendimento adequado e que seu quadro de saúde foi agravado pela ausência da médica especialista, que faltou ao plantão, e até de equipamentos elementares para a retirada de um caroço de açaí alojado na garganda da criança desde a manhã da terça-feira (29).
Alguém tem dúvida de que estamos diante de um homicídio?
Alguém tem alguma esperança de que os culpados - de todos os níveis e patentes - sairão mais uma vez impunes?

Matemática imperial

O placar foi incontestável: 185 a 3. Isso mesmo, apenas três votos a favor da manutenção do bloqueio a Cuba. Contra todo o restante da comunidade internacional, Estados Unidos, Israel e Palau, pequena nação insular da Micronésia, no Pacífico, isolados, mas arrogantes, desmoralizaram, pela 17a vez consecutiva, a Assembléia Geral das Nações Unidas, que condena, ano após ano, o cerco econômico, diplomático e militar à ilha de Fidel desde os idos de 1962.

Beatitude mais que suspeita

As palavras do prefeito reeleito de Belém, Duciomar Costa (PTB), em peça publicitária paga - sabe-se lá por quem - nos jornais de ontem, podem revelar tendências até agora pouco visíveis em sua controvertida personalidade. Vejamos apenas a abertura: "Senhor meu Deus, às vezes não sei por onde começar, não sei se te confesso em primeiro lugar, (sic) as minhas faltas ou te peço para desoprimir as minhas dúvidas". A frase, certamente, estaria mais apropriada se tivesse partido de um emérito integrante da ultra-ortodoxa Opus Dei, em plena sessão de mortificação com o uso do cilício, e não de um cidadão de tantos e tão públicos pecados.
De duas, uma: ou Duciomar tem um senso de humor mais refinado do que se supunha, ou ele possui planos para ingressar - quem sabe já em seu próximo mandato - no lucrativo mercado da fé, disputando palmo a palmo com outros empreendedores de sucesso. O bispo Edir Macedo, do alto de seu império multinacional, precisa se acautelar, porque vem aí um concorrente de peso.

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Caixa de Pandora

Guardem este nome: Bruno Kaelin. Ele é ex-executivo da gigante francesa Alstom e esteve preso na Suíça de agosto até o início deste mês, acusado de ter coordenado a distribuição de milionárias propinas a políticos do Brasil e da Venezuela, entre 2000 e 2003. Suas eventuais revelações à Justiça poderão provocar grandes estragos do outro lado do oceano.
Entre as muitas denúncias denúncias envolvendo a Alstom, uma deve ser fonte de muita dor de cabeça a tucanos de altíssimo coturno. Trata-se de US$ 6,8 milhões em pagamentos ilegais a dirigentes do governo paulista em troca de favorecimento em compras do metrô e do setor elétrico, num escândalo que permanece, como brasa sob cinzas, à espera de uma investigação profunda que desvele mais esta bem nutrida rede de corrupção e lavagem de dinheiro.

No horizonte, arma-se o Tsunami

Os dados são da Organização Internacional do Trabalho (OIT): o aprofundamento da crise global pode aumentar, até 2009, em 20 milhões o número de desempregados no mundo, superando pela primeira vez a marca de 200 milhões de seres humanos submetidos à barbárie da falta de trabalho.
Os setores mais afetados, na primeira onda do maremoto que emite sinais devastadores no centro e na periferia do capitalismo, serão justamente os de maior vigor no último período: construção civil, indústria automobilística, setor imobiliário, finanças e serviços.

Adoradores de Talião

O corpo destroçado de um homem, suspeito de tentativa de estupro, ficou exposto por horas, amarrado num poste nos confins de uma esquecida rua periférica de Marituba, região metropolitana de Belém. Festa macabra para os sangrentos cadernos policiais que circularam ontem (28), com farta e indecorosa cobertura fotográfica e texto editado na forma de uma dissimulada apologia ao crime.
Mais um linchamento, mais um sinal de que se perdeu, completa e totalmente, o controle sobre a segurança pública e que o salve-se quem puder, com toda sua carga de irracionalidade, chegou para ficar.

Fica a pergunta incômoda: após as eleições e sem o influxo milionário da ofensiva midiática paga com recursos públicos, que tal a Secretaria de Segurança da governadora Ana Julia apresentar suas estatísticas – as verdadeiras, por favor – sobre os supostos resultados da propalada operação Força pela Paz?

terça-feira, 28 de outubro de 2008

Miragem eleitoral

Segundo fontes ligadas ao Sindicato dos Servidores Públicos de Belém (Sisbel), chega a R$ 900 milhões a fatura das perdas salariais que o prefeito Duciomar prometeu, a partir de janeiro, começar a pagar ao funcionalismo, o que equivale a quase um orçamento anual da Prefeitura (R$ 1,2 bi). Logo se vê que para ganhar o voto de eleitores incautos vale tudo, até prometer o impossível.

Cara e coroa

Um só governo, dois discursos completamente antagônicos. Enquanto a dupla Tarso Genro (Justiça) e Paulo Vannuchi (Direitos Humanos) defende a punição dos criminosos da ditadura – a tortura não é e nem nunca foi crime político, portanto não é passível de anistia -, Jefferson Guedes (Advocacia Geral da União) dá parecer favorável aos militares reformados Carlos Brilhante Ustra e Audir Santos Maciel, ex-comandantes do DOI-Codi paulista, acusados pela Justiça Federal pelo desaparecimento, morte e tortura de, pelo menos, 64 pessoas, na década de 1970. Resultado: lá está, mais uma vez, o Brasil, a caminho do banco dos réus na Corte Interamericana de Direitos Humanos, com sede em San José, Costa Rica.

Acredite se quiser

A promessa de José Priante se tornar, de agora em diante, o "líder da oposição" ao segundo mandato de Duciomar Costa (PTB), em Belém, parece ser muito boa para ser verdade. O histórico de adesismo do PMDB aos governos de plantão - quaisquer que sejam eles, aliás - não serve de estímulo ao repentino ímpeto oposicionista. Recorde-se que foi o mesmo PMDB que apoiou Duciomar desde o 2o turno de 2004 e, após a vitória, ocupou a estratégica área de educação. É por estas e outras que as críticas às vésperas das eleições, por mais acerbas que possam ser, demonstram ter tão pouca eficácia.

Ouvido de especulador

Lula pede, pede, e nada dos banqueiros liberarem os bilhões desbloqueados dos compulsórios para o crédito. Alegam que é melhor – para eles, é lógico – construir um “muro de liquidez”, investindo em títulos do governo, atraídos pelas estratosféricas taxas de juros. Que ninguém se espante: a oratória presidencial continuará a cair no vazio, porque a única racionalidade que o sistema financeiro conhece é aquela que defende seus próprios e particularistas interesses.

segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Enquanto isso, em Gotham City

Sob flashes e holofotes, a multidão de repórteres aguardava ansiosa uma declaração oficial do grande vencedor. Alheio à algaravia, ele mantinha impassível sua contumaz cara de paisagem, divagando em torno de pensamentos tortuosos. Enquanto fixava o olhar em um ponto perdido no horizonte, segurava com força o cabo de madrepérola de seu guarda-chuva preferido. Passado e presente num turbilhão de emoções anfíbias. O gozo do triunfo em mistura acre com remotos sentimentos de culpa, recalcados em um canto escuro de sua mente prodigiosa. Melhor não pensar demais. A hora é de panis et circenses.
Antes de iniciar sua locução à turba embevecida, pensou pela enésima vez sobre o quanto pode ser mentiroso o axioma de que o crime não compensa.

sábado, 25 de outubro de 2008

Dialética da palavra desencontrada

"104 - A vida, como comentário de outra coisa que não alcançamos, e que está aí ao alcance do salto que não demos.
A vida, um balé sobre um tema histórico, uma história sobre um fato vivido, um fato vivido sobre um fato real.
A vida, fotografia do número, possessão nas trevas (mulher, monstro?), a vida, proxeneta da morte, esplêndido baralho, tarô de claves esquecidas que umas mãos reumáticas rebaixam a uma triste paciência solitária (-10)".

Julio Cortázar (1914-1984), O Jogo da Amarelinha (6a edição, 1999, página 104).

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Sniper zarolho

Perder o timing costuma ser fatal. O atirador de elite que perde o momento exato para fazer chamado tiro comprometimento na testa do seqüestrador estará condenando à morte o refém. Da mesma forma, em política, perder o momento exato para desfechar o ataque mortal contra o adversário – se é que existe mesmo este ou aquele ataque que, isoladamente, pode levar o contendor à lona -, pode encurtar o caminho para a derrota quase certa.
A bateria de comerciais da campanha de Priante relembrando alguns dos aspectos mais tenebrosos da folha corrida de Duciomar, 72 horas antes do pleito, tem tudo para ser inócua. A esta altura, com as intenções de voto em grau adiantado de cristalização, a elevação de tom dificilmente surtirá o efeito desejado. As cartas, afinal, estão todas sobre a mesa e o jogo já vai longe, com seu elevado grau de vício e, salvo o imponderável, com o final pesaroso praticamente selado.

Ábaco pós-moderno

A conta é do economista Macos Arruda: para acabar a fome crônica no planeta seria necessário o investimento diário de US$ 3 para cada um dos 850 milhões de famélicos, ou algo em torno de US$ 930 bilhões ao ano. Impossível? Que nada! Só o socorro ofertado pelos Estados Unidos e União Européia aos espertos operadores da ciranda financeira global já consumiu, nestas últimas semanas, pelo menos US$ 2 trilhões. E é só começo.

Há vagas

Informações chegadas da região de Ulianópolis, sudeste do Pará, dão conta do frenético recrutamento de pistoleiros por parte de grandes fazendeiros. O exército particular estaria sendo mobilizado para desencadear, nas próximas horas, uma operação clandestina de despejo de mais de 500 famílias de trabalhadores sem terra que ousaram penetrar naquele território até então reservado para o usufruto de latifundiários de altos cabedais.

quinta-feira, 23 de outubro de 2008

Vale-Destruição

Aconteceu como era esperado. O Conselho Estadual de Meio Ambiente (Coema) aprovou ontem, a Licença Prévia (LP) para a construção da Usina Termelétrica da Vale, no distrito indistrial de Barcarena (123 quilômetros da capital). Prevaleceu a chantagem de Roger Agnelli que havia condicionado a liberação imediata da licença à manutenção dos projetos de expansão dos negócios da empresa no Pará, inclusive a prometida siderúrgica em Marabá.
Não por coincidência, os únicos votos contrários partiram dos representantes do Ministério Público Estadual e da Federação dos Trabalhadores na Agricultura (Fetagri), convencidos dos enormes impactos socioambientais envolvidos na implantação da usina a carvão mineral, tecnologia suja e de altíssimo risco às populações locais e ao frágil equilíbrio da região.

Tudo que é sólido...

"Não tem banco quebrando", garante o ministro Guido Mantega. Será?
O governo federal acaba de editar uma medida provisória dando poderes para a Caixa e o Banco Brasil estatizarem, sem licitação, bancos e outras instituições financeiras, como seguradoras e companhias privadas de previdência e capitalização, além de corretoras e administradoras de cartão de crédito, mostrando que ninguém, absolutamente ninguém, dá crédito para o discurso tranquilizador de que a crise global chegaria por aqui como uma simples marola.

Combinação nada aleatória

Uma nova modalidade de nepotismo está surgindo. Ela burla sem dó nem piedade a súmula 13 do Supremo Tribunal Federal (STF), que vetou expressamente o nepotismo cruzado. Agora, os parentes passam por um intricado – e não menos eficiente – processo de triangulação para assegurar suas sinecuras, envolvendo três ou mais nomeações em órgãos diferentes, tudo para apagar os rastros da maracutaia. O importante é que ninguém fique prejudicado, exceto o erário público, é claro.
O copyright da original idéia, como não poderia deixar de ser, deve ser procurado em alguns confortáveis gabinetes no Tribunal de Contas dos Municípios (TCM).

quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Com seu faro de doberman

Como num roteiro noir, rosto perdido na multidão. Nome trocado, vida nova na megalópole onde milhões de trajetórias se confundem plasmadas e indistintas. O que o pai da garota Eloá não poderia jamais supor é que a tragédia - com seu bafo de morte – viria a atropelar sua família, devassando-a inapelavelmente.
Só muita imaginação e uma boa dose de sadismo, para criar um roteiro onde um homem acusado de ser matador de aluguel, mais de uma década depois, possa ser descoberto no exato momento em que, sob a audiência eletrizada do país inteiro, sua filha de 15 anos cumpria os últimos atos de uma tragédia sangrenta.

G, de genérico

Frase enigmática ouvida de uma felpuda raposa da política paroara: o Partido da República (PR, ex-PL) é um genérico.
Resta saber se a vitaminada legenda de Anivaldo Vale, vice na chapa de Duciomar, vai se restringir ao papel de linha auxiliar, uma espécie de cavalo de Tróia de luxo, para uma das grandes forças que movem no tabuleiro político do Estado, todas com olhos postos na nebulosa disputa de 2010.

Poço sem fundo

Na tentativa – até agora frustrada – de conter a escalada do dólar, o presidente do Brasil, ops, do Banco Central do Brasil, Henrique Meireles, já torrou, para a alegria dos banqueiros e especuladores, algo como US$ 23 bilhões das reservas do Tesouro Nacional, estimadas em US$ 200 bi. Para se aquilatar o tamanho do rombo, a mãozinha ao cada vez mais insaciável mercado representou o equivalente a mais de três anos do principal programa social do governo, o Bolsa Família, que para 2008 tem recursos estimados em R$ 16,5 bi.

terça-feira, 21 de outubro de 2008

Loucura: última estação

A cólera que transborda, assassina, não é amor.
O tiro, insidioso e traiçoeiro, que mata sem dar oportunidade de defesa é tudo, ou qualquer coisa, mas definitivamente não é amor.
A paixão desfigurada em suas múltiplas manifestações de posse ensandecida, esta sim está na raiz de tantas tragédias, como a que abalou o país e marcou com sangue inocente, sob os olhares atentos e impotentes de tantos milhões, no modesto conjunto habitacional de Santo André, em São Paulo.
O cenário, entretanto, poderia ser qualquer um. Poderia ser uma mansão reluzente ou um casebre abjeto. A sandice que transforma a pessoa amada (?) em objeto e que lhe sentencia à morte, não possui preconceito de qualquer espécie. Está entranhada na cultura secular da supremacia masculina – “ela é minha e tenho sobre ela posse, uso, gozo e disposição” - e se reproduz e se justifica diante de uma sociedade cúmplice e só levemente envergonhada. As vítimas são contadas aos milhares, numa corrente contínua de truculência e barbárie.
Que o martírio da jovem Eloá sirva de lição e de alerta. Há um elo quebrado, cuja existência sinaliza a proximidade – inapelável? – de uma convivência social cada vez mais condicionada pelo signo da posse, da violência de gênero e da coisificação das relações humanas.
Porém, há uma saída. Em algum lugar, frágil e sufocada, germina a possibilidade de instituir formas humanizadas e verdadeiramente amorosas de convívio. Resta saber quem se habilita a viver essa aventura civilizatória na contramaré dos cinzentos tempos em que vivemos.

Ele não usa black-tie

Para ir muito além do discurso oficial e desvendar o emaranhado de siglas e de estatísticas do desempenho da educação brasileira, hoje, já há na blogosfera um porto seguro. Desde a semana passada está no ar o blog do professor Luiz Araujo, mestre em políticas públicas em educação pela UNB. Ele é paraense, foi vereador em Belém, deputado estadual e secretário municipal de educação durante a gestão de Edmilson Rodrigues (1997-2004). Atualmente reside e trabalha em Brasília, assessorando o senador José Nery (PSOL).
O link para o Blog do Luiz Araujo está aí ao lado, nos preferidos do Página Crítica.

Fome, tragédia global

Quando Josué de Castro escrevia "O Livro Negro da Fome", em 1957, o mundo convivia com a vergonhosa existência de 80 milhões de famintos. Meio século depois, com o fim da Guerra Fria e muitas revoluções tecnológicas depois, são 800 milhões de seres humanos condenados à fome crônica, enquanto um seleto grupo de 30 megaempresas transnacionais controla de forma monopolista a produção e o comércio de alimentos no planeta.
Apesar de tudo, os Estados nacionais se arrastam, de joelhos, aos pés do altar do onipotente mercado. Quantas vidas poderiam ser salvas com uma pequena porção da "ajuda" que os cofres públicos, no centro e na periferia, estão dando para socializar o prejuízo da quebra do cassino global?

segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Elefante à la carte

De fora para dentro no acirrado campo da disputa eleitoral em Belém, atua a mão de ferro que, para muitos, já ultrapassou os limites disciplinadores estabelecidos pela legislação eleitoral.
Enquanto se esmera na tentativa de regular o uso (ou eventual abuso) dessa ou daquela expressão consagrada na língua portuguesa - um mosquito atravessado e indigesto -, o que acontece fora dos impolutos autos, no mundo real das ruas, é a mais flagrante compra de consciências, aos milhares e milhares, através de mecanismos que de invisíveis não têm nada.
Trata-se, como se vê, de um gigantesco e vistoso elefante que parece descer redondo, redondo, sem provocar qualquer mal-estar.

Um juiz em seu labirinto

Não há qualquer resquício de interesse público na decisão do juiz José Torquato Araujo de Alencar, titular da 1a Vara da Fazenda Pública da Capital, determinando que a Prefeitura modifique o traçado da avenida 25 de Setembro, em Belém, uma via totalmente arborizada que marca de forma característica a área contígua ao Bosque Rodrigues Alves, uma das últimas porções de floresta urbana que sobreviveu ao crescimento e urbanização da cidade. Ao contrário, a decisão é não só equivocada tecnicamente - por seu caráter de via local e por sua pequena extensão a 25 não tem como se tornar em um corredor de tráfego - como presta um gigantesco desserviço aos interesses coletivos que, em tese, o Ministério Público - autor da ação - e a própria Justiça têm o dever constitucional de preservar.Afinal, a cidade não deve ser pensada apenas para atender os interesses dos proprietários de carros. Verdade meridianamente ausente nas mal traçadas linhas de uma desastrada e injusta sentença.

Paintball (de lama)

O Liberal e o Diário do Pará, neste domingo (19), amanheceram pintados para a guerra. Guerra suja movida por interesses que não têm a menor chance de sobreviver se forem alçados à luz do dia.
Para o Repórter 70, principal coluna de opinião de O Liberal, Priante (muito embora não nominado explicitamente), quando deputado federal, teria sido flagrado em uma gravação - clandestina, por certo - condicionando a liberação de R$ 1,2 milhão da Funasa para uma prefeitura do Baixo Amazonas, desde que a empreiteira da futura obra já estivesse devidamente escolhida.
Por sua vez, o jornal da família Barbalho resolveu brindar seus leitores com um bombardeio de saturação: alvejando Duciomar, candidato de O Liberal, acusado de superfaturar a polêmica orla no Rio Guamá - o tal Portal da Amazônia - onde o aterro hidráulico de R$ 19,48 a tonelada teria sido substituído pelo aterro convencional, a R$ 46,20 a tonelada transportada por caçambas e balsas, gerando um acréscimo de, pelo menos, R$ 30,5 milhões; e revelando que a Justiça Federal acatou, em julho passado, denúncia do Ministério Público contra os irmãos Rômulo e Ronaldo Maiorana por crime contra o sistema financeiro, acusados pelo desvio de R$ 4 milhões da antiga Sudam, entre anos 1995 e 1997.
A virulência dos ataques sinaliza que as escaramuças tendem a prosseguir e, inclusive, aumentar o teor ofensivo dos petardos disparados mutuamente, pelo menos até que seja conhecido o resultado do segundo turno em Belém. Aí, quem sabe, poderá sobrevir um armistício entre os cada dia mais estressados barões da imprensa paraense. Ou não.

sábado, 18 de outubro de 2008

Pausa

O Página Crítica entra em recesso neste final de semana. Na segunda-feira (20), postagens e comentários estarão de volta. Bom descanso a todos.

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

O kaiser paulista

O cenário de guerra na repressão violenta de tropas da PM contra milhares de policiais civis em greve, que por muito pouco não resultou em uma tragédia com vítimas fatais, em frente à sede do governo paulista, ontem à tarde, possui um único responsável: o autoritário governador José Serra (PSDB). A greve se prolonga por mais de 30 dias, esbarrando no muro de intolerância erguido por um governador fiel a um estilo prussianamente anti-sindical.
Qualquer semelhança com os métodos dos recentes governos tucanos paroaras não será mera coincidência.

Yes, nós temos bananas

O esquisito Mangabeira Unger, titular do Ministério de Assuntos Estratégicos, tem uma atração fatal pela polêmica. Suas idéias sobre a Amazônia, na contramão dos movimentos sociais e do que existe de mais progressista na área acadêmica, jogam água no moinho do aprofundamento do modelo devastador. Agora, passa a flertar abertamente com a grilagem de terras públicas. À Folha de São Paulo de hoje ele saiu com essa pérola: "Se quiser vender, deve poder vender, não estamos preparando um modelo agrário soviético nem populista; precisamos confiar no trabalho e no mercado", ao defender o "direito" do ocupante de áreas da União poder vendê-las após a regularização fundiária de lotes de até 400 hectares.
A polêmica proposta de "rito sumário" está incluída entre as prioridades do Plano Amazônia Sustentável (PAS), sob coordenação de Unger, e pode atingir até 4% da Amazônia Legal - algo em torno de 284 mil posseiros. Dentre estes, é claro, uma boa quantidade de grileiros e desmatadores ilegais, que talvez nem desconfiem que possuam um aliado tão bem situado nos altos escalões do Palácio do Planalto.

Turista Acidental

Do alto de seus amplos conhecimentos de geografia, Duciomar bem que poderia discorrer, em um de seus programas eleitorais, sobre a importância para o turismo nacional da pequena São Luiz do Curu.
Em tempo: a cidadezinha fica a milhares de quilômetros do Pará, encravada no Norte cearense, e tem como principal (e talvez único) produto de exportação os misteriosos contratos de gaveta, sonolentamente depositados em seu cartório de títulos e documentos.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Pecados Alheios

Os especuladores internacionais podem continuar rindo à toa. O ministro Paulo Bernardo (Planejamento), já deu o recado: se a crise apertar, vai pendurar a conta nos ombros do funcionalismo federal, mais uma vez ameaçado de ficar, no próximo ano, sem aumento salarial. Isso vale até para os acordos de reposição que foram assinados pelo governo Lula e, agora, podem ser solenemente ignorados. Entrementes, o Banco Central não pára de torrar bilhões de dólares na maior Bolsa-Banqueiro de toda a história.

O falso demiurgo

Antes dele, o caos. Tudo que existe em Belém, absolutamente tudo, foi obra de suas operosas mãos. Até parece que o ele chegou, como um humilde grumete, aboletado na caravela do capitão português Francisco Caldeira Castelo Branco, nos idos de 1616.
Fantasiosa e de baixíssima credibilidade, a propaganda eleitoral de Duciomar exala uma arrogância fora de lugar. Dentro de poucos dias será possível saber se esse marketing despido de qualquer compromisso ético tapará os inúmeros furos no casco de sua periclitante nau eleitoral.

O mico do Minc

Parece ser inesgotável a capacidade do ministro Carlos Minc (Meio Ambiente) produzir, a cada semana, pelo menos uma patacoada digna de ilustrar o anedotário nacional. Fascinado pela produção de factóides, ele tem perdido ótimas oportunidades para ficar quieto, única posição em que é capaz de minimizar os estragos que produz em série. Depois de divulgar uma lista dos 100 maiores desmatadores da Amazônia colocando no topo os assentamentos do Incra, para logo a seguir revelar que se equivocara e não era bem assim, o ministro midiático resolveu trocar mesuras e tapinhas nas costas do notório Eike Batista, chairman da mineradora MMX, de quem recebeu R$ 11 milhões como doação para serviços em parques nacionais. Tudo estaria lindo se Eike não fosse um contumaz devastador, contra quem o próprio Ibama acabara de lavrar multas de R$ 29 milhões por crimes ambientais no Mato Grosso, além de estar indiciado por falcatruas variadas em licitações públicas no Amapá, fisgado na rede do Ministério Público Federal.
Além de tentar furar - dia sim e dia não - as pautas dos principais meios de comunicação do país, Minc precisa ler mais o que está sendo publicado. Talvez ainda haja tempo para que ele salve, ainda que parcialmente, algo do prestígio que acumulou durante muitos anos de luta em defesa do planeta.

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Que rei sou eu?

A tomar por verdadeiras as diferentes versões dos acordos que teriam sido apalavrados pelo candidato José Priante (PMDB) na costura de seus apoios no segundo turno em Belém, vai faltar espaço para acomodar tantos e tão gulosos neoaliados. Só o PT, por exemplo, teria exigido nada menos que um terço de todos os cargos do governo municipal, numa espécie de remake, dois anos depois, das condições que Priante e o PMDB teriam imposto para apoiar Ana Julia na reta final da disputa pelo Palácio dos Despachos.

Carnaval Devoto

Um Círio de Nazaré visto de um ângulo diferente do tradicional. Nada de planos gerais, multidão indistinta, massa de fiéis sem nome e sem identidade. Nada, também, do enfadonho desfilar de estatísticas cada dia mais espetaculares, mas que dizem pouco, muito pouco, da verdadeira profundidade da maior e mais rica manifestação do catolicismo popular brasileiro. O Profissão Repórter exibido pela Rede Globo na noite de ontem (14), pilotado pelo sempre competente Caco Barcellos e sua ágil equipe de jovens jornalistas, trouxe um Círio de Nazaré rés-do-chão, num torvelinho de emoções, fé e crenças ancestrais. Um documentário à altura do evento que sintetiza, em suas múltiplas manifestações, o cerne da cultura amazônica que germina nestas terras. Vale a pena, com absoluta certeza, ver de novo.

Neutralidade Suspeita

Não chegou a surpreender a posição adotada pela governadora Ana Júlia (PT) no segundo turno da capital. A neutralidade prometida, sob o argumento de que Duciomar e Priante pertencem a partidos de sua base, deve ser lida como uma forma envergonhada de contribuir com a reeleição do atual prefeito, que objetivamente lucra com a sinalização de que o calor da máquina estadual não servirá de combustível para alavancar o candidatura do PMDB.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Ainda há tempo

Há poucos dias o ex-ditador argentino Jorge Rafael Videla, de 83 anos, foi transferido de sua residência, onde cumpria prisão domiciliar, para um presídio para continuar cumprindo sua pena de prisão perpétua pelo crime de lesa-humanidade - tortura e desaparecimento forçado de, pelo menos, 66 pessoas - cometido durante o último regime militar naquele país (1976-1983).
No Brasil, onde a impunidade virou regra, a condenação de um oficial do Exército pelo crime de tortura tem provocado viva polêmica. Em defesa do coronel reformado Carlos Brilhante Ustra, acusado de comandar pessoalmente o martírio de detentos nos porões do DOI-Codi paulista na década de 70, levantam-se vozes representativas do fascismo nativo, como o algo folclórico Ternuma (Terrorismo Nunca Mais), em alerta contra o suposto "revanchismo" contido na corajosa sentença do juiz titular da 23ª Vara Cível do Tribunal de São Paulo, Gustavo Santini Teodoro. Pela primeira vez, o Judiciário individualizou a conduta criminosa de um militar de alta patente pelo crime de tortura, o que poderá finalmente lançar luz sobre um dos períodos mais sombrios da história recente brasileira.
Nas palavras do poeta nacional cubano, Nicolás Guillén (1902-1989), até quando a sociedade brasileira permanecerá indiferente a "esse grande rio de ossos, a esse grande rio de sonhos, a esse grande rio de sangue, a esse grande rio?".

Hemorragia

Quando a maioria dos prefeitos logrou a reeleição, inclusive nas capitais, é cada vez maior o aperto da recandidatura de Duciomar Costa (PTB), em Belém. Seu balaio eleitoral emagreceu exatos 100676 votos, que é a diferença entre a votação obtida no primeiro turno de 2004 e o magro resultado do último dia 5.
Em sendo corretos os números do último Ibope, que sinaliza empate técnico entre Duciomar e Priante por uma diferença líquida de apenas um ponto percentual, é de se esperar, para os próximos dias, os primeiros sinais de desespero na já apreensiva tropa de apoiadores do atual prefeito.

Carrinho por trás

Na guerra eleitoral a ordem é não fazer prisioneiros. Em São Paulo, por exemplo, baixou o desespero na campanha petista de Marta Suplicy, dezessete pontos atrás do demo Gilberto Kassab. Para tentar alvejá-lo, desde domingo passado, Marta colocou no ar um comercial polêmico, onde instiga o eleitor a descobrir "Quem é Kassab?". Após perguntar sobre seu passado político, conclui, com mal disfarçada naturalidade, perguntando se ele é casado e tem filhos. A velada (?) insinuação de que o prefeito seria homossexual é muito mais que um golpe baixo. É um atentado à biografia de Marta, que há anos tem amargado forte preconceito por sua postura de corajosa defesa de temas espinhosos como a união civil de pessoas do mesmo sexo.
Pode até ser que o petardo surrupie alguns pontinhos do democrata - talvez, porque existe uma boa probabilidade da manobra produzir resultado contrário ao esperado -, mas o estrago já estará feito, numa demonstração de que o apego aos princípios, no petismo de hoje, é mesmo coisa de museu.

sexta-feira, 10 de outubro de 2008

Recesso Nazareno

A partir de hoje o Página Crítica entrará em recesso. Na terça-feira, 14, retornam as postagens e a moderação de comentários. Feliz Círio a todos.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

Dialética da palavra que não se cala

"Contra o Vento e as Marés

Este poema (contra o vento e as marés) levará minha assinatura.
Deixo-lhe seis sílabas sonoras,
um olhar que sempre traz (como um passarinho ferido) ternura,

Um anseio de profundas águas mornas,
um gabinete escuro em que a única luz são esses versos meus,
um dedal muito usado para suas noites de enfado,
um retrato de nossos filhos.

A mais linda bala desta pistola que sempre me acompanha,
a memória indelével (sempre latente e profunda) das crianças
que, um dia, você e eu concebemos,
e o pedaço de vida que resta em mim.

Isso eu dou (convicto e feliz) à revolução.
Nada que nos pode unir terá força maior.

Ernesto Che Guevara".

Este poema foi escrito pelo guerrilheiro argentino-cubano entre setembro e outubro de 1967, poucos dias antes de sua prisão e posterior fuzilamento por tropas do Exército boliviano, em Vallegrande, região esquecida daquele país sul-americano.
Os versos dedicados à Aleida, esposa de Che, foram escritos em seus famosos cadernos de campanha, que por tortuosos caminhos acabaram sobrevivendo à fúria de seus captores. Hoje, 41 anos depois, é seu testemunho de coragem e compromisso com os povos que permanece acalentando os mais generosos sonhos de justiça e liberdade, em todos os quadrantes do planeta.
La Higuera, a pequena e poeirenta aldeia que foi palco do martírio de Guevara, segue sendo um ponto de encontro para os que sabem que a luta sempre vale a pena. Quanto a seus carrascos, de todas as patentes e latitudes, pouco ou quase nada ficou registrado. Seus nomes lá ficaram soterrados em sua própria covardia e ignomínia.

Sinal de alerta

O governo do Equador, em ato soberano, mostrou a porta de saída do país para a construtora brasileira Norberto Odebrecht e exigiu que, em no máximo 30 dias, abandone suas quatro obras em andamento, estimadas em US$ 650 milhões.
A razão do conflito foi, segundo o presidente Rafael Correa, os prejuízos causados pela empreiteira na construção da hidrelétrica de San Francisco, responsável por 12% da geração de energia do país. Inaugurada ano passado, com financiamento do BNDES da ordem de US$ 243 milhões, a usina parou de funcionar em 6 de junho devido a problemas no túnel e nas turbinas.
A Odebrecht, a Camargo Corrêa e a Andrade Gutierrez, líderes do mercado nacional da construção pesada, pretendem construir, com o aval do governo Lula, a bilionária usina de Belo Monte, na Volta Grande do Xingu paraense. Isso já seria razão suficiente para diminuir a pressa com o andor, mas parece que tem servido de estímulo para os insaciáveis barrageiros e de seus neoconvertidos defensores, alguns deles sentados nas mais poderosas cadeiras do governo de Ana Julia (PT).

Colhedores de tempestade

Dúvida atroz que atormenta dez de cada dez cabeças coroadas do petismo paroara: qual das feras deve alimentar no segundo turno de Belém?
Seja qual for o resultado, na dobra da esquina de 2010, pode emergir, sem a menor cerimônia, o coveiro dos sonhos de continuidade da legenda no Palácio dos Despachos.

quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Afogado em números

Descontado o chororô típico dos que precisam encontrar justificativas - mesmo que pueris - para seus pífios desempenhos eleitorais, a comparação entre os números do TRE entre 2004 e 2008 em Belém traz algumas curiosidades. A abstenção neste ano - apresentada como a mãe de todas as derrotas - foi apenas 3,47 pontos percentuais superior à registrada quatro anos atrás, correspondendo a um contingente de 43557 eleitores.
Partindo do suposto que essa abstenção foi um fenômeno generalizado, portanto não restrito a uma determinada região da cidade, o mais provável é que essa parcela apresentasse, mais ou menos, a mesma matriz de intenção de voto do restante. Ou seja: sua incorporação tenderia a ser neutra em relação ao resultado final apurado.
Aumento significativo mesmo foi a quase duplicação dos votos nulos - de 2,64% para 4,58% - podendo denotar certa fadiga de parte do eleitorado com a política em geral e com as candidaturas apresentadas, em particular.

terça-feira, 7 de outubro de 2008

Ridículo

Matéria-prima para futuros estudos sobre até onde pode ir o mau jornalismo, a edição de hoje de O Liberal denunciando, com estardalhaço, a suposta fraude na eleição de Ananindeua, é muito mais que jus esperniandi. É um atentado contra a inteligência de seus leitores. Afinal, o que faltou ao candidato do grupo foi muito simples: voto e nada mais.

Não basta parecer

A polêmica atuação do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar Mendes, tem um novo e espinhoso capítulo. A revista Carta Capital desta semana traz uma longa e bem fundamentada reportagem, assinada pelo jornalista Leandro Fortes, lançando luz sobre a até agora pouco conhecida vida empresarial do magistrado. Ele é sócio do Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), que faturou cerca de R$ 2,4 milhões de reais em contratos, sem licitação, com órgãos ligados ao governo federal. Conflito ético evidente que pode ser a pontinha de um interessante fio da meada. Quem possui interesse (ou coragem) para meter a mão nesta cumbuca?

Aviso aos otimistas

No meio do caminho até 2010 tem uma crise. Tem uma crise - profunda, imprevisível e inevitável - no meio do caminho.

domingo, 5 de outubro de 2008

Dialética da palavra que não se rende

Sonho Impossível

Composição: J.Darion / M.Leigh /
Versão: Ruy Guerra e Chico Buarque


Sonhar mais um sonho impossível
Lutar quando é fácil ceder
Vencer o inimigo invencível
Negar quando a regra é vender
Sofrer a tortura implacável
Romper a incabível prisão
Voar num limite provável
Tocar o inacessível chão
É minha lei, é minha questão
Virar este mundo, cravar este chão
Não me importa saber
Se é terrível demais
Quantas guerras terei que vencer
Por um pouco de paz
E amanhã este chão que eu deixei
Por meu leito e perdão
Por saber que valeu
Delirar e morrer de paixão
E assim, seja lá como for
Vai ter fim a infinita aflição
E o mundo vai ver uma flor
Brotar do impossível chão

sábado, 4 de outubro de 2008

Um mago caloteiro

Duda Mendonça já não é mais o mesmo. Há pouco mais de uma década, ele era o maior expoente de um marketing político desprovido de qualquer dimensão ética, mas que se mostrava bastante eficaz na criação de personagens de forte apelo eleitoral. Eclético, emprestava sua suposta genialidade a figuras como Maluf, Celso Pitta, Marta Suplicy e Ciro Gomes, entre outros, até se tornar, em 2002, o criador da “Lulinha paz e amor" e ser entronizado como o mago da publicidade oficial do petismo. Aí veio o escândalo do mensalão e Duda caiu em relativa desgraça, entrando num período de hibernação.
Agora ele retorna com força às campanhas, atuando como consultor em várias capitais, inclusive em Belém, onde está por trás das artimanhas midiáticas de Duciomar Costa.
Segundo matéria publicada na edição de hoje da Folha de São Paulo, ele não consegue ficar longe de polêmica quando o assunto resvala para a gerência de seus contratos tão milionários quanto suspeitos. As equipes sob sua supervisão em Recife, Salvador e Rio de Janeiro, principalmente, estariam sofrendo com os constantes atrasos nos pagamentos, muito embora os valores já tenham sido antecipados em sua totalidade ao marqueteiro. Firma-se, assim, sua fama de mau pagador.
Resta saber o destino dos três milhões de reais pagos por Duciomar, numa alquimia contábil interessante para uma campanha que se comprometeu junto ao TRE a gastar no máximo, nos dois turnos da eleição, inverossímeis R$ 8 milhões.

sexta-feira, 3 de outubro de 2008

Sangue na Serra

Na manhã da última segunda-feira (29), em Parauapebas, sudeste do Pará, a Polícia Militar, sob o comando do coronel Monteiro, dissolveu com extrema violência um piquete de mais de 600 operários da Construção Civil, durante uma greve contra as empreiteiras que prestam serviços à Vale do Rio Doce. Resultado: pelo menos três trabalhadores continuam hospitalizados e um ficou gravemente ferido quando teve a mão amputada pela brutalidade da ação policial. O presidente do sindicato da categoria, Francisco Canindé, depois de espancado pelos PMs ao tentar mediar o conflito, acabou preso e permanece até hoje detido acusado de incitação e depredação de patrimônio.
Mais uma vez, o Estado funcionou como milícia privada a serviço dos interesses dos que detém o poder real. Simples assim, porque não fazem a menor questão das mesuras e salamaleques que tanto encantam os que estão aboletados nos mais altos cargos de governo.