José Saramago vê, do alto de seus 87 anos e de sua inteireza ética e ideológica, o que se passa na cena brasileira. Vê a luta de classes que perpassa de cima abaixo nossa sociedade, mas não deixa jamais de se escandalizar com as iniquidades que aqui são o cimento que mantém tudo de pé.
Ele, ao contrário toma partido e escolhe seu lado: quer compartilhar o sofrimento dos mais pobres, e com eles - os excluídos de sempre, mas não para sempre - quer repartir sua maior riqueza: esse estoque inesgotável da rebeldia e de indestrutível esperança.
Política. Cultura. Comportamento. Território destinado ao debate livre. Entre e participe, sem pedir licença.
terça-feira, 31 de março de 2009
Luz por entre frestas e muros
Um negócio do Brasil
A (nova) favorita
Depois de surpreender vencendo uma concorrência para a conservação da malha viária da capital, no valor inicial de quase R$ 35 milhões, a empreiteira desponta agora como a escolhida por meio de duas tomadas de preços da Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb) para o gerenciamento das obras de urbanização na Estrada Nova e no Paracuri. Na ponta do lápis, uma bolada de R$ 2.948.222,20.
Por quem os sinos dobram?
Em todos os quartéis,
em todas as praças,
em todas as escolas e universidades,
nos pátios das fábricas,
nas salas refrigeradas dos escritórios,
nos pastos e canaviais,
em hora determinada,
simultânea e ordeiramente,
em meio a um silêncio respeitoso,
ouvir-se-ia a leitura da singela
Ordem do Dia:
31 de março,
45 anos depois da ignomínia,
passa a ser o dia dedicado
aos heróis e mártires
que se entregaram,
generosa e ousadamente,
ao caminho sem volta de quem
resolve levar às últimas e
às primeiras consequências
a luta por preservar,
custe o que custar,
a razão da existência do
ser humano,
antítese de toda barbárie
e empulhação,
de toda mentira festejada e
sacralizada, que se transforma
em cânone dos covardes.
Hoje, 31 de março,
que se celebre a memória
e a presença de quem soube
estar à altura de seu tempo,
artesãos da liberdade e
da igualdade verdadeiras
que ainda estão por vir.
segunda-feira, 30 de março de 2009
Frame a frame, a crônica de um etnocídio
Com o lançamento do documentário "Corumbiara", de Vicent Carelli, parte dessa história será finalmente contada, dando voz aos sobreviventes.
Para mais informações e o trailer do filme, clique aqui.
Será miragem?
Agora, o governo petista traz o assunto de volta ao anunciar que a Fundação Vale, com recursos do plano "Minha Casa, Minha Vida", promete construir 10 mil unidades a um custo de R$ 150 milhões, além de "sinalizar" seu interesse de construir outras 15 mil casas populares.
A notícia, como se vê, mal consegue ficar de pé e espalha muitas dúvidas. Afinal, qual a credibilidade que a Vale tem para renovar a promessa de anos atrás sem apresentar qualquer justificativa para a rasteira - mais uma - que passou no distinto público daqui? E o que significa utilizar recursos do pacote do governo Lula, quando se esperava justamente que a mineradora abrisse seus cofres numa medida de compensação pelos gigantescos impactos socioambientais que produz no Pará há tantos anos?
Resta torcer para que não se esteja assistindo a repetição de mais um embuste, desta feita de olho no clima pré-eleitoral que se instalou com notável antecedência.
domingo, 29 de março de 2009
Nem precisa de GPS
O expediente do último número da revista Latitude (Ano 3, Nº 5, janeiro de 2009), editada pelo Hangar Centro de Convenções, deixa antever algumas coordenadas que remetem diretamente ao escândalo dos kits escolares.
Recomenda-se, entretanto, parcimônia aos investigadores de plantão: pode ser mera coincidência, um desses muitos e recorrentes acasos que acontecem por aí, a presença, sob as asas protetoras de pessoas íntimas da governadora Ana Júlia, de Bob Menezes (até o final do ano passado diretor da agência Double M), acumulando os cargos de editor responsável e editor de fotografia, e da emergente Gráfica Delta, de cujas máquinas saíram impressos os luxuosos 30 mil exemplares da revista promocional.
sábado, 28 de março de 2009
Dialética do sempre atual ofício dos moedeiros falsos
Padre Antônio Viera (1608-1697). Sermões.
sexta-feira, 27 de março de 2009
Pacto colonial
O capital brasileiro transnacionalizado vai em busca de lucro e de lucro rápido e fácil. Reproduz, na outra margem do Atlântico, os métodos de rapinagem que estiveram - e ainda estão - presentes nas relações do Brasil com as principais metrópoles centrais do capitalismo.
Tantos milhares de MW vão abastecer as indústrias eletrointensivas encravadas nos vizinhos África do Sul e Zimbábue. Para os milhões de pobres de Moçambique - só 14% das famílias têm acesso à luz elétrica - devem sobrar as promessas de um Eldorado que parece adiado para o dia de são nunca.
Pecado original
A simples apresentação de recibos de doação ou de transferência bancária só demonstra o que todo mundo já sabe: a construtora paulista era pródiga e eclética em suas contribuições a políticos e a partidos. A questão-chave, entretanto, reside nas origens suspeitas dos recursos utilizados tanto para as doações "legais" quanto para aquelas realizadas "por fora".
Os papéis e HDs apreendidos pela PF na sede da empresa podem trazer revelações incômodas para muita gente graúda e desvelar os péssimos hábitos de boa parte da elite nacional. É que a Camargo Corrêa, do alto de seus R$ 16 bi de faturamento no ano passado, pode ter se especializado na lavagem de dinheiro de corrupção e no plantio de um vasto laranjal para encobrir os verdadeiros beneficiários da dinheirama. Só o tempo comprovará ou não esta tese.
Por isso, calma, gente. Quem sabe essa investigação não levanta o fio da meada para uma boa - e mais do que urgente e necessária - Operação Mãos Limpas?
quinta-feira, 26 de março de 2009
Tic-Tac
O juiz Fausto De Sanctis, de biografia ilibada, está na pressão, como se diz. Enquanto isso, afamados escritórios de advocacia devem estar saboreando por antecipação uma nova temporada de ganhos extraordinários.
Vida de gado
Cópias das notas taquigráficas da sessão, com trechos devidamente hachurados, poderão em breve pousar nos escaninhos dos procuradores do Ministério Público Federal.
A doação foi legal, diz Flexa
"Sobre as notícias divulgadas nesta quarta-feira (25), acerca da Operação Castelo de Areia, deflagrada pela Polícia Federal, repassamos os seguintes esclarecimentos:
1 - De fato, foram feitas duas doações ao PSDB do Pará pela Construtora Camargo Correa.
2 - A primeira, em 15 de setembro de 2008, no valor de 100 mil reais. A segunda, de mesmo valor, em 23 de setembro de 2008. As duas doações foram feitas em nome do partido, do qual o senador Flexa Ribeiro é o atual presidente estadual.
3 - As doações foram destinadas a custear as campanhas municipais de 2008. O PSDB esteve na disputa em todos os 143 municípios paraenses, de forma direta ou com alianças partidárias.
4 - A transferência ocorreu entre uma conta no banco do Bradesco e a conta do PSDB paraense, no Banpará.
5 - A doação ocorreu legalmente, de acordo com a Lei 9.504, que trata das regras previstas para as eleições no Brasil.
6 - Todo o valor doado ao PSDB para as campanhas municipais foi devidamente declarado para a Justiça Eleitoral. Portanto, de forma transparente e dentro da legalidade, conforme é a prática do PSDB. "
Modo de usar (e abusar)
Causa e efeito
Quase ninguém acredita que seja apenas coincidência o fato da Camargo Corrêa manter uma carteira de contratos milionários com a Eletronorte, feudo do PMDB jaderista, e a suposta bolada de R$ 300 mil remetida aos cofres eleitorais do partido no Pará, por atalhos tortuosos, cujos detalhes começam a vir à tona como resultado da Operação Castelo de Areia, a mais recente investida da Justiça Federal contra os crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e doações ilegais a partidos políticos.
E antes que os tucanos possam abrir o bico e apontar o dedo contra seus adversários do PMDB, eis que caiu também na rede, presenteado com uma parcela de R$ 200 mil, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), demonstrando o ecletismo partidário que prevaleceu entre os chamados a partilhar essa ceia para lá de suspeita.
Cangaço high tech
quarta-feira, 25 de março de 2009
Pano Verde
Da mesma forma, soa cada vez mais suspeita a reação pretensamente indignada da bancada governista de que pode, quando e se lhe for conveniente, propor uma devassa no longo reinado do PSDB paraense.
Partindo do suposto de que existe uma boa chance de serem consistentes os indícios de malfeitorias nas gestões de Almir e Jatene, a liderança petista estará, na melhor das hipóteses, incorrendo na mais deslavada prevaricação. Na pior, entretanto, apenas reproduz o surrado hábito de confundir luta política com a prática da chantagem explícita.
O que está ruim sempre pode piorar
A análise corajosa dos técnicos do Imazon desvela mais esta fraude realizada sob as bênçãos do Planalto.
terça-feira, 24 de março de 2009
Coração Americano
No Brasil, depois de quase 20 anos, será a primeira manifestação unitária a reunir praticamente todas as centrais sindicais no ensaio geral do que tende a ser o maior e mais combativo 1° de maio dos últimos tempos. Motivos para forjar essa unidade - tão difícil quanto necessária - existem e são cada vez mais evidentes.
A fogueira de Torquemada
O silêncio precisa ser imediatamente decretado, imposto através do tormento, do degredo ou morte civil, ou da morte natural, isto é, a morte infligida através do uso do veneno, de instrumentos de ferro ou fogo, da forca ou do pelourinho.
Gilmar Mendes, o senhor de tão vastos anéis, está lá, em seu supremo Olimpo, a vigiar. E a zelar, com seu olhar bovino, para que assim seja, amém.
segunda-feira, 23 de março de 2009
Com dinheiro alheio
Homem-bomba
domingo, 22 de março de 2009
Paciência esgotada
Mais informações na Radioagência Notícias do Planalto.
Dialética dos mistérios da vida
Guimarães Rosa (1908-1967). Grande Sertão: Veredas
sábado, 21 de março de 2009
Enxugadores de gelo
sexta-feira, 20 de março de 2009
Os intocáveis
A mão que afaga é a mesma que apedreja
¿Porqué no te vayas?
quinta-feira, 19 de março de 2009
Um passo adiante. Outras batalhas virão
A partir de agora será retomado o processo de retirada dos não-índios da reserva, que havia sido interrompido pelo próprio STF no começo do ano passado.
Apesar do placar folgado - 10 votos a favor da demarcação contínua contra apenas 1 pela homologação em ilhas -, ao final foram incorporadas 19 ressalvas constantes do voto do ministro Menezes Direito, que pela amplitude e complexidade podem se constituir em embaraços para a correta solução dos conflitos envolvendo o reconhecimento e garantia dos direitos indígenas, muito particularmente em relação à demarcação de suas terras ancestrais. Uma visão crítica acerca dessas restrições pode ser lida aqui.
A dor que não tem cura
Com a palavra, Lucia Alves Vieira Caldas, filha do desaparecido político Rubens Alves. Aqui, na edição de hoje do Globo.
Pernas curtas
O prefeito parece estar confundindo propositalmente a descentralização ao município de seis unidades de saúde, então sob a gestão do Estado, ocorrida em 2003, depois de um longo e desgastante cabo de guerra com o governo tucano que insistia em não repassar à capital o que lhe era de direito.
Aproveitando seu repentino reaparecimento na cidade, Duciomar precisa se preparar para responder muitas perguntas e assumir suas responsabilidades.
Afinal, quem pariu Mateus que o embale.
O último bastião
Barack Obama terá, de agora em diante, mais um teste para sua vacilante e gradualista política de abertura com seu incômodo vizinho. Será uma ótima oportunidade para se aferir até onde vai o poder do lobby mafioso da Little Havana na definição dos rumos da diplomacia estadunidense.
quarta-feira, 18 de março de 2009
Pintados para a guerra
Diante do calote iminente, os barnabés estão em pé de guerra.
O mapa do tesouro
Se um dia forem identificados os beneficiários das planilhas de Dantas, batizadas com enorme sinceridade de "extratos", "contribuições ao clube" e "contribuições ao partido", talvez seja revelada a extensão e profundidade da enorme teia de apoiadores, em todas as instituições e de todos os matizes, que o bilionário pacientemente teceu ao longo de sua meteórica carreira. É justamente essa reserva estratégica que parece ter sido acionada para construir a enorme cortina de fumaça que se dedica a demolir, um a um, os que ousaram enfrentar este senhor de gados e de gentes.
Afinidades Eletivas
Quem responder que ambos são acusados de crimes sexuais contra crianças e adolescentes, a face pública de um escândalo tão medonho quanto emblemático do estágio de adiantada putrefação de parte da política paraense, terá acertado, mas apenas parcialmente.
Quem, por outro lado, lembrar que eles - Sefer e Sabino - têm o mesmo DNA político, oriundos que são de partidos fisiológicos e entranhadamente de direita, estará também mirando o alvo certo.
Mas, não termina por aí o caráter univitelino entre os dois suspeitos de crime de pedofilia. Tanto um como outro estiveram entre os primeiros a abandonar a nau tucana e passar, de mala e cuia, para a vistosa caravela do governo petista liderado por Ana Julia. Não foi por outro motivo que Sefer chegou a ser sondado para encabeçar a frustrada chapa da governadora à presidência da Assembleia Legislativa, ainda há pouco, em dezembro passado. E Sabino, um arrivista de carteirinha, acabou eleito para uma vaga vitalícia no Tribunal de Contas com expressiva votação da base aliada ao Palácio dos Despachos.
Agora, a dupla de políticos enrolados pode ter o mesmo destino: a cassação e a perda dos cargos públicos que (ainda) ocupam.
terça-feira, 17 de março de 2009
A Copa é nossa!
Sobre o leite derramado
Ora, o governo norte-americano já controla quase 80% das ações da AIG. Mais do que lançar palavras ao vento deveria agir e acabar com esta farra indecorosa. É um excelente teste para quem pregou a esperança na mudança, mas parece não está disposto a pagar o preço para transformar esse slogan em realidade.
Abram-se as portas do inferno
O governo Duciomar Costa (PTB), autor intelectual e material deste crime continuado, prefere o silêncio. Deve estar utilizando o direito constitucional de permanecer calado para não produzir provas contra si mesmo.
segunda-feira, 16 de março de 2009
Na marca do pênalti
Com um Gilmar Mendes na presidência, convém não relaxar. Milhares de indígenas vão marcar presença em Brasília.
Não vale a pena ver de novo
A ferida permanecerá aberta e sangrando. As tímidas compensações prometidas serão como band-aids para tentar curar a fratura exposta.
Poço sem fundo
A CPI da Dívida, proposta na Câmara Federal pelo deputado psolista Ivan Valente (SP) ainda permanece na geladeira. Michel Temer e os líderes das grandes legendas não parecem muito interessados em abrir essa caixa preta. Por exemplo, querem que permaneça desconhecido um dado intrigante: a dívida externa brasileira, entre 1978 e 2007, saltou de US$ 52,8 bilhões para US$ 243 bilhões, mesmo com o país tendo sangrado, em transferências diretas para os credores internacionais, em US$ 262 bilhões a mais do que recebemos em empréstimos. Ou seja: a fatura já estaria liquidada, mas a história não é bem assim. Continuamos devendo e ainda por cima, na última década, explodiu a dívida interna - R$ 1,5 trilhão - alimentada pela taxa de juros mais obscena do planeta.
domingo, 15 de março de 2009
De rodillas
Depois da agressão perpetrada pelo governo Uribe abriu-se a mais grave crise diplomática entre dois países sul-americanos das últimas décadas. O continente esteve à beira do conflito armado, com a justa reação do Equador e de seu mais forte aliado, a Venezuela de Hugo Chávez.
Pois bem. Passado pouco mais de um ano - como o tempo voa - eis que o ministro Nelson Jobim (Defesa) recoloca a questão da "cooperação militar" entre o Brasil e a Colômbia na tarefa comum de combater - "a tiros", no liguajar belicista do ministro de Lula - supostas infiltrações de militantes das Farc em território brasileiro. Para Jobim seria oportuno um acordo que possibilitasse - de forma recíproca - que aeronaves militares dos dois países tivessem autorização para "flexibilizar" as fronteiras numa faixa de 50 quilômetros, como forma de melhor monitorar as supostas movimentações da guerrilha.
É um escândalo que uma declaração criminosa de uma alta autoridade nacional tenha passado praticamente sem registro pela imprensa, perdida entre tantas baboseiras que dirigentes governamentais despejam diariamente. Mas, ao contrário do que se possa achar, trata-se de um fato gravíssimo, uma declarada intenção de perpetrar um crime de lesa Pátria que não poderia ficar impune.
O interessante é que Nelson Jobim, um quadro da direita com extensa folha de serviços prestados às classes dominantes em todas as esferas de poder, não perde nenhuma oportunidade para atacar a existência de terras indígenas nas regiões de fronteira, apontadas por ele como uma "ameaça à soberania nacional". O perigo, como se sabe, está justamente alojado nos mais elevados escalões, sempre bem dispostos a prestar homenagem, convenientemente de joelhos, aos representantes da metrópole, que hoje falam inglês e distribuem seus regalos em imaculadas notas de dólar.
Dialética da visão e de seu contrário
A vantagem de que gozavam estes cegos era o que se poderia chamar de ilusão da luz. Na verdade, tanto lhes fazia que fosse de dia ou de noite, crepúsculo da manhã ou crepúsculo da tarde, silente madrugada ou rumorosa hora meridiana, os cegos sempre estavam rodeados duma resplandecente brancura, como o sol dentro de um nevoeiro. Para estes, a cegueira não era viver banalmente rodeado de trevas, mas no interior de uma glória luminosa."
José Saramago. Ensaio sobre a cegueira (Companhia das Letras, 2008, 50a reimpressão, p. 94).
sábado, 14 de março de 2009
Submarino
Já as famílias com renda de até três mínimos, faixa que concentra cerca de 90% do déficit habitacional, podem colocar as barbas de molho. A promessa do megaplano de incentivo à construção civil pode se transformar em miragem eleitoral. A conferir.
T, de terrível
Um afilhado bem trapalhão
O ministro Carlos Luppi (Trabalho), também presidente nacional do PDT, aposta na tese de que o tempo apaga tudo. Mas nem sempre isso é verdadeiro, A permanência do afilhado político do deputado Giovanni Queiróz (PDT-PA) tem tudo para ser uma fonte permanente de dor de cabeça. Além de ser um claro sinal de que entre as intenções e os gestos do ministro de Lula existe um abismo cada vez mais profundo.
sexta-feira, 13 de março de 2009
Lições de Intolerância
Publicado no sítio do Le Monde Diplomatique/Brasil, o ensaio do autor de Trabalho e cidadania (Cortez, 2000) e, com Antonio Negri, Global: biopoder e luta em uma América Latina globalizada (Record, 2005), sugere interessantes caminhos para desvendar o jogo de forças que incide sobre essa tema que tem polarizado a atenção da Itália e do Brasil nos últimos meses.
Vergonha na cara
Nos últimos 30 anos - período abrangido pela auditoria - a dívida comercial do Equador implicou em pagamentos para os credores internacionais na ordem de US$ 7,13 bilhões. Apesar dessa sangria, a dívida saltou de US$ 115,7 milhões para US$ 4,2 bi, em 2006. Uma multiplicação criminosa que somente agora está sendo enfrentada com a coragem dos que não estão dispostos a traficar com sua soberania.
Quem te viu, quem te vê
Um servidor, de aparência bem humilde, carregava um cartaz ilustrativo do estado de espírito da categoria: "Duciomar, 171", reproduzindo as cores e o layout das peças de campanha do prefeito reeleito. O humor, como se sabe, é a mais eficiente das armas.
A paciência, essa eterna fonte de comodismo e subserviência, parece que está chegando ao fim. Parece, mas ainda é cedo para afirmar que a lua-de-mel entre Duciomar e o eleitorado efetivamente esteja com os dias contados.
Me dá um dinheiro aí
Pagamento antecipado, todo mundo sabe, é a porta de entrada de coisa mais feia. Que a crise, de profundidade e extensão bem maior do que supunham os otimistas de plantão, não sirva de argumento para escancarar ainda mais as suspeitíssimas práticas que tornaram o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) em um celeiro de escândalos.
quinta-feira, 12 de março de 2009
Nos olhos dos outros é refresco
Parece que o patrimônio do proprietário de um vistoso conglomerado de empresas - TVX, AMX, JPX, EBX, entre outras -, cresce na mesma medida em que empresas caem nas malhas de investigações policiais. Foi o caso da MMX (cuja maioria das ações foi recentemente vendida para a Anglo American por R$ 5,4 bilhões), afogada até o pescoço no escândalo de corrupção no vizinho Estado do Amapá, na Operação Toque de Midas da Polícia Federal.
Adivinhem quem é o "Midas" que transforma em ouro tudo que toca?
Caminhando contra o vento
Caminham contra o vento e contra o senso comum. Por isso, são apresentadas como exóticas, anacrônicas. Mas exóticos são os desertos verdes e não as corajosas mulheres camponesas. Essa é opinião de Katarina Peixoto, na Agência Carta Maior.
Sem tapete mágico
O juiz Ali Mazloum é um sujeito de sorte. Em seu caminho teve a felicidade de encontrar, em momentos de muito aperto, a mão amiga de Gilmar Mendes, que o livrou do inquérito da rumorosa Operação Anaconda. Hoje, é Mazloum que retribui o favor ao ilustre amigo. Não está deixando pedra sobre pedra da extinta Operação Satiagraha. Na alça de mira do polêmico juiz paulista estão o delegado federal Protógenes - cuja cabeça está sendo oferecida em uma bandeja de prata - e o juiz Fausto De Sanctis, aquele quem mandou para a cadeia, duas vezes seguidas, o delinquente Daniel Dantas, e que jamais será perdoada por tamanha insolência.
Paulo Henrique Amorim, em seu Conversa Afiada, em novembro do ano passado, já cantava essa pedra. Premonição que se confirmou amargamente nesta semana após o conveniente vazamento de detalhes de um processo que corria, até então, sob segredo de justiça, sobre a mesa do operoso Ali Mazloum. Mera coincidência, não?
quarta-feira, 11 de março de 2009
Se eles querem o meu sangue
De qualquer forma, o factóide patrocinado por ela ontem (10), ao pedir intervenção federal no Pará pelo não-cumprimento de ordens de despejos das centenas de famílias que ocupam propriedades rurais no Pará, não raro localizadas em extensas glebas fruto da mais desavergonhada grilagem, só reforça o sentimento de que não são poucos os que sentem saudades da Curva do S e de sua sanguinária lembrança.
Tudo que é bom dura pouco
Como as alegrias do Carnaval, tudo acabou numa quarta-feira. A edição de hoje revela que as pazes - com o respectivo e indispensável acerto de contas junto ao Departamento Comercial da empresa - foram seladas. E em grande estilo, com direito à tradicional cerimônia de beija-mão na sala do proprietário do jornal. A foto estampada na página 3, onde os convivas não escondem, antes explicitam, seu enorme contentamento pelo pacto que se reata, é prova cabal de que o armísticio foi celebrado.
É isso que explica a matéria, com chamada de primeira página e foto aberta em três colunas, sobre uma fantasiosa "Alça viária municipal", interligando Outeiro a Mosqueiro, no valor indecente de R$ 300 milhões. Ninguém teria imaginado uma empulhação maior que essa. Ninguém mesmo.
O sobrevoo que o prefeito e seus sequazes realizaram por sobre as ilhas do município, apenas serviu para demonstrar que o jornalismo da caixa-registradora está mais vivo do que nunca. Uma verdadeira aula sobre quanto permanecem vivos e acintosamente ofensivos os interesses subalternos que unem os dilapitadores do patrimônio público.
Perigo real e imediato
Nada mais falso. A proposta é o cúmulo da dissimulação. O que está por trás do projeto são interesses inconfessáveis, dos que pretendem inviabilizar as novas demarcações e abrir espaço para o avanço da fronteira da devastação, tendo à frente sojeiros, pecuaristas e mineradores.
A reação da sociedade civil já começou. O respeitado Instituto Socioambiental aponta que o projeto é abertamente inconstitucional.
Mais que isso: é uma das maiores indecências dos últimos tempos e joga na lata do lixo o resquício de respeitabilidade que os dois parlamentares, tidos outrora como progressistas, ainda suponham preservar.
terça-feira, 10 de março de 2009
Devagar, devagar, quase parando
No inferno, com uma boa ideia
Isoladamente, tende a cair no almoxarifado-geral das transações suspeitas. Pior: reduzida a uma simples campanha de marketing, com forte indício de promoção pessoal, envereda por um caminho arriscado e, como começava a ser revelado, bastante nebuloso.
Está escrito: o diabo mora nos detalhes. E é justamente neles, nos detalhes, que excelentes ideias são sacrificadas.
Semeadoras
Com as mãos armadas, mas com a força dos argumentos dos pobres.
Com coragem, espantando o fantasma da submissão.
Contra os mecanismos que fazem de mulheres e homens simples mercadorias, elas - as mulheres camponesas - se levantam.
Lançam ao vento, destemidas, as sementes da rebeldia.
Haverá solo fértil, neste país de ignóbeis cercas, para que floresça finalmente a luminosa safra grávida de esperanças?
V de vingança
As respostas não são tão difíceis de encontrar. Ou melhor, basta procurar quem se beneficia com a transformação do delegado Protógenes Queiroz de xerife anticorrupção em uma espécie de satânico Dr. No, capaz de cometer os mais odiosos atentados contra as liberdades civis. Rebaixa-se o personagem a uma espécie de destrambelhado total, um espião cujos métodos parecem ter saído de algum conto policial de última categoria.
Enquanto isso, muitas taças de cristal devem ter se tocado, tim-tim. Nada como um dia atrás do outro, mas chega de perda de tempo. Time is money e a roda da fortuna - que expande seu domínio sobre quase tudo e quase todos - não pode parar.
segunda-feira, 9 de março de 2009
Quanto mais lento, melhor
O dia da caça
Aparências que enganam
Lançado ao mar pelo DEM, cuja última reação de defenstrar o aliado incômodo vinha sendo postergada há semanas, Sefer ainda mantém apoiadores fiéis, sobretudo no plenário da Assembléia Legislativa, tornando no mínimo incerto o placar de 21 votos necessários para sepultar de vez seu mandato em um muito provável processo de cassação por quebra do decoro parlamentar.
Não foi por falta de aviso
Em função do descalabro crescente, com o iminente colapso dos serviços de saúde, educação, assistência e abastecimento de água na capital, Porto Velho, deve voltar com toda força a pressão do Ministério Público Federal (MPF) visando sustar as licenças concedidas pelo Ibama, aliás sob fortíssima pressão do Planalto, ainda no ano passado.
domingo, 8 de março de 2009
Dialética do olhar pela infinita janela
Eu não sei, olhe, é terrível como chove. Chove o tempo todo, lá fora fechado e cinza, aqui contra a sacada com gotões coalhados e duros que fazem plaf e se esmagam como bofetadas um atrás do outro, que tédio. Agora aparece a gotinha no alto da esquadria da janela, fica tremelicando contra o céu que esmigalha em mil brilhos apagados, vai crescendo e balouça, já vai cair e não cai, não cai ainda. Está segura com todas as unhas, não quer cair e se vê que ela se agarra com os dentes enquanto lhe cresce a barriga, já é uma gotona que pende majestosa e de repente zup, lá vai ela, plaf, desmanchada, nada, uma viscosidadew no mármore.
Mas há as que se suicidam e logo se entregam, brotam na esquadria e de lá mesmo se jogam, parece-me ver a vibração do salto, suas perninhas desperendendo-se e o grito que as embriaga nesse nada do cair e aniquilar-se. Tristes gotas, redondas inocentes gotas. Adeus gotas. Adeus."
Julio Cortázar (1914-1984), escritor argentino. Histórias de cronópios e de famas (Civilização Brasileira, 1998, p. 85)
sábado, 7 de março de 2009
O milagre de Lázaro
Mas tudo isso teria acontecido há mais de 2.000 anos, na distante Betânia, nos arredores de Jerusalém.
Hoje, em abarrotados arquivos-mortos do Pará, talvez só um milagre para trazer à vida determinados inquéritos inconclusos ou simplesmente desaparecidos. É que das entranhas de pelo menos duas dessas peças, lançadas na vala comum do quase esquecimento, podem surgir histórias medonhas envolvendo um ex-deputado, atualmente conselheiro de contas, e outras figuras que permanecem em pleno exercício de mandatos eletivos. Sobre todos paira a suspeita de envolvimento em crimes sexuais contra crianças e adolescentes.
Propina Express
Ai de ti, fariseu hipócrita
Forbes.com
Por isso, não deixou de causar alguma estranheza que tenha sido justamente ele que tenha assumido a defesa de João Carlos de Vasconcelos Carepa, o Caíca, reú em processo que apura violência sexual contra uma menina de 13 anos, e apontado como um cidadão de parcas condições econômicas, o mais humilde dos irmãos da governadora paraense Ana Julia (PT).
O peso dos dias
quinta-feira, 5 de março de 2009
De olhos bem fechados
Dois casos exemplares, emblemáticos e nem um pouco inéditos, revelam a enorme distância que nos separa de um Judiciário permeável aos clamores da sociedade. Aqui e aqui.
O encantador de serpentes
Afinal, o fornido serpentário existente no bloco governista não se formou por geração espontânea. Além de Lula, principal administrador e beneficiário das ações do consórcio PT-PMDB-PTB et caterva, muitos outros foram se especializando nessa estranha arte de alimentar matilhas tão ferozes quanto insaciáveis.
quarta-feira, 4 de março de 2009
Todos os nomes
Pois bem: até parece que Paulo Castelo se entregou, espontaneamente, para cumprir sua pena. Não foi ele, afinal de contas, que foi preso enquanto passeava lépido e faceiro pelas elegantes avenidas de Copacabana, em aberto deboche à sentença de um juiz federal?
Daqui a pouco, pelo andar da carruagem, Castelo pode até receber alguma comenda pelos relevantes serviços prestados à municipalidade de Belém, como fiel escudeiro do prefeito Duciomar Costa (PTB). Antes, porém, talvez devesse ser chamado por um adjetivo mais adequado à sua personalidade criminosa: celerado, do latim sceleratu, e que significa, como ensina o mestre Houaiss, aquele que possui má índole; mau, perverso, facínora e abominável.
A paz como miragem
A ONG Paz Agora, uma das mais ativas na luta contra a colonização de terras palestinas, denunciou a intenção do governo de construir, nos próximos anos, mais 73 mil moradias, das quais 15 mil já estão com as obras autorizadas.
O relatório completo dessa imensa operação de grilagem pode ser lido aqui (em inglês).
Arca do Tesouro
Alerta Geral
Cala boca
Com uma mistura de equilíbrio e firmeza, o Procurador-Geral da República deu o troco. Antônio Fernando de Souza disse que o Ministério Público "não está dormindo", mas que também não age com "estardalhaço". Aduziu que a questão agrária é "muito complexa" e que é preciso garantir o direito de defesa antes de emitir juízo.
Pressionado a responder objetivamente às cobranças do ministro do STF, ele foi direto, segundo reportagem publicada na Folha de São Paulo: "Não faço julgamento de autoridades. Cada um sabe do que diz. Também não é atribuição dele julgar esse caso concreto (a morte de jagunços em fazenda ocupada pelo MST em Pernambuco). Ele deve achar que é. As minhas atribuições eu sei plenamente e me mantenho dentro delas."
Definitivamente, Gilmar Mendes poderia ter dormindo sem essa.
terça-feira, 3 de março de 2009
Chapéu da viagem
E la se foi o poderoso Agaciel Maia. Junto com os anéis, para que ilustres dedos permaneçam muito bem preservados.
Sangra, África
Na terra de Amílcar Cabral, mártir da luta anticolonialista na África portuguesa, o fantasma da guerra civil não para de assustar. É uma hemorragia permanente, que torna ainda mais incerto o destino de uma nação marcada por séculos de violência e depredação promovida pelas metrópoles de ontem e de hoje.
A chance desse país ter futuro - algum futuro - está ligada a uma mudança na correlação de forças no plano mundial. Depende, em grande medida, do apoio solidário que possa receber de seus irmãos da diáspora e de outros tantos que permanecem acalentando os melhores sonhos de redenção da raça humana.
Um ninho de abutres
A debacle financeira não chegou sem aviso. A leitura do instigante artigo de Ignacio Ramonet, no Le Monde Diplomatique, já alertava em dezembro de 2007, para o caráter intrinsicamente deletério da ação dos private equities, os fundos-abutres, "fundos de investimento rapineiros com apetite de ogro, dispondo de capitais colossais".
Deu no que deu, mas deve piorar muito ainda antes que se acendam - se é que surgirão - as primeiras luzes no final deste longo e acidentado túnel.
Estado terminal
Bom dia para os defuntos
Lula deveria nos poupar de seus repetitivos flertes com o senso comum. É óbvio que, muito provavelmente, o que terá ocorrido na fazenda Consulta, no agreste pernambuco, vá mesmo além de uma "legítima defesa". Há sinais de que os sem terra, depois de muitos anos sofrendo com os ataques da pistolagem, tenham resolvido dar o troco, aplicando o mesmo veneno que tantas vezes tiveram de tomar, a violência cega.
Isso tudo não elude, antes revela, as raízes mais profundas desse tipo de conflito sangrento. E é sobre isso, o principal e não o acessório, que se calam os poderes da República. Afinal, a criminosa estrutura de concentração fundiária no Brasil e no Nordeste em particular é a mãe de todas as tragédias. Abrir essa ferida vai expor um país real, secularmente movido por uma máquina insana que produz exclusão e miséria na mesma medida em que engorda uma elite visceralmente estúpida e arrogante.
O silêncio sobre essas e outras tantas mazelas diz tudo. Absolutamente tudo.
segunda-feira, 2 de março de 2009
Bloco de sujos
domingo, 1 de março de 2009
À flor da pele
Vai virar mar
Esta nova barragem atende aos interesses do consórcio Gesai, que reúne mastodontes do setor mineral (Vale, Camargo Corrêa, Billiton Metais, Alcoa Alumínio e Votorantim Cimentos). É claro que tanto oligopólio junto só poderia atrair as bênçãos do Planalto. E foi o que efetivamente ocorreu, quando Brasília deu o sinal verde para o início do intrincado e não menos polêmico processo de autorização de mais esta obra em terras amazônicas.
Uma consequência acessória, mas não menos importante, desta nova barragem foi levantada pela revista Carta Capital. Provavelmente os bilhões de metros cúbicos que formarão o lago de Santa Izabel devem apagar para sempre os vestígios dos cemitérios clandestinos onde estariam depositados os restos mortais de dezenas de guerrilheiros do Araguaia.
Se meu castelo falasse
Na solidão do cárcere, quem sabe, ele não será forçado a fazer um profundo exame de consciência, para chegar a conclusão de que está na hora de por um ponto final em sua carreira de malfeitorias. Quem sabe, então, se não aproveita as circunstâncias para contar tudo que sabe em troca de uma eventual redução de pena. Deleção premiada existe para isso mesmo.
Sempre em má companhia
A decisão anunciada nesta semana de abandonar a Conferência da ONU contra o racismo, em solidariedade ao Estado de Israel, revela que nada ou quase nada mudou quando estão em jogo os interesses estratégicos dos que se julgam donos do mundo.