domingo, 25 de outubro de 2009

Dialética de construtores de trincheiras

DEFESA DA ALEGRIA

Defender a alegria como uma trincheira
defendê-la do escândalo e da rotina
da miséria e dos miseráveis
das ausências transitórias
e das definitivas

Defender a alegria como um princípio
defendê-la da surpresa e dos pesadelos
dos neutros e dos nêutrons
das doces infâmias
e dos graves diagnósticos

Defender a alegria com uma bandeira
defendê-la do raio e da melancolia
dos ingênuos e dos canalhas
da retórica e das paradas cardíacas
das endemias e das academias

Defender a alegria como um destino
defendê-la do fogo e dos bombeiros
dos suicidas e dos homicidas
das férias e do fardo
da obrigação de estarmos alegres

Defender a alegria como uma certeza
defendê-la do óxido e da sujeira
da famosa ilusão do tempo
do relento e do oportunismo
dos proxenetas do riso

Defender a alegria como um direito
defendê-la de deus e do inverno
das maiúsculas e da morte
dos sobrenomes e dos lamentos
do azar e também da alegria

Mario Benedetti (1920-2009), poeta, escritor e revolucionário uruguaio. "Antología poética" (Editorial Sudamericana, 2000, Buenos Aires, p.188).

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