sábado, 31 de outubro de 2009

Tempestade de fogo

A resistência aos invasores marca a história milenar dos povos do Oriente Médio e da Ásia. E isso vem de longe, desde os tempos em que Saladino, um curdo, liderou a contra-ofensiva islâmica que derrotou os cruzados. Tariq Ali acha que Obama não aprendeu a lição.

Rquiém para um desastre anunciado

Os sinos das igrejas de Barra (BA) tocaram o dobre de finados em plena visita presidencial. O protesto, inusitado e inédito, reflete o esgotamento total e absoluto de que Lula possa recuar na marcha insensata de impor a qualquer custo o polêmico projeto de transposição das águas do Rio São Francisco.
Saiba, aqui, as razões dos que combatem, a partir de dados técnicos irrefutáveis, que mais uma tragédia socioambiental seja finalmente consumada.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

O Haiti é aqui

A França como potência colonial foi pródiga em desenvolver (e exportar) os métodos mais cruéis de exploração e controle das populações subjugadas. Marcas dessa brutalidade congênita ficaram registradas, como pegadas sangrentas, nas trilhas de muitos séculos em que a transferência líquida de riqueza, das colônias para a metrópole, foi conferindo às suas classes dominantes bem nascidas essa áurea de civilização e requinte típica de quem sabe aproveitar os prazeres da vida. Dormem tranquilos, sem remorsos, e não chegam a sonhar com os açoites e com os gritos que fizeram funcionar sua gigantesca máquina de moer gente.

A escravidão - palavra indigesta - acompanhava, feito sombra, a bandeira tricolor, contradição em termos do dístico "Fraternité, Equalité, Liberté", naqueles tempestuosos anos do final dos setecentos, até que os ventos da Revolução (com r maiúsculo) varreram as plantações do Haiti, cortando o mal pela raiz. A liberdade de homens e mulheres livres e iguais, como se sabe, durou muito pouco e o que sobreveio foi uma maldição que já se estende por mais de dois longos séculos.

Corte rápido. Brasil, 2009, Rondônia. Em plena selva amazônica, num moderno canteiro de uma das mais reluzentes obras do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC), eis que foram flagrados 38 trabalhadores em regime de trabalho análogo à escravidão. Eles trabalhavam para a construtora BS, subcontratada da Energia Sustentável do Brasil (Enersus), consórcio que move céus e terras para construir a polêmica Usina Hidrelétrica (UHE) de Jirau, no Rio Madeira.

E, por que relacionar a tão simpática França, em seu festejado Ano no Brasil, a essa tragédia indigesta?

Simples: 50,1% da Enersus pertencem a GDF Suez, gigante transnacional de bandeira francesa, um dos mais poderosos oligopólios do ramo da energia em todo o mundo.

Uma vergonha, um disparate e um acinte sem tamanho. Ou melhor, do tamanho exato da pequenez de governantes que abdicaram do dever sagrado de defender seu povo contra a ganância que não reconhece fronteiras, mas sabe muito bem onde encontrar solo propício à preservação de seus imorais privilégios.

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Barriga de aluguel

Os últimos lances no processo que investiga o chamado escândalo dos kits escolares podem servir para ajustar um pouco mais o foco da acusação. Afinal, muitos são os que acreditam que os envolvidos na trapalhada estavam divididos, didaticamente, entre operadores (na Seduc, sobretudo) e autores intelectuais (estes, sob o abrigo dos altíssimos escalões, aboletados em gabinetes localizados a poucos quilômetros dali).

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

No caminho de Kandahar

Outubro está acabando como o mês mais sangrento para as tropas invasoras norte-americanas desde 2001 no dilacerado Afeganistão. Com os 14 soldados mortos ontem num ataque da insurgência nos arredores de Kandahar, a terceira cidade do país, já são 51 as baixas fatais do Exército dos Estados Unidos.
Afogado em sangue - de seus próprios jovens e de dezenas de milhares de afegãos - o presidente Obama começa a pagar o preço pela manutenção de uma guerra colonial que não comporta vencedores.

Omissão criminosa

O trágico acidente com duas vítimas fatais e inúmeros feridos graves ontem (27) na rodovia Augusto Montenegro, periferia de Belém, não pode ser contabilizado como uma mera fatalidade. Ou apenas como fruto da evidente irresponsabilidade do condutor do micro-ônibus clandestino. As raízes são mais profundas e estão fincadas nos altos escalões que se acumpliciam, não raro como sócios ocultos, com a bagunça instalada no transporte urbano na capital paraense.

domingo, 25 de outubro de 2009

Dialética de construtores de trincheiras

DEFESA DA ALEGRIA

Defender a alegria como uma trincheira
defendê-la do escândalo e da rotina
da miséria e dos miseráveis
das ausências transitórias
e das definitivas

Defender a alegria como um princípio
defendê-la da surpresa e dos pesadelos
dos neutros e dos nêutrons
das doces infâmias
e dos graves diagnósticos

Defender a alegria com uma bandeira
defendê-la do raio e da melancolia
dos ingênuos e dos canalhas
da retórica e das paradas cardíacas
das endemias e das academias

Defender a alegria como um destino
defendê-la do fogo e dos bombeiros
dos suicidas e dos homicidas
das férias e do fardo
da obrigação de estarmos alegres

Defender a alegria como uma certeza
defendê-la do óxido e da sujeira
da famosa ilusão do tempo
do relento e do oportunismo
dos proxenetas do riso

Defender a alegria como um direito
defendê-la de deus e do inverno
das maiúsculas e da morte
dos sobrenomes e dos lamentos
do azar e também da alegria

Mario Benedetti (1920-2009), poeta, escritor e revolucionário uruguaio. "Antología poética" (Editorial Sudamericana, 2000, Buenos Aires, p.188).

Loucuras de um domingo de verão

Vamos combinar: ultrapassou todos os limites do ridículo a longa entrevista especial, um latifúndio de três páginas, que o prefeito Duciomar mandou publicar no O Liberal deste domingo.
Noves fora as promessas mirabolantes de sempre, o que sobressai é o envio de mensagens mais ou menos cifradas, cujos destinatários estão entre seus pretensos aliados e potenciais adversários, todos, indistintamente, de ocasião.
Duciomar afirma que sempre é candidato a alguma coisa. Afinal, a "candidatura é a mercadoria do político". De negócios - sobretudo dos excusos e nebulosos - não há dúvida alguma sobre a expertise do capo do PTB paraense. Sua trajetória meteórica - da baixa delinquência para os altíssimos escalões da política e do mundo empresarial emergente - é uma prova incontestável.
A nota hilária ficou por conta do convite a um não-identificado "empresário de comunicação do Estado" para ser candidato ao Senado.
Quem será este sujeito (quase) oculto?
Todas as pistas levam, por óbvio, ao envidraçado palacete da 25 de setembro, sede do outrora poderoso grupo ORM.
No atual estágio, entretanto, a tal novidade soa mais como uma piada. Sem graça alguma, por sinal.

Manifesto da porno-política

Ainda há quem se indigne com as declarações de Lula, usina inesgotável de metáforas e de frases de efeito, nem sempre felizes, é verdade, mas dotadas de desconcertante eficácia. Uma de suas últimas, balançou o coreto de meio mundo. Afinal, deve mesmo ser motivo para espanto um presidente da República assumir, com todas as letras, a apologia do fisiologismo como condição necessária para governar um país como o Brasil.
A aliança entre Jesus Cristo e o traidor Judas, apregoada por Lula, apenas revela uma opção definitiva por um determinado tipo de governabilidade, conservadora na essência, imoral no método e deletéria no trato da coisa pública. Em aparente contradição com a retórica presidencial, é justamente esse tipo de fazer política que preserva os interesses fundamentais dos de cima, enquanto distribui, à farta, doses crescentes de pão e circo para a plebe.
O fato de estar dando certo - para Lula e seus seguidores, pelo menos - não confere justeza e legitimidade ao que muito bem pode ser considerado o maior estelionato eleitoral da história recente do país.
Como não existe crime perfeito, um dia a cobrança será feita. Com juros e multas proporcionais ao imensurável estrago que provocou na luta de resistência do povo brasileiro.

Uma causa justa

Muitas vozes se levantam para reafirmar um princípio básico de qualquer sociedade que se pretenda democrática: os movimentos sociais não podem ser tratados como caso de polícia. Simples assim, mas intensamente polêmico nestes tempos em que a destruição de alguns pés de laranja - plantados, diga-se, em terra grilada - ocupa um espaço desproporcionalmente maior do que a morte em vida - ou a morte de fato - de mihares de seres humanos que integram a enorme legião dos sem-direitos no Brasil das desigualdades.
A petição em apoio ao MST está aberta à adesões. Quem se habilita?

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Rio 40 graus

A cena lembrava Mogadíscio, capital eternamente entre chamas e escombros na esquecida Somália. Mas o helicóptero abatido pela artilharia do narcotráfico despencou mesmo entre os morros cariocas, na maravilhosa cidade olímpica, que, volta e meia, explode em erupções sangrentas de sua cotidiana guerra civil.

Bônus-malandragem

A revelação é da Folha de São Paulo: nos últimos sete anos as 63 concessionárias de energia elétrica do país garfaram os consumidores em R$ 1 bi ao ano. O "erro técnico" no cálculo da tarifa foi detectado pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) há dois anos anos, mas nenhuma medida concreta foi adotada para ressarcir os milhões de prejudicados.
Assim, com esse tipo de fiscalização, ser privatista no Brasil é o mesmo que alcançar o céu, mas com a vantagem de não ter de morrer primeiro.


domingo, 18 de outubro de 2009

Dialética da palavra que se faz carne

"Quando já não havia outra tinta no mundo
o poeta usou seu próprio sangue.
Não dispondo de papel,
ele escreveu no próprio corpo.
Assim,
nasceu a voz,
o rio em si mesmo ancorado.
Como o sangue: sem foz nem nascente.

Lenda de Luar-do-Chão".

Mia Couto (1955, Beira, Moçambique). Um rio chamado tempo, uma casa chamada terra (Companhia das Letras, 2003).

Para tirar o sono da Casa Grande

Brigar com números é sempre uma bobagem. O último censo agropecuário demonstra de forma inequívoca a força da agricultura familiar em geral e dos assentados da reforma agrária em particular. Isso apesar de todas as contradições das políticas públicas voltadas para a pequena produção e dos rios de recursos públicos que são canalizados, ano a ano, para robustecer as arcas do agronegócio,
Aqui, uma leitura indispensável para quem não quer virar refém dos "números" da sinhazinha Kátia Abreu.

Pulando a cerca

Uma janela para legalizar o troca-troca partidário recebe um novo impulso nos bastidores da Câmara dos Deputados. O tema vai e volta, sempre movido por interesses nem sempre confessáveis. Pelo menos, não exatamente confessáveis para o grande público, que permanece alheio às frenéticas cotações que animam a compra e venda de uma multidão de mandatos descartáveis.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

O sertão vai virar mar?

A polêmica transposição do Rio São Francisco vai avançando ainda muito lentamente, mas pode ganhar velocidade nos próximos meses. Para isso, o governo Lula não está disposto a se deter diante de nenhum obstáculo. Já comprou uma briga feia com os movimentos sociais críticos ao projeto e trombou mais de uma vez com o bispo de Barra (BA), Dom Luiz Cappio, um ícone da resistência contra o megaprojeto. Para o religioso, que já fez duas greves de fome contra a transposição, no final de tudo o sertanejo vai assistir o dinheiro público irrigar os cofres das empreiteiras e depois a água do velho Chico servir para vitaminar os lucros dos grandes produtores rurais.
Pois bem, agora o Planalto patrocinou uma emenda - contrabandeada numa MP que tratava do socorro financeiro aos municípios - para agilizar o processo de desapropriação de imóveis de utilidade pública.
A base do governo não se fez de rogada e cumpriu direitinho seu papel. Afinal, 2010 está logo ali.

Com a faca e o queijo

Está tudo dominado. A reforma do Código Florestal, empacada há meses, vai recomeçar e agora sob o comando da bancada da motosserra. Os principais cargos da comissão caíram nas mãos de parlamentares alinhados com o que existe de mais retrógrado no Congresso Nacional, que, é óbvio, não conseguiram este feito sozinhos. A mão amiga do Planalto e do PT foi decisiva.
Para dourar a pílula, colocaram um comunista para relator. Um comunista? O deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) não é nenhum bicho papão. Sua retórica já não assusta os de cima, muito pelo contrário. Há muito ele transformou seu mandato numa plataforma de ataques aos direitos dos índios e dos povos da floresta.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Cara de um, focinho do outro

Um super-palanque para 2010. Nada menos que Jader Barbalho e Duciomar Costa unidos em torno da causa comum de reeleger Ana Júlia para o governo do Estado. É claro que entre esse acalentado desejo e a sagração das alianças existe uma distância formidável. Tudo pode se desmanchar no ar, já que os caminhos palmilhados nesta seara costumam ser insondáveis.
Um aspecto, porém, permanece nebuloso: adversários de ontem, aliados de ocasião de hoje, têm a cada dia muito mais em comum do que admitem publicamente. Estão se tornando parecidos - nos métodos e nos propósitos - num mimetismo político que faz tábula rasa de antigas fronteiras ideológicas que alguns julgavam intransponíveis.
Ocorre que a travessia do Rubicão ocorreu e já faz bastante tempo. Só os ingênuos e os crédulos de carteirinha fizeram de conta que os fins blindariam os meios, impedindo a inevitável contaminação.

Hoje, cores partidárias e veleidades ideológicas parecem ser meras abstrações. Ou pior: são na verdade simples alegorias - de péssimo gosto, por sinal - para justificar malabarismo em nome de governabilidades unidas pelo fio condutor da gula incontrolável pelo malfeito.

Trincheira boreal

Uma greve que se estende a quatro meses. É contra o desmonte dos direitos trabalhistas realizado pela Vale no Canadá e envolve cerca de 3500 operários das minas da Inco, comprada pela multinacional brasileira em 2006.
Mas, atenção: se a tática de demolir o estado de bem-estar social canadense der mesmo certo, logo algum executivo vai propor que o facão afiado se desloque para fatiar as esquálidas vantagens duramente conquistadas pelo operariado verde-e-amarelo.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Ver para crer

Desembarca no Brasil, nos próximos dias, o relator especial da Organização das Nações Unidas para o direito à alimentação, Olivier de Schutter. Crítico mordaz do avanço dos agrocombustíveis sobre o espaço da produção de alimentos, ele vai chegar em meio ao feroz bombardeio pirotécnico desencadeado pelo alto comando dos ruralistas. Sem perder tempo com manobras diversionistas, o relator da ONU vai querer saber o que explica a permanência de níveis indecentes de concentração de terra, onde 15 mil proprietários detém 98 milhões de hectares e, como sempre, ainda acham pouco e querem mais, muito mais.

sábado, 10 de outubro de 2009

O grande salto (para trás)

No ritmo atual, o Brasil precisará de três décadas para atingir o nível de educação que o Chile proporciona a seus jovens. Hoje, segundo o IBGE, 63% dos brasileiros entre 18 e 24 anos não concluíram o ensino médio. Nesta faixa etária, 1,2 milhão deles não possuíam qualquer ocupação, nem estudavam, reféns de uma perigosa ociosidade.
Falar em país do futuro, mantidos esses números trágicos, só pode mesmo ser piada. E do pior e mais indecente mau gosto.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Dialética da revolução dos sentidos

A página do relâmpago elétrico

Abre a folha do livro
Que eu lhe dou para guardar
E desata o nó dos cinco sentidos
Para se soltar
Que nem o som clareia o céu nem é de manhã
E anda debaixo do chão
Mas avoa que nem asa de avião
Pra rolar e viver levando jeito
De seguir rolando
Que nem canção de amor no firmamento
Que alguém pegou no ar
E depois jogou no mar

Pra viver do outro lado da vida
E saber atravessar
Prosseguir viagem numa garrafa
Onde o mar levar
Que é a luz que vai tecer o motor da lenda
Cruzando o céu do sertão
E um cego canta até arrebentar
O sertão vai virar mar
O mar vai virar sertão
Não ter medo de nenhuma careta
Que pretende assustar
Encontrar o coração do planeta
E mandar parar
Pra dar um tempo de prestar atenção nas coisas
Fazer um minuto de paz
Um silêncio que ninguém esquece mais
Que nem ronco do trovão
Que eu lhe dou para guardar

A paixão é que nem cobra de vidro
E também pode quebrar
Faz o jogo e abre a folha do livro
Apresenta o ás
Pra renascer em cada pedaço que ficou
E o grande amor vai juntar
E é coisa que ninguém separa mais
Que nem ronco de trovão
Que eu lhe dou para guardar

Composição: Ronaldo Bastos e Beto Guedes


Guerra nas Estrelas

Pelo menos dois diretores da Vale - nomeados ainda no tempo de FHC - estão sob forte assédio do governo Lula, que maneja os cordeis dos poderosos fundos de pensão - Previ, Funcef e Petros - que junto com o BNDES controlam o maior naco da Valepar, controladora majoritária da megamineradora.
A cabeça de Roger Agnelli, pelo menos por enquanto, parece estar preservada. Por enquanto, ressalve-se.

Embusteiros

Já houve tempo em que ganhar um Nobel representava muito, mas muito mesmo. Mas esse tempo - se é mesmo que existiu - ficou lá atrás, nas poeiras do passado.
Mas, fala sério: premiar o presidente Barack Obama com o Nobel da Paz é uma impostura, para dizer o mínimo.
Os honoráveis membros da Fundação Nobel, responsável pela escolha, perderam a oportunidade de premiar, in memoriam, por exemplo, alguma das centenas de crianças afegãs mortas pelas bombas que o pacífico presidente do império norte-americano manda despejar, o dia todo e todos os dias, sobre as ensanguentadas terras afegãs.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Dos filhos deste solo

A terra brasileira, mãe para uns poucos e madrasta para a enorme maioria, deve um enterro digno para, pelo menos, 140 de seus melhores e mais valorosos filhos. Eles compõem a legião dos desaparecidos políticos tragados pela violência do regime militar (1964-1985).
A impunidade para os agentes do Estado, responsáveis diretos para morte sob tortura da grande maioria destes militantes, é ainda agravada pelo desconhecimento do paradeiro dado pelos órgãos repressores aos corpos de suas vítimas.
A campanha lançada pelo governo federal é bem-vinda, mas insuficiente. Serve para lembrar que existe uma ferida aberta e que, ao mesmo tempo, falta muito para o país se reencontrar como na síntese de um projeto de sociedade efetivamente democrática.
Celebrar a memória dos heróis e mártires é o primeiro passo de uma jornada muito mais ampla e cada vez mais urgente e necessária. O artigo de Sérgio Maggio, no Correio Braziliense de hoje, lança um facho de luz nos sombrios escaninhos de um tempo que precisa ser devassado, justamente para que não se repita jamais.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Na hora da xepa

O último capítulo do troca-troca partidário não poderia ser mais grotesco. A compra e venda de mandatos e de minutos na TV fizeram a festa de uma boa fornada de legendas e de seus (agora) felizes e abastados "proprietários".
Brasília, como sempre, ferveu em madrugadas de intensas e saborosas transações. O consórcio governista - este de hoje como todos os outros que já passaram por lá - se deu bem, muito bem, por sinal. É que a posse da chave do cofre confere a seus detentores os argumentos definitivos para conquistar corações recalcitrantes.
Por aqui, debaixo do caliente Equador, a feirinha instalada lá pelas bandas do Palácio dos Despachos nunca esteve tão agitada. Ao final, as sacolas do neoanajulismo ficaram bem recheadas de vários e diversos produtos, adquiridos sabe-se lá por que preço, mas com prazo de validade há muito ultrapassado.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Aqui se faz. Aqui se paga

O judiciário brasileiro deu um passo importante na defesa do patrimônio socioambiental do país: duas recentes decisões do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sacramentam o entendimento que em processos relativos a crimes contra o meio ambiente o ônus da prova cabe ao acusado. É a chamada inversão do ônus da prova, que deve arrepiar os cabelos daqueles acostumados a apostar tudo na eficiência de seus esquadrões de advogados para protelar para o dia de são nunca o pagamento das multas por crimes ambientais.

domingo, 4 de outubro de 2009

Gracias a la vida

Que toquem todos os tambores.
Que sorriam, emolduradas pelos pampas e pelas florestas sem fim, todas as crianças,
símbolo maior de todas as esperanças.
Que dancem todos os corpos, de todas as cores, com a velocidade de nossos rios e com o vigor eterno de nossas geleiras eternas.
Que se alcem todos os punhos e que o vento dos Andes e do grande vale amazônico faça com que os dedos se abram,
solenes e soberanos,
em um adeus e em um até sempre
para a grande guerreira do canto latino-americano,
Mercedes Sosa,
para sempre viva e vibrante na luta de um povo que jamais deixará de caminhar.

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Os filhotes do Duce estão chegando

Os camisas negras, com seu sotaque fascista ineludível, estão desembarcando no Brasil. Os tempos podem ser outros, mas a capa modernosa é incapaz de esconder a monstruosidade dessa facção de extrema-direita, cujo nascimento e disseminação pelas Américas responde aos impulsos - e aos milhões de dólares - originados da Casa Branca.
O Brasil de Fato traça faz uma radiografia deste câncer que, se não for extirpado a tempo, pode se transformar num perigoso entrave ao avanço das lutas sociais em solo brasileiro.

Querubins em festa

No último capítulo, a solução do enigma: a culpa, vejam só, é do mordomo.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Um batente indigno

No Pará, terra sem direitos, uma legião de pequenas vítimas, condenadas à exploração do trabalho infantil: 284 mil entre 5 e 17 anos.
Os dados vergonhosos são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) de 2008, do IBGE.

A mão que balança o berço

De que ventre foram paridos os golpistas de Honduras?
Não é preciso fazer exame de DNA para descobrir a marca indelével dos zoológicos sustentados pela Casa Branca há décadas. Basta ver como começam a fazer efeito as primeiras ameaças efetivas de retaliação comercial estadunidense contra o governo Micheletti, a única linguagem que parece tocar no coração dos que sustentam a ditadura, dentro e fora dos quartéis.