sábado, 28 de fevereiro de 2009

Artilharia contra a estupidez do silêncio

Fazer um potente fogo de barragem contra a perpetuação da impunidade dos crimes da ditadura . Esta é a proposta, feita em oportuno momento, pelo ministro Paulo Vannuchi (Direitos Humanos).

Dialética da guerra e de sua fonética da barbárie

"(...)

Caminhamos 1,5 km pelos atracadouros. Há tanques de armazenamento de petróleo queimados e peças de artilharia tomadas do inimigo: a terra e o concreto estão pulverizados, os cadáveres iraquianos jazem na sujeira. Um soldado perdeu a cabeça; outro, os braços. Ambos atingidos por granadas. (...) vejo outro corpo em uma vala de canhão, um jovem em posição fetal, encolhido como uma criança, já preto de morte, mas com uma aliança no dedo. Essa aliança me fascina. Nessa manhã abrasadora e dourada, reluz e cintila com o frescor da vida. O jovem tem uns 25 anos, seu cabelo é preto. Ou deveria dizer "tinha", "era"? Paramos o relógio quando a morte nos surpreende? (...) Torno a olhar para a aliança. Um casamento arranjado ou um enlace por amor? De onde era esse cadáver de soldado? Sunita, xiita, cristão ou curdo? E sua mulher? Não deve estar morto há mais de três dias. Em algum lugar, ao norte, sua acorda acorda as crianças, faz o café-da-manhã, contempla a fotografia de seu marido na parede sem saber que já é viúva e que a aliança de seu marido, tão reluzente de amor por ela nessa esplendorosa manhã, decora um dedo morto."


Robert Fisk. "A grande guerra pela civilização: a conquista do Oriente Médio" (Editora Planeta, 2007, p. 341-342)

Abram alas para o "outro lado"

Há dias que a grande imprensa martela o factóide do "financiamento público das invasões e da violência". São dezenas de matérias nos jornais de circulação nacional e incontáveis minutos nos noticiários de TV, JN à frente. Para dar alguma credibilidade à pauta, o inefável Gilmar Mendes, com seu olhar bovino e suas péssimas intenções. Do outro lado - MST, CPT e demais entidades ligadas à luta pela reforma agrária - nada, absolutamente nada.
Os dois episódios citados para ilustrar a ensaiada indignação do presidente do Supremo, sofreram, como era de se esperar, uma abordagem superficial e ideológica. O "carnaval vermelho", uma série de ocupações de latifúndios no conflagrado Pontal do Paranapanema, em São Paulo, foi apresentado como obra do MST, muito embora tenha sido promovido por José Rainha, um polêmico líder há anos em aberta dissidência com seus antigos companheiros de movimento e hoje abrigado sob o guarda-chuva da CUT e do PT. Não interessa fazer esse contraste quando o objetivo é desenhar os sem terra como uma versão tupiniquim da Al Qaida, movidos por um fanático desejo de turbar a tal "paz social" que tanto preocupa o extrovertido Gilmar Mendes, esse aspirante a líder informal da oposição demo-tucana.
Muito menos interessa à mídia correr atrás das causas dos sangrentos conflitos fundiários nos rincões desse Brasil. No Nordeste, com suas seculares cercas, a reforma agrária não passa de um slogan desbotado, enquanto pontificam os sindicatos do crime e seus pistoleiros a serviço dos eternos coronéis, que o tempo foi transmutando em modernos executivos do agrobusiness. Esse é o caldo que entorna na violência cega e em episódios nebulosos como da matança na fazenda Consulta.
Por tudo isso é importante ouvir o que as entidades e movimentos da Frente Nacional pela Reforma Agrária e Justiça no Campo pensam do senhor Mendes. Não são palavras agradáveis a um ouvido que parece sensível apenas aos reclamos que vem de cima.

sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

A fala do cárcere

Cesare Battisti, de próprio punho, relata seu labirinto e clama por justiça. Vale a pena ler.

Pouso forçado

E o regatão da Embraer acaba de sofrer seu primeiro revés. Por decisão provisória do presidente do Tribunal Regional do Trabalho (15a região, com sede em Campinas, SP),Luís Carlos Cândido Martins Sotero da Silva, as 4200 demissões ficam suspensas até o próximo 5 de março, quando ocorrerá uma audiência de conciliação entre a empresa e o Sindicato dos metalúrgicos de São José dos Campos, ligado à Conlutas. O argumento principal é que as demissões foram efetivadas sem qualquer processo de negociação com os trabalhadores.

Autos de Fé

Quem manda, pode. Mas nem sempre pode tudo. Essa lição basilar está sendo aprendida, em doses cada vez mais frequentes e mais amargas, em meio ao fogo cruzado que agita os corredores de uma importante secretaria estadual. Lá, o que se fazia até um passado não muito distante através de uma intrincada rede de intermediários, agora virou prática recorrente e direta, sem burocracia, e sob o olhar de muita gente.
Ao que parece, nem todos que testemunham as negociações alopradas estariam presos a algum tipo de voto de silêncio. A gota d'água, aquela que faz o pote transbordar, estaria a caminho, movida por um misto de interesses contrariados e, como prova de que nem tudo está perdido, por um inusitado senso de exercício ético de cargo público.

quinta-feira, 26 de fevereiro de 2009

A voz da experiência

A temperatura chegou no limite máximo lá pelas bandas do Real Grandeza, o bilionário fundo de pensão dos funcionários de Furnas, importante estatal do setor elétrico brasileiro. A luta pelo controle da chave do cofre continua colocando em lados opostos os cardeais do PMDB e os representantes de empregados e aposentados. No meio da briga, uma montanha estimada em R$ 6,3 bilhões.
Diante do impasse, o ministro Edison Lobão (Minas e Energias) resolveu soltar a língua. Para ele, a atual diretoria do fundo está manobrando para se perpetuar no poder. "Isso é uma bandidagem completa! Esse pessoal está revoltado porque não quer perder a boca. O que eles querem é lazer uma grande safadeza", afirmou, destemperado, à reportagem de O Globo.
Lobão, lugar-tenente de José Sarney, sabe do que está falando. Afinal, de bandidagem ele entende. E como entende.

Da arte de embromar

Lula se disse indignado com as demissões na Embraer. Prometeu providências. Isso não ia ficar assim...
Depois, a imprensa vazou que a indignação era um tanto estranha. A Embraer, privatizada no início dos anos 90, nunca cortou completamente seu cordão umbilical com os cofres públicos. Recebeu e continua a receber fortes subsídios e dando assento a representantes governamentais - e dos fundos de pensão das estatais - em seus conselhos diretivos. A maré de dispensas fora comunicada ao Planalto com antecedência.
Ao pé de ouvido, com a presença de vários ministros, o presidente ouviu as razões da empresa e parece ter saído convencido sobre a inevitabilidade das dispensas. Nada menos que 20% de toda a força de trabalho, 4200 empregados postos no olho da rua.
Tudo não passou de um jogo de cena. Uma brincadeira de péssimo gosto para manter a platéia em seu limbo de eterno embevecimento.
Resta saber até quando esse encanto vai perdurar.

Ele tem o glamour

Quando não está ocupado expedindo alvarás de soltura para o banqueiro Daniel Dantas, ou torpediando os direitos de índios e quilombolas, o ministro Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), arranja tempo para fazer o que mais gosta: assumir a cadeira de líder da oposição. De direita e visceralmente antagônica aos movimentos sociais, fique claro.
Em sua mais recente reação hidrófoba contra o MST, ele invocou uma medida provisória de 2001, assinada por seu chefe, Fernando Henrique Cardoso, criminalizando as ocupações de terras bo país. Note-se: as ocupações realizadas pelos trabalhadores rurais. Já a grilagem desenfreada promovida pelos engravatados do agronegócio, essa sempre será bem-vinda e estará sob a eterna proteção dos gendarmes da lei e da ordem.

quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

Rompecabezas

Compor um puzzle por dia e ainda ficar com a nítida sensação de que a realidade passa, quase sempre, bem longe dos grandes jornais da imprensa paroara. É preciso navegar nessas águas barrentas, cuja maresia tem sempre mais a ver com as caixas registradoras das empresas do que com as supostas linhas editoriais que desenvolvem.
As edições de hoje, quarta-feira de cinzas, estão pródigas nesse estilo particular de jornalismo.
Assim, para saber das mazelas da saúde em Ananindeua - e só lá, diga-se - basta aportar nas margens de O Liberal.
Quantas foram as vítimas fatais da falida saúde da capital? Não resta outra alternativa senão mergulhar na lâmina d' água do Diário do Pará.
Muito embora recendendo ainda a talco Johnson's, o Público vai tateando a busca de um caminho menos desequilibrado. Prova desse esforço é a matéria "Comunidades cobram as promessas", focalizando o calvário de moradores de Belém e Ananindeua, irmãos em abandono e vítimas de variantes da mesma empulhação.

Rasgando a fantasia

Uns e outros, aqui e alhures, ainda depositam confiança no discurso mudancista que embalou a vitória de Barack Obama. Talvez não demore muito, alguns meses, quem sabe, para que se perceba, em toda a sua aspereza, que o tombo pode ser tanto mais cruel quanto maior a altura alcançada por expectativas com pouco fundamento na realidade.
Depois de anunciar o fechamento da prisão de Guantánamo, centro de tortura em um enclave mantido em pleno territórrio cubano, a Casa Branca dá vários passos para trás em direção a um dos pilares da política externa de seu antecessor. O Departamento de Estado afirmou em resposta a uma demanda judicial que os prisioneiros de guerra da base da Força Aérea americana em Bagram, ao norte do Afeganistão, não têm o direito legal de contestar suas detenções naquele país ocupado desde 2001. Ou seja: sobre eles, tidos como "combatentes inimigos", não paira nenhum resquício da legislação internacional, como a Convenção de Genebra, por exemplo. Para os EUA, esses presos foram reduzidos à condição de "coisas", não são portadores de quaisquer direitos e não podem ser amparados por nenhum dos instrumentos de defesa jurídica que a humanidade consagrou nos últimos séculos.
Daí para a autorização da tortura e extermínio de prisioneiros é um só passo para desmoralizar de vez a estória de que um vento renovador e algo progressista iria varrer a enorme sujeira acumulada nos corredores do Pentágono.

Silêncio ensurdecedor

O que choca, revolta e indigna nessas mortes que se repetem, ad nauseam, a cada feriado prolongado nas portas dos Prontos-Socorros de Belém é o fato de que vão, pouco a pouco, perdendo o impacto, deixando de ser notícia para se incorporar a um cenário de brutalidade instititucionalizada.
As matérias da imprensa parecem requentadas, pautas frias, fotos em sépia. Mas foram feitas no calor e no desespero de poucas horas atrás, quando o grito de dor das famílias enlutadas ainda podia se ouvir em meio à completa falência do sistema de saúde na capital e no interior.
Os muitos responsáveis escondem-se por trás do silêncio ou de notas tão burocráticas quanto mentirosas. Essas respostas também envelheceram, são as mesmas, esfarrapadas e insustentáveis, que foram utilizadas no final do ano, quando a mesma tragédia foi noticiada, sem que nada, absolutamente nada, fosse feito para apurar as muitas responsabilidades.

Olhando o mundo de cima

Lula passou bem pelo teste do sambódromo. Superou a maldição de Itamar Franco, protagonista de cenas memoráveis há exatos 14 anos, quando uma aspirante a modelo e atriz roubou a cena, literalmente. O cuidado foi tanto que sequer anunciaram no sistema de som a presença presidencial, temendo algum incidente. Com multidão, a experiência ensina, ninguém deve brincar.
O camorote em que Lula e dona Marisa assistiram a passagem das escolas de samba foi VIP até demais. Uns poucos tiveram acesso - o prefeito carioca e o governador fluminense e uns dois ministros, somente. Mas havia mais alguém por ali. Era a senadora Roseana Sarney, que mais uma vez deu mostra do prestígio que ela e, sobretudo, seu pai, o longevo e astuto José Sarney, chefe do clã, goza junto ao poder.
"Quem governa é o Lula, mas quem manda é o Sarney". Quem sacou a frase de efeito foi o jornalista paraense, Palmério Dória, um expert nas travessuras do mandarinato maranhense. Ele sabe tudo, absolutamente tudo, que Sarney, seus familiares e apaninguados, fizeram no verão passado. Neste último e em todos das muitas décadas em que pontifica, solene e arrogantemente, acima de governantes fardados ou paisanos, pouco importa.
A densa e bem escrita matéria, para ser lida e guardada, está na Caros Amigos, edição de fevereiro, que já está nas bancas.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

Sob o reinado de Momo

A partir de hoje e até a próxima quarta-feira, 25, o Página Crítica entrará em recesso carnavalesco. Bom descanso e ótima diversão para todos.

Dialética da visão (des)esperançada

"Quando eu era um jovem razoavelmente precoce, fiquei impressionado com a futilidade das esperanças e da ambição que acossam, incansavelmente, a maioria dos homens durante toda a sua vida. Além disso, muito cedo percebi a crueldade desta busca, que naquele tempo era muito mais cuidadosamente disfarçada pela hipocrisia e pelas palavras brilhantes. Todos estavam condenados a participar dela, pela mera existência de seus estômagos."





Albert Einstein (1879-1955)

De braços cruzados

Não se deixe levar pela mise-en-scène presidencial. Lula simula indignação. Ameaça bater na mesa e chamar a Embraer às falas. Afinal, uma empresa daquele porte demitindo, de uma só tacada, cerca de 20% de sua força de trabalho é mesmo um péssimo exemplo. Não é uma empresa qualquer. de jatos comerciais do mundo e que, até os anos 90, foi o orgulho do setor público aeroespacial, até que foi criminosa e covardemente privatizada. O próprio Lula admite que o governo, através do BNDES, investiu muito para fortalecê-la nos últimos anos. Mais: as demissões em massa são um péssimo sinal, confirmando que a crise é muito mais séria, profunda e duradoura, e que seus efeitos estão se alastrando como um câncer em metástase.
Diante disso tudo, o que Lula faz? Finge indignação, promete chamar empresários para que se expliquem, convoca reuniões com ministros para manter o noticiário sempre aquecido. Mas, na prática, não faz nada. Cruza os braços e deixa que o mercado dite o ritmo e o impacto de mais um pacote de maldades. Este sim, efetivo e cruel. Só em janeiro mais de 350 mil brasileiros foram postos no olho da rua, apenas nas seis principais regiões metropolitanas. As taxas de desemprego não param de crescer e por trás das estatísticas são centenas de milhares de famílias jogadas no sorvedouro da miséria e da impotência.
Lula pode descruzar os prazos. Caminhando alguns passos ele chegará até a grande mesa presidencial no mais importante salão do Palácio do Planalto. Sobre a mesa, algumas folhas de papel. E, ao lado, uma caneta. Qualquer caneta. Pode seu uma luxuosa Mont Blanc ou uma simples e econômica Bic. Pouco importa. Armado desses singelos instrumentos - uma folha de papel e uma caneta, qualquer caneta - Lula pode assinar uma Medida Provisória, que todos sabem tem força de lei até que o Congresso a chancele ou a detone.
Armado, isto sim, de uma indignação verdadeira, Lula deveria assinar uma MP gravando fortemente as demissões - nem precisaria proibi-las por decreto. Bastaria tornar o ato de demitir tão oneroso que os patrões pensariam três vezes antes de jogar sobre as costas dos trabalhadores o peso medonho da crise. Simples, assim.
Mas se fizesse isso, Lula não seria mais o Lula realmente existente. Estaria retornando a um passado que, convenhamos, talvez nunca tenha existido de verdade. Em um tempo em que muitos outros braços estavam cruzados e os corações, ah, os corações, estavam repletos da mais legítima e bela de todas as esperanças.

sexta-feira, 20 de fevereiro de 2009

Pitbull sem coleira

Soa como piada, mas é coisa séria. O dublê de dançarino de brega music e - às vezes - deputado Wladimir Costa (PMDB-PA) vestiu direitinho a carapuça. Insultado com o excesso de sinceridade do senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), que nas páginas da Veja vomitou que a maioria de seus colegas de partido "só pensa em corrupção", o parlamentar paraense lançou um manifesto exigindo "respeito ao PMDB". Para ele, Vasconcelos adotou uma "atitude insana. De uma inveja desvairada" e que "sua metralhadora giratória (é) cheia de ódio".
Triste PMDB. Quando um partido precisa recorrer a alguém com o perfil nebuloso de um Wladimir Costa é porque chegou no fundo do poço. Se é que tem mesmo fundo o abismo lamacento em que muitos dos seus próceres encontram-se submersos.

E Battisti desceu ao inferno

Cesare Battisti vive, há 30 anos, num labirinto de fogo. Os anos 70, de chumbo e de sangue, parecem que não vão terminar nunca. Uma dor que não cessa e uma vida consumida por uma eterna fuga, sempre assombrada pelos fantasmas - reais e a cada dia menos dissimulados, de uma direita que não nega sua essência hípócrita e intrisicamente violenta. Sua última estação de sofrimento, recolhido a uma cela do presídio da Papuda, em Brasília, é um exemplo acabado de como pode continuar sendo demonizado e estigmatizado.
O Correio da Cidadania reuniu dois intelectuais para refletir sobre esse drama ainda inconcluso. Mário Maestri, doutor em História, e Florence Carboni, italiana com doutorado em Linguística, têm em comum muito mais que o sangue italiano. A visão que ambos expressam vai ao fundo do problema: o enorme retrocesso político vivenciado pela velha Itália, sob o comando de políticos fascistóides como o histriônico (e não menos corrupto e pernicioso) primeiro-ministro Sílvio Berlusconi.

Tiro ao alvo

A MP 458 está na berlinda. Lançada pelo presidente Lula como a chave para desatar o "nó fundiário" na Amazônia Legal, imediatamente atraiu a simpatia dos ruralistas. Isso mesmo: os primeiros a apoiar foram os representantes- no parlamento e no Executivo- do latifúndio e do agronegócio. Alguma coisa muita errada - e muito suspeita - realmente deve estar por trás da iniciativa do governo.
Agora, sentada um pouco a poeira, começam as críticas dos setores vinculados aos trabalhadores rurais e à área ambientalista.
A senadora petista Marina Silva, ex-ministra do Meio Ambiente, não passou recido. Em discurso contundente da tribuna do Senado desancou a MP, que pode, segundo ela, servir de instrumento para o avanço e consolidação da grilagem de terras públicas.
O Imazon, conceituado instituto de pesquisas com sede no Pará, também botou a boca no trombone.
É só o começo de uma reação organizada que tende a crescer nas próximas semanas e ameaça jogar areia na nova e polêmica Diretoria Extraordinária de Regularização Fundiária na Amazônia, vinculada ao Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA).

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2009

Contagem regressiva

Uma data para o deputado Luiz Sefer (DEM) não esquecer: 5 de março, uma quinta-feira, quando desembarcarão em solo paraense os membros da CPI da Pedofilia, do Senado Federal.

Abrindo o caixa

Se o governo federal tinha recursos para construir a usina de Jirau, no rio Madeira, em Rondônia, por que optou pela privatização da obra? Ora, dois de cada três reais investidos neste projeto de R$ 10 bi sairão dos crofres do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), que acaba de anunciar o maior empréstimo de toda sua história para uma única obra: R$ 7,2 bilhões, ou 68,5% do investimento total.
Há, porém, um agravante: a líder do consórcio Energia Sustentável do Brasil (ESBR) é simplesmente uma das três maiores empresas mundiais do ramo da energia, a GDF Suez, gigante franco-belga que, em tese, e só em tese, deveria aportar capital e tecnologia num setor tão estratégico para a economia do país. Mas não é isso que acontece. A Suez, detentora de 50,1% da sociedade de propósito específico criada para tocar a obra, dá aceno com chapéu alheio. Ou melhor: com o suado dinheiro do contribuinte brasileiro, a juros subsidiados e largo prazo para pagamento, 30 anos.
Um verdadeiro negócio da China, como se dizia antigamente, ali mesmo a poucos quilômetros de onde naufragou, no início do século passado, outro sonho megalomaníaco, a finada estrada de ferro Madeira-Mamoré.

A hora é de investigar

O ex-diretor do Centro de Perícias Científicas Renato Chaves, Miguel Wanzeller, submerso em águas tão turbulentas quanto suspeitas, pode estar certo nas acusações que tem feito, mas provavelmente está muito longe de ser o protótipo de excelência na gestão pública como faz questão de se apresentar. O próprio momento escolhido para fazer as denúncias, apenas quando seu ato de exoneração estava estampado no Diário Oficial, já serve para lançar fundadas suspeitas sobre suas propaladas boas intenções. Isso tudo, entretanto, não deve servir para desqualificar, a priori, as gravíssimas acusações por ele trazidas a público.
O Ministério Público, que ontem (18) recebeu a papelada com indícios de, pelo menos, 40 execuções sumárias realizadas pela PM, cujos laudos periciais teriam sido manipulados ou simplesmente desconsiderados nas conclusões dos inquéritos, tem a obrigação de aprofundar, com celeridade e eficiência, a investigação de cada um dos fatos. Não é pedir muito, convenhamos, mas seria um excelente começo. Tudo feito às claras, sob o olhar atento e algo incrédulo da opinião pública.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Remando contra a maré

O Greenpeace não foge da raia. Além de demolir, com base em sólidos argumentos técnicos , os principais pilares do Plano Decenal de Expansão de Energia 2008-2017 elaborado pelo Ministério de Minas e Energia, e que se encontra aberto à consulta pública, a ONG ambientalista mostra que existe um outro caminho, em tudo alternativo e contraposto ao atual modelo movido pelo combustível dos grandes oligopólios nacionais e internacionais.
As propostas do Greenpeace, que considera inadmissível a proposta do governo federal que levará à triplicação das emissões de gases de efeito estufa na matriz energética, são as seguintes:

. Aprovação de uma nova lei de incentivo a energias renováveis, tendo como exemplos os projetos de lei 4550/2008, de autoria do deputado Edson Duarte (PV) e 1563/2007 de
autoria do Deputado Paulo Teixeira. Estas propostas são essenciais para o desenvolvimento da indústria de energias renováveis no Brasil.
· Aumentar a participação de energias renováveis (excetuando grandes hidrelétricas) para 30% da matriz elétrica em 2030.
· Reduzir o consumo de eletricidade em 20% até 2030, por meio de medidas de eficiência.
· Eliminar completamente a energia nuclear da matriz elétrica brasileira, descomissionando as usinas de Angra 1 e 2 e não construindo a usina de Angra 3.
· Não construção de novas hidrelétricas na Amazônia.
· Não construção de novas termelétricas movidas a combustíveis fósseis.
· Por fim, pede-se, além da ampliação do prazo da consulta pública ao plano, que a discussão do mesmo com a sociedade possa acontecer por meio de audiências públicas.


Para conhecer a íntegra da Crítica ao Plano Decenal de Expansão da Energia 2008-2017, clique aqui.

Não deu mais para segurar

O bloqueio finalmente caiu. E caiu em grande estilo. Depois de longas semanas em que o jornal O Liberal simplesmente vetava qualquer notícia sobre o envolvimento do deputado Luiz Sefer em denúncias de violência sexual contra uma criança, hoje o jornal da família Maiorana estampa na primeira página "CPI convoca Sefer e Carepa para depor sobre pedofilia". A convocação partiu da CPI do Senado, aquela presidida pelo senador capixaba Magno Malta (PR) e, agora também integrada por um único senador do Pará, José Nery (PSOL).
Enquanto isso, a CPI da pedofilia do parlamento paraense, através de seu presidente, deputado Adamor Aires (PR), diz que o inquérito policial contra Sefer ainda não chegou à Alepa. Logo, continuarão esperando, enquanto o escabroso caso passa, célere e estrepitosamente, à esfera federal.

Escravos no canavial

Mais um caso de trabalho escravo em uma usina de cana-de-açúcar é flagrado pelos fiscais do Grupo Móvel do Ministério do Trabalho. Como sevê, os usineiros, apresentados como "herois nacionais" pelo presidente Lula, estão com o filme cada vez mais queimado.

Colombina degolada

Logo depois das festas de Momo, quando as cinzas da quarta-feira ainda estiverem fumegantes, uma vistosa integrante do governo Ana Julia receberá o bilhete azul. Sua queda, tida como inapelável, será a primeira de uma série que decorrerá do indigesto ajuste de contas no grupo interno da governadora, abalado por ventos que sopram do Planalto.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Vinhas da Ira

O governo de Israel, poucos dias depois de fechar as urnas que revelaram a supremacia dos setores mais retrógrados e belicistas, deu mais um passo para tornar impossível um acordo de paz com os palestinos: anexou mais um pedaço da Cisjordânia, território ilegalmente ocupado desde 1967.

Excelência, explique-se

A deputada Bel Mesquita (PMDB-PA) está uma saia justa (desculpem o trocadilho). É que ela foi flagrada pelo projeto Excelências, da ONG Transparência Brasil, que detectou graves contradições no cruzamento dos dados de auto-doação para a última campanha eleitoral em relação ao patrimônio declarado ao Imposto de Renda de 85 parlamentares. Eles doaram às suas campanhas valores superiores ao que diziam possuir. O rastro da mentira ficou evidente: ou possuíam mais do que declararam - hipótese sempre provável - ou usaram dinheiro de fontes obscuras, o que também não seria nada inédito.
No caso da paraense, ela que foi candidata em Parauapebas, sudeste do Pará, declarou ter reforçado seu caixa de campanha em R$ 1,18 milhão quando seu patrimônio não ultrapassava R$ 1,07 milhão. A desculpa apresentada - venda de uma sociedade em empresa da qual era sócia - tem todas as características de um remendo de última hora para fugir do flagrante de abuso de poder econômico. Aliás, abuso que foi o traço mais eloquente na cruenta disputa pelo poder naquele município minerador, cujos polpudos royalties da Vale costumam atiçar a cobiça de uma legião multicolorida de aventureiros.

Na força bruta

Com o saldo de uma pessoa baleada e várias outras feridas, o violento despejo das dezenas de famílias que ocupavam uma área na rodovia Augusto Montenegro, na periferia de Belém, durante a manhã de ontem, revelou que os contornos da crise social vão se tornando a cada dia mais dramáticos.
Os militantes do Movimento Sem Teto Urbano (MSTU) há dias protestavam contra a iminente intervenção de forças policiais mobilizadas a favor dos pretensos proprietários do latifúndio localizado na fronteira do miserável bairro do Benguí. Mas se enganaram. O ação, marcada por muita violência, foi praticada por seguranças à paisana, "pistoleiros urbanos", e por dezenas de guardas de uma empresa de segurança, a Falcon.
A Prefeitura e o governo do Estado optaram pelo silêncio, enquanto o fogo se alastrava. Tática perigosa e irresponsável, cujo preço pode ser cobrado, em próximos episódios, em vítimas fatais, pois é isso que os ventos da barbárie costumam semear.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Não é o que parece

O governo Lula anunciou com estardalhaço que no mínimo 30% dos recursos repassados pela União a estados e municípios para a merenda escolar, em todo o país, deverão ser destinados a produtos de agricultores familiares. Esta norma está prevista na Medida Provisória 455, enviada ao Congresso Nacional no último 28 de janeiro.
Está se falando de uma verdadeira montanha de dinheiro. Por dia são servidas 44 milhões de refeições e o país dispende 2,1 bilhões de reais ao ano com a compra e distribuição de merenda escolar.
Ocorre que, sabe-se agora, a MP traz uma armadilha: foram introduzidos vários critérios para flexibilizar essa destinação obrigatória, num movimento inspirado pelo poderoso lobby da das empresas de refeição coletiva e da indústria alimentícia, fortemente interessado em manter seu controle sobre um mercado tão lucrativo.
A manobra foi tão escandalosa que provocou a reação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), órgão oficial que assessora o presidente da República. "É um retrocesso", afirmou Renato Maluf, presidente do colegiado.

Sesmarias no século XXI?

Na Folha de São Paulo, caderno Brasil, ganha destaque o gigantesco nó fundiário de 1,3 milhão de hectares, no oeste paraense, envolvendo interesses da Vale, Alcoa, grileiros de todos os tipos e tamanhos, além de mais de 100 comunidades tradicionais e povos indígenas. A decisão do governo do Estado, segundo a reportagem, está prevista para amanhã. A conferir.

Palavras de fogo

Daniel Aarão Reis fala com autoridade de quem esteve à altura de seu tempo. Enfrentou a ditadura com as armas que estavam disponíveis e eram necessárias naqueles anos de chumbo. E, anos depois, já na carreira acadêmica soube utilizar sua inteligência a serviço dos que se mantiveram na margem esquerda da história.
Sua opinião sobre o affair Cesare Battisti, exposta em clareza meridiana no jornal O Globo, merece ser lida.

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Dialética da palavra em defesa do bem-viver

"A mensagem e para parar com a destruição, parar de tirar minerais do fundo da terra e parar de construir estradas nas florestas. Nossa palavra e que se projeta a natureza, o vento, as montanhas, a floresta, os animais. Isto e o que queremos ensinar-lhes. Os lideres do mundo rico e industrializado pensam que são os donos do mundo. Mas os Xabori (Xamãs) são os que têm o verdadeiro conhecimento. Eles são o primeiro mundo de verdade. Se seu conhecimento for destruído, então o povo branco também morrera. Será o fim do mundo. E é isso que queremos evitar."

Davi Kopenawa, líder dos Yanomami, em histórico discurso proferido na Assembleia Geral da ONU, em 1992, durante a abertura do Ano Internacional das Populações Indígenas.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Belém, 40 graus

Nos próximos dias (ou, quem sabe, horas) entrará no ar mais um capítulo da interminável vendetta que consome os conflagrados arraiais da Democracia Socialista (DS), corrente petista da governadora Ana Julia. Da razia que se anuncia, segundo experts no assunto, não escaparão imunes alguns dos pretensos potentados do grupo, suspeitos - basta isso - de participação em uma conspirata que trará de volta ao Pará, montado no poderio da nova e reluzente Diretoria Extraordinária de Regularização Fundiária na Amazônia Legal do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), o renegado Carlos Guedes, caído em desgraça desde a primeira e fatal trombada com o núcleo duro - vale dizer, duríssimo - do governo, uma espécie de guarda pretoriana que monta vigília permanente lá pelas bandas do Palácio dos Despachos.

sexta-feira, 13 de fevereiro de 2009

À direita, sempre

O estado de Israel, mais uma vez, guinando à direita. O resultado das últimas eleições, onde pontificaram os partidos dos mais variados matizes da direita, de "moderados" a extremistas, não deixa qualquer margem a que se duvide desse fenômeno que se fortaleceu como nunca nos últimos 15 anos.
Uma voz dissonante do senso comum vigente na sociedade israelense, o historiador e escritor Tom Segev, apresentou ao Estadão sua visão - ácida e desesperançada - do presente e do futuro imediato de seu país, em entrevista concedida ao jornalista Gustavo Chacra. Vale a pena ler.

Na hora do recreio

Depois de tantas décadas, a multinacional Nestlê, maior empresa de alimentação e nutrição do mundo, anunciou que deixará de fazer anúncios para crianças de seis e adotará critérios estritos na propaganda voltada para o público de até 12 anos. A decisão é inédita no Brasil e responde às pressões pelo respeito dos direitos das crianças e adolescentes na área das relações de consumo. Mais aqui.

Camisa 10

Veio da Promotoria de Defesa dos Direitos Humanos, do Ministério Público Estadual, a iniciativa que não poderia mais tardar: vai ser aberto procedimento administrativo para apurar as denúncias formuladas pelo ex-diretor do Centro de Perícias Renato Chaves, Miguel Wanzeller, de que laudos periciais estariam sendo fraudados, com a participação e conivência de autoridades do sistema de segurança pública do Pará.
Agora, Wanzeller será intimado a apresentar provas de suas denúncias e esclarecer a extensão e profundidade do suposto esquema criminoso.

Circo de horrores

O balanço é da Ouvidoria do Sistema de Segurança Pública (SSP) do Pará: em 2008 foram registradas cerca de 800 denúncias de violações dos direitos humanos praticados por policiais militares, com destaque para casos de tortura, revaricação, abuso de autoridade e execuções sumárias. São 38 casos de homícios e 75 de tortura. Entre as vítimas, como era de se esperar, jovens e adolescentes pobres das periferias da capital e das principais cidades do interior. É esta juventude cada vez mais criminalizada que virou o alvo predileto da brutalidade policial, de um lado, e de outro, caiu nas malhas da crescente atuação das quadrilhas de narcotraficantes.
Em janeiro, sob o impacto de uma política de maior endurecimento das ações da PM, houve um notável crescimento das ocorrências, com mais mortes sendo agregadas à essa estatística sangrenta.
Nada como uma lufada de realidade para turbar as oníricas imagens da propaganda oficial.

E la nave va

A decisão do juiz Eric Aguiar Peixoto, em exercício na 1ª Vara Penal de Inquéritos Policiais da Capital, de mandar seguir o inquérito instaurado para investigar o envolvimento do deputado Luiz Sefer em crime de violência sexual contra uma menina de 13 anos é sinal de que o barco do democrata parece naufragar inapelavelmente. Mas, todo cuidado é pouco: são insondáveis os caminhos que as feras acuadas utilizam quando estão num beco sem saída.

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2009

Por baixo do tapete, vistosas caudas

Saiba por que o deputado Edmar Moreira (DEM-MG) dificilmente será condenado no Conselho de Ética por quebra do decoro. Segundo o Correio Brasiliense pelo menos 30 outros deputados respondem por crimes fiscais ou tributários no Supremo Tribunal Federal (STF) ou instâncias inferiores. É uma atuante e belicosa "turma do abafa".

Suástica de sangue

Neonazistas espacam brasileira em Dübendorf, Suiça. A advogada Paula Oliveira, 26, não corre risco de morte, mas grávida de gêmeos acabou por perder os bebês devido à truculência do ataque. Com o agravamento da crise econômica, a onda de xenofobia toma conta da velha Europa, onde multiplicam-se os atos de violência contra migrantes.

Fogo sob cinzas?

O ex-diretor do Centro de Perícias Renato Chaves, Miguel Wanzeller, pode ser muito mais que um boquirroto, magoado pela perda do cargo. Se estiver falando a verdade, ele é uma testemunha-chave de uma série de crimes, e como tal deve ser tratado. A suposta fraude nos laudos periciais precisa ser demonstrada com a apresentação de provas dos delitos praticados. Os autores, sejam policiais ou outros servidores públicos, precisam ser identificados. A participação de autoridades nessa alegada conspiração, que visaria proteger a prática de crimes por parte de membros da corporação policial, deve também ser elucidada. Todos, absolutamente todos, de qualquer escalão ou nível hierárquico, devem ser nominados e investigados com rigor.
Se, por outro lado, as denúncias feitas com tanto estardalhaço se mostrarem simples balas de festim, cortina de fumaça para gerar escândalo e tumulto, o autor delas não deve escapar das penas da lei.
A bola está quicando na pequena área do Ministério Público. Quem se arvora o papel de artilheiro?

Linha Direta

Logo mais, às 10h, o presidente da CPI da Pedofilia do Senado, Magno Malta (PR-ES) receberá uma representação da CPI paraense que investiga o mesmo tema. O encontro será no gabinete do senador em Brasília e servirá para definir estratégias conjuntas para o trabalho investigativo que ambas as comissões estão realizando. Do lado paroara, estarão presentes a deputada petista Regina Barata e o presidente da comissão, deputado Adamor Aires (PR), além do senador José Nery (PSOL-PA).
Do senador capixaba, certamente, vão ouvir que não há o menor espaço para que a CPI do Senado faça vistas grossas ou contorne o envolvimento de quem quer que seja. E mais: que após o Carnaval, o desembarque em Belém dos parlamentares federais não deve deixar pedra sobre pedra. Vai ouvir uma alentada lista de testemunhas e de supostos envolvidos, entre os quais, o deputado Luiz Afonso Sefer (DEM), que andou tentando costurar um acordo para ser ouvido em Brasília, longe dos holofotes e da pressão da opinião público. Este plano, agora se sabe, naufragou melancolicamente. Foi um tiro no pé, como se diz.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Os insaciáveis

Com sua bocarra pronta para triturar o mais recente pacote de transferência líquida de US$ 2 trilhões, a banca dos Estados Unidos não se dá por satisfeita e quer mais, muito mais. Pouco importa se o déficit público estadunidense vai pular de 3,5% do PIB para quase 7%, projetando distorções que, ao fim e ao cabo, sempre serão rateadas entre os famélicos da Terra, sobre os quais o peso da crise já se abate como uma gigantesca bigorna.
Mas sempre há economistas de plantão a cantar loas à política de salvamento dos bancos, mesmo torcendo o nariz aos indesejáveis aspectos "intervencionistas" . Afinal, esses neoliberais destestam o Estado, mas não abrem mão de embolsar a riqueza socialmente construída. A crise - ora, a crise - deve ser um bom momento para alavancar lucros e concentrar poder. O resto é purpurina e conversa para enganar os tolos.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Uma ferida no meio da selva

Os últimos 300 membros da etnia Awá estão sob um violento cerco de madeireiros ilegais no Maranhão. Uma campanha mundial pela sobrevivência destes indígenas ameaçados acaba de ser lançada pela ONG Survival Internacional.

Palavra de mestre

István Mészàros, um dos maiores pensadores da atualidade, não deixa pedra sobre pedra. Para ele, em entrevista à revista inglesa Socialist Review, a atual crise é a pior de toda a história e não deverá ser debelada através dos fantasiosos remédios do neokeynesianismo.

Dialética da palavra (a ser) domada

As serpentes, as palavras

Domador quase domado
já as palavras
é que me lavram
e escrutam nos refúgios
da recusa
as serpentes
as palavras
De acordá-las e dormi-las
instigando-as
já me inferem inserem
seus venenos
e se calam
entre os dentes da jaula
e ejaculam
o entre tido não havido
o não sucedido
- meros guizos
de serpentes
as palavras
Da ruína e seus ruídos
restam pouco as palavras
(ocas?)
para o engate
da serpente com a semente
e o seu resgate


Max Martins (1926-2009), poeta paraense. Poemas Reunidos 1952-2001 (EDUFPA,2001, p.243)

Baixa-mar

A cultura brasileira amanheceu mais pobre. Foi-se o artesão da palavra, Max Martins, aos 82 anos, depois de meses de inglória luta contra a doença que o consumiu.
As águas tépidas do Marahu, neste amanhecer de 10 de fevereiro, banham as areias tantas vezes pisadas e acariciadas por este gigante de nossa língua. Suas pegadas, na forma de uma obra magistral, com efeito, são eternas e estão para sempre lembrando como é possível - e cada vez mais necessário - semear a mais livre e amorosa visão de mundo.

Trava de segurança

Dinheiro público para as montadoras somente sob o compromisso de que não haverá demissão de empregados e nem desmonte das fábricas existentes no país. Simples assim, sem mais delongas, o governo direitista da França anunciou um pacote de US$ 8,5 bi a suas montadoras - PSA Peugeot-Citroën, Renault e Renault Trucks -, que fazem água tal qual suas congêneres dos Estados Unidos.
Por aqui, entretanto, o governo Lula ainda parece pouco convencido da necessidade de estabelecer mecanismos que salvaguardem o emprego dos brasileiros, mesmo diante dos sinais cada vez mais insistentes de que a crise - com todo o seu potencial destrutivo - veio mesmo para ficar.

segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

A volta dos mortos vivos

"Zumbis" ameaçam a economia a economia norte-americana. Entre os devedores "irrecuperáveis" os outrora gigantes Citigroup, General Motors (GM) e a seguradora American International Group (AIG), entre outros, que ameaçam sugar a força vital da vitrene do capitalismo. A análise está na edição de hoje do Valor Econômico.

Algo de podre no andar de cima

Sem licitação e por 1,2% do valor de face. Um negócio da China, mas com dinheiro público, que pode ter gerado um prejuízo de R$ 642 milhões ao BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social). E lucro teria migrado para os cofres do HSBC, segundo reportagem da Folha de São Paulo.

Vence na vida quem diz sim?

Edmar Moreira (DEM-MG), o homem do castelo, renunciou. Não aguentou a pressão que vinha de todos os lados e pediu o boné. Entregou, ontem à noite, seus reluzentes cargos de 2o vice-presidente e corregedor da Câmara dos Deputados. Alívio geral em Brasília. Ele virara um estorvo, uma batata quente assando em variados e ilustres colos.
Mas quem pariu Mateus e que agora não quer embalar sua cria? O eterno PFL, camuflado de DEM, que promete expulsá-lo com métodos sumaríssimos, esquecendo que até surgirem na mídia a face digamos controvertida de seu correligionário não havia uma única crítica em voz alta no interior do partido? Ou as dezenas de votantes secretos que elegeram Moreira para um dos mais importantes postos da Casa, certamente por ser ele um dos mais ardorosos defensores da impunidade parlamentar? Nesse bloco, agora se sabe, além de deputados da velha direita integraram a alegre torcida do fidalgo mineiro membros da base de apoio do governo, inclusive petistas que o viam como um fiel aliado nas horas do aperto.
Edmar Moreira vai cair no esquecimento em breve. Que pena. Justo no momento em que histórias exemplares de seu
passado nefasto começam a emergir.

domingo, 8 de fevereiro de 2009

O cerco e as cercas

A saga das comunidades quilombolas do Marajó, contada sem retoques e em profundidade, nas páginas do alternativo Brasil de Fato, que acaba de completar seis anos de existência.

Sopa no mel

Uma grande empresa estrangeira vence a licitação para construir uma polêmica hidrelétrica na Amazônia. Os defensores do modelo de desenvolvimento a qualquer custo logo fazem festa para uma das supostas vantagens do negócio: a entrada de dólares em investimentos produtivos no país. Ledo engano. Na vida real não é assim que as coisas acontecem.
Vejamos o exemplo da hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, em Rondônia. Quase 70% dos R$ 7,3 bilhões a serem gastos na construção devem sair a título de financiamento diretamente dos cofres do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) para a gigante francesa GDF Suez, cabeça do consórcio Energia Sustentável, vencedor da concorrência.
A outra usina no Madeira, a de Santo Antônio, já recebeu R$ 6,1 bilhões do BNDES, que assim transfere oxigênio, às custas da poupança do povo brasileiro, para que empreiteiras como a Odebrecht e Andrade Gutierrez continuem acumulando riqueza e defendendo, da boca para fora, as vitudes da livre iniciativa.

Direção (muito) perigosa

Na contramão e sem freios. É assim que o Greenpeace avalia a política definida pela diplomacia brasileira nas negociações sobre o Protocolo de Biossegurança de Cartagena, que prosseguem este mês na Cidade do México. Alinhado com o quem mandam as grandes corporações do setor de transgênicos, a Monsanto e a Bayer à frente, o Brasil e o Japão tendem a continuar barrando o estabelecimento de penalidades às indústrias que produzem estes produtos, cujos danos à saúde pública e ao frágil equilíbrio ambiental estão patentemente demonstrados.

Festa do arromba

O abuso se repete há vários anos. Aumenta de tamanho, pompa, circunstância e desfaçatez, como ficou patente até em anúncios de TV e em jornal, alardeando farta distribuição de comida e bebida, evidentemente "de grátis". Serão "50 mil churrasquinhos de gato mais derrame de gelada", trombeteia a peça publicitária inserida no horário nobre da TV Liberal e na página 9 do caderno Magazine, de O Liberal deste domingo, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Mais não é. Muito ao contrário: trata-se de uma confissão pública de estupro do decoro parlamentar e da mais descarada ostentação de riqueza em tudo incompatível com as fantasiosas declarações apresentadas ao Imposto de Renda.
O "Aniversário do Wlad" hoje, a partir das 14h, no Cidade Folia, vai ser mesmo uma festa do arromba. Pena que dificilmente passará por lá algum membro do Ministério Público Federal para ver até onde vai a certeza de impunidade que embala a meteórica carreira deste dublê de dançarino, radialista especializado em extorsão e, nas horas vagas, ocupante de uma das 17 cadeiras que o Pará tem direito na Câmara Federal.
Para saber alguns detalhes da folha corrida de Wladimir Costa (PMDB-PA), basta clicar
aqui e aqui.

sábado, 7 de fevereiro de 2009

Estado de Sítio

O ministro Mangabeira Unger (Assuntos Estratégicos) não desiste. Armado de propostas polêmicas e nitidamente inconstitucionais ele voltou à carga defedendo um "regime jurídico especial" para as obras do PAC na Amazônia. Trocando em miúdos: ele defende a "flexibilização das regras de licenciamento ambiental", que deverá ser aprovado em, no máximo, 120 dias, mesmo em “unidades de conservação, terras indígenas, sítios de valor histórico e arqueológico”.
O "estado de exceção" pretendido por Unger é a uma espécie da licença absoluta para devastar, aplastando toda e qualquer resistência das comunidades tradicionais e imobilizando a ação dos órgãos fiscalizadores, particularmente dos ativos membros do Ministério Público Federal (MPF).
Qual a chance desse tipo de proposta prosperar? A resposta pode estar na exata medida da inércia ou da reação organizada daqueles que sabem da extensão e da profundidade da tragédia socioambiental que se desenha no horizonte.

Um oceano de trapalhadas

A Justiça do Pará continua na berlinda. E não são boas as notícias que escorrem na mídia nacional.

Dialética da palavra incendiária

"(...)

Primeiro: que totalmente se proíbam e extingam as chamadas entradas ao sertão, para que cesse a injustiça e tirania capeada com o nome de resgates com que se tem cativado, morto e extinguido tantos milhares de índios inocentes, que é a primeira origem e causa de todas as ruínas do Estado.
Opõem-se contra esta resolução o dito comum de que, faltando os resgates, se não pode conservar o Estado; como se não fora menos mal o perder-se que conservar-se por meios tão injustos e abomináveis!".

Padre Antônio Vieira (1608-1697), opinião ao príncipe regente de Portugal (1669). Obras Completas, vol. 5, pp. 316-317.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2009

Matadores de Aluguel

Mais um trabalhador rural tomba na luta pela reforma agrária em terras paraenses. O cenário do atentado foi o assentamento Alcobaça, localizado em Breu Branco, município do sudeste do Pará, distante 302 quilômetros da capital. No amanhecer do último domingo, 1, pistoleiros chegaram atirando e espalhando o terror entre as famílias assentadas. O lavrador Manoel Francisco Silva Souza, o “Chico Dente de Ouro”, foi alvejado na cabeça e morreu pouco tempo depois, enquanto seus companheiros tentavam buscar socorro médico. Mais informações diretamente do site do MST.

Os pecados do ladrão

Bernard Shaw, escritor, jornalista e teatrólogo irlandês, dizia que os pecados do ladrão são as virtudes do banqueiro. Veja por quê.

Sangria desatada

Nada menos que 46,5% dos recursos previstos no orçamento da União de 2008 foram destinados ao refinanciamento, amortização ou pagamento dos juros da dívida pública. Quanto isso representa? R$ 559 bilhões de reais. Ou, para se ter uma idéia do crime de lesa Pátria que se comete impunemente no Brasil, o suficiente para:

- Construir 55,9 milhões de casas populares (de alvenaria, com 40 a 50 m2, a um custo de R$ 10 mil). Isto é, 7 vezes mais que o déficit habitacional brasileiro calculado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV);
- Multiplicar por 12 o investimento federal para a área de saúde em 2008, que alcançou R$ 44,4 bilhões.
Os dados são da Campanha Auditoria Cidadã da Dívida, cujo site pode ser visitado aqui.

Na prateleira do tempo, qual Lula você prefere?

Atente para a seguinte frase:

"Nós sabemos que antigamente se dizia que o Ademar de Barros era ladrão, que o Maluf era ladrão. Pois bem: Ademar de Barros e Maluf poderiam ser ladrões , mas eles são trombadinhas perto do grande ladrão que é o governante da Nova República, perto dos assaltos que se faz".

Agora, veja essa outra declaração:

"Todos nós na vida, seja o trabalhador ou o oligarca, cada um tem momento de pensar coisas diferentes, e eu acho que tivemos momentos de muito retrocesso no Brasil pelo comportamento de uma oligarquia que no século passado não via com uma visão de futuro o nosso país".

A primeira foi gritada em um comício em 1987. O personagem oculto, "o governante da Nova República" que é chamado de "grande ladrão" é o então presidente José Sarney, símbolo da oligarquia nordestina que chegava ao poder por caminhos tortuosos.
A outra frase é bem mais recente. Foi dita ontem, 5, durante uma entrevista coletiva. A pergunta dos repórteres não deixava muita margem a tergiversações: "Presidente, o que o senhor acha da oligarquia de Sarney no Maranhão?".
A distância entre uma frase e outra é de apenas 22 anos. O autor de ambas é a mesma pessoa. Ou melhor: parece ser a mesma pessoa, mas é simplesmente abissal a diferença entre o sindicalista e líder político dos anos 80 e o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que entra na fase derradeira de seu segundo mandato.
Em todo caso, sempre quando precisa enfrentar temas delicados, como sua relação com as oligarquias, ele encontra uma saída. Mesmo que seja a da porta dos fundos.
Ora, tomando como sérias as declarações de Lula, a virada do século operou um milagre: as oligarquias brasileiras teriam se convertido de inimigas do povo em parceiras nas ações de um governo que alega representar a maioria da sociedade. Nada mais ilusório e mistificador. Pelo menos para aqueles que permanecem na margem esquerda da luta política.

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

De mãos dadas com o crime

Entre as "personalidades" que o Diário do Pará adianta que devem ser engolfadas pelas denúncias da CPI da Pedofilia aparece "um ex-prefeito de município localizado próximo à capital". Quem será a figura sinistra? Arrisca acertar quem apontar o dedo para Marituba, município marcado pela existência de organizações criminosas especializadas em roubo de carga, tráfico de drogas e exploração sexual de crianças e adolescentes.

Longa fila de homens mortos

A justificativa é sempre a mesma: os mortos em confronto eram suspeitos de vinculação com o tráfico. Logo, diante da troca de tiros, não restou alternativa senão exterminá-los. A PM do Rio de Janeiro, talvez a mais violenta do país, deixou ontem, 4, um saldo de pelo menos 10 mortos em ações realizadas em diversas favelas da capital. Esse fato está longe de ser isolado. Em 2007 a PM carioca matou 1.330 pessoas, uma média de 3 ou 4 por dia. Ora, não é possível acreditar que esse morticínio possa ocorrer sem o beneplácito da cadeia de comando. Trata-se, isto sim, da consequencia lógica de uma política de extermínio baseada num conceito de limpeza social.
Quando o governo do Pará, pressionado pelo escancarado agravamento da insegurança pública, começa a transigir com práticas em tudo semelhantes àquelas que predominam nas PMs do Rio e de São Paulo, deve-se acender o alerta de perigo. Todos sabem aonde isso vai dar.

Ninho de marimbondo

O Equador, sob o governo Rafael Correa, tem se mostrado uma grata surpresa. Corajoso e hábil, mantendo uma fidelidade aos princípios programáticos que faz tanta falta nas bandas de cá, Correa não foge dos temas mais espinhosos. Depois de auditar a dívida externa e entrar em conflito com a banca internacional e com os governos que lhe dão suporte (O Brasil, infelizmente, incluído nesse balaio), ele parte agora para passar a limpo o poderoso setor de telecomunicações, que também será desnudado por uma auditoria determinada por lei.
Entrementes, no Brasil, as concessões de rádio e TV continuam como capitanias hereditárias a conferir prestígio, riqueza e poder para uma meia dúzia.

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

O preço de cada um

Os sinais são evidentes e não devem ser minimizados. Está em andamento, por caminhos subterrâneos e pouco ventilados, uma ardilosa armação para assegurar a impunidade em torno de alguns colarinhos que, flagrados pela CPI da Pedofilia, correm o risco de virem a público maculados por uma indescritível enxurrada de chorume.
Atrás do balcão de um importante grupo que une simbioticamente mídia e política, as cartas estão sendo lançadas. As conversas, realizadas sob o manto do sigilo, giram em torno da fixação do preço do silêncio. Quanto mais escabrosas são as denúncias que chegam aos escaninhos da CPI, mais violento se mostra o ataque especulativo da turma que engendra essa imoral e inaceitável operação abafa.

Tesoura afiada

Lula acaba de transformar em lei a MP 441, que reestrutura carreiras e reajusta salários dos servidores públicos federais. Fruto de intensa pressão de diversas categorias, a lei nº 11.907/08 pode, entretanto, virar letra morta. É que entre tantos vetos, o presidente acatou uma salvaguarda acaciana recomendada pelos sempre zelosos técnicos do Planejamento: os reajustes somente serão pagos se houver dinheiro em caixa. Em outras palavras, se a arrecadação desabar ao longo do ano, o que de resto é um cenário bastante previsível, vai para o espaço a promessa de recompor os salários de categorias que amargam há anos feroz achatamento.
Diante das incertezas não está descartada mais uma onda de greves do funcionalismo.

Com a faca no pescoço

A Alcoa, terceira maior produtora de alumínio do mundo, costuma falar grosso. No início deste ano mandou embora mais de 13 mil empregados, executando o que chamou de estratégia agressiva frente à crise global. Costuma não recuar diante de obstáculos, acostumada a mandar e ser obedecida por governantes solícitos em vários continentes.
Agora, a Alcoa tem diante de si um levante de ribeirinhos de Juruti, a mais de 800 quilômetros de Belém, onde implanta um projeto de produção de bauxita avaliado em US$ 2 bilhões. De novo, a resposta vem em termos de chantagem: ou os moradores tradicionais suspendem o movimento, que há vários dias impede o acesso ao porto da empresa, ou poderá - pelo menos é o que ameaça a corporação estadunidense - suspender o projeto, arrumar as malas e voltar ao seu país de origem.
Diante de um conflito pintado com cores tão dramáticas é sintomático que o governo do Pará, responsável pelo polêmico licenciamento ambiental da obra, se mova com tanta lentidão e visível constrangimento. Deve ser difícil admitir que por trás da propolada "sustentabilidade social e ambiental" o que se vê é a marca do neocolonialismo de sempre.

Movimento dos Sem Decoro

O novo corregedor da Câmara dos Deputados, Edmar Moreira (DEM-MG), mal sentou na cadeira e foi logo defendendo o fim dos julgamentos por quebra de decoro parlamentar. Falta isenção para julgar os deputados, afirma. Ademais, cabe à Justiça a palavra final, logo não tem o menor sentido prosseguir com o desgastante rito de denúncia e deliberação no Conselho de Ética.
Em tempo: o deputado que é coronel reformado da Polícia Militar, empresário e produtor rural, responde a inquérito no STF (Supremo Tribunal Federal), denunciado pelo Ministério Público Federal por apropriação indébita previdenciária.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

A fala do trono

Quem fala pelo governo Lula? Quando é para valer - e não apenas para jogar para a plateia - os porta-vozes são sempre marcadamente de direita. É isso que explica a indefensável - pelo menos do ponto-de-vista da luta histórica pelos direitos humanos - posição da Advocacia Geral da União (AGU) defendendo o perdão eterno aos crimes de terrorismo de Estado praticados durante a ditadura militar (1964-1985).

A Grande Marcha (de volta)

Cerca de 20 milhões de chineses foram demitidos nos últimos meses. São os primeiros efeitos da crise financeira global, que provocam os primeiros e graves impactos no imenso território Chinês.
Atingidos por uma política que despreza os mais elementares direitos da força de trabalho, estima-se que 15,3% dos 130 milhões de trabalhadores migrantes já tenham retornado às suas cidades e vilarejos locais.

Bem-vindo à terra sem direitos

As lonas do FSM ainda estavam armadas e 49 trabalhadores escravos eram libertados, neste final de semana, nos rincões paraenses, no distante município de São Félix do Xingu, cerca de 700 quilômetros da capital.

Capuz high tech

Que ninguém se espante: não demora a Globo introduzirá métodos menos sutis para torturar - física e psicologicamente - a turma de pretendentes aos R$ 1 milhão do BBB9. O tal quarto branco, uma pequena cela alcochoada sob luz permanente, na qual confinou três dos participantes no último domingo, bem demonstra até onde pode chegar a busca pela audiência tão fácil quanto brutalizada pela repetição ad nauseam das ferramentas de flagelo de seres humanos. Não há dúvida que isso não somente parece, mas é tortura.

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Pode ser a gota d'água

Yanomami em pé de guerra. Arcos e flechas, suas armas tradicionais, podem voltar a ser utilizadas contra o invasor. Desde meados do mês passado são frequentes os incidentes envolvendo garimpeiros ilegais que insistem em invadir a Terra Indígena, espalhando o terror e a violência. Um índio foi morto e é iminente a deflagração de um conflito de grandes proporções se a Polícia Federal e os demais órgãos do governo não agirem rápido e de forma eficaz para apagar o estopim que já está aceso.
Mais informações aqui.

À tarde, após (ou durante) a chuva

As atualizações do Página Crítica nesta segunda, 2, ficam transferidas para o período vespertino.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Dialética do tempo e de seus mistérios

"O Relatório da Coisa

Esta coisa é a mais difícil de uma pessoa entender. Insista. Não desanime. Parecerá óbvio. Mas é extremamente difícil de se saber dela. Pois envolve o tempo.
Nós dividimos o tempo quando ele na realidade não é divisível. Ele é sempre e imutável. Mas nós precisamos dividi-lo. E para isso criou-se uma coisa monstruosa: o relógio.
Não vou falar sobre relógios. Mas sobre um determinado relógio. O meu jogo é aberto: digo logo o que tenho a dizer e sem literatura. Este relatório é a antiliteratura da coisa.
O relógio de que falo é eletrônico e tem despertador. A marca é Sveglia, o que quer dizer "acorda". Acorda para quê, meu Deus? Para o tempo. Para a hora. Para o instante. Esse relógio não é meu. Mas apossei-me de sua infernal alma tranquila."

Clarice Lispector (1920-1977). Onde estivestes de noite (1a edição: 1974; Nova Fronteira, 1980, p.75).

De volta ao futuro?

Qual o cenário que os grandes projetos mineradores legarão aos povos da Amazônia? Pistas extremamente preocupantes podem ser recolhidas no presente de devastação socioambiental promovida na Serra dos Carajás, onde uma enorme e imponente cratera não para de crescer, na mesma proporção em que a Vale explora em ritmo cada vez mais frenético as riquezas minerais para abastecer os mercados do outro lado do Atlântico.

Surfando na crise

Os banqueiros do Brasil têm todos os motivos para abrir um largo sorriso. Enquanto seus congêneres da Europa e Estados Unidos estão se desintegrando em meio a prejuízos colossais, os daqui navegam nas águas tranquilas dos maiores ganhos do mundo. O "spread" bancário brasileiro, segundo revelou a Folha de São Paulo, alcança 11 vezes a média praticada nos países desenvolvidos.