Muitas mãos sujas – de petróleo, de sangue, de dinheiro da corrupção – se movem na arena internacional. Poderosos interesses se digladiam, fortunas se movem como nuvens gigantescas, por sobre continentes devastados, cobrindo uma multidão de famélicos e deserdados, enquanto a riqueza se multiplica e se concentra cada vez mais. Não se pode negar que exista um lobby da indústria petroleira contra os chamados agrocombustíveis. Da mesma forma, o etanol de cana-de-açúcar, do qual o presidente Lula se transformou em maior garoto-propaganda, não produz exatamente os mesmos efeitos devastadores que seu irmão gêmeo, o etanol a partir do milho, adotado pelos norte-americanos e um dos grandes vilões da escala inflacionária dos alimentos. Contudo, nem por isso o álcool verde-amarelo pode sentar impávido, no banco das testemunhas, como se nada tivesse com o problema, isento de culpas e de dúvidas. A questão é bem mais complexa do que sonha a vã filosofia de alguns.
O etanol, no Brasil, já é um dos vetores que pressionam para adiante a fronteira do agronegócio, elevando o preço da terra e forçando a substituição de cultura de alimentos pelo novo “ouro verde”, seja de cana, mas também de mamona, dendê e outras formas de se obter agrocombustível. É de uma ingenuidade ímpar imaginar que o dito mercado vai se contentar restringir este avanço apenas para áreas antigas ou já degradadas. Levantamentos técnicos apontam que não é assim que a roda gira. Antigas fazendas de café, nas décadas passadas, foram convertidas em amplas plantações de cana-de-açúcar, sob o prestimoso incentivo dos bilhões do Proálcool. Depois, essas mesmas áreas foram tomadas pela soja, que do sudeste foi migrando para as regiões do Cerrado e já desponta ameaçadora e aparentemente incontrolável, em grandes extensões de floresta na porção Amazônica de Mato Grosso, líder inconteste da devastação. Quem pode assegurar que, sob o impulso da mais recente onda especulativa em escala mundial, este processo irá se estancar às bordas da floresta?
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