“(...) Pois felizmente (pensava) o homem não é feito só de desespero, mas de fé e esperança; não apenas de morte, mas também de desejo de vida; tampouco unicamente de solidão, mas de momentos de comunhão e amor.Se prevalecesse o desespero, nós todos nos deixaríamos morrer ou nos mataríamos, e na é isso que acontece, nem de longe. (...) O que demonstrava, a seu ver, a pouca importância da razão, já que não é razoável manter esperanças nesse mundo em que vivemos. Nossa razão, nossa inteligência, estão constantemente nos provando que o mundo é atroz, daí a razão ser aniquiladora e levar ao ceticismo, ao cinismo e, por fim, à destruição. Mas, felizmente, quase nunca o homem é um ser razoável, e por isso a esperança renasce aqui e acolá, no meio de calamidades. E esse próprio renascer de algo tresloucado, tão sutil e visceralmente tresloucado, tão destituído de qualquer fundamento é a prova de que o homem não é um ser racional. (...) Portanto, não eram as idéias que salvavam o mundo, não era o intelecto nem a razão, mas justo o contrário: as insensatas esperanças dos homens, sua fúria persistente em sobreviver, seu desejo de respirar enquanto for possível, seu pequeno, teimoso e grotesco heroísmo cotidiano ante o infortúnio.”
Ernesto Sabato ( 1911), escritor argentino. Sobre heróis e tumbas (2002, p.263-265).
Nenhum comentário:
Postar um comentário