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sábado, 28 de fevereiro de 2009
Artilharia contra a estupidez do silêncio
Dialética da guerra e de sua fonética da barbárie
Caminhamos 1,5 km pelos atracadouros. Há tanques de armazenamento de petróleo queimados e peças de artilharia tomadas do inimigo: a terra e o concreto estão pulverizados, os cadáveres iraquianos jazem na sujeira. Um soldado perdeu a cabeça; outro, os braços. Ambos atingidos por granadas. (...) vejo outro corpo em uma vala de canhão, um jovem em posição fetal, encolhido como uma criança, já preto de morte, mas com uma aliança no dedo. Essa aliança me fascina. Nessa manhã abrasadora e dourada, reluz e cintila com o frescor da vida. O jovem tem uns 25 anos, seu cabelo é preto. Ou deveria dizer "tinha", "era"? Paramos o relógio quando a morte nos surpreende? (...) Torno a olhar para a aliança. Um casamento arranjado ou um enlace por amor? De onde era esse cadáver de soldado? Sunita, xiita, cristão ou curdo? E sua mulher? Não deve estar morto há mais de três dias. Em algum lugar, ao norte, sua acorda acorda as crianças, faz o café-da-manhã, contempla a fotografia de seu marido na parede sem saber que já é viúva e que a aliança de seu marido, tão reluzente de amor por ela nessa esplendorosa manhã, decora um dedo morto."
Robert Fisk. "A grande guerra pela civilização: a conquista do Oriente Médio" (Editora Planeta, 2007, p. 341-342)
Abram alas para o "outro lado"
Os dois episódios citados para ilustrar a ensaiada indignação do presidente do Supremo, sofreram, como era de se esperar, uma abordagem superficial e ideológica. O "carnaval vermelho", uma série de ocupações de latifúndios no conflagrado Pontal do Paranapanema, em São Paulo, foi apresentado como obra do MST, muito embora tenha sido promovido por José Rainha, um polêmico líder há anos em aberta dissidência com seus antigos companheiros de movimento e hoje abrigado sob o guarda-chuva da CUT e do PT. Não interessa fazer esse contraste quando o objetivo é desenhar os sem terra como uma versão tupiniquim da Al Qaida, movidos por um fanático desejo de turbar a tal "paz social" que tanto preocupa o extrovertido Gilmar Mendes, esse aspirante a líder informal da oposição demo-tucana.
Muito menos interessa à mídia correr atrás das causas dos sangrentos conflitos fundiários nos rincões desse Brasil. No Nordeste, com suas seculares cercas, a reforma agrária não passa de um slogan desbotado, enquanto pontificam os sindicatos do crime e seus pistoleiros a serviço dos eternos coronéis, que o tempo foi transmutando em modernos executivos do agrobusiness. Esse é o caldo que entorna na violência cega e em episódios nebulosos como da matança na fazenda Consulta.
Por tudo isso é importante ouvir o que as entidades e movimentos da Frente Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo pensam do senhor Mendes. Não são palavras agradáveis a um ouvido que parece sensível apenas aos reclamos que vem de cima.
sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009
Pouso forçado
Autos de Fé
Ao que parece, nem todos que testemunham as negociações alopradas estariam presos a algum tipo de voto de silêncio. A gota d'água, aquela que faz o pote transbordar, estaria a caminho, movida por um misto de interesses contrariados e, como prova de que nem tudo está perdido, por um inusitado senso de exercício ético de cargo público.
quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009
A voz da experiência
Diante do impasse, o ministro Edison Lobão (Minas e Energias) resolveu soltar a língua. Para ele, a atual diretoria do fundo está manobrando para se perpetuar no poder. "Isso é uma bandidagem completa! Esse pessoal está revoltado porque não quer perder a boca. O que eles querem é lazer uma grande safadeza", afirmou, destemperado, à reportagem de O Globo.
Lobão, lugar-tenente de José Sarney, sabe do que está falando. Afinal, de bandidagem ele entende. E como entende.
Da arte de embromar
Depois, a imprensa vazou que a indignação era um tanto estranha. A Embraer, privatizada no início dos anos 90, nunca cortou completamente seu cordão umbilical com os cofres públicos. Recebeu e continua a receber fortes subsídios e dando assento a representantes governamentais - e dos fundos de pensão das estatais - em seus conselhos diretivos. A maré de dispensas fora comunicada ao Planalto com antecedência.
Ao pé de ouvido, com a presença de vários ministros, o presidente ouviu as razões da empresa e parece ter saído convencido sobre a inevitabilidade das dispensas. Nada menos que 20% de toda a força de trabalho, 4200 empregados postos no olho da rua.
Tudo não passou de um jogo de cena. Uma brincadeira de péssimo gosto para manter a platéia em seu limbo de eterno embevecimento.
Resta saber até quando esse encanto vai perdurar.
Ele tem o glamour
Em sua mais recente reação hidrófoba contra o MST, ele invocou uma medida provisória de 2001, assinada por seu chefe, Fernando Henrique Cardoso, criminalizando as ocupações de terras bo país. Note-se: as ocupações realizadas pelos trabalhadores rurais. Já a grilagem desenfreada promovida pelos engravatados do agronegócio, essa sempre será bem-vinda e estará sob a eterna proteção dos gendarmes da lei e da ordem.
quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009
Rompecabezas
As edições de hoje, quarta-feira de cinzas, estão pródigas nesse estilo particular de jornalismo.
Assim, para saber das mazelas da saúde em Ananindeua - e só lá, diga-se - basta aportar nas margens de O Liberal.
Quantas foram as vítimas fatais da falida saúde da capital? Não resta outra alternativa senão mergulhar na lâmina d' água do Diário do Pará.
Muito embora recendendo ainda a talco Johnson's, o Público vai tateando a busca de um caminho menos desequilibrado. Prova desse esforço é a matéria "Comunidades cobram as promessas", focalizando o calvário de moradores de Belém e Ananindeua, irmãos em abandono e vítimas de variantes da mesma empulhação.
Rasgando a fantasia
Depois de anunciar o fechamento da prisão de Guantánamo, centro de tortura em um enclave mantido em pleno territórrio cubano, a Casa Branca dá vários passos para trás em direção a um dos pilares da política externa de seu antecessor. O Departamento de Estado afirmou em resposta a uma demanda judicial que os prisioneiros de guerra da base da Força Aérea americana em Bagram, ao norte do Afeganistão, não têm o direito legal de contestar suas detenções naquele país ocupado desde 2001. Ou seja: sobre eles, tidos como "combatentes inimigos", não paira nenhum resquício da legislação internacional, como a Convenção de Genebra, por exemplo. Para os EUA, esses presos foram reduzidos à condição de "coisas", não são portadores de quaisquer direitos e não podem ser amparados por nenhum dos instrumentos de defesa jurídica que a humanidade consagrou nos últimos séculos.
Daí para a autorização da tortura e extermínio de prisioneiros é um só passo para desmoralizar de vez a estória de que um vento renovador e algo progressista iria varrer a enorme sujeira acumulada nos corredores do Pentágono.
Silêncio ensurdecedor
As matérias da imprensa parecem requentadas, pautas frias, fotos em sépia. Mas foram feitas no calor e no desespero de poucas horas atrás, quando o grito de dor das famílias enlutadas ainda podia se ouvir em meio à completa falência do sistema de saúde na capital e no interior.
Os muitos responsáveis escondem-se por trás do silêncio ou de notas tão burocráticas quanto mentirosas. Essas respostas também envelheceram, são as mesmas, esfarrapadas e insustentáveis, que foram utilizadas no final do ano, quando a mesma tragédia foi noticiada, sem que nada, absolutamente nada, fosse feito para apurar as muitas responsabilidades.
Olhando o mundo de cima
O camorote em que Lula e dona Marisa assistiram a passagem das escolas de samba foi VIP até demais. Uns poucos tiveram acesso - o prefeito carioca e o governador fluminense e uns dois ministros, somente. Mas havia mais alguém por ali. Era a senadora Roseana Sarney, que mais uma vez deu mostra do prestígio que ela e, sobretudo, seu pai, o longevo e astuto José Sarney, chefe do clã, goza junto ao poder.
"Quem governa é o Lula, mas quem manda é o Sarney". Quem sacou a frase de efeito foi o jornalista paraense, Palmério Dória, um expert nas travessuras do mandarinato maranhense. Ele sabe tudo, absolutamente tudo, que Sarney, seus familiares e apaninguados, fizeram no verão passado. Neste último e em todos das muitas décadas em que pontifica, solene e arrogantemente, acima de governantes fardados ou paisanos, pouco importa.
A densa e bem escrita matéria, para ser lida e guardada, está na Caros Amigos, edição de fevereiro, que já está nas bancas.
sábado, 21 de fevereiro de 2009
Sob o reinado de Momo
Dialética da visão (des)esperançada
Albert Einstein (1879-1955)
De braços cruzados
Não se deixe levar pela mise-en-scène presidencial. Lula simula indignação. Ameaça bater na mesa e chamar a Embraer às falas. Afinal, uma empresa daquele porte demitindo, de uma só tacada, cerca de 20% de sua força de trabalho é mesmo um péssimo exemplo. Não é uma empresa qualquer. de jatos comerciais do mundo e que, até os anos 90, foi o orgulho do setor público aeroespacial, até que foi criminosa e covardemente privatizada. O próprio Lula admite que o governo, através do BNDES, investiu muito para fortalecê-la nos últimos anos. Mais: as demissões em massa são um péssimo sinal, confirmando que a crise é muito mais séria, profunda e duradoura, e que seus efeitos estão se alastrando como um câncer em metástase.
Diante disso tudo, o que Lula faz? Finge indignação, promete chamar empresários para que se expliquem, convoca reuniões com ministros para manter o noticiário sempre aquecido. Mas, na prática, não faz nada. Cruza os braços e deixa que o mercado dite o ritmo e o impacto de mais um pacote de maldades. Este sim, efetivo e cruel. Só em janeiro mais de 350 mil brasileiros foram postos no olho da rua, apenas nas seis principais regiões metropolitanas. As taxas de desemprego não param de crescer e por trás das estatísticas são centenas de milhares de famílias jogadas no sorvedouro da miséria e da impotência.
Lula pode descruzar os prazos. Caminhando alguns passos ele chegará até a grande mesa presidencial no mais importante salão do Palácio do Planalto. Sobre a mesa, algumas folhas de papel. E, ao lado, uma caneta. Qualquer caneta. Pode seu uma luxuosa Mont Blanc ou uma simples e econômica Bic. Pouco importa. Armado desses singelos instrumentos - uma folha de papel e uma caneta, qualquer caneta - Lula pode assinar uma Medida Provisória, que todos sabem tem força de lei até que o Congresso a chancele ou a detone.
Armado, isto sim, de uma indignação verdadeira, Lula deveria assinar uma MP gravando fortemente as demissões - nem precisaria proibi-las por decreto. Bastaria tornar o ato de demitir tão oneroso que os patrões pensariam três vezes antes de jogar sobre as costas dos trabalhadores o peso medonho da crise. Simples, assim.
Mas se fizesse isso, Lula não seria mais o Lula realmente existente. Estaria retornando a um passado que, convenhamos, talvez nunca tenha existido de verdade. Em um tempo em que muitos outros braços estavam cruzados e os corações, ah, os corações, estavam repletos da mais legítima e bela de todas as esperanças.
sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009
Pitbull sem coleira
Triste PMDB. Quando um partido precisa recorrer a alguém com o perfil nebuloso de um Wladimir Costa é porque chegou no fundo do poço. Se é que tem mesmo fundo o abismo lamacento em que muitos dos seus próceres encontram-se submersos.
E Battisti desceu ao inferno
O Correio da Cidadania reuniu dois intelectuais para refletir sobre esse drama ainda inconcluso. Mário Maestri, doutor em História, e Florence Carboni, italiana com doutorado em Linguística, têm em comum muito mais que o sangue italiano. A visão que ambos expressam vai ao fundo do problema: o enorme retrocesso político vivenciado pela velha Itália, sob o comando de políticos fascistóides como o histriônico (e não menos corrupto e pernicioso) primeiro-ministro Sílvio Berlusconi.
Tiro ao alvo
Agora, sentada um pouco a poeira, começam as críticas dos setores vinculados aos trabalhadores rurais e à área ambientalista.
A senadora petista Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, não passou recido. Em discurso contundente da tribuna do Senado desancou a MP, que pode, segundo ela, servir de instrumento para o avanço e consolidação da grilagem de terras públicas.
O Imazon, conceituado instituto de pesquisas com sede no Pará, também botou a boca no trombone.
É só o começo de uma reação organizada que tende a crescer nas próximas semanas e ameaça jogar areia na nova e polêmica Diretoria Extraordinária de Regularização Fundiária na Amazônia, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).
quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009
Contagem regressiva
Abrindo o caixa
Há, porém, um agravante: a líder do consórcio Energia Sustentável do Brasil (ESBR) é simplesmente uma das três maiores empresas mundiais do ramo da energia, a GDF Suez, gigante franco-belga que, em tese, e só em tese, deveria aportar capital e tecnologia num setor tão estratégico para a economia do país. Mas não é isso que acontece. A Suez, detentora de 50,1% da sociedade de propósito específico criada para tocar a obra, dá aceno com chapéu alheio. Ou melhor: com o suado dinheiro do contribuinte brasileiro, a juros subsidiados e largo prazo para pagamento, 30 anos.
Um verdadeiro negócio da China, como se dizia antigamente, ali mesmo a poucos quilômetros de onde naufragou, no início do século passado, outro sonho megalomaníaco, a finada estrada de ferro Madeira-Mamoré.
A hora é de investigar
O Ministério Público, que ontem (18) recebeu a papelada com indícios de, pelo menos, 40 execuções sumárias realizadas pela PM, cujos laudos periciais teriam sido manipulados ou simplesmente desconsiderados nas conclusões dos inquéritos, tem a obrigação de aprofundar, com celeridade e eficiência, a investigação de cada um dos fatos. Não é pedir muito, convenhamos, mas seria um excelente começo. Tudo feito às claras, sob o olhar atento e algo incrédulo da opinião pública.
quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009
Remando contra a maré
As propostas do Greenpeace, que considera inadmissível a proposta do governo federal que levará à triplicação das emissões de gases de efeito estufa na matriz energética, são as seguintes:
. Aprovação de uma nova lei de incentivo a energias renováveis, tendo como exemplos os projetos de lei 4550/2008, de autoria do deputado Edson Duarte (PV) e 1563/2007 de
autoria do Deputado Paulo Teixeira. Estas propostas são essenciais para o desenvolvimento da indústria de energias renováveis no Brasil.
· Aumentar a participação de energias renováveis (excetuando grandes hidrelétricas) para 30% da matriz elétrica em 2030.
· Reduzir o consumo de eletricidade em 20% até 2030, por meio de medidas de eficiência.
· Eliminar completamente a energia nuclear da matriz elétrica brasileira, descomissionando as usinas de Angra 1 e 2 e não construindo a usina de Angra 3.
· Não construção de novas hidrelétricas na Amazônia.
· Não construção de novas termelétricas movidas a combustíveis fósseis.
· Por fim, pede-se, além da ampliação do prazo da consulta pública ao plano, que a discussão do mesmo com a sociedade possa acontecer por meio de audiências públicas.
Para conhecer a íntegra da Crítica ao Plano Decenal de Expansão da Energia 2008-2017, clique aqui.
Não deu mais para segurar
Enquanto isso, a CPI da pedofilia do parlamento paraense, através de seu presidente, deputado Adamor Aires (PR), diz que o inquérito policial contra Sefer ainda não chegou à Alepa. Logo, continuarão esperando, enquanto o escabroso caso passa, célere e estrepitosamente, à esfera federal.
Escravos no canavial
Colombina degolada
terça-feira, 17 de fevereiro de 2009
Vinhas da Ira
Excelência, explique-se
No caso da paraense, ela que foi candidata em Parauapebas, sudeste do Pará, declarou ter reforçado seu caixa de campanha em R$ 1,18 milhão quando seu patrimônio não ultrapassava R$ 1,07 milhão. A desculpa apresentada - venda de uma sociedade em empresa da qual era sócia - tem todas as características de um remendo de última hora para fugir do flagrante de abuso de poder econômico. Aliás, abuso que foi o traço mais eloquente na cruenta disputa pelo poder naquele município minerador, cujos polpudos royalties da Vale costumam atiçar a cobiça de uma legião multicolorida de aventureiros.
Na força bruta
Os militantes do Movimento Sem Teto Urbano (MSTU) há dias protestavam contra a iminente intervenção de forças policiais mobilizadas a favor dos pretensos proprietários do latifúndio localizado na fronteira do miserável bairro do Benguí. Mas se enganaram. O ação, marcada por muita violência, foi praticada por seguranças à paisana, "pistoleiros urbanos", e por dezenas de guardas de uma empresa de segurança, a Falcon.
A Prefeitura e o governo do Estado optaram pelo silêncio, enquanto o fogo se alastrava. Tática perigosa e irresponsável, cujo preço pode ser cobrado, em próximos episódios, em vítimas fatais, pois é isso que os ventos da barbárie costumam semear.
segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009
Não é o que parece
Está se falando de uma verdadeira montanha de dinheiro. Por dia são servidas 44 milhões de refeições e o país dispende 2,1 bilhões de reais ao ano com a compra e distribuição de merenda escolar.
Ocorre que, sabe-se agora, a MP traz uma armadilha: foram introduzidos vários critérios para flexibilizar essa destinação obrigatória, num movimento inspirado pelo poderoso lobby da das empresas de refeição coletiva e da indústria alimentícia, fortemente interessado em manter seu controle sobre um mercado tão lucrativo.
A manobra foi tão escandalosa que provocou a reação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), órgão oficial que assessora o presidente da República. "É um retrocesso", afirmou Renato Maluf, presidente do colegiado.
Sesmarias no século XXI?
Palavras de fogo
Sua opinião sobre o affair Cesare Battisti, exposta em clareza meridiana no jornal O Globo, merece ser lida.
domingo, 15 de fevereiro de 2009
Dialética da palavra em defesa do bem-viver
Davi Kopenawa, líder dos Yanomami, em histórico discurso proferido na Assembleia Geral da ONU, em 1992, durante a abertura do Ano Internacional das Populações Indígenas.
sábado, 14 de fevereiro de 2009
Belém, 40 graus
sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009
À direita, sempre
Uma voz dissonante do senso comum vigente na sociedade israelense, o historiador e escritor Tom Segev, apresentou ao Estadão sua visão - ácida e desesperançada - do presente e do futuro imediato de seu país, em entrevista concedida ao jornalista Gustavo Chacra. Vale a pena ler.
Na hora do recreio
Camisa 10
Agora, Wanzeller será intimado a apresentar provas de suas denúncias e esclarecer a extensão e profundidade do suposto esquema criminoso.
Circo de horrores
Em janeiro, sob o impacto de uma política de maior endurecimento das ações da PM, houve um notável crescimento das ocorrências, com mais mortes sendo agregadas à essa estatística sangrenta.
Nada como uma lufada de realidade para turbar as oníricas imagens da propaganda oficial.
E la nave va
quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009
Por baixo do tapete, vistosas caudas
Suástica de sangue
Fogo sob cinzas?
O ex-diretor do Centro de Perícias Renato Chaves, Miguel Wanzeller, pode ser muito mais que um boquirroto, magoado pela perda do cargo. Se estiver falando a verdade, ele é uma testemunha-chave de uma série de crimes, e como tal deve ser tratado. A suposta fraude nos laudos periciais precisa ser demonstrada com a apresentação de provas dos delitos praticados. Os autores, sejam policiais ou outros servidores públicos, precisam ser identificados. A participação de autoridades nessa alegada conspiração, que visaria proteger a prática de crimes por parte de membros da corporação policial, deve também ser elucidada. Todos, absolutamente todos, de qualquer escalão ou nível hierárquico, devem ser nominados e investigados com rigor.
Se, por outro lado, as denúncias feitas com tanto estardalhaço se mostrarem simples balas de festim, cortina de fumaça para gerar escândalo e tumulto, o autor delas não deve escapar das penas da lei.
A bola está quicando na pequena área do Ministério Público. Quem se arvora o papel de artilheiro?
Linha Direta
Do senador capixaba, certamente, vão ouvir que não há o menor espaço para que a CPI do Senado faça vistas grossas ou contorne o envolvimento de quem quer que seja. E mais: que após o Carnaval, o desembarque em Belém dos parlamentares federais não deve deixar pedra sobre pedra. Vai ouvir uma alentada lista de testemunhas e de supostos envolvidos, entre os quais, o deputado Luiz Afonso Sefer (DEM), que andou tentando costurar um acordo para ser ouvido em Brasília, longe dos holofotes e da pressão da opinião público. Este plano, agora se sabe, naufragou melancolicamente. Foi um tiro no pé, como se diz.
quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009
Os insaciáveis
Mas sempre há economistas de plantão a cantar loas à política de salvamento dos bancos, mesmo torcendo o nariz aos indesejáveis aspectos "intervencionistas" . Afinal, esses neoliberais destestam o Estado, mas não abrem mão de embolsar a riqueza socialmente construída. A crise - ora, a crise - deve ser um bom momento para alavancar lucros e concentrar poder. O resto é purpurina e conversa para enganar os tolos.
terça-feira, 10 de fevereiro de 2009
Uma ferida no meio da selva
Palavra de mestre
Dialética da palavra (a ser) domada
Domador quase domado
já as palavras
é que me lavram
e escrutam nos refúgios
da recusa
as serpentes
as palavras
De acordá-las e dormi-las
instigando-as
já me inferem inserem
seus venenos
e se calam
entre os dentes da jaula
e ejaculam
o entre tido não havido
o não sucedido
- meros guizos
de serpentes
as palavras
Da ruína e seus ruídos
restam pouco as palavras
(ocas?)
para o engate
da serpente com a semente
e o seu resgate
Max Martins (1926-2009), poeta paraense. Poemas Reunidos 1952-2001 (EDUFPA,2001, p.243)
Baixa-mar
As águas tépidas do Marahu, neste amanhecer de 10 de fevereiro, banham as areias tantas vezes pisadas e acariciadas por este gigante de nossa língua. Suas pegadas, na forma de uma obra magistral, com efeito, são eternas e estão para sempre lembrando como é possível - e cada vez mais necessário - semear a mais livre e amorosa visão de mundo.
Trava de segurança
Por aqui, entretanto, o governo Lula ainda parece pouco convencido da necessidade de estabelecer mecanismos que salvaguardem o emprego dos brasileiros, mesmo diante dos sinais cada vez mais insistentes de que a crise - com todo o seu potencial destrutivo - veio mesmo para ficar.
segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009
A volta dos mortos vivos
Algo de podre no andar de cima
Vence na vida quem diz sim?
Mas quem pariu Mateus e que agora não quer embalar sua cria? O eterno PFL, camuflado de DEM, que promete expulsá-lo com métodos sumaríssimos, esquecendo que até surgirem na mídia a face digamos controvertida de seu correligionário não havia uma única crítica em voz alta no interior do partido? Ou as dezenas de votantes secretos que elegeram Moreira para um dos mais importantes postos da Casa, certamente por ser ele um dos mais ardorosos defensores da impunidade parlamentar? Nesse bloco, agora se sabe, além de deputados da velha direita integraram a alegre torcida do fidalgo mineiro membros da base de apoio do governo, inclusive petistas que o viam como um fiel aliado nas horas do aperto.
Edmar Moreira vai cair no esquecimento em breve. Que pena. Justo no momento em que histórias exemplares de seu passado nefasto começam a emergir.
domingo, 8 de fevereiro de 2009
O cerco e as cercas
Sopa no mel
Vejamos o exemplo da hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, em Rondônia. Quase 70% dos R$ 7,3 bilhões a serem gastos na construção devem sair a título de financiamento diretamente dos cofres do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a gigante francesa GDF Suez, cabeça do consórcio Energia Sustentável, vencedor da concorrência.
A outra usina no Madeira, a de Santo Antônio, já recebeu R$ 6,1 bilhões do BNDES, que assim transfere oxigênio, às custas da poupança do povo brasileiro, para que empreiteiras como a Odebrecht e Andrade Gutierrez continuem acumulando riqueza e defendendo, da boca para fora, as vitudes da livre iniciativa.
Direção (muito) perigosa
Festa do arromba
O abuso se repete há vários anos. Aumenta de tamanho, pompa, circunstância e desfaçatez, como ficou patente até em anúncios de TV e em jornal, alardeando farta distribuição de comida e bebida, evidentemente "de grátis". Serão "50 mil churrasquinhos de gato mais derrame de gelada", trombeteia a peça publicitária inserida no horário nobre da TV Liberal e na página 9 do caderno Magazine, de O Liberal deste domingo, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Mais não é. Muito ao contrário: trata-se de uma confissão pública de estupro do decoro parlamentar e da mais descarada ostentação de riqueza em tudo incompatível com as fantasiosas declarações apresentadas ao Imposto de Renda.
O "Aniversário do Wlad" hoje, a partir das 14h, no Cidade Folia, vai ser mesmo uma festa do arromba. Pena que dificilmente passará por lá algum membro do Ministério Público Federal para ver até onde vai a certeza de impunidade que embala a meteórica carreira deste dublê de dançarino, radialista especializado em extorsão e, nas horas vagas, ocupante de uma das 17 cadeiras que o Pará tem direito na Câmara Federal.
Para saber alguns detalhes da folha corrida de Wladimir Costa (PMDB-PA), basta clicar aqui e aqui.
sábado, 7 de fevereiro de 2009
Estado de Sítio
O "estado de exceção" pretendido por Unger é a uma espécie da licença absoluta para devastar, aplastando toda e qualquer resistência das comunidades tradicionais e imobilizando a ação dos órgãos fiscalizadores, particularmente dos ativos membros do Ministério Público Federal (MPF).
Qual a chance desse tipo de proposta prosperar? A resposta pode estar na exata medida da inércia ou da reação organizada daqueles que sabem da extensão e da profundidade da tragédia socioambiental que se desenha no horizonte.
Dialética da palavra incendiária
Primeiro: que totalmente se proíbam e extingam as chamadas entradas ao sertão, para que cesse a injustiça e tirania capeada com o nome de resgates com que se tem cativado, morto e extinguido tantos milhares de índios inocentes, que é a primeira origem e causa de todas as ruínas do Estado.
Opõem-se contra esta resolução o dito comum de que, faltando os resgates, se não pode conservar o Estado; como se não fora menos mal o perder-se que conservar-se por meios tão injustos e abomináveis!".
Padre Antônio Vieira (1608-1697), opinião ao príncipe regente de Portugal (1669). Obras Completas, vol. 5, pp. 316-317.
sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009
Matadores de Aluguel
Os pecados do ladrão
Sangria desatada
- Construir 55,9 milhões de casas populares (de alvenaria, com 40 a 50 m2, a um custo de R$ 10 mil). Isto é, 7 vezes mais que o déficit habitacional brasileiro calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV);
- Multiplicar por 12 o investimento federal para a área de saúde em 2008, que alcançou R$ 44,4 bilhões.
Os dados são da Campanha Auditoria Cidadã da Dívida, cujo site pode ser visitado aqui.
Na prateleira do tempo, qual Lula você prefere?
"Nós sabemos que antigamente se dizia que o Ademar de Barros era ladrão, que o Maluf era ladrão. Pois bem: Ademar de Barros e Maluf poderiam ser ladrões , mas eles são trombadinhas perto do grande ladrão que é o governante da Nova República, perto dos assaltos que se faz".
Agora, veja essa outra declaração:
"Todos nós na vida, seja o trabalhador ou o oligarca, cada um tem momento de pensar coisas diferentes, e eu acho que tivemos momentos de muito retrocesso no Brasil pelo comportamento de uma oligarquia que no século passado não via com uma visão de futuro o nosso país".
A primeira foi gritada em um comício em 1987. O personagem oculto, "o governante da Nova República" que é chamado de "grande ladrão" é o então presidente José Sarney, símbolo da oligarquia nordestina que chegava ao poder por caminhos tortuosos.
A outra frase é bem mais recente. Foi dita ontem, 5, durante uma entrevista coletiva. A pergunta dos repórteres não deixava muita margem a tergiversações: "Presidente, o que o senhor acha da oligarquia de Sarney no Maranhão?".
A distância entre uma frase e outra é de apenas 22 anos. O autor de ambas é a mesma pessoa. Ou melhor: parece ser a mesma pessoa, mas é simplesmente abissal a diferença entre o sindicalista e líder político dos anos 80 e o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que entra na fase derradeira de seu segundo mandato.
Em todo caso, sempre quando precisa enfrentar temas delicados, como sua relação com as oligarquias, ele encontra uma saída. Mesmo que seja a da porta dos fundos.
Ora, tomando como sérias as declarações de Lula, a virada do século operou um milagre: as oligarquias brasileiras teriam se convertido de inimigas do povo em parceiras nas ações de um governo que alega representar a maioria da sociedade. Nada mais ilusório e mistificador. Pelo menos para aqueles que permanecem na margem esquerda da luta política.
quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009
De mãos dadas com o crime
Longa fila de homens mortos
Quando o governo do Pará, pressionado pelo escancarado agravamento da insegurança pública, começa a transigir com práticas em tudo semelhantes àquelas que predominam nas PMs do Rio e de São Paulo, deve-se acender o alerta de perigo. Todos sabem aonde isso vai dar.
Ninho de marimbondo
Entrementes, no Brasil, as concessões de rádio e TV continuam como capitanias hereditárias a conferir prestígio, riqueza e poder para uma meia dúzia.
quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009
O preço de cada um
Atrás do balcão de um importante grupo que une simbioticamente mídia e política, as cartas estão sendo lançadas. As conversas, realizadas sob o manto do sigilo, giram em torno da fixação do preço do silêncio. Quanto mais escabrosas são as denúncias que chegam aos escaninhos da CPI, mais violento se mostra o ataque especulativo da turma que engendra essa imoral e inaceitável operação abafa.
Tesoura afiada
Diante das incertezas não está descartada mais uma onda de greves do funcionalismo.
Com a faca no pescoço
Agora, a Alcoa tem diante de si um levante de ribeirinhos de Juruti, a mais de 800 quilômetros de Belém, onde implanta um projeto de produção de bauxita avaliado em US$ 2 bilhões. De novo, a resposta vem em termos de chantagem: ou os moradores tradicionais suspendem o movimento, que há vários dias impede o acesso ao porto da empresa, ou poderá - pelo menos é o que ameaça a corporação estadunidense - suspender o projeto, arrumar as malas e voltar ao seu país de origem.
Diante de um conflito pintado com cores tão dramáticas é sintomático que o governo do Pará, responsável pelo polêmico licenciamento ambiental da obra, se mova com tanta lentidão e visível constrangimento. Deve ser difícil admitir que por trás da propolada "sustentabilidade social e ambiental" o que se vê é a marca do neocolonialismo de sempre.
Movimento dos Sem Decoro
Em tempo: o deputado que é coronel reformado da Polícia Militar, empresário e produtor rural, responde a inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal), denunciado pelo Ministério Público Federal por apropriação indébita previdenciária.
terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
A fala do trono
A Grande Marcha (de volta)
Atingidos por uma política que despreza os mais elementares direitos da força de trabalho, estima-se que 15,3% dos 130 milhões de trabalhadores migrantes já tenham retornado às suas cidades e vilarejos locais.
Bem-vindo à terra sem direitos
Capuz high tech
segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009
Pode ser a gota d'água
Mais informações aqui.
À tarde, após (ou durante) a chuva
domingo, 1 de fevereiro de 2009
Dialética do tempo e de seus mistérios
Esta coisa é a mais difícil de uma pessoa entender. Insista. Não desanime. Parecerá óbvio. Mas é extremamente difícil de se saber dela. Pois envolve o tempo.
Nós dividimos o tempo quando ele na realidade não é divisível. Ele é sempre e imutável. Mas nós precisamos dividi-lo. E para isso criou-se uma coisa monstruosa: o relógio.
Não vou falar sobre relógios. Mas sobre um determinado relógio. O meu jogo é aberto: digo logo o que tenho a dizer e sem literatura. Este relatório é a antiliteratura da coisa.
O relógio de que falo é eletrônico e tem despertador. A marca é Sveglia, o que quer dizer "acorda". Acorda para quê, meu Deus? Para o tempo. Para a hora. Para o instante. Esse relógio não é meu. Mas apossei-me de sua infernal alma tranquila."
Clarice Lispector (1920-1977). Onde estivestes de noite (1a edição: 1974; Nova Fronteira, 1980, p.75).