quarta-feira, 27 de agosto de 2008

Dialética da palavra indignada

"Onde estão hoje os pequots? Onde estão os narragansetts, os moicanos, os pokanokets e muitas outras tribos outrora poderosas de nosso povo? Desapareceram diante da avareza e opressão do Homem Branco, como a neve diante do sol de verão. Vamos nos deixar destruir, por nossa vez, sem luta, renunciar a nossas casas, a nossa terra dada pelo Grande Espírito, aos túmulos de nossos mortos e a tudo que nos é caro e sagrado? Sei que vão gritar comigo: "Nunca! Nunca!".

Tecumseh, líder dos shawnees, final do século XIX.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Terror amarelo

A versão é hilária, mas o assunto é muito sério. Para o governo Duciomar houve um ato de sabotagem no HPSM. Como prova, apresentou um suposto laudo da Seurb dando conta de que a calha da ala onde houve o acidente teria sido propositalmente entupida com lixo, pedaços de madeira e até roupas íntimas.
Não demora e vão descobrir que se encontra em plena atividade, nos subterrâneos do velho hospital da 14 de Março, uma bem treinada célula da Al-Quaeda.

segunda-feira, 25 de agosto de 2008

Sob os escombros

Parte de uma ala do HPSM da 14, reformada há cinco meses, não resiste à chuva do final da tarde de ontem, 24, e desaba sobre os pacientes, deixando vários feridos e, pelo menos, um deles com traumatismo torácico. O tumulto generalizado só fez ampliar o caos de todo final de semana, quando dezenas de pacientes se amontoam em macas nos superlotados e insalubres corredores, à espera de um atendimento que muitas vezes não chega.
Uma obra de tão baixa qualidade merece ser investigada. Ainda mais quando se sabe do currículo, nada abonador, de quem coordenou os (supostos) trabalhos de reforma do prédio: o médico Saulo Costa, diretor do hospital à época e apontado como o sobrinho predileto do prefeito Duciomar. Logo se vê que a genética explica muita coisa mesmo.

Moedores de carne (humana)

Os usineiros, erguidos à condição de "heróis" do agrocombustível por Lula, devem ter muita dificuldade para explicar os números sistematizados pelos pesquisadores do Instituto de Economia Agrícola, de São Paulo. Nos últimos 23 anos - entre 1985 e 2008, os cortadores de cana aumentaram a produção diária de 5 para quase 10 toneladas diárias, 86% a mais. Entretanto, a remuneração do trabalho só fez cair. Cada tonelada cortada vale hoje R$ 3, 29, quando duas décadas atrás rendia R$ 6,55.
Em resumo: mais mecanização, maior produtividade, convivendo com depressão salarial e aumento da jornada de trabalho extenuante, responsável pela morte de, ao menos, 20 canavieiros no rico interior paulista entre 2004 e 2007.

sábado, 23 de agosto de 2008

Lixeira Mundial

Quase ninguém ouviu falar, mas elas estão aí, silenciosas e mortais. Paraquate e paration metílico são substâncias presentes em agrotóxicos, muito comuns nas lavouras de abacate, abacaxi, algodão, arroz e cana-de-açúcar, entre muitos outros. O Brasil importa dezenas de toneladas destes produtos, sem se importar com o fato da União Européia, há anos, ter banido completamente o uso dessas substâncias por suspeita de provocarem câncer e danos ao sistema nervoso e reprodutivo.

sexta-feira, 22 de agosto de 2008

A marca do camaleão

Profissional da camuflagem política, a direita brasileira faz tudo para deixar encoberta sua verdadeira face. Troca de nome, aplica botox em seus farrapos programáticos, sempre ao sabor dos ventos soprados pelos centros do conservadorismo mundial, investe em lideranças "jovens", mas o tapete sempre se mostra muito curto e seu imenso rabo insiste em ficar de fora.
O Democratas, partido que já foi PFL e, antes, décadas atrás, estava convenientemente abrigado no que se julgava o maior partido do ocidente, a Arena de tão tristes lembranças, volta e meia está nas manchetes com seus membros envolvidos em escândalos de corrupção, algo que se parece ser parte indissolúvel de seu DNA político.
É o caso do senador Efraim Moraes (DEM-PB), ocupante do cobiçado cargo de primeiro-secretário do Senado, flagrado como principal patrocinador e como sócio oculto do lobista Eduardo Bonifácio Ferreira, acusado pelo Ministério Público Federal de liderar um esquema de licitações fraudadas que teria lesado os cofres públicos em pelo menos R$ 35 milhões. O mérito deste furo jornalístico coube à equipe do Correio Braziliense.

quinta-feira, 21 de agosto de 2008

Cashier

Tem secretário do governo Ana Julia, integrante do seleto grupo palaciano, trocando, com surpreendente destreza, os livros de direito pelos compêndios de contabilidade. Ele não desgruda os olhos das folhas do calendário e assiste, entre atônito e apreensivo, outubro se aproximando, enquanto curte as delícias e agruras de sua nova missão.

quarta-feira, 20 de agosto de 2008

Como ele é pequenininho

Nada como o horário político para que os mistérios mais insondáveis sejam revelados. Ontem, na estréia dos comerciais da campanha de reeleição do prefeito Duciomar Costa (PTB), soube-se que os supostos problemas herdados por ele no início do mandato eram tão grandes, mas tão grandes, que o coitado do prefeito sumia atrás da enorme pilha de dívidas (jamais comprovadas) e de dificuldades variadas (estas, sempre, decorrentes de sua própria incúria). Por isso, ninguém conseguia vê-lo administrando. Por longos três anos e meio, o que é realmente fantástico.
É o que dá eleger um governante dotado de estatura apropriada para se movimentar sempre, mesmo que de forma ardilosa e sorrateira, ao rés do chão lamacento da política de resultados. Para si mesmo, é claro.

terça-feira, 19 de agosto de 2008

Pelas beiradas

De recuo em recuo, o ministro Carlos Minc vai mostrando ao que veio. Por trás da retórica histriônica e da criação rotineira de factóide, ele se define como um homem de bom senso. Sua ponderação, entretanto, está a serviço do lado mais forte, e seus argumentos realistas visam abrir - ou escancarar - a clareira aberta pelas forças da devastação. É isso que explica sua recente - e polêmica - conversão à tese que prevê o "reflorestamento" com espécies exóticas de áreas tidas como degradadas na Amazônia, com a expansão da lavoura do dendê, por exemplo.
Para as ONGs ambientalistas, essa é a senha para por fim à reserva legal de 80%, o que soa como música aos ouvidos da indústria madeireira e do amplo consórcio de agronegocistas.

O gato comeu?

Cadê a terceira pesquisa Vox Populi sobre a corrida eleitoral de Belém, prometida para hoje pelo Diário do Pará?

segunda-feira, 18 de agosto de 2008

Uma ameaça bem real

O ministro Roberto Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) pode ser tudo menos ingênuo. Sua passagem pelo elegante e mal-cheiroso mundo de Daniel Dantas e das suspeitíssimas transações do Opportunity não deixa margem a qualquer dúvida. Chegou ao governo Lula com fama de polêmico, portador de idéias exóticas, cuja sensação de estranhamento era amplificada por seu português quase ininteligível. Mas, agora, passados poucos meses, revela-se como porta-voz do que existe de mais retrógrado e alinhado com os interesses do capital predador.
Basta ver suas últimas declarações defendendo a revisão da política indigenista, que alcança o ridículo ao relacionar a reserva de "grande parte de nosso território" - 21% da Amazônia - para os indígenas como fonte do atraso e da falta de condições econômicas para estes povos. É a nova versão para velhas idéias. Exatamente o que já se tentou - felizmente sem sucesso - durante os últimos anos da ditadura, quando veio à tona o debate sobre a "emancipação" dos povos indígenas.
Para quem não sabe, Unger é, nada mais, nada menos, que o coordenador, designado pelo presidente Lula, do rumoroso e ineficaz Plano Amazônia Sustentável (PAS), que tende a se tornar um cavalo de tróia dessa mais recente ofensiva em favor do avanço das frentes de devastação socioambiental.

Caminhos Opostos

Não convidem para o mesmo chá com torradas o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Gilmar Mendes, e o juiz espanhol Baltazar Garzón, que visita o Brasil nesta semana a convite da Secretaria Especial dos Direitos Humanos (SEDH).
Garzón lidera o grupo de juízes espanhóis e italianos que, nos últimos anos, conseguiu colocar no banco dos reús dezenas de militares latino-americanos envolvidos na tortura e morte de dezenas de cidadãos europeus durante os anos de chumbo na América Latina.

sexta-feira, 15 de agosto de 2008

Noves fora, (quase) nada

Arrefecido um pouco o barulho dos fogos de artifício, qual efetivamente é o saldo da propalada usina siderúrgica prometida pela Vale do Rio Doce, em Marabá, e apresentada pela dupla Lula e Ana Júlia como o início da superação do modelo mínero-exportador?
Alguns dados sistematizados por Célio Bermann, renomado pesquisador da USP, ajudam a semear dúvidas sobre a eficácia dessa estratégia, tornando no mínimo desequilibrada a relação custo-benefício de mais este grande projeto: a mão-de-obra utilizada no setor da produção de alumínio, por exemplo, é 70 vezes menor do que a do setor de alimentos e cerca de 40 vezes menor do que a gerada pela área têxtil.
Os US$ 3,3 bilhões a serem investidos na primeira fase do investimento redundarão em pouco mais de 3500 empregos diretos durante a operação da usina, uma ninharia frente aos impactos socioambientais que serão gerados para assegurar a logística do projeto, como é o caso do traumático complexo hidrelétrico de Belo Monte, essencial, segundo fazem coro governo e mineradora, para que se garanta o fluxo contínuo de energia abundante, firme e a preços subsidiados.

Dialética da palavra insubmissa

"(...) aos delegados, detetives, informantes, a todos, enfim, que contribuíram para ficar registrado nos arquivos do Dops, que eu lutei pela Paz, em defesa dos Direitos Humanos, pela interdição das Armas Nucleares, por Democracia e Liberdade, gritei que 'o petróleo é nosso!', e contra as ditaduras, contra a escravidão econômica e política do Brasil ao capital estrangeiro. Embora a ironia e até mesmo um certo deboche na análise de alguns documentos, foi muita a emoção que senti lendo aqueles boletins, ofícios e referências, pois eles me deram uma alegre certeza: não foi vida jogada fora a que vivi".

Mario Lago (1911-2002), ator, compositor, escritor e militante comunista.

Caiu a ficha?

Subjacente à polêmica da criação de uma nova estatal para explorar as extraordinárias reservas petrolíferas do chamado pré-sal na costa brasileira transparece uma constatação tão óbvia quanto dramática: desde o reinado tucano que a Petrobrás deixou de ser uma genuína empresa nacional. Nada menos que 67% de suas ações estão em mãos de investidores privados e algo como 40% - dados de 2005, com certeza agravados nos últimos anos de intensa valorização das ações da empresa na bolsa - já eram propriedade de estrangeiros.
Como Lula não teve coragem de inverter esse modelo de privatização encoberta, agora está diante de um dilema cruciante. Fortalecer a Petrobras, dando a ela a exploração das novas reservas, das quais brotará uma riqueza praticamente sem risco, poderá significar uma simples transfusão bilionária do sub-solo brasileiro diretamente para os grandes centros financeiros internacionais. Convenhamos que é uma excelente oportunidade para que o país descubra um dos maiores crimes de lesa-pátria que foi cometido e preservado longe do olhar nem sempre atento da opinião pública.

quinta-feira, 14 de agosto de 2008

Em nome do pai

Quem poderia imaginar que a poderosa Globo, há décadas monipolizando a liderança do bilionário mercado televisivo no Brasil, iria perder a exclusividade de um grande evento esportivo internacional? Pois foi justamente isso que aconteceu com os direitos de transmissão, para a TV aberta, TV a cabo e internet, dos Jogos Pan-Americanos de 2011, em Guadalajara, México, que acabam de ser adquiridos pela Rede Record, a emergente empresa nascida das nebulosas transações do bispo Macedo e de sua igreja Universal do Reino de Deus.

quarta-feira, 13 de agosto de 2008

Pirlipimpim

Qual a porção mágica que fez transformar as toneladas de material gráfico, os quilômetros de faixas plásticas, as possantes frotas de veículos, além da tropa de cabos eleitorais remunerados - sabe-se lá incluídos em que folha de pagamento - em apenas R$ 8400,00?
Pois foi esse truque contábil que o comitê de campanha do prefeito Duciomar Costa (PTB) realizou em sua primeira prestação de contas ao TRE, provando que o papel - ou os sistemas informatizados da Justiça Eleitoral - aceitam qualquer coisa, mesmo que se revelem, desde o início, como as mais grosseiras fraudes.

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Tempos modernos

A tarefa de atualizar este blog é, simultaneamente, prazer e obrigação. Sentimentos que resultam de escolhas conscientes, mas que não são produto apenas de ato de pura vontade. É preciso tempo e disposição. Tempo para garimpar o que merece ser destacado nestas páginas do ciberespaço. Disposição para, com óbvias limitações, submeter estes fatos (ou versões) ao crivo de uma determinada crítica. Engajada, por certo. Parcial, sem ser facciosa. Aberta para o mundo, sem perder o compromisso com o sonho da plena emancipação dos que vivem de seu próprio trabalho.
Muito mais cedo do que imaginava, a sobrecarga de responsabilidades profissionais deste poster começou a travar a rotina que viabilizava a cada dia uma edição nova do Página. E esse quadro só deve se agravar nas próximas semanas, tornando ainda mais rarefeita e irregular a renovação das postagens e a moderação dos comentários.
Aos eventuais leitores do Página Crítica, responsáveis por quase 20 mil acessos únicos desde dezembro passado, peço desculpas pelo transtorno.

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

Desacelerando

O Blog entra em ritmo de final de semana. As postagens e comentários só retornam na segunda, 11. Bom descanso a todos.

Símios à beira de um ataque de nervos

O ato dos militares em protesto contra a possibilidade de punição dos crimes de tortura e execuções extra-judiciais cometidas durante os anos de chumbo teve uma audiência bastante representativa. Além de dezenas de oficiais das três armas, da ativa e da reserva, lá pontificou um homem que tem todos os motivos para expressar seu descontentamento. Trata-se do coronel reformado Carlos Brilhante Ustra, conhecido torturador do famigerado DOI-Codi paulista, que recentemente teve o dissabor de ver reaberto o processo judicial que visa apurar sua responsabilidade direta na morte de diversos presos políticos.
O clima era de um golpismo rudimentar e um tanto histérico. Não faltaram discursos propondo "desapear" do poder o ministro Tarso Genro (Justiça), principal alvo da manifestação dos setores mais retrógrados da caserna.
Do lado de fora do Clube Militar, local do protesto, algumas dezenas de estudantes mobilizados pela UNE, tentaram fazer o contraponto. Bom sinal de que a sociedade brasileira pode, enfim, despertar e fazer renascer a luta contra a impunidade que macula de forma visceral a transição política após o fim dos 21 anos de ditadura militar.

Um vale de prepotência

Pondo de lado o figurino bem-comportado que vez por outra faz questão de usar, a Vale voltou a falar grosso: ou o Estado se verga a suas prioridades e velocidades, ou o Pará poderá "perder" um projeto de exploração de níquel orçado em US$ 1,2 bi. Simples assim, sem papas na língua. A suposta demora na concessão da licença prévia do projeto do Níquel Vermelho, em Canaã dos Carajás, poderá levar os recursos para outro destino, onde haja uma audiência ainda mais subserviente aos ditames da gigante mineradora.
O interessante é que, aparentemente, estava selada a paz com o governo petista, que prepara uma grande festa para o próximo 14 de agosto, em Marabá, quando na presença de Lula será anunciada a criação de uma siderúrgica da Vale, devidamente amparada por um expressivo aporte de recursos públicos via BNDES. Mas, apesar da troca de amabilidades, o velho método da pressão e da chantagem descaradas costuma surtir efeito. Vale a pena aguardar as cenas dos próximos capítulos.

Na boca da noite

Excepcionalmente, o Página Crítica somente será atualizado no início da noite de hoje.

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Paciência tem limite?

De um anônimo muito bem informado, comentando o post "Lucros em pencas":

"Enquanto isso, a sociedade do Pará assiste ao enriquecimento de uma instituição multinacional com o minério extraído do próprio solo.
Mas o Neoliberalismo é isso: consumidores e fornecedores "ilimitados", já que fronteiras não existem. Valoriza-se a melhor oferta não importando de onde venha.
Em 1997 o Brasil se ajoelhou, agora tem de rezar... e rezar até quando?"

Depois da queda, o coice

Ao transformar a Medida Provisória 422 em lei, o presidente Lula conseguiu a proeza de piorar a proposta que já estava sendo apelidada de Plano de Aceleração da Grilagem (PAG), por permitir a regularização de terras públicas ocupadas no limite de 1500 hectares, quando a legislação anterior exigia licitação para áreas superiores a 500 hectares. Foi vetado o artigo que condicionava a medida à existência prévia do zoneamento econômico-ecológico nos Estados amazônicos, argumentando que atualmente só está sacramentado no Acre e em Rondônia, o que tornaria impraticável a aplicação da nova lei.
Na prática, o governo cedeu às pressões da bancada ruralista, que há muito tentava obter uma autorização legal para premiar e dar estabilidade às centenas de grileiros e madeireiros que ocupam grandes extensões de áreas públicas, no rastro da expansão da fronteira de destruição socioambiental. Calcula-se que 8,4% - 420 mil hectares - da Amazônia estejam ocupados por posseiros, de todos os tamanhos e dos mais variadas origens. Mas, como sempre, os pequenos ocupantes serão apenas instrumentos para consolidar a posição dos que estão no poder há muito tempo, desde que as caravelas de Cabral divisaram no horizonte, em meio ao espanto e à cobiça, as novas terras e suas extraordinárias riquezas.

Lucros em pencas

1997, ao correr do martelo, a Vale é vendida (ou doada, melhor dizendo) pela quantia ridícula de R$ 3,338 bilhões, quando, dez anos antes, somente a reserva mineral de Carajás, no Pará, havia sido estimada em US$ 108 bilhões.
2008, a Vale anuncia o lucro obtido no segundo trimestre: R$ 4,573 bilhões, com uma queda relativa de 21,7% em relação ao mesmo período do ano passado, mas surpreendendo com uma elevação de 103% sobre o primeiro trimestre, mesmo sob o impacto da valorização cambial do real sobre o dólar e em meio às incertezas da crise financeira que remexe as entranhas da economia norte-americana.
Como sempre, o minério de ferro, grande parte retirado do território paraense, esteve no topo da lista dos produtos exportados pela gigante mundial da mineração: nada menos que 78,665 milhões de toneladas métricas, com alta de quase 9% sobre o mesmo período do ano passado.

quarta-feira, 6 de agosto de 2008

Rios de pó

A avaliação é do Exército e da Polícia Federal: o narcotráfico internacional mudou de tática e passou a priorizar os rios da Amazônia como rota de entrada no país de grande partidas de droga. O relativo aumento da vigilância aérea - com a implantação do sistema SIVAM - e o elevado custo de manutenção das pistas de pouso clandestinas estariam na raiz da mudança de estratégia das quadrilhas que atuam ao longo dos 22 mil quilômetros de rios navegáveis e nos 11 mil quilômetros de fronteira, geralmente em região de selva fechada.

Valor desagregado

Há 22 anos, o Brasil era responsável por 44% das exportações mundiais de óleo de soja. Hoje, o agronegócio nacional responde por apenas 24% deste total. No mesmo intervalo, a exportação brasileira de soja em grãos - de menor valor agregado - subiu de 12% para 24%. E ainda existe gente querendo tapar o sol com peneira furada.

Olho mágico

A Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara dos Deputados deverá analisar na sessão de hoje, 6, um requerimento que vai dar o que falar. Uma iniciativa do deputado Walter Pinheiro (PT-BA), que preside a comissão, caso tenha apoio da maioria dos membros, dará em breve à sociedade civil a oportunidade de participar de audiências públicas para debater os atos de renovação das concessões de rádio e TV no Brasil.O principal alvo da proposta é despertar o debate sobre o tabu da concessão da Rede Globo, considerada pela elite como um direito divino, inquestionável e imune a qualquer tipo de controle social. Mas, também, no varejo, poderá ser uma excelente oportunidade para que venha à tona o balcão de negócios que continua operando a todo vapor na distribuição de canais de rádio e TV para políticos aliados ao governo Lula, numa espécie de mensalão midiático.Se barba tivesse - o que definitivamente não combina com seu look de bailarino de brega music - um conhecido deputado da bancada paraense já estaria com ela de molho, preocupado com a possibilidade de ver exposta sua fulgurante ascensão como o mais novo baronete do lucrativo setor empresarial de comunicação.

terça-feira, 5 de agosto de 2008

Dinheiro alado

Chega fácil, vai embora com maior facilidade ainda. O capital, apátrida e volátil, não têm porque negar seu caráter intrinsecamente predador. Desloca-se para os nichos que oferecem maiores vantagens comparativas e que se curvam com mais docilidade a um sistema cujas decisões são sempre exógenas. Nada menos que R$ 15 bilhões tomaram o caminho de volta para o exterior somente no período de junho e julho, provocando uma desvalorização média de 18% nas ações comercializadas na Bovespa. Sinal de alerta de que a farra dos dólares sem fronteiras pode estar com os dias contados.

Bate-paus fardados

Responda rápido: o que está por trás das freqüentes (e truculentas) intervenções da Polícia Militar na não menos interminável (e contumaz) disputa entre as diversas facções de garimpeiros que há anos disputam o controle do espólio da antiga mina de Serra Pelada?

Agosto, desgosto?

É enorme a preocupação das comunidades indígenas de Roraima diante da iminente deliberação do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a controvertida demarcação em áreas contínuas da Reserva Raposa/Serra do Sol (RSS). Enquanto os ministros não firmam uma posição definitiva, os ocupantes ilegais das terras públicas, incentivados pela meia dúzia de grandes rizicultores, preparam a guerra. Há denúncias de que, nas últimas semanas, teriam entrado na região armas, munições e um contingente ainda maior de pistoleiros, que ocupam posições ofensivas nas proximidades das aldeias Macuxi. A qualquer momento, sem qualquer aviso, a violência poderá explodir sem controle.
O intenso lobby a favor do esfacelamento do território indígena, realizado por políticos identificados com gananciosos e obscuros interesses, não parou de trabalhar durante o recesso, lançando sóbrias expectativas sobre o desenlace da polêmica em plenário. Haverá ainda tempo para inverter essa tendência?

Dialética da tragédia humana (vista de cima)

"Houve um silêncio, Deus e o Diabo olharam-se de frente pela primeira vez, ambos deram a impressão de ir falar, mas nada aconteceu. Disse Jesus, Estou à espera, De quê, perguntou Deus, como se estivesse distraído, De que me digas quanto de morte e de sofrimento vai custar a tua vitória sobre os outros deuses, com quanto de sofrimento e de morte pagarão as lutas que, em teu nome e do meu, os homens que em vós vão crer travarão uns contra os outros, Insistes em querer sabê-lo, Insisto, Pois bem, edificar-se-á a assembléia de que te falei, mas os caboucos dela, para ficarem firmes, haverão de ser cavados na carne, e os seus alicerces compostos de um cimento de renúncias, lágrimas, dores, torturas, de todas as mortes imagináveis hoje e outras que só no futuro serão conhecidas (...) Todos eles vão ter de morrer por causa de ti, perguntou Jesus, Se pões a questão nestes termos, sim, todos morrerão por minha causa, E depois, Depois, meu filho, já to disse, será uma história interminável de ferro e de sangue, de fogo e de cinzas, um mar infinito de sofrimento e lágrimas, Conta, quero saber tudo."

José Saramago (1922), escritor português, Nobel de Literatura (1988). O evangelho segundo Jesus Cristo, p.380-381, Editora Record, 1995.

segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Com as armas da chantagem

A reação algo hidrófoba de setores militares contra a possibilidade de punição aos crimes de tortura e extermínio físico cometidos pelos agentes do Estado durante o regime militar, demonstra o quanto está viva e forte a ideologia que respaldou, durante longos 21 anos, tantas atrocidades.
O governo Lula neste episódio expõe suas contradições. Enquanto dois ministros assumem a posição corajosa em defesa do direito à memória e à Justiça, outro integrante do primeiro escalão se apressa a assumir o triste papel de ventríloquo da gorilagem que impera em vastos segmentos das Forças Armadas, na ativa e fora dela.
Tarso Genro (Justiça) e Paulo Vanuchi (Direitos Humanos) se alinharam com o que há de mais consistente em termos do direito moderno, que não reconhece os crimes de tortura, maus-tratos e assassinatos de opositores nas câmaras de suplício das ditaduras como passíveis de anistia; já o jurista Nelson Jobim (Defesa) não desmereceu sua biografia pretérita e presente: ele sempre está disposto a cerrar fileiras com o que há de mais retrógrado e reacionário, entoando, sem a menor cerimônia, os berros autoritários dos que se julgam acima da lei.

Não é miragem

Na aridez da imprensa paraense, tão monopolizada quanto empobrecida em termos de conteúdo e criatividade, uma revista cultural sobreviver ao segundo aniversário já seria um mérito extraordinário. Mas sobreviver mantendo e ampliando a qualidade deve mesmo ser digno de nota. É o caso da Pará Zero Zero, publicação voltada para a arte, política e cultura, sob a coordenação editorial de Carlos Pará.
O número 5 já está nas bancas e traz, entre outras matérias, um alentado artigo sobre o surgimento da imprensa no Pará, nos idos da segunda tumultuada segunda década dos Oitocentos, pelo historiador Geraldo Mártires Coelho, além do perfil do cineasta carioca-paraense Luiz Arnaldo Campos, dos premiados PSW, Uma Crônica Subversiva (1986), Chama Verequete (2001) e A Descoberta da Amazônia pelos Turcos Encantados (2005).

Um sopro ético, tênue, mas valioso

Alguns candidatos - independente do resultado oficial a ser proclamado pelo TRE - sairão das eleições bem menores do que entraram. Pilhados em malfeitorias, eles acabam por revelar, pelo menos para a parcela mais crítica do eleitorado, a face necrosada de certa política baseada na arte da malandragem e da empulhação.
Por isso é tão importante a corajosa a sentença da juíza Ezilda Pastana Mutran, da 98a Zona Eleitoral, impugnando a candidatura de Duciomar Costa (PTB). Ela acatou o pedido formulado pelo Ministério Público Eleitoral baseado nas muitas ações judiciais por improbidade administrativa que o atual prefeito responde na Comarca de Belém e na Justiça Federal da 1a Região, todas por desvios de recursos destinados à saúde pública.
Imediatamente, o exército de advogados a soldo do impugnado tomou as providências de praxe, buscando anular a sentença em uma instância superior. É muito provável que alcance sucesso, mas as repercussões simbólicas já terão sido produzidas.
Como o jogo eleitoral está apenas no começo, não deixa de ser um bom presságio. Algum nível de ajuste de contas poderá ocorrer com as velhas e carcomidas formas de se fazer política. O desfecho, após a contagem do último voto, sempre pode trazer de volta o inusitado. Para o dissabor dos que se imaginam capatazes da vontade popular.

sábado, 2 de agosto de 2008

Lethal Weapon

Difícil resistir a um bug de computador. Não adianta entrar em pânico, pois essas máquinas passam a ser regidas por leis próprias e insondáveis. Funcionam quando lhes dá na telha. Quebram sempre nos piores e mais delicados momentos.
Sob esse clima de incerteza - a qualquer momento o notebook ameaça se calar (talvez para sempre) - o melhor é chamar ajuda de um técnico, decretando o recesso de fim de semana.
Na segunda-feira, 4, com alguma sorte, o Página Crítica estará de volta. Bom domingo a todos.

Nas asas da Companhia

Quem conhece a história recente (ou pretérita) da América Latina tem todo o direito de duvidar da existência de bruxas, ou, pelo menos, de suas mais maléficas e misteriosas manifestações. Acidentes envolvendo aeronaves de uso privativo de chefes de Estado, por exemplo, podem não ser fruto de simples e prosaicas falhas mecânicas.
A queda do helicóptero presidente da Bolívia, na semana passada, apenas cinco horas de ter servido o presidente Evo Morales em um deslocamento, é mesmo um fato muito suspeito. No acidente morreram todos os ocupantes do avião, sem que, até agora, tenha sido descoberto o real motivo do desastre.
Supersticiosos de plantão, de olho nas coincidências, lembram que na quinta-feira, 31, completou-se mais um aniversário do "acidente" matou o presidente panamenho Omar Torrijos, quando misteriosamente seu avião explodiu em pleno vôo, justamente ele que se notabilizara por confrontar os interesses dos Estados Unidos na América Central. O militar nacionalista governou o pequeno e estratégico Panamá sob um regime ditatorial, mas de viés latino-americanista e não-alinhado.
Entre seus feitos, o mais destacado, foi o de ter conseguido reaver a soberania sobre o Canal do Panamá, depois de ter permanecido sob o domínio neocolonial norte-americano de 1903 a 1977, quando Torrijos assinou o histórico acordo com o presidente Carter, que devolveu aos panamenhos o controle sobre uma a área de 1432 km2 de seu território nacional.

sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Teste de DNA

Um simples caso policial, envolvendo a receptação de veículo roubado, pode trazer revelações incômodas sobre os usos e costumes de determinadas famílias que povoam a política paroara. A prisão em flagrante na tarde de ontem, 31, de uma quadrilha especializada no roubo de carros, acabou envolvendo também, por ora na condição de testemunha, o jovem Waldeth Costa Junior, filho do prefeito de Tracuateua e sobrinho do prefeito de Belém, Duciomar Costa.
A transação estava, segundo os relatos colhidos pela Polícia, sendo realizada em dinheiro vivo - R$ 5 mil como primeira parcela de uma entrada de R$ 20 mil - por um veículo Honda Civic, cor preta, avaliado em quase R$ 90 mil. Faz pouco sentido a estória de que o restante do pagamento seria feito em um longo - e inverossímil - crediário de 48 parcelas de R$ 1450. Seria a primeira vez que se tem notícia de um financiamento a perder de vista por um bem que acabara de ser obtido mediante assalto à mão armada.
Não deixa de ser intrigante desvendar a origem do dinheiro envolvido na suposta operação de compra. A folha corrida de alguns parentes diretos do infeliz comprador já seria razão suficiente para que o caso recebesse uma investigação mais aprofundada.