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segunda-feira, 30 de junho de 2008
O abismo é mais embaixo
Da reação inicial que tentou inutilmente minimizar a por si só injustificável e escandalosa morte dos primeiros 12 bebês, apresentada como algo "normal" e "dentro dos parâmetros da OMS", para a decapitação dos dirigentes e intervenção no hospital, quando o número de mortes atingiu a vergonhosa marca de 22 crianças, o consórcio PT-PMDB agiu como se não tivesse contas a prestar. No corner, apanhando de todos os lados, o governo passou a reagir por espasmos.
Ao demitir todos os diretores, cujo conceito profissional e lealdade ao PT eram inquestionáveis, ficou implícita a admissão de que, de fato, as mortes decorreriam de problemas de gestão. Contudo, além disso, era indispensável que o governo assumisse claramente suas responsabilidades até para poder cobrar a parcela que cabe aos outros atores do sistema de saúde. E mais: o caos na rede pública no Pará que explica a existência de 50% das gestantes vindas do interior sem ter recebido qualquer atendimento na rede básica, como a própria secretária de Saúde admite, não começou em janeiro de 2007. É um fenômeno bastante antigo, aprofundado pelos longos 12 anos de tucanato, sem qualquer linha de ruptura no atual governo.
De outro lado, o flagrante abandono das políticas de saúde nos municípios, em especial nas regiões mais pobres do Estado, revela a persistência da criminosa prática de desvio de recursos do SUS.
Nada disso foi falado, fazendo colar na testa da governadora Ana Julia mais uma marca negativa. Uma entre tantas que ela vem colecionando nesses 18 meses de seu tumultuado mandato.
Franciscanos
domingo, 29 de junho de 2008
Cortina de fumaça
O "Comunicado Importante" mandado publicar nos jornais de hoje, embora assinado genericamente pelos "Postos UBN", é uma tentativa tardia e duvidosa da família Novelino tentar um afastamento do escândalo gerado pela Operação da Polícia Federal e do Ministério Público que, entre outros delitos, desbaratou uma bem-armada milícia privada e detectou um engenhoso esquema de fraudes contra os consumidores.
A alegação de os postos estariam "alugados desde 2007" e que "o uso da estrutura física e toda e qualquer atividade exercida nas instalações dos Postos é de inteira responsabilidade dos locatários", dificilmente resistirá à continuidade das investigações policiais. Primeiro, porque os integrantes do bando armado prestavam serviços aos Novelino há anos, inclusive dando cobertura paramilitar à banca de agiotagem que os irmãos assassinados mantinham em Belém com enorme desenvoltura. Segundo, porque os postos UBN, além de outras bandeiras sob a gestão de membros da família, não são exatamente neófitos em matéria de denúncias de falcatruas, como a sistemática suspeita da venda de combustível adulterado e outras infrações afins.
sábado, 28 de junho de 2008
A vida pelo ralo
O Brasil, como se sabe, não passa ao largo dessa tragédia sanitária. Em 2002 (último dado disponível), quase 30 mil pessoas morreram em decorrência de moléstias relacionadas à água, o que equivaleu a 2,3% dos óbitos naquele ano.
O fora-da-lei
Ao iniciar seu mandato em janeiro de 2005, Duciomar encontrou o projeto em andamento, inclusive com boa parte dos recursos do convênio ainda em caixa. A partir daí, ninguém sabe qual o destino do dinheiro ou, eventualmente, dos equipamentos adquiridos.
sexta-feira, 27 de junho de 2008
Apagão agrário
Que o caos agrário na Amazônia é um fato, não há ninguém que duvide. Mas é estarrecedor o Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), órgão federal responsável pela política fundiária, admitir oficialmente desconhecer a real situação de nada menos que 14% da área da Amazônia Legal, algo como 702 mil quilômetros quadrados, ou uma área equivalente à somatória dos Estados de São Paulo, Paraná e Rio Grande do Sul.
O governo federal sequer pode afirmar se essas gigantescas extensões de terra estão sob controle de posseiros ou de grileiros, mas não precisa ser especialista para atestar a clara relação de causa e efeito entre o descontrole e omissão oficial e o incremento, cada vez maior, de atividades predatórias e ilegais como a extração de madeira e a mineração em terras públicas.
O Pará - sempre o Pará - desponta como o de maior área "desconhecida". São 23% do total da área do Estado, 288,6 mil quilômetros quadrados, nas mãos de desconhecidos. Não por mero acaso, essa extensão equivalente a quase uma Itália, está sobreposta ao traçado da BR-163 (Santarém-Cuiabá) e da Transamazônica, além do leste paraense, focos principais do avanço das frentes de devastação socioambiental.
Hollywood é aqui
Ah, esses moços
André Scarassati, de apenas 26 anos, foi descoberto pela Polícia Federal como detentor de um contrato de R$ 5,5 milhões para construção de casas populares no Plano de Aceleração do Crescimento (PAC). O sortudo é filho de Alcino Scarassati, assessor (muito) especial e braço direito - até a semana passada - do ministro Márcio Fortes (Cidades), quando a deflagração da Operação João de Barro, da Polícia Federal, abalou os alicerces de mais uma quadrilha especializada em desvio de verbas públicas.
Dialética da aventura humana
e o presente.
Renascem os mortos,
os anônimos têm nome:
os homens que ergueram os palácios e os
templos de seus amos;
as mulheres, ignoradas por aqueles que
ignoram o que temem;
o sul e o oriente do mundo, desprezados
por aqueles que desprezam o que ignoram;
os muitos mundos que o mundo contém e
esconde;
os pensadores e os que sentem;
os curiosos, condenados por perguntar, e
os rebeldes e os perdedores e os lindos
loucos que foram e são o sal da terra".
Eduardo Galeano (1940), escritor nascido no Uruguai, mas detentor de passaporte de cidadão do mundo. A epígrafe consta de seu último livro, Espejos, lançado na Espanha, em abril último. Alguns trechos foram revelados com exclusividade na edição mais recente do Le Monde Diplomatique Brasil, que está nas bancas.
quinta-feira, 26 de junho de 2008
Teoria conspiratória
Não deve demorar para o presidente Lula ver digitais manchadas de óleo no projeto em tramitação no Parlamento Europeu que pretende reduzir em 24% a taxa de redução das emissões de gases poluentes em cada um dos tipos de agrocombustíveis. Trocando em miúdos, se aprovada a proposta, o etanol brasileiro, que emite 74% menos que a gasolina, teria sua vantagem relativa reduzida para apenas 50%, o que provocaria um impacto imediato em termos de competitividade internacional.
A diplomacia brasileira, alertada dos riscos, iniciou um imediato trabalho de lobby antes que o "mal" esteja consolidado. A tarefa, porém, pode ser inglória. Independente das eventuais motivações mercantis, a proposta está baseada em um pressuposto correto: os agrocombustíveis não podem ser avaliados sem considerar que sua produção também provoca danos ambientais indiretos, com o deslocamento de plantações - com inegável estímulo à alta do preço de alimentos - e, muitas vezes, com a pressão para novos desmatamentos em biomas sensíveis, como o pantanal e a Amazônia.
Língua de fogo
Fratura exposta
A crise na Santa Casa, deflagrada com o escandaloso morticínio do último final de semana, que vitimou 12 recém-nascidos, não se esgota nos muros desta instituição secular. Antes põe a nu o caos no sistema de saúde do Estado, envolvendo, como é óbvio, não apenas a Secretaria de Estado de Saúde, sob o incompetente comando de indicados do PMDB desde o início do governo Ana Julia, além do governo federal e, principalmente, quase todas as prefeituras, com destaque especial para a de Belém, onde o desmonte realizado por Duciomar Costa (PTB) precisa ser definido como um verdadeiro ato criminoso.
Assim, com tantos culpados, estamos diante de um crime continuado e persistente, cometido contra os mais pobres. Quem em sã consciência aposta que dessa vez haverá alguma punição?
quarta-feira, 25 de junho de 2008
No grito, não
Segundo recomendação do Ministério Público Estadual, que serviu de subsídio à análise técnica da Sema, sequer a Vale conseguiu oferecer uma alternativa convincente ao tratamento gigantesca produção diária de resíduos que seriam depositados a céu aberto, além da emissão anual de 2,5 a 5 milhões de toneladas de carbono na atmosfera, em absoluta contramão do esforço mundial de combate ao efeito estufa.
Logo se vê que a gritaria de Roger Agnelli, sempre exigindo pressa na concessão das licenças para seus megaprojetos, tinha lá seus motivos. E a pressa nesses casos sempre será inversamente proporcional à preservação dos interesses coletivos.
O pai dos ricos
Afinidades Eletivas
Se confirmada, a união Duda-Dudu exporá, em brilhantes imagens em alta definição, a parte mais necrosada da política nacional e de certo tipo de marketing político, alicerçado no domínio, que se pretende infalível, da antiga e lucrativa arte de iludir.
Está faltando uma parte
A decisão do presidente Lula, consagrada através de decreto datado da última quinta-feira (19), manteve a Terra Indígena com 1,5 milhão de hectares, tornando definitiva a supressão de uma importante área que foi, ao longo dos anos, objeto de cobiça de grileiros, madeireiros e de uma multidão de colonos a serviço ou manipulados pelas frentes de devastação.
Não é por acaso que nesta mesma região, concentrem-se hoje os principais focos de desmatamento ilegal, que avançam sobre as áreas que legalmente deveriam estar protegidas de qualquer atividade predatória. É o caso, por exemplo, das agressões atestadas pelo último relatório divulgado pelo Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), comprovando que somente na Floresta Nacional (Flona) do Jamanxim, no município de Novo Progresso, nas proximidades da T.I Baú, foram desmatados em maio passado nada menos do que 35 Km2 de floresta.
terça-feira, 24 de junho de 2008
Um novelo de crimes
Sob a sombra de Herodes
A denúncia partiu do Sindicato dos Médicos, que há bastante tempo alerta para o sucateamento dos serviços e para o precário atendimento que é prestado à população usuária. A superlotação da UTI e dos berçários e a falta de equipamentos básicos, como respiradores, estão no topo das reiteradas pautas de reivindicação dos profissionais em saúde, que parecem receber sempre o descaso como resposta.
Não poderia, então, ser mais ridícula a resposta oficial do governo, que através de nota afirma que as mortes estão "de acordo com a taxa aceita pela Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 50% do total de leitos da unidade". O que é firmemente contestado pelo Sindicato dos Médicos, que considerou o número de óbitos "elevadíssimo". Ora, a desculpa oficial chega a ser um deboche diante do sofrimento dos familiares das pequenas vítimas, quase todos oriundos dos rincões mais abandonados e empobrecidos do interior paraense.
O Pará, mais uma vez, é pauta negativa na imprensa nacional. Daqui a pouco, aguardem, para o retorno da velha cantilena de que se trata de uma campanha orquestrada contra a pobre governadora, vítima de preconceito por ser "mulher, nortista e do PT".
O homem de 5 milhões de dólares
Numa aritmética simples, o escritório Teixeira, Martins Advogados recebeu, nos últimos 22 meses, um pagamento médio mensal de US$ 230 mil, ou, em moeda nacional, cerca de R$ 400 mil. Tratando-se apenas de um de seus muitos clientes, Teixeira se arrisca a liderar o ranking das bancas de advocacia mais bem pagas do País. Nada mal para um cidadão que, segundo furo publicado hoje pela Folha de São Paulo, esteve pelo menos seis vezes desde 2006 no gabinete do presidente da República, sempre em compromissos extra-agenda. É, pelo jeito, os compadres têm mesmo muitos assuntos a tratar ao pé de ouvido.
A gula dos gringos
segunda-feira, 23 de junho de 2008
Fezinha
Roda da Fortuna
Antônio Carlos Vilaça é mineiro de Conselheiro Pena e está no Pará há quase quatro décadas. Hoje, ele comanda um promissor império empresarial - Rodoviário Vilaça, A.C. Vilaça Empreendimentos, Minas Norte Empreendimentos e G.V. Factoring -, detentor de grandes contratos de prestação de serviços à Vale do Rio Doce, que rende um faturamento anual de R$ 40 milhões e emprega cerca de 1200 funcionários. Após alcançar sucesso no mundo dos negócios, faltava apenas retirar uma pedra de seu caminho, já que vinha sendo atacado, sistemática e diariamente, pela rádio Metropolitana FM, uma das muitas concessões que o deputado Wladimir Costa (PMDB-PA) possui no Estado. Ao que tudo indica, a tal pedra virou pó.
Dialética da esperança tresloucada
Ernesto Sabato ( 1911), escritor argentino. Sobre heróis e tumbas (2002, p.263-265).
sábado, 21 de junho de 2008
Intervalo
Crime imperfeito
A agência Talento, do publicitário César Carneiro, recebeu dois cheques da CNA em agosto de 2006, supostamente para desenvolver uma campanha institucional do "voto consciente" do produtor rural. Coincidentemente, no mesmo período, era ele o marqueteiro da candidata ao Senado. E, para complicar, não existe qualquer vestígio - nenhum panfleto sequer - da alegada campanha de mais de meio milhão de reais.
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Sangue por petróleo
O governo do Iraque, formado à imagem e semelhança dos interesses do Pentágono, acaba de anunciar sua disposição de conceder, sem licitação, a exploração das reservas de petróleo do País a um pool de empresas estrangeiras, não por mera coincidência, todas pertencentes aos países cujos soldados compõem as forças militares de ocupação. Desbancando outras 42 empresas, entre elas as poderosas concessionárias da Rússia, Índia e China, o contrato bilionário será entregue para a estadunidense Exxon Mobil, a anglo-holandesa Shell, a francesa Total e a britânica British Petroleum (BP).
Um genro muito especial
A cada dia os políticos do PSDB se enrolam mais no escândalo envolvendo o pagamento de propinas pela multinacional francesa Alston. Contratos sem licitação, preços superfaturados, aditamentos que se estendem por mais de 15 anos, valores que ultrapassam, em muitos casos, muitos bilhões de reais, enfim, todos os ingredientes para colocar os tucanos paulistas no topo do ranking nacional da malversação de recursos públicos.
Agora, documentos obtidos com exclusividade pela Folha de São Paulo na Suíça, comprovam que os executivos da Alston, em outubro de 1997, pagaram um suborno de R$ 8,25 milhões a um emissário do governo paulista à época, para assegurar um contrato de R$ 110 milhões da Eletropaulo. O secretário de Energia neste momento era David Zylbersztajn, ex-genro do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
Conhecido como um dos principais defensores das privatizações da era FHC, Zylbersztajn coordenou a venda do setor elétrico paulista, durante a gestão Covas, sendo guindado, em 1998, para a estratégica Agência Nacional de Petróleo (ANP), onde foi o cérebro e o braço privatista na abertura do capital da Petrobrás, um dos mais duros golpes contra a soberania nacional em todos os tempos.
Um copo de cólera
"Em 2007, um vigia morreu em serviço na Escola Estadual Hilda Vieira. Várias escolas vêm sendo invadidas e ameaçadas por bandidos. Professores e alunos são diariamente ameaçados nas escolas de Belém. O silêncio impera porque ninguém quer pagar caro pela denúncia. Outro dia, numa escola do Telégrafo, um aluno foi flagrado com uma arma de brinquedo, mas que parecia real. O CIPOE foi acionado, porém chegou ao local horas depois dando tempo de o pai arrastar o menor que ia ser levado à DATA. A decadência nas escolas é lastimável e, agora, convivemos com o pesadelo da violência em suas formas mais radicais. Esta semana uma briga de alunas acabou em morte dentro de uma escola estadual em Val-de-cans. Um oficial da PM, em entrevista a um programa de rádio, classificou o ocorrido como "fatalidade" e "caso isolado". Infelizmente, em breve teremos vários "casos isolados" para lamentarmos a "fatalidade". E a governadora diz que o Pará é "exemplo de segurança". Concordo com você, é puro escárnio e, mais, falta de respeito, imobilismo, etc.
a) Professor".
quinta-feira, 19 de junho de 2008
Os sem-licença
Não tardará para que recomece, a plenos pulmões, a gritaria do consórcio responsável por esta que é uma das principais obras do PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), carinhosamente acalentado pelas pesadas mãos da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. O muro de lamentações reunirá, em sincronizadas denúncias contra os ditos "entraves ambientais", a multinacional Suez Energia e as gigantes da mineração Vale do Rio Doce e Alcoa, além da onipotente empreiteira Camargo Corrêa, sócias no empreendimento.
Barrados no baile
O drama da imigração clandestina à Europa teve, nesta semana, um novo capítulo. Os ministros do Interior da União Européia aprovaram um novo marco legal para regular a situação dos 8 milhões de ilegais nos 27 países que compõem o bloco. Por ampla maioria, o Parlamento Europeu votaram regras ainda mais draconianas como forma de tentar conter o crescente fluxo migratório que pressiona suas fronteiras por todos os lados. Agora, um imigrante ilegal pode ser detido por até 18 meses antes de ser extraditado, uma pena superior ao que era permitido em dois terços dos países europeus. Até crianças poderão ser detidas, numa evidente violação dos tratados internacionais. Mais ainda: depois de extraditado, o imigrante ficará proibido de voltar à Europa por cinco anos.
Somente no primeiro semestre do ano passado, mais de 200 mil estrangeiros ilegais foram presos em solo europeu. Destes, pelo menos 90 mil foram sumariamente expulsos.
O pacote de medidas, cujo caráter xenófobo está evidente, é a outra face - paradoxal e cínica - do discurso dos mesmos governos que advogam a plena e irrevogável liberdade para o capital sem fronteiras, cuja liberdade ilimitada foi transformada em cláusula pétrea do capitalismo financeirizado do século XXI.
Apesar de tudo, não é possível manter os bilhões de famélicos presos em seus países de origem, cuja devastação socioambiental e a pobreza crônica estarão sempre forçando, com maior alarido e desespero, o acesso ao baile elegantemente perfumado onde a aristocracia do velho mundo insiste em se confinar.
O caminho da roça
Assombrosos esqueletos surgirão, ameaçadores, se uma auditoria séria revolver as gavetas do Incra no Pará, sobretudo sobre o misterioso destino dos muitos milhões de reais investidos em infra-estrutura dos projetos de assentamentos, transformados em verdadeiras favelas rurais.
quarta-feira, 18 de junho de 2008
Sucupira News
A anunciada construção do "Pórtico Metrópole", nome pomposo de uma simples passarela na entrada da cidade, já é notícia velha e requentada há, pelo menos, dois anos. Nem o valor escandaloso de R$ 7 milhões, que certamente será engordado por providenciais e não menos suspeitos aditivos de preço, sob a alegação do tempo decorrido entre a licitação e o início efetivo dos trabalhos, deve provocar grande impacto. O que chama mesmo atenção é a desfaçatez de um governo que precisa recorrer a este tipo de manobra midiática para tentar esconder sua mais completa falta do que mostrar em termos de obras e serviços. E tudo isso a escassos 15 dias do início formal da corrida para as eleições de outubro.
O silêncio das armas
Hadil, Aya e Hassan têm em comum o fato de serem civis palestinos da faixa de Gaza, repartindo com 1,4 milhão de compatriotas a dor e o desespero de uma guerra de extermínio conduzida a ferro e fogo pelo Estado de Israel e que parece não ter fim. Poderiam estar vivos se o anunciado cessar-fogo anunciado ontem, com a providencial mediação do Egito, entre o grupo palestino Hamas e o governo israelense já tivesse sido efetivado. Eles e centenas de outras vítimas inocentes, de ambos os lados, mas principalmente do povo palestino, vítima de uma ocupação ilegal e imoral que já dura 60 anos, não fariam parte de uma contabilidade macabra que não pára de crescer.
Hoje, se confirmado o acordo, sob olhar cético dos falcões do Pentágono, haverá uma esperança. Tênue, talvez precária e momentânea, mas, de toda forma, uma pequena brecha na muralha de intolerância que faz da Palestina - terra sagrada para as três principais religiões monoteístas do mundo, ponto de encontro - e conflito - entre civilizações que se perderam no pó de uma história milenar. Que não se desperdice essa chance de retomada da busca, pelo diálogo, de uma solução pacífica, justa e duradoura, pondo fim ao massacre que cobre a comunidade internacional de vergonha.
Não faça o que eu faço
Bilhões pelo ralo
Em breve, convém aguardar novas campanhas contra o suposto déficit previdenciário, com a prescrição das amargas reformas de sempre, como formar de compensar a derrota do governo neste tapetão bilionário.
terça-feira, 17 de junho de 2008
Folha Corrida
Na avaliação de perdas e danos, deve ter pesado a violenta pressão exercida, há meses, pelo senador Romero Jucá (PMDB-RR), líder do governo no Senado, que movia céus e terras para conseguir uma boquinha para sua ex-mulher, uma bomba-relógio prestes a explodir.
Bloco dos ingênuos
segunda-feira, 16 de junho de 2008
Cuidado com o Lobão
Por trás de uma boa idéia, uma perigosa trama. No mesmo pacote de medidas em estudo pelo governo para aumentar a tributação sobre a exploração mineral no país, o ministro Edison Lobão (Minas e Energia), adianta que o dito novo marco regulatório do setor contemplará duas medidas de alto teor polêmico: a regulamentação da mineração em terras indígenas e a permissão para que empresas estrangeiras possam atuar na faixa de fronteira brasileira.
Aumentar a tributação das gigantes da mineração, tendo a Vale como carro-chefe, é uma medida que já vem como enorme atraso. Nos últimos anos, a lucratividade do setor cresceu de forma extraordinária - só o minério de ferro, em um único ano, sofreu aumento de 65% -, enquanto a Contribuição Financeira pela Exploração de Recursos Minerais (CFEM) possui alíquotas simplesmente ridículas. O ferro, por exemplo, paga apenas 2%, muito distante dos 14% que são pagos nos Estados Unidos.
E, para arrematar o golpe, o governo Lula pretende, de uma só penada, abrir as imensas reservas minerais em terras indígenas à exploração de empresas nacionais e estrangeiras, sem que isso seja pactuado no âmbito da reformação do Estatuto dos Povos Indígenas, há anos engavetado no Congresso, e, ainda, romper com um princípio básico da soberania nacional que impede que estrangeiros se instalem em nossas fronteiras. Convenhamos, isso é ir mais longe em matéria de entreguismo do que a ditadura militar de 64 foi capaz.
Tropa do terror
As mortes aconteceram poucos dias depois do alerta lançado pelo relator especial da ONU para direitos humanos, Philip Alston, sobre a persistência de métodos criminosos na atuação das polícias cariocas, provocando uma irada reação de autoridades do governo do Estado. Como se vê, as execuções extrajudiciais, assim como a tortura e maus-tratos a presos sob a guarda do poder público, não se constituem como exceção. É a regra que incentiva a continuidade da guerra suja onde já não existe mais nitidez entre bandidos e mocinhos.
Encantado
La se foi o Bené, poeta e lutador. Um rebelde que tentou – correndo os riscos dos que escolhem o caminho sempre mais difícil da insubmissão – ser fiel a ideais que não tem preço.
O falecimento, ontem (15), do escritor Benedicto Monteiro é uma perda irreparável para a cultura paraense, amazônica e brasileira. Mas, paradoxalmente, não se trata de uma ausência definitiva, a ser pranteada com a força das marés. Não, ele foi um poeta e um homem de seu tempo. Foi fruto de circunstâncias e de escolhas. Aliás, que continuam a desafiar aqueles que carregam no coração o sentimento de muitos, de milhares, de milhões de outros corações marcados pelo amor infinito a seu povo.
Celebremos, pois, a presença viva da obra e do exemplo desse paraense ímpar. Ele, como o mestre Guimarães Rosa, que tanto amou, também não morreu, simplesmente. Encantou-se, na algaravia da floresta e dos rios que a abraçam. Para sempre.
domingo, 15 de junho de 2008
Dialética do amor americano
Quando sujeito ao coração a espada,
quando aguento na alma a goteira,
quando pelas janelas
um novo dia teu me penetra,
sou e estou na luz que me produz,
vivo na sombra que me determina,
durmo e desperto em tua essencial aurora:
doce como as uvas, e terrível,
condutor do açúcar e o castigo,
empapado em esperma de tua espécie,
amamentado em sangue de tua herança.
Pablo Neruda. Canto Geral (XIX, p. 227).
High Society
A existência da sociedade comprova que Teixeira e Chan têm muitas coisas em comum e que seus interesses parecem estar cruzados em um número muito maior de atividades do que se imaginava a princípio. Nada que uma boa investigação parlamentar ou judicial não possa esclarecer.
Conversa para boi dormir
sábado, 14 de junho de 2008
Ultraje a rigor
O fato é que razões supervenientes levaram o País a sujar suas mãos com o sangue de civis iraquianos, diariamente executados pelos "soldados da fortuna", que inclusive gozam, pelas regras atuais da ocupação, de completa imunidade criminal e de irrestrita liberdade de ação em todo o território iraquiano. O povo brasileiro tem o direito de saber toda a verdade e lançar luz sobre o que pode revelar uma postura de subserviência inaceitável e absolutamente humilhante.
Toma que o filho é teu
O presidente Lula, em seu estilo de transferir responsabilidades quando diante de assuntos espinhosos, já avisou que a CSS é um assunto do Congresso. Resta saber se a base aliada, colocada diante de uma missão inglória, vai para o tudo ou nada agora, arriscando uma retumbante derrota, ou espera o mar serenar, insistindo no assunto só depois das eleições de outubro.
Dinheiro sob o colchão
Só com os acusados de fraudes ligados à Wilma Maia (PSB-RN), que teve um de seus filhos trancafiados pela PF -, havia R$ 260 mil em espécie, parte escondida em uma parede falsa na sede de uma empresa prestadora de serviço ao governo.
sexta-feira, 13 de junho de 2008
Lanterninha
É isto um homem?
Apesar do enorme atraso, a sentença representou um duro golpe em um dos pilares fundamentais do arsenal apresentado como de antiterrorismo pela moribunda gestão de George W. Bush.
Paixão pela câmera oculta
Ontem, pela segunda vez em poucos meses, o prefeito petebista de Juiz de Fora, Carlos Alberto Bejani, foi preso pela PF pelas mesmas acusações de liderar uma organização criminosa, especializada em fraudar o Fundo de Participação dos Municípios (FPM). O prefeito não conseguiu provar a origem legal dos R$ 1,2 milhão, em espécie, encontrados em sua casa, o que a polícia considerou indícios suficientes para colocá-lo atrás das grades. Para complicar ainda mais o quadro, a revista Época colocou em seu site um conjunto de vídeos, também fruto de apreensões da PF com autorização judicial, nos quais Bejani aparece recebendo sacos e sacos de dinheiro de um empresário ligado ao setor de transporte coletivo do município mineiro.
Será que essas engenhocas eletrônicas, que transformam em celebridades instantâneas as cabeças coroadas do PTB, não vão dar o ar de sua graça aqui pelos porões insalubres da política paroara? É certo que as imagens seriam fortes concorrentes ao Oscar de melhor roteiro adaptado em patifaria com dinheiro público.
quinta-feira, 12 de junho de 2008
Fosso sem fundo
Pois bem, não custa refrescar a memória destacando alguns dados compilados pelo economista Gabriel Strautman, integrante da Rede Brasil sobre Instituições Financeiras Multilaterais e da Rede Jubileu Sul. Em artigo publicado na última edição do Le Monde Diplomatique, em português, é retomada a tese de que a dívida externa já foi paga vezes sem fim, muito embora o País não deixe de ser tratado como devedor. Em quase 30 anos, de 1978 a 2007, o Brasil viu a dívida externa saltar de US$ 52,8 bilhões para US$ 243 bilhões, quando, no mesmo período, foram pagos aos banqueiros internacionais a fábula de US$ 262 bilhões a mais do que ingressou de empréstimos. Um assalto à mão armada, que só possui paralelo com o saque que as metrópoles fizeram, por séculos, em suas colônias do além-mar. É que talvez não estejamos tão distantes dessa condição nos cinzentos dias de hoje.
Garfada gigante: tiraram quase R$ 15 bi da saúde
Ladeira acima. Ladeira abaixo
Convém segurar os fogos em comemoração ao anunciado crescimento de 5,8% do PIB no primeiro trimestre deste ano em comparação com igual período de 2007, o maior índice desde 1996. Os motivos são simples. Primeiro, de janeiro a março, o PIB já apresentou sinais evidentes de desaceleração, projetando um crescimento até dezembro de pífios 3%. E, segundo, o Brasil alcançou o inexpressivo 10o lugar entre os 15 países considerados emergentes. Por exemplo, China, Índia e Rússia, respectivamente, cresceram no mesmo período 10,6%, 8,8% e 8%.
Portanto, o País tem muito pouco a comemorar e, por outro lado, já está na hora de por as barbas de molho para os tempos de crise que têm data certa para estourar, tão logo se vire a esquina das eleições de outubro.
quarta-feira, 11 de junho de 2008
Quando o crachá é o que menos importa
Corações apaixonados
O negócio do China
terça-feira, 10 de junho de 2008
Quem socorre o Pronto-Socorro?
Os senhores da guerra
Em 2007, o gasto militar mundial alcançou US$ 1,339 trilhão, o que equivale a US$ 202 por habitante, no exato momento em que mais de 800 milhões de seres humanos sofrem com a fome crônica e todas as cruéis manifestações das doenças da miséria em expansão.
Um detalhe ainda mais assustador: em meio ao cenário de ameaça sem precedentes do aumento da fome no mundo, a ajuda alimentar dos países ricos é a menor dos últimos 50 anos. Não se trata de falta de dinheiro, mas de um cálculo frio que privilegia o investimento nas engrenagens mórbidas de destruição em massa.
Uma cesta básica muito especial
De tão generalizada, a corrupção – ou a reiterada suspeita de malfeitorias com dinheiro público – vai ganhando ares de novela. Aliás, de folhetim de péssima qualidade. Ao atingir de maneira quase uniforme todo o andar de cima, produz a impressão de ser um fenômeno natural, perfeitamente integrado à paisagem. Na impossibilidade de que todos se locupletem, a prometida instauração da moralidade pública vai se transformando num objetivo cada dia mais distante, quase utópico. Mas, como sempre, ainda há tempo. Resta saber quem se atreve a meter a mão nesse ninho de vespas ferozes com seus encardidos colarinhos brancos.
segunda-feira, 9 de junho de 2008
Por um punhado de pó
A revelação das rotas de ingresso e distribuição das drogas, bem como dos principais pontos de venda na periferia de Belém deixam as autoridades policiais na incômoda posição de ter de explicar como tudo isso acontece - e se expande - sem que seja realizado um combate efetivamente eficaz ao crime organizado. Mais que palavras e planos mirabolantes, o que se exige é ação, baseada em um compromisso total contra a corrupção policial e lastreada em trabalhos de inteligência para mapear e desarticular as principais quadrilhas que continuam a espalhar o terror por todos os lados.
A era da carne
Na esteira desse crescimento, vem a pressão sobre os alimentos, com destaque para cereais forrageiros e oleaginosos. Para cada quilo de carne de ave são necessários três quilos de grãos; para a mesma quantidade de carne, lá se vão seis de grão destinados a alimentar o gado. São engrenagens poderosas que impulsionam a fronteira agrícola contra a floresta, que vai cedendo lugar ao pasto e à plantação extensiva da soja.
Quem manda é Chicago
Se meu vice falasse
Sobre o porquê da permanência do DEM em um governo que pratica “crimes”, nenhuma palavra foi ouvida da boca de um dos parlamentares que costuma disparar, diariamente, indignados discursos sobre a corrupção no governo petista, dando atualidade ao provérbio popular: todos sujos, falando de adversários ainda mais mal-lavados.
domingo, 8 de junho de 2008
Carpe Diem
Rastilho de pólvora
A finada CPI dos cartões corporativos é infinitamente desimportante perto do mais recente escândalo que expõe as relações nebulosas que cercaram a venda da Varig para grupos privados, sob as bênçãos e forte pressão por parte do Planalto. O caso, que veio a público em decorrência de uma feroz disputa pelo controle da VarigLog, primeira compradora da Varig, revela indícios gravíssimos de tráfico de influência, abuso de poder, corrupção e desnacionalização fraudulenta do setor aéreo, com o epicentro da trama se desenrolando no gabinete da poderosa ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef.
Se não bastasse o fato de que os tais sócios brasileiros do fundo norte-americano Matlin Patterson que comprou a VarigLog e a própria Varig terem toda a aparência de laranjas, temos a comprovada manobra coordenada pela Casa Civil que livrou a antiga Varig de uma bilionária dívida com o fisco - mais de R$ 5 bilhões - a fim de viabilizar sua aquisição pelos investidores. E estes, poucos meses depois de desembolsar apenas US$ 24 milhões pela compra - uma pechincha - repassaram a empresa à Gol por US$ 275 milhões, valor mais de dez vezes superior. Por trás de tudo, a figura ubíqua do advogado e lobista Roberto Teixeira, uma sombra que persegue a carreira de Lula, desde os primeiros passos do PT, sempre perigosamente próximo de negócios tão lucrativos quanto suspeitos.
Como uma bomba de fragmentação, o caso VarigLog ainda pode guardar surpresas muito desagradáveis para Lula e seu núcleo duro de poder, que não conseguem permanecer um mês sequer distante das promíscuas relações com a nata do capitalismo sem-risco tão em moda no Brasil.
Dialética da palavra sem-fim
[e recomeço e remeço e arremesso
e aqui me meço quando aqui se vive sob a
[espécie da viagem o que importa
não é a viagem mas o comêço da por isso
[meço por isso começo escrever
mil páginas escrever milunapáginas para
[acabar com a escritura para
começar com a escritura para
[acabarcomeçar com a escritura por isso
recomeço por isso arremesso por isso
[teço escrever sobre escrever é
o futuro do escrever sobrescrevo
[sobrescravo em milumanoites miluma
páginas ou uma página em uma noite que
[é o mesmo noites e páginas
mesmam ensimesmam onde o fim é o
[comêço onde escrever sobre o escrever
é não escrever sobre não escrever e por
[isso começo descomeço pelo
descomêço desconheço e [...]"
Haroldo de Campos, Galáxias (1963-1973).
sábado, 7 de junho de 2008
Anjos e demônios
A prisão pela Polícia Federal do procurador-geral do governo de Roraima, Luciano Alves de Queiroz, acusado de chefiar uma quadrilha de pedófilos e de exploradores sexuais de crianças de seis a 14 anos, não chega a surpreender diante do gangsterismo que se apossou das instituições do antigo Território Federal.
Após ser flagrado pela PF em gravações autorizadas pela Justiça, nas quais contrata cinicamente os "serviços" de crianças e adolescentes, o agora ex-procurador ainda se saiu com a desculpa esfarrapada e recorrente de que estaria sendo vítima de perseguição política. Sabem por qual o motivo? Por sua intransigente defesa da manutenção dos arrozeiros na reserva Raposa/Serra do Sol. Já o governador José de Anchieta Júnior (PSDB) diz lamentar o episódio, mas alega não ter o poder "para controlar a vida pessoal de assessores". Definitivamente, a elite política e econômica daquele Estado já não consegue dissimular suas relações carnais com o mundo do crime. Nesse contexto, a violação sistemática dos direitos indígenas é apenas a face mais visível do estupro socioambiental que pretendem continuar executando. Quem se habilita a por um ponto final nessa barbárie?
Um dia atrás do outro
Por baixo dos panos
Apesar disso, ilude-se quem imagina que a máquina de propaganda da trupe do atual prefeito da capital está desativada. A compra - a peso de ouro - de espaços editoriais em um grande jornal e em programas de TV está em pleno andamento. Para quem quiser ver. E, eventualmente, punir.
sexta-feira, 6 de junho de 2008
O jovem Che
Será uma excelente oportunidade para que estes filhos de trabalhadores e deserdados do campo brasileiro, muitos dos quais submetidos a condições de miséria social e de violência cotidiana, conheçam a trajetória e debatam sobre a atualidade do pensamento de uma das personalidades revolucionárias mais marcantes de todos os tempos. E de como permanece válida, e mais atual do que nunca, a palavra de ordem que exige a indignação militante contra todas as manifestações de injustiça.
Paradoxo efêmero?
Resta saber, entretanto, por quanto tempo essa postura vai se sustentar.
Enlatado mexicano
Como num filme pessimamente dublado, o programa nacional do PT, exibido na TV ontem à noite, gerou um duplo estranhamento. Primeiro, o lip sync - descasamento entre imagem e som - esteve presente em todos os dez minutos de exibição, dando um ar fake à sucessão de falas das cabeças coroadas petistas, separadas uma das outras por peças-testemunho de pobres, muitos pobres, dizendo-se salvos pelos programas sociais do governo. Segundo, pela irremediável fratura entre o discurso e a prática de um partido que, para alcançar o poder, foi renegando, passo a passo, sua antiga consistência programática.
No mais, como numa espécie de expiação pública, a busca de se apresentar como legítimo representante da esquerda, defensor dos pobres e proprietário da bandeira vermelha da mudança, algo tão improvável como a tentativa de se fazer levitar, por passe de mágica em alta-definição, um enorme e desengonçado batalhão de hipopótamos.
quinta-feira, 5 de junho de 2008
Ruralistas em fúria
Além disso, o decreto torna sem efeito a exigência de recadastramento das propriedades rurais na Amazônia Legal, impedindo que sejam punidos mais de 80% do total de proprietários rurais que resolveram simplesmente ignorar a ordem governamental de apresentar ao Incra a documentação que comprovaria a regularidade de suas fazendas e empreendimentos.
Vai ser uma batalha decisiva, cujo desfecho dependerá da vontade política do governo enfrentar, com todas as suas forças, a ofensiva dos desmatadores e seus porta-vozes no Senado. O retrospecto da atuação da base política do presidente Lula, marcada por seguidas concessões ao que existe de mais retrógrado e fisiológico, não enseja qualquer manifestação de otimismo. Muito pelo contrário.
Trincheira da homofobia
Punindo o militar herege, sacrificado em uma espécie de auto de fé em nome da suposta pureza moral da corporação, o Exército também sinaliza para a existência de dois pesos e duas medidas quanto o assunto é disciplina e hierarquia. Ou não merecia uma punição exemplar e imediata o general Augusto Heleno, comandante militar da Amazônia, por afrontar seguidas vezes e com amplíssima cobertura da mídia o decreto presidencial de homologação da reserva Raposa/Serra do Sol, em Roraima?
Para o general, panos quentes. Para a raia miúda, a mão pesada do Código Militar. Assim, o Brasil vai entrando no terceiro milênio arrastando a pesada crosta da intolerância e da violência sistemática contra os diferentes.
Pia batismal
quarta-feira, 4 de junho de 2008
Capitão Gancho e os bois voadores
Cheiro ruim no ar
O pior vem após a análise dos preços praticados pelos cinco fornecedores escolhidos pela administração da Seduc. Vejamos dois exemplos: o açúcar refinado branco de 1a qualidade foi comprado por R$ 1,46 o quilo, quando em qualquer supermercado, compra-se por, no mínimo, R$ 1,09. Já o feijão carioquinha tipo 1 pode ser encontrado facilmente no varejo em Belém por R$ 3,49. A Seduc aprovou que o mesmo produto fosse adquirido por R$ 3,95. Tudo isso já seria escandaloso o suficiente sem que se precisasse atentar para um detalhe fundamental: as quantidades compradas. Do açúcar foram comprados 27.777 quilos e do feijão 12.345 quilos, quantidades tão significativas que, forçosamente, deveriam implicar num preço unitário menor do que aquele praticado para os consumidores comuns.
De qualquer forma, o assunto vai parar na Justiça. Uma empresa que se sentiu lesada ingressará com denúncia pedindo a nulidade da dispensa de licitação, anexando nos autos cópia de um ofício que alega ter protocolado na secretaria, dias antes de efetivada a compra direta, no qual se comprometia a fornecer todos os alimentos por um valor R$ 400 mil a menos do que foi contado pela área de compras da Seduc.
Não custa nada o Tribunal de Contas do Estado fazer uma auditoria imediata para checar se essas denúncias merecem ou não crédito.
Nada é o que parece ser
O etanol, no Brasil, já é um dos vetores que pressionam para adiante a fronteira do agronegócio, elevando o preço da terra e forçando a substituição de cultura de alimentos pelo novo “ouro verde”, seja de cana, mas também de mamona, dendê e outras formas de se obter agrocombustível. É de uma ingenuidade ímpar imaginar que o dito mercado vai se contentar restringir este avanço apenas para áreas antigas ou já degradadas. Levantamentos técnicos apontam que não é assim que a roda gira. Antigas fazendas de café, nas décadas passadas, foram convertidas em amplas plantações de cana-de-açúcar, sob o prestimoso incentivo dos bilhões do Proálcool. Depois, essas mesmas áreas foram tomadas pela soja, que do sudeste foi migrando para as regiões do Cerrado e já desponta ameaçadora e aparentemente incontrolável, em grandes extensões de floresta na porção Amazônica de Mato Grosso, líder inconteste da devastação. Quem pode assegurar que, sob o impulso da mais recente onda especulativa em escala mundial, este processo irá se estancar às bordas da floresta?
terça-feira, 3 de junho de 2008
Terra do fogo
Batalhão de Caçadores
E se esse cálculo político estiver errado? E se o poço de impopularidade no seio da principal categoria de servidores públicos, ramificada nos 143 municípios, no qual mergulha a governadora não tiver fundo? Perguntas aparentemente sem sentido para um punhado de pretensos generais, cujas fardas engalanadas não são longas o suficiente para esconder as calças curtas que seus donos são obrigados a vestir.
Águas turvas
A legislação brasileira proíbe a venda de equipamentos militares para empresas que os utilizem em conflitos armados que já estejam em curso no momento da transação comercial. Segundo revelou o jornalista Roberto Godoy, do Estado de São Paulo, a venda da aeronave, idêntica às utilizadas pela Força Aérea Brasileira, resultou de um processo sigiloso de negociações entre os Ministérios da Defesa e das Relações Exteriores com o governo de George W. Bush, principal padrinho e financiador da nova versão dos soldados da fortuna. E ponha fortuna nisso: a Blackwater detém uma carteira de 987 contratos oficiais, totalizando algo em torno de US$ 1,2 bilhão.
Com as mãos manchadas com muito sangue de iraquianos – o último massacre registrou o assassinato de 17 civis iraquianos em Masur, em setembro do ano passado – os executivos da Blackwater estão às voltas com várias investigações em curso no Congresso dos Estados Unidos. O que falta para que nossos congressistas iniciem, sem demora, uma investigação que possa lançar luz a este nebuloso episódio?
segunda-feira, 2 de junho de 2008
O PT no Hangar. Quem pagou a conta?
No rastro da pistolagem
A navalha oficial - aparentemente bem afiada - precisará de reforços para penetrar nas estruturas necrosadas que se movimentam com enorme desenvoltura em muitos outros municípios, não raro contando com uma bem nutrida retaguarda política.
Vitamina para uns poucos. Veneno para a maioria
Não se espere protestos dos felizes detentores de títulos da dívida pública brasileira. Eles vão muito bem, obrigado. Afinal, na Europa as taxas praticadas não ultrapassam 4%, nos Estados Unidos atingem apenas 2% e - pasmem - no Japão os especuladores se contentam com módicos 0,5% ao ano.
domingo, 1 de junho de 2008
Fome em progressão geométrica
Enquanto isso, nos requintados salões por onde transitam as elites internacionais, nunca foi tão lucrativa a desenfreada especulação com o valor de mercado dos alimentos e do petróleo - mercadorias, pura e simples -, em grande parte responsável pela onda inflacionária que varre o planeta.
Dialética dos que não se rendem
O inimigo desairado revivesceu com vigor incrível. Os combatentes, que o enfrentavam desde o começo, desconheceram-no. Haviam-no visto, até aquele dia, astucioso, negaceando nas maranhas das tocaias, indomável na repulsa às mais variadas cargas, sem par na fugacidade com que se subtraía aos mais imprevistos ataques. Começaram a vê-lo heróico.
A constrição de milhares de baionetas circulantes estimulara-o; e dera-lhe, de novo, a iniciativa nos combates. Estes principiaram desde 23, insistentes como nunca, sulcando todos os pontos, num rumo girante, estonteador, batendo, trincheira por trincheira, toda a cercadura do sítio.
Era como uma vaga revolta, desencadeando-se num tumulto de voragem".
Euclides da Cunha (1866-1909). Os sertões (1902, p. 527).
Guerra no campo
Cresce o clima de tensão entre as dezenas de famílias que reocuparam parte do complexo da Fazenda Forkilha, em Santa Maria das Barreiras, sudeste do Pará. Vôos rasantes de helicópteros da polícia e intensa movimentação de tropas demonstram que a ação de despejo é apenas uma questão de tempo.
Organizados pela Liga dos Camponeses Pobres (LCP), movimento de ultra-esquerda sediado em Minas Gerais, Rondônia, Tocantins e, agora, também no Pará, os pequenos agricultores prometem resistir e denunciam que grande parte das fazendas teria sido adquirida através de meios fraudulentos.
Em novembro passado, o governo do Estado promoveu ampla operação policial na região, denominada ironicamente de "Paz no Campo", prendendo dezenas de trabalhadores e desocupando, com violência, as áreas da Forkilha que estavam há meses sob o controle de diversos acampamentos e grupos, inclusive da Liga dos Camponeses Pobres. Na ocasião, o bispo de Conceição do Araguaia, dom Dominique You, denunciou a prática de tortura que teria sido praticada pela PM, sem que até o momento ninguém tenha sido responsabilizado por esse crime.
O complexo da Fazenda Forkilha ocupa área de 3.500 alqueires e, desde a década de 90, freqüenta o noticiário com denúncias de trabalho escravo, grilagem de terras públicas e assassinatos de posseiros.