terça-feira, 31 de março de 2009

Luz por entre frestas e muros

José Saramago vê, do alto de seus 87 anos e de sua inteireza ética e ideológica, o que se passa na cena brasileira. Vê a luta de classes que perpassa de cima abaixo nossa sociedade, mas não deixa jamais de se escandalizar com as iniquidades que aqui são o cimento que mantém tudo de pé.
Ele, ao contrário toma partido e escolhe seu lado: quer compartilhar o sofrimento dos mais pobres, e com eles - os excluídos de sempre, mas não para sempre - quer repartir sua maior riqueza: esse estoque inesgotável da rebeldia e de indestrutível esperança.

Um negócio do Brasil

Ainda este ano desembarca no Brasil um dos maiores bancos do mundo, o Banco da China. Os chineses vem em busca dos juros e dos spreeds mais altos do planeta.

A (nova) favorita

Devagar, como quem não quer nada, a desconhecida Varanda Sistema de Habitação vai abocanhando novos espaços no mercado paraense, sempre em estreita articulação com a administração de Duciomar Costa em Belém.
Depois de surpreender vencendo uma concorrência para a conservação da malha viária da capital, no valor inicial de quase R$ 35 milhões, a empreiteira desponta agora como a escolhida por meio de duas tomadas de preços da Secretaria Municipal de Urbanismo (Seurb) para o gerenciamento das obras de urbanização na Estrada Nova e no Paracuri. Na ponta do lápis, uma bolada de R$ 2.948.222,20.

Por quem os sinos dobram?

Em todos os quartéis,
em todas as praças,
em todas as escolas e universidades,
nos pátios das fábricas,
nas salas refrigeradas dos escritórios,
nos pastos e canaviais,
em hora determinada,
simultânea e ordeiramente,
em meio a um silêncio respeitoso,
ouvir-se-ia a leitura da singela
Ordem do Dia:
31 de março,
45 anos depois da ignomínia,
passa a ser o dia dedicado
aos heróis e mártires
que se entregaram,
generosa e ousadamente,
ao caminho sem volta de quem
resolve levar às últimas e
às primeiras consequências
a luta por preservar,
custe o que custar,
a razão da existência do
ser humano,
antítese de toda barbárie
e empulhação,
de toda mentira festejada e
sacralizada, que se transforma
em cânone dos covardes.
Hoje, 31 de março,
que se celebre a memória
e a presença de quem soube
estar à altura de seu tempo,
artesãos da liberdade e
da igualdade verdadeiras
que ainda estão por vir.



segunda-feira, 30 de março de 2009

Frame a frame, a crônica de um etnocídio

Dos Akuntsu restam apenas seis indivíduos. Um povo inteiro, com seus usos, costumes, língua própria e conhecimento milenar, foi tragado pelo contato - brutal e sangrento - com as frentes de destruição e apropriação do território ao longo de muitas décadas no século XX. Os poucos sobreviventes desse povo indígena isolado foram vítimas de um massacre nos anos 80, na Gleba Corumbiara, em Rondônia, num episódio até hoje envolto em mistério e impunidade.
Com o lançamento do documentário "Corumbiara", de Vicent Carelli, parte dessa história será finalmente contada, dando voz aos sobreviventes.
Para mais informações e o trailer do filme, clique aqui.

Será miragem?

A temporada das promessas mirabolantes recomeçou com velocidade total. Além das 50 mil unidades do pacote de construção do governo federal, eis que ressurge das cinzas a antiga promessa da Vale - sempre ela - construir 30 mil casas, velho e esfarrapado compromisso firmado - de papel passado e tudo - entre a megaempresa e o ex-governador Simâo Jatene, depois de mais uma daquelas encenações de rompimento e de guerra total. A paz foi selada - em termos que talvez jamais sejam revelados -, as partes se acertaram e as casas, cumprindo a regra, foram remetidas a um futuro incerto e duvidoso.
Agora, o governo petista traz o assunto de volta ao anunciar que a Fundação Vale, com recursos do plano "Minha Casa, Minha Vida", promete construir 10 mil unidades a um custo de R$ 150 milhões, além de "sinalizar" seu interesse de construir outras 15 mil casas populares.
A notícia, como se vê, mal consegue ficar de pé e espalha muitas dúvidas. Afinal, qual a credibilidade que a Vale tem para renovar a promessa de anos atrás sem apresentar qualquer justificativa para a rasteira - mais uma - que passou no distinto público daqui? E o que significa utilizar recursos do pacote do governo Lula, quando se esperava justamente que a mineradora abrisse seus cofres numa medida de compensação pelos gigantescos impactos socioambientais que produz no Pará há tantos anos?
Resta torcer para que não se esteja assistindo a repetição de mais um embuste, desta feita de olho no clima pré-eleitoral que se instalou com notável antecedência.

domingo, 29 de março de 2009

Nem precisa de GPS

O expediente do último número da revista Latitude (Ano 3, Nº 5, janeiro de 2009), editada pelo Hangar Centro de Convenções, deixa antever algumas coordenadas que remetem diretamente ao escândalo dos kits escolares.
Recomenda-se, entretanto, parcimônia aos investigadores de plantão: pode ser mera coincidência, um desses muitos e recorrentes acasos que acontecem por aí, a presença, sob as asas protetoras de pessoas íntimas da governadora Ana Júlia, de Bob Menezes (até o final do ano passado diretor da agência Double M), acumulando os cargos de editor responsável e editor de fotografia, e da emergente Gráfica Delta, de cujas máquinas saíram impressos os luxuosos 30 mil exemplares da revista promocional.

sábado, 28 de março de 2009

Dialética do sempre atual ofício dos moedeiros falsos

"Novelas e novelos são duas moedas correntes desta terra: mas tem uma diferença, que as novelas armam-se sobre nada, e os novelos armam-se sobre muito, para tudo ser moeda falsa".


Padre Antônio Viera (1608-1697). Sermões.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Pacto colonial

A bandeira brasileira tremula em terras de Moçambique. Não se trata de uma missão solidária, muito pelo contrário. Duas de nossas maiores empresas, a Vale e a Camargo Corrêa, estão pactuando com o governo moçambicano a inversão de US$ 4,8 bilhões em dois projetos energéticos - uma termelétrica a carvão mineral e uma hidrelétrica.
O capital brasileiro transnacionalizado vai em busca de lucro e de lucro rápido e fácil. Reproduz, na outra margem do Atlântico, os métodos de rapinagem que estiveram - e ainda estão - presentes nas relações do Brasil com as principais metrópoles centrais do capitalismo.
Tantos milhares de MW vão abastecer as indústrias eletrointensivas encravadas nos vizinhos África do Sul e Zimbábue. Para os milhões de pobres de Moçambique - só 14% das famílias têm acesso à luz elétrica - devem sobrar as promessas de um Eldorado que parece adiado para o dia de são nunca.

Pecado original

Atestados de inocência expedidos instantaneamente não devem colar dessa vez. A Operação Castelo de Areia, que investiga as supostas falcatruas da Camargo Corrêa, estão apenas começando. E muita água haverá de rolar por baixo dessa ponte. É esperar para ver.
A simples apresentação de recibos de doação ou de transferência bancária só demonstra o que todo mundo já sabe: a construtora paulista era pródiga e eclética em suas contribuições a políticos e a partidos. A questão-chave, entretanto, reside nas origens suspeitas dos recursos utilizados tanto para as doações "legais" quanto para aquelas realizadas "por fora".
Os papéis e HDs apreendidos pela PF na sede da empresa podem trazer revelações incômodas para muita gente graúda e desvelar os péssimos hábitos de boa parte da elite nacional. É que a Camargo Corrêa, do alto de seus R$ 16 bi de faturamento no ano passado, pode ter se especializado na lavagem de dinheiro de corrupção e no plantio de um vasto laranjal para encobrir os verdadeiros beneficiários da dinheirama. Só o tempo comprovará ou não esta tese.
Por isso, calma, gente. Quem sabe essa investigação não levanta o fio da meada para uma boa - e mais do que urgente e necessária - Operação Mãos Limpas?

quinta-feira, 26 de março de 2009

Tic-Tac

Seria apenas uma questão de tempo para que o PT faça companhia às outras sete legendas - PSDB, PPS, PSB, PDT, DEM, PP e o PMDB - envolvidas no propinoduto da Camargo Corrêa, flagrada com a mão na massa pela Operação Castelo de Areia. A generosidade da empreiteira não estaria limitada às fronteiras partidárias e seria diretamente proporcional aos fundos públicos colocados à sua disposição por governantes diligentes e operosos.
O juiz Fausto De Sanctis, de biografia ilibada, está na pressão, como se diz. Enquanto isso, afamados escritórios de advocacia devem estar saboreando por antecipação uma nova temporada de ganhos extraordinários.

Vida de gado

Em meio a um depoimento banal na CPI da Pedofilia, na tarde de ontem (25), um cidadão humilde revela que participou de um esquema de compra de votos - a R$ 25 reais por cabeça - no bairro do Barreiro, uma das muitas áreas da periferia de Belém. O beneficiário da transação, segundo ele, seria o atual prefeito Duciomar Costa (PTB), que disputou e venceu a eleição em outubro passado.
Cópias das notas taquigráficas da sessão, com trechos devidamente hachurados, poderão em breve pousar nos escaninhos dos procuradores do Ministério Público Federal.

A doação foi legal, diz Flexa

Com pedido de publicação, o Blog recebeu a seguinte nota da assessoria de imprensa do senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), a respeito do post "Causa e efeito":

"Sobre as notícias divulgadas nesta quarta-feira (25), acerca da Operação Castelo de Areia, deflagrada pela Polícia Federal, repassamos os seguintes esclarecimentos:

1 - De fato, foram feitas duas doações ao PSDB do Pará pela Construtora Camargo Correa.
2 - A primeira, em 15 de setembro de 2008, no valor de 100 mil reais. A segunda, de mesmo valor, em 23 de setembro de 2008. As duas doações foram feitas em nome do partido, do qual o senador Flexa Ribeiro é o atual presidente estadual.
3 - As doações foram destinadas a custear as campanhas municipais de 2008. O PSDB esteve na disputa em todos os 143 municípios paraenses, de forma direta ou com alianças partidárias.
4 - A transferência ocorreu entre uma conta no banco do Bradesco e a conta do PSDB paraense, no Banpará.
5 - A doação ocorreu legalmente, de acordo com a Lei 9.504, que trata das regras previstas para as eleições no Brasil.
6 - Todo o valor doado ao PSDB para as campanhas municipais foi devidamente declarado para a Justiça Eleitoral. Portanto, de forma transparente e dentro da legalidade, conforme é a prática do PSDB. "

Modo de usar (e abusar)

A grande mídia não brinca em serviço. Para demonizar seus inimigos - ou melhor, aqueles que ela própria elege como perigosos e potencialmente subversivos - utiliza de todos os meios ao seu dispor. A verdade, sempre a primeira vítima, não costuma frequentar determinados manuais de redação, onde a ideologia carregada de preconceito de classe busca se manter clandestina em meio às brumas da impossível neutralidade.

Causa e efeito

Quase ninguém acredita que seja apenas coincidência o fato da Camargo Corrêa manter uma carteira de contratos milionários com a Eletronorte, feudo do PMDB jaderista, e a suposta bolada de R$ 300 mil remetida aos cofres eleitorais do partido no Pará, por atalhos tortuosos, cujos detalhes começam a vir à tona como resultado da Operação Castelo de Areia, a mais recente investida da Justiça Federal contra os crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e doações ilegais a partidos políticos.
E antes que os tucanos possam abrir o bico e apontar o dedo contra seus adversários do PMDB, eis que caiu também na rede, presenteado com uma parcela de R$ 200 mil, o senador Flexa Ribeiro (PSDB-PA), demonstrando o ecletismo partidário que prevaleceu entre os chamados a partilhar essa ceia para lá de suspeita.

Cangaço high tech

Dezenas de armas de grosso calibre, um arsenal de fazer inveja a qualquer Swat, será apresentada hoje pelo MST à imprensa e às autoridades. O armanento foi encontrado na sede da fazenda Maria Bonita, uma das muitas áreas que integram o gigantesco grilo do Opportunity no Pará, encravada, não por mero acaso, no emblemático município de Eldorado dos Carajás.

quarta-feira, 25 de março de 2009

Tubarão

E a Carmargo Corrêa caiu na rede: pânico no andar de cima.

Pano Verde

São uns jogadores e carregam suas velhas cartas, manchadas e algo amarrotadas, nas respectivas mangas, para que sejam mostradas de relance para intimidar a banda adversária. O ímpeto investigador da bancada tucana na Assembleia, que renasceu na mesma medida em que erodiu a instável aliança do PT com seus sócios do PMDB, pode ser apenas jogo de cena ou virar coisa séria, mas sem dúvida não é o interesse público que orienta a apresentação dessa ou daquela CPI contra o governo de Ana Júlia (PT).
Da mesma forma, soa cada vez mais suspeita a reação pretensamente indignada da bancada governista de que pode, quando e se lhe for conveniente, propor uma devassa no longo reinado do PSDB paraense.
Partindo do suposto de que existe uma boa chance de serem consistentes os indícios de malfeitorias nas gestões de Almir e Jatene, a liderança petista estará, na melhor das hipóteses, incorrendo na mais deslavada prevaricação. Na pior, entretanto, apenas reproduz o surrado hábito de confundir luta política com a prática da chantagem explícita.

O que está ruim sempre pode piorar

Quando a base aliada do governo Lula, hegemônica na Câmara Federal, ofereceu a relatoria da MP 458/2009 para o deputado Asdrubal Bentes (PMDB-PA) era evidente que sabia das consequências deste ato. O resultado, mais do que esperado, agora está aí: um escândalo dentro do escândalo, com a ampliação em doses cavalares dos benefícios para grileiros numa medida que nasceu com a nódoa de privatizar quase 67 milhões de hecatares da Amazônia Legal - o equivalente aos territórios da Alemanha e da Itália, em benefício de quem se apossou de áreas públicas, desmatou desenfreadamente e impôs o modelo de destruição socioambiental vigente.
A análise corajosa dos técnicos do Imazon desvela mais esta fraude realizada sob as bênçãos do Planalto.

terça-feira, 24 de março de 2009

Coração Americano

Sob o impacto avassalador da crise, que não conhece fronteiras, eis que se levanta uma nova - e promissora - onda de resistência popular. Na próxima segunda-feira, 30, pés descalços, punhos cerrados, bandeiras de distintas cores, marcharão do Alasca à Patagônia contra o capital transnacional e seus ditames imperiais.
No Brasil, depois de quase 20 anos, será a primeira manifestação unitária a reunir praticamente todas as centrais sindicais no ensaio geral do que tende a ser o maior e mais combativo 1° de maio dos últimos tempos. Motivos para forjar essa unidade - tão difícil quanto necessária - existem e são cada vez mais evidentes.

A fogueira de Torquemada

Gilmar Mendes, uma espécie de vice-rei do Brasil, não tolera críticas de nenhuma espécie. Julga-se imune a ataques e, para tanto, seu poder de arbítrio não conhece fronteiras. Acaba de determinar à presidência da Câmara de Deputados a suspensão de um programa da TV Câmara que ousara desvelar ao distinto público algumas das nódoas mais evidentes de seu controvertido caráter.
O silêncio precisa ser imediatamente decretado, imposto através do tormento, do degredo ou morte civil, ou da morte natural, isto é, a morte infligida através do uso do veneno, de instrumentos de ferro ou fogo, da forca ou do pelourinho.
Gilmar Mendes, o senhor de tão vastos anéis, está lá, em seu supremo Olimpo, a vigiar. E a zelar, com seu olhar bovino, para que assim seja, amém.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Com dinheiro alheio

O bilionário Eike Batista é mesmo especialista em fazer fortuna, sobretudo quando a catapulta utilizada para multiplicar seus ganhos vem dos eternamente abertos cofres públicos. De uma só penada, ele vai abocanhar empréstimos do BID e do BNDES, tudo para turbinar a construção de termelétricas em Pecém (CE) e em Itaqui (MA), ambas abrigadas no obras na bacia das almas do Plano de Aceleração do Crescimento (PAC).

Homem-bomba

Marcos Valério, o principal operador do chamado escândalo do mensalão, estaria, segundo reportagem da Folha, negociando os benefícios da delação premiada. Nestas alturas, sendo verdadeira essa informação, tucanos e petistas, e seus respectivos satélites dos últimos 10 anos ou mais, devem colocar as barbas de molho. O vento pode virar e um tsunami político ameaça irromper às margens das eleições de 2010.

domingo, 22 de março de 2009

Paciência esgotada

Trabalhadores da Petrobras cruzam os braços a partir da próxima segunda-feira, 23. Serão cinco dias de greve em protesto contra os cortes de direitos, a precarização das condições de trabalho e o desprezo da empresa frente às regras de saúde e segurança. Segundo a Federação Única dos Petroleiros (FUP), nos últimos oito anos foram registradas 165 mortes em acidentes de trabalho. Em 2009, dois petroleiros foram vítimas de acidentes fatais nas plataformas marítimas.
Mais informações na Radioagência Notícias do Planalto.

Dialética dos mistérios da vida

"Ao que, digo ao senhor, pergunto: em sua vida é assim? Na minha, agora é que vejo, as coisas importantes, todas, em caso curto de acaso foi que se conseguiram - pelo pulo fino de sem ver se dar - a sorte momenteira, por cabelo por um fio, um clim de clina de cavalo. Ah, e se não fosse, cada acaso, não tivesse sido, qual é então que teria sido o meu destino seguinte? Coisa vã, que não conforma respostas. Às vezes essa ideia me põe susto."

Guimarães Rosa (1908-1967). Grande Sertão: Veredas

sábado, 21 de março de 2009

Enxugadores de gelo

Veja aqui como Meirelles e sua turma fazem o milagre da multiplicação dos bilhões... nos bolsos dos credores da dívida pública, mais viva e elástica do que nunca.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Os intocáveis

A crise se aprofunda e o governo federal anuncia um corte no custeio e investimento de R$ 21,6 bi no orçamento deste ano. Reajuste salarial de servidores, fruto de anos de luta e consagrados em acordos assinados, e chamada de novos concursados podem cair no ralo, mas Lula e seus ministros não ousam tocar da Bolsa-Banqueiro, o imoral superávit primário de 3,8% do PIB (Produto Interno Bruto), que continuará remunerando rentistas e especuladores.

A mão que afaga é a mesma que apedreja

A solução lulista para o affair Battisti, segundo revelação do O Estado de São Paulo. Ao mesmo tempo em que encena apoiar a posição de seu ministro da Justiça, Tarso Genro, Lula dá a senha para que o STF sacramente o destino do ex-ativista: o fundo de uma cela italiana, como troféu do fascistóide governo Berlusconi.

¿Porqué no te vayas?

O presidente Hugo Chávez cumpre a promessa de nacionalizar o Banco da Venezuela, controlado pelo espanhol Santander. A banca internacional, acostumada a ouvir sempre e em quase todos os lugares, "Yes Sir", vai perceber que os tempos podem mudar em certas latitudes da sempre conturbada América Latina.

quinta-feira, 19 de março de 2009

Um passo adiante. Outras batalhas virão

O STF (Supremo Tribunal Federal) em decisão histórica acaba de decidir pela homologação em terras contínuas da Reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, pondo fim a uma disputa dramática que se estendeu por décadas. O defecho da questão que opunha milhares de índios a meia dúzia de grandes produtores rurais, colocava em risco, caso houvesse uma maioria de votos contra os interesses dos povos indígenas, o presente e o futuro das homologações de dezenas de outras áreas espalhadas por todo o país.
A partir de agora será retomado o processo de retirada dos não-índios da reserva, que havia sido interrompido pelo próprio STF no começo do ano passado.
Apesar do placar folgado - 10 votos a favor da demarcação contínua contra apenas 1 pela homologação em ilhas -, ao final foram incorporadas 19 ressalvas constantes do voto do ministro Menezes Direito, que pela amplitude e complexidade podem se constituir em embaraços para a correta solução dos conflitos envolvendo o reconhecimento e garantia dos direitos indígenas, muito particularmente em relação à demarcação de suas terras ancestrais. Uma visão crítica acerca dessas restrições pode ser lida aqui.

A dor que não tem cura

Quanto tempo é preciso para curar o sofrimento de ter tido um parente tragado pela onda do terrorismo de Estado que ensanguentou o país nos anos de chumbo da ditadura militar?
Com a palavra, Lucia Alves Vieira Caldas, filha do desaparecido político Rubens Alves. Aqui, na edição de hoje do Globo.

Pernas curtas

Que o prefeito Duciomar arrume outra desculpa para explicar o caos que impera na saúde da capital. Sua afirmação de que "o cenário preocupante começou a se desenhar no apagar das luzes da gestão do ex-prefeito Edmilson Rodrigues, com a habilitação do município na gestão plena do SUS", é uma rematada falsificação dos fatos. Desde o início de 1997, portanto há 12 anos, Belém já é gestora plena do sistema de saúde.
O prefeito parece estar confundindo propositalmente a descentralização ao município de seis unidades de saúde, então sob a gestão do Estado, ocorrida em 2003, depois de um longo e desgastante cabo de guerra com o governo tucano que insistia em não repassar à capital o que lhe era de direito.
Aproveitando seu repentino reaparecimento na cidade, Duciomar precisa se preparar para responder muitas perguntas e assumir suas responsabilidades.
Afinal, quem pariu Mateus que o embale.

O último bastião

Os Estados Unidos isolados na América. Totalmente sós no bloqueio à Cuba, herança maldida de uma guerra cujas raízes - reais ou fictícias - estão perdidas nas brumas dos conflitos bipolares da segunda metade do século passado, Washington não conta com mais nenhum país que lhe faça companhia em seu odioso cerco econômico, militar e diplomático ao povo cubano. Os dois últimos países latino-americanos que ainda inistiam em não reconhecer o governo de Havana deram a mão à palmatória: Costa Rica e El Salvador, este sob o impacto da vitória eleitoral da FMLN, anunciaram que passarão a ter relações normais e estáveis com a ilha caribenha.
Barack Obama terá, de agora em diante, mais um teste para sua vacilante e gradualista política de abertura com seu incômodo vizinho. Será uma ótima oportunidade para se aferir até onde vai o poder do lobby mafioso da Little Havana na definição dos rumos da diplomacia estadunidense.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Pintados para a guerra

O governo Lula está roendo a corda do acordo de reposição salarial dos servidores federais. Uma conta de R$ 29 bilhões neste ano.
Diante do calote iminente, os barnabés estão em pé de guerra.

O mapa do tesouro

Depois de 15 dias dedicados a demonizar o delegado Protógenes Queiroz, apresentado como um enlouquecido caçador de fantasmas, eis que o espectrômetro da grande impresa voltou, mesmo que momentaneamente, para o foco principal da Operação Satiagraha: as suspeitíssimas operações do banqueiro Daniel Dantas. A Folha de São Paulo revela que entre os papéis apreendidos no apartamento do proprietário do banco Opportunity, em 8 de julho do ano passado, desponta uma folha dedicada às "contribuições ao partido". Uma legenda não identificada teria recebido - por "fora", é óbvio - a bagatela de R$ 30,4 milhões.
Se um dia forem identificados os beneficiários das planilhas de Dantas, batizadas com enorme sinceridade de "extratos", "contribuições ao clube" e "contribuições ao partido", talvez seja revelada a extensão e profundidade da enorme teia de apoiadores, em todas as instituições e de todos os matizes, que o bilionário pacientemente teceu ao longo de sua meteórica carreira. É justamente essa reserva estratégica que parece ter sido acionada para construir a enorme cortina de fumaça que se dedica a demolir, um a um, os que ousaram enfrentar este senhor de gados e de gentes.

Afinidades Eletivas

O que têm em comum o deputado Luiz Afonso Sefer (eleito sucessivamente pelo PFL, agora DEM, e desligado recentemente da legenda) e o conselheiro do Tribunal de Contas do Pará e ex-deputado estadual (do DEM, não por mera coincidência), Cipriano Sabino?
Quem responder que ambos são acusados de crimes sexuais contra crianças e adolescentes, a face pública de um escândalo tão medonho quanto emblemático do estágio de adiantada putrefação de parte da política paraense, terá acertado, mas apenas parcialmente.
Quem, por outro lado, lembrar que eles - Sefer e Sabino - têm o mesmo DNA político, oriundos que são de partidos fisiológicos e entranhadamente de direita, estará também mirando o alvo certo.
Mas, não termina por aí o caráter univitelino entre os dois suspeitos de crime de pedofilia. Tanto um como outro estiveram entre os primeiros a abandonar a nau tucana e passar, de mala e cuia, para a vistosa caravela do governo petista liderado por Ana Julia. Não foi por outro motivo que Sefer chegou a ser sondado para encabeçar a frustrada chapa da governadora à presidência da Assembleia Legislativa, ainda há pouco, em dezembro passado. E Sabino, um arrivista de carteirinha, acabou eleito para uma vaga vitalícia no Tribunal de Contas com expressiva votação da base aliada ao Palácio dos Despachos.
Agora, a dupla de políticos enrolados pode ter o mesmo destino: a cassação e a perda dos cargos públicos que (ainda) ocupam.

terça-feira, 17 de março de 2009

A Copa é nossa!

O Brasil no topo... do desmatamento mundial. Entre 2000 e 2005, 42% de todas as florestas derrubas no planeta estavam localizadas em solo brasileiro. A Amazônia, sangrada e espoliada, está no epicentro dessa hecatombe patrocinada pela insaciável sede de lucro. Os dados são Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO).

Sobre o leite derramado

Obama está indignado. Sua irritação tem alvo certo: os executivos da gigante AIG, maior seguradora estadunidense e uma das maiores do mundo, que ensaiam abocanhar dividendos de mais de US$ 160 milhões. Para o novo inquilino da Casa Branco é um "ultraje ao contribuinte americano" a distribuição de bônus por uma empresa que recebeu US$ 170 bilhões para não ir para o buraco e levar junto com ela boa parte do sistema financeiro do país e contaminar outros Tiranossauros Rex da economia globalizada.
Ora, o governo norte-americano já controla quase 80% das ações da AIG. Mais do que lançar palavras ao vento deveria agir e acabar com esta farra indecorosa. É um excelente teste para quem pregou a esperança na mudança, mas parece não está disposto a pagar o preço para transformar esse slogan em realidade.

Abram-se as portas do inferno

O Pronto-Socorro Municipal da 14 de Março, no centro de Belém, teve, mais uma vez, suas entranhas expostas em rede nacional. Matéria exibida há pouco no Bom Dia Brasil, da TV Globo, mostrou o drama sem-fim de pacientes morrento à mingua, jogados em corredores infectos.
O governo Duciomar Costa (PTB), autor intelectual e material deste crime continuado, prefere o silêncio. Deve estar utilizando o direito constitucional de permanecer calado para não produzir provas contra si mesmo.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Na marca do pênalti

A quarta-feira, 18, entrará para a história. O STF (Supremo Tribunal Federal), salvo uma reviravolta de última hora, pouco provável mas não de todo impossível, deverá ratificar a decisão antecipada em dezembro - por 8 dos 11 votos - de ratificar a homologação contínua da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima.
Com um Gilmar Mendes na presidência, convém não relaxar. Milhares de indígenas vão marcar presença em Brasília.

Não vale a pena ver de novo

Até quando os grandes projetos vão semear destruição socioambiental na Amazônia? Pergunta impertinente e mais do que necessária. Basta saber que a polêmica usina termelétrica, movida a carvão mineral, que a Vale pretende construir em Barcarena, a 87 quilômetros de Belém, vai contratar na fase de construção 3.500 operários, gerando a impressão - só a impressão - de que mais uma onda de "progresso e desenvolvimento" estaria por vir. O problema é que depois de concluída, a usina vai precisar de apenas 120 trabalhadores para ser operada. Mas aí, como num filme tantas vezes reprisado, os bolsões de miséria e de desesperança em torno do complexo industrial do alumínio já terão sido engordados inapelavelmente.
A ferida permanecerá aberta e sangrando. As tímidas compensações prometidas serão como band-aids para tentar curar a fratura exposta.

Poço sem fundo

A CPI da Dívida, proposta na Câmara Federal pelo deputado psolista Ivan Valente (SP) ainda permanece na geladeira. Michel Temer e os líderes das grandes legendas não parecem muito interessados em abrir essa caixa preta. Por exemplo, querem que permaneça desconhecido um dado intrigante: a dívida externa brasileira, entre 1978 e 2007, saltou de US$ 52,8 bilhões para US$ 243 bilhões, mesmo com o país tendo sangrado, em transferências diretas para os credores internacionais, em US$ 262 bilhões a mais do que recebemos em empréstimos. Ou seja: a fatura já estaria liquidada, mas a história não é bem assim. Continuamos devendo e ainda por cima, na última década, explodiu a dívida interna - R$ 1,5 trilhão - alimentada pela taxa de juros mais obscena do planeta.

domingo, 15 de março de 2009

De rodillas

Eles não tiveram tempo. Mortos enquanto dormiam, 23 pessoas - entre guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e quatro civis (um equatoriano e três mexicanos) não souberam que tudo em redor daquele acampamento a dois quilômetros da fronteira colombiana, em território "soberano" do Equador, explodiria em mil pedaços exatamente às 00h25 do dia 1° de março do ano passado. Longe dali, em confortáveis salas do Pentágono, entretanto, o plano era acompanhado com a máxima atenção. A ordem de morte foi cumprida com exatidão: Raúl Reys, número dois no comando das forças insurgentes estava morto e seus restos seriam exibidos, como um troféu macabro, pelos militares colombianos que desembarcaram após quatro helicópteros Blackhawk, made in USA, terem despejado suas "bombas inteligentes".
Depois da agressão perpetrada pelo governo Uribe abriu-se a mais grave crise diplomática entre dois países sul-americanos das últimas décadas. O continente esteve à beira do conflito armado, com a justa reação do Equador e de seu mais forte aliado, a Venezuela de Hugo Chávez.
Pois bem. Passado pouco mais de um ano - como o tempo voa - eis que o ministro Nelson Jobim (Defesa) recoloca a questão da "cooperação militar" entre o Brasil e a Colômbia na tarefa comum de combater - "a tiros", no liguajar belicista do ministro de Lula - supostas infiltrações de militantes das Farc em território brasileiro. Para Jobim seria oportuno um acordo que possibilitasse - de forma recíproca - que aeronaves militares dos dois países tivessem autorização para "flexibilizar" as fronteiras numa faixa de 50 quilômetros, como forma de melhor monitorar as supostas movimentações da guerrilha.
É um escândalo que uma declaração criminosa de uma alta autoridade nacional tenha passado praticamente sem registro pela imprensa, perdida entre tantas baboseiras que dirigentes governamentais despejam diariamente. Mas, ao contrário do que se possa achar, trata-se de um fato gravíssimo, uma declarada intenção de perpetrar um crime de lesa Pátria que não poderia ficar impune.
O interessante é que Nelson Jobim, um quadro da direita com extensa folha de serviços prestados às classes dominantes em todas as esferas de poder, não perde nenhuma oportunidade para atacar a existência de terras indígenas nas regiões de fronteira, apontadas por ele como uma "ameaça à soberania nacional". O perigo, como se sabe, está justamente alojado nos mais elevados escalões, sempre bem dispostos a prestar homenagem, convenientemente de joelhos, aos representantes da metrópole, que hoje falam inglês e distribuem seus regalos em imaculadas notas de dólar.

Dialética da visão e de seu contrário

"(...)

A vantagem de que gozavam estes cegos era o que se poderia chamar de ilusão da luz. Na verdade, tanto lhes fazia que fosse de dia ou de noite, crepúsculo da manhã ou crepúsculo da tarde, silente madrugada ou rumorosa hora meridiana, os cegos sempre estavam rodeados duma resplandecente brancura, como o sol dentro de um nevoeiro. Para estes, a cegueira não era viver banalmente rodeado de trevas, mas no interior de uma glória luminosa."

José Saramago. Ensaio sobre a cegueira (Companhia das Letras, 2008, 50a reimpressão, p. 94).

sábado, 14 de março de 2009

Submarino

No pacote habitacional que o Planalto promete para os próximos dias, com a meta de construir 1 milhão de casas em dois anos, está embutida uma medida perversa: a utilização de recursos do FGTS - um fundo compulsório com R$ 6,7 bilhões em caixa - para o financiamento de imóveis de R$ 500 mil, ou seja, subsídio com recursos do trabalhador para sustentar o mercado imobiliário voltado para a classe média. Uma armadilha, portanto.
Já as famílias com renda de até três mínimos, faixa que concentra cerca de 90% do déficit habitacional, podem colocar as barbas de molho. A promessa do megaplano de incentivo à construção civil pode se transformar em miragem eleitoral. A conferir.

T, de terrível

Na próxima quarta-feira, 18, o Brasil pode se tornar o primeiro país do mundo a autorizar a comercialização de uma variedade transgênica de arroz. Tudo dependerá dos conselheiros da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CNTBio), cujo histórico de decisões polêmicas e sempre alinhadas com os interesses das grandes corporações do setor de alimentos não permite qualquer sentimento de otimismo. O Greenpeace lançou o alerta sobre a forma como tem sido imposto no Brasil, ao arrepio da lei, os interesses da turma da Monsanto, Bayer, DuPont-Pioneer e a Syngenta, líderes mundiais na produção de sementes e alimentos geneticamente modificados.

Um afilhado bem trapalhão

Sob fogo do sindicato dos auditores fiscais do trabalho e agora também da Comissão Nacional para a Erradicação do Trabalho Escravo (Conatrae), a vida do (re)nomeado superintendente regional do Trabalho no Pará, Fernando Coimbra, não vai ser moleza. O filme dele queimou definitivamente em duas oportunidades: quando desancou a ação do Ibama em Tailândia, assumindo a defesa dos madeireiros e devastadores; e no rumoroso Caso Pagrisa, quando visitou a fazenda envolvida em denúncias de trabalho escravo integrando uma comitiva de empresários. Esse foi o estopim da mais grave crise no setor de fiscalização desde a criação do Grupo Móvel em 1995.
O ministro Carlos Luppi (Trabalho), também presidente nacional do PDT, aposta na tese de que o tempo apaga tudo. Mas nem sempre isso é verdadeiro, A permanência do afilhado político do deputado Giovanni Queiróz (PDT-PA) tem tudo para ser uma fonte permanente de dor de cabeça. Além de ser um claro sinal de que entre as intenções e os gestos do ministro de Lula existe um abismo cada vez mais profundo.

sexta-feira, 13 de março de 2009

Lições de Intolerância

Para o doutor em História Social e professor da UFRJ, Giuseppe Cocco, a campanha sisetmática contra o refúgio do ex-ativista italiano Cesare Batistti é algo bem mais profundo e de alcance muito superior ao que pode parecer a princípio. A matriz conservadora e de direita que está subjacente à intensa movimentação política e midiática mira em Battisti, mas quer mesmo acertar os movimentos sociais brasileiros. A intolerância, quando cristalizada como pensamento hegemônico, costuma cobrar um preço elevadíssimo, despejando toda sua carga de ódio e preconceito contra os mais fracos, e ontem e de hoje.
Publicado no sítio do Le Monde Diplomatique/Brasil, o ensaio do autor de Trabalho e cidadania (Cortez, 2000) e, com Antonio Negri, Global: biopoder e luta em uma América Latina globalizada (Record, 2005), sugere interessantes caminhos para desvendar o jogo de forças que incide sobre essa tema que tem polarizado a atenção da Itália e do Brasil nos últimos meses.

Vergonha na cara

Pela segunda vez em poucos meses o governo de Rafael Correa suspendeu o pagamento de US$ 135 milhões referentes a parcelas vencidas da dívida externa do país. "Imoral e ilegítima", segundo a auditoria realizada no ano passado, a dívida equatoriana está longe de ser uma exceção. É regra geral no processo de transfusão de bilhões de dólares para abastecer os cofres dos bancos e dos especuladores internacionais.
Nos últimos 30 anos - período abrangido pela auditoria - a dívida comercial do Equador implicou em pagamentos para os credores internacionais na ordem de US$ 7,13 bilhões. Apesar dessa sangria, a dívida saltou de US$ 115,7 milhões para US$ 4,2 bi, em 2006. Uma multiplicação criminosa que somente agora está sendo enfrentada com a coragem dos que não estão dispostos a traficar com sua soberania.

Quem te viu, quem te vê

Centenas de servidores municipais de Belém fazem neste momento uma passeata de protesto pelas ruas centrais da capital. O ato faz parte do dia de paralisação, convocado por uma heterogênea frente de sindicatos, um sinal de que a temperatura vai subir bastante se o prefeito Duciomar Costa (PTB) continuar com sua conhecida cara de paisagem diante da grave situação salarial do funcionalismo.
Um servidor, de aparência bem humilde, carregava um cartaz ilustrativo do estado de espírito da categoria: "Duciomar, 171", reproduzindo as cores e o layout das peças de campanha do prefeito reeleito. O humor, como se sabe, é a mais eficiente das armas.
A paciência, essa eterna fonte de comodismo e subserviência, parece que está chegando ao fim. Parece, mas ainda é cedo para afirmar que a lua-de-mel entre Duciomar e o eleitorado efetivamente esteja com os dias contados.

Me dá um dinheiro aí

As empreiteiras - coitadinhas - estão de pires na mão. Alegando a escassez de crédito, Associação Nacional de Empresas de Obras Rodoviárias (Aneor) está pedindo ao governo federal a antecipação de pelo menos 20% do valor das faturas para dar um fôlego às empresas. Detalhe: querem receber essa bolada antes de asfaltar ou recuperar um único quilômetro de estrada.
Pagamento antecipado, todo mundo sabe, é a porta de entrada de coisa mais feia. Que a crise, de profundidade e extensão bem maior do que supunham os otimistas de plantão, não sirva de argumento para escancarar ainda mais as suspeitíssimas práticas que tornaram o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transporte (DNIT) em um celeiro de escândalos.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Nos olhos dos outros é refresco

Eike Batista está surfando por sobre a crise. Segundo a revista Forbes, que acaba e atualizar a lista dos bilionários em todo o mundo, ele é o mais rico do Brasil e o 61º em escala planetária. Ao contrário de quase todos os seus colegas de fortuna, como Bill Gates e Carlos Slim, que amargaram pesados prejuízos no furacão da crise no ano passado, Batista registrou um salto de quase US$ 1 bi, entesourando reluzentes US$ 7,5 bi.
Parece que o patrimônio do proprietário de um vistoso conglomerado de empresas - TVX, AMX, JPX, EBX, entre outras -, cresce na mesma medida em que empresas caem nas malhas de investigações policiais. Foi o caso da MMX (cuja maioria das ações foi recentemente vendida para a Anglo American por R$ 5,4 bilhões), afogada até o pescoço no escândalo de corrupção no vizinho Estado do Amapá, na Operação Toque de Midas da Polícia Federal.
Adivinhem quem é o "Midas" que transforma em ouro tudo que toca?

Caminhando contra o vento

As mulheres da Via Campesina, com seus rostos cobertos, desvelam a face cruel de um modelo que semeia a morte. Não somente aquela morte que marca desde o ventre os filhos e filhas dos pobres da terra - morte severina. Mas também a morte coletiva, de seres humanos e da mãe natureza, sangrada e envenenada, gota a gota, todos os dias nestes campos cada vez mais sob o domínio das grandes e insanas corporações.
Caminham contra o vento e contra o senso comum. Por isso, são apresentadas como exóticas, anacrônicas. Mas exóticos são os desertos verdes e não as corajosas mulheres camponesas. Essa é opinião de Katarina Peixoto, na Agência Carta Maior.

Sem tapete mágico

Ele se chama Ali e não anda montado num tapete mágico. Mas, ainda assim, seu passado, algo nebuloso e cercado de zonas cinzentas, pode sim remeter a 40 ladrões. Talvez mais, nunca se sabe.
O juiz Ali Mazloum é um sujeito de sorte. Em seu caminho teve a felicidade de encontrar, em momentos de muito aperto, a mão amiga de Gilmar Mendes, que o livrou do inquérito da rumorosa Operação Anaconda. Hoje, é Mazloum que retribui o favor ao ilustre amigo. Não está deixando pedra sobre pedra da extinta Operação Satiagraha. Na alça de mira do polêmico juiz paulista estão o delegado federal Protógenes - cuja cabeça está sendo oferecida em uma bandeja de prata - e o juiz Fausto De Sanctis, aquele quem mandou para a cadeia, duas vezes seguidas, o delinquente Daniel Dantas, e que jamais será perdoada por tamanha insolência.
Paulo Henrique Amorim, em seu Conversa Afiada, em novembro do ano passado, já cantava essa pedra. Premonição que se confirmou amargamente nesta semana após o conveniente vazamento de detalhes de um processo que corria, até então, sob segredo de justiça, sobre a mesa do operoso Ali Mazloum. Mera coincidência, não?

quarta-feira, 11 de março de 2009

Se eles querem o meu sangue

Não é verdade que a senadora Kátia Abreu (DEM-TO), também presidente da Condeferação Nacional da Agricultura (CNA), seja fã da Família Adams, com predileção muito especial pela personagem Mortícia.
De qualquer forma, o factóide patrocinado por ela ontem (10), ao pedir intervenção federal no Pará pelo não-cumprimento de ordens de despejos das centenas de famílias que ocupam propriedades rurais no Pará, não raro localizadas em extensas glebas fruto da mais desavergonhada grilagem, só reforça o sentimento de que não são poucos os que sentem saudades da Curva do S e de sua sanguinária lembrança.

Tudo que é bom dura pouco

Não durou nem uma semana o surto de jornalismo que havia acometido a redação de O Liberal. Há dias, para espanto de muitos, o jornal da família Maiorana realizava uma cobertura estranhamente isenta e crítica em relação à ruinosa administração de Duciomar Costa (PTB) na capital paraense. Matérias sobre a carnificina diária nos Prontos-Socorros e unidades de saúde, o abandono das áreas periféricas, o descalabro da limpeza urbana, enfim, as faces de uma cidade abandonada e doente, começaram a ocupar crescente espaço no noticiário, com tal intensidade que sinalizava - erroneamente, como agora se vê - para o término da longa "imunidade" que a Prefeitura, nestes últimos cinco anos, sempre gozou.
Como as alegrias do Carnaval, tudo acabou numa quarta-feira. A edição de hoje revela que as pazes - com o respectivo e indispensável acerto de contas junto ao Departamento Comercial da empresa - foram seladas. E em grande estilo, com direito à tradicional cerimônia de beija-mão na sala do proprietário do jornal. A foto estampada na página 3, onde os convivas não escondem, antes explicitam, seu enorme contentamento pelo pacto que se reata, é prova cabal de que o armísticio foi celebrado.
É isso que explica a matéria, com chamada de primeira página e foto aberta em três colunas, sobre uma fantasiosa "Alça viária municipal", interligando Outeiro a Mosqueiro, no valor indecente de R$ 300 milhões. Ninguém teria imaginado uma empulhação maior que essa. Ninguém mesmo.
O sobrevoo que o prefeito e seus sequazes realizaram por sobre as ilhas do município, apenas serviu para demonstrar que o jornalismo da caixa-registradora está mais vivo do que nunca. Uma verdadeira aula sobre quanto permanecem vivos e acintosamente ofensivos os interesses subalternos que unem os dilapitadores do patrimônio público.

Perigo real e imediato

Um projeto de lei, de autoria (formal, pelo menos) dos deputados Ibsen Pinheiro (PMDB-RS) e Aldo Rebelo (PCdoB-SP) pretende transferir ao Congresso Nacional a competência para a criação de Terras Indígenas. A dupla, devidamente fantasiada de inocentes cordeirinhos, justifica que assim se dará "maior transferência ao processo de demarcação", afastando polêmicas como a da interminável disputa pelas terras na Raposa Serra do Sol, em Roraima.
Nada mais falso. A proposta é o cúmulo da dissimulação. O que está por trás do projeto são interesses inconfessáveis, dos que pretendem inviabilizar as novas demarcações e abrir espaço para o avanço da fronteira da devastação, tendo à frente sojeiros, pecuaristas e mineradores.
A reação da sociedade civil já começou. O respeitado Instituto Socioambiental aponta que o projeto é abertamente inconstitucional.
Mais que isso: é uma das maiores indecências dos últimos tempos e joga na lata do lixo o resquício de respeitabilidade que os dois parlamentares, tidos outrora como progressistas, ainda suponham preservar.

terça-feira, 10 de março de 2009

Devagar, devagar, quase parando

O Brasil está parando. A indústria projeta crescimento zero para 2009 e manda pendurar a conta no lado mais fraco. Adivinhem quem vai pagar essa conta?

No inferno, com uma boa ideia

A distribuição de kit escolar (uniforme, mochila, caderneta) pode e deve ser visto como uma medida positiva. Um direito, acima de tudo, para aqueles privados de quase todos os direitos. Mas deve fazer parte de uma política mais ampla de melhoria das condições gerais de ensino e integrar o conjunto de ações afirmativas para o reforço da educação pública.
Isoladamente, tende a cair no almoxarifado-geral das transações suspeitas. Pior: reduzida a uma simples campanha de marketing, com forte indício de promoção pessoal, envereda por um caminho arriscado e, como começava a ser revelado, bastante nebuloso.
Está escrito: o diabo mora nos detalhes. E é justamente neles, nos detalhes, que excelentes ideias são sacrificadas.

Semeadoras

Com os rostos cobertos, mas não de vergonha.
Com as mãos armadas, mas com a força dos argumentos dos pobres.
Com coragem, espantando o fantasma da submissão.
Contra os mecanismos que fazem de mulheres e homens simples mercadorias, elas - as mulheres camponesas -
se levantam.
Lançam ao vento, destemidas, as sementes da rebeldia.
Haverá solo fértil, neste país de ignóbeis cercas, para que floresça finalmente a luminosa safra grávida de esperanças?

V de vingança

A Veja está de parabéns. Mais uma vez conseguiu impor sua agenda, contaminando o noticiário com a pauta que interessava. Os demais meios, sem qualquer constrangimento, seguem os caminhos abertos por matérias de encomenda. Mas de que interesses e de que encomendas exatamente se está falando?
As respostas não são tão difíceis de encontrar. Ou melhor, basta procurar quem se beneficia com a transformação do delegado Protógenes Queiroz de xerife anticorrupção em uma espécie de satânico Dr. No, capaz de cometer os mais odiosos atentados contra as liberdades civis. Rebaixa-se o personagem a uma espécie de destrambelhado total, um espião cujos métodos parecem ter saído de algum conto policial de última categoria.
Enquanto isso, muitas taças de cristal devem ter se tocado, tim-tim. Nada como um dia atrás do outro, mas chega de perda de tempo. Time is money e a roda da fortuna - que expande seu domínio sobre quase tudo e quase todos - não pode parar.

segunda-feira, 9 de março de 2009

Quanto mais lento, melhor

O cronograma de implantação da termelétricas está atrasado. O bilionário investimento do governo federal numa das mais sujas formas de energia enfrenta os percalços de sempre. O desrespeito às normas socioambientais continua sendo o principal entrave a tirar o sono dos que imaginam poder atropelar a lei e o bom senso.

O dia da caça

A norte-americana Cargill, a maior empresa mundial no ramo de alimentos, está em apuros na Venezuela. Por ordem do presidente Hugo Chávez, a multinacional será processada por "violação flagrante" da economia popular.

Aparências que enganam

Ainda é cedo, muito cedo, para cravar na testa do deputado Luiz Afonso Sefer (eleito pelo DEM e, agora, sem partido) a pecha do isolamento total. Sua rede de amigos e apoiadores, ostensivos ou velados, está longe de virar pó, mesmo diante das evidências que apontam o parlamentar como autor de um crime bárbaro.
Lançado ao mar pelo DEM, cuja última reação de defenstrar o aliado incômodo vinha sendo postergada há semanas, Sefer ainda mantém apoiadores fiéis, sobretudo no plenário da Assembléia Legislativa, tornando no mínimo incerto o placar de 21 votos necessários para sepultar de vez seu mandato em um muito provável processo de cassação por quebra do decoro parlamentar.

Não foi por falta de aviso

Ampla matéria da Folha de São Paulo deste domingo (8) revela o enorme impacto socioambiental do início da construção das mega-usinas no rio Madeira, obras do PAC orçadas em R$ 21 bilhões. Em poucos meses, já está claro que as tais medidas mitigadoras dos efeitos negativos dos empreendimentos podem se tornar um gigantesco embuste. Os consórcios construtores, embalados por bilhões fornecidos pelo BNDES, fazem letra morta dos compromissos assumidos, apostando na política da tragédia consumada.
Em função do descalabro crescente, com o iminente colapso dos serviços de saúde, educação, assistência e abastecimento de água na capital, Porto Velho, deve voltar com toda força a pressão do Ministério Público Federal (MPF) visando sustar as licenças concedidas pelo Ibama, aliás sob fortíssima pressão do Planalto, ainda no ano passado.

domingo, 8 de março de 2009

Dialética do olhar pela infinita janela

"O esmagamento das gotas

Eu não sei, olhe, é terrível como chove. Chove o tempo todo, lá fora fechado e cinza, aqui contra a sacada com gotões coalhados e duros que fazem plaf e se esmagam como bofetadas um atrás do outro, que tédio. Agora aparece a gotinha no alto da esquadria da janela, fica tremelicando contra o céu que esmigalha em mil brilhos apagados, vai crescendo e balouça, já vai cair e não cai, não cai ainda. Está segura com todas as unhas, não quer cair e se vê que ela se agarra com os dentes enquanto lhe cresce a barriga, já é uma gotona que pende majestosa e de repente zup, lá vai ela, plaf, desmanchada, nada, uma viscosidadew no mármore.
Mas há as que se suicidam e logo se entregam, brotam na esquadria e de lá mesmo se jogam, parece-me ver a vibração do salto, suas perninhas desperendendo-se e o grito que as embriaga nesse nada do cair e aniquilar-se. Tristes gotas, redondas inocentes gotas. Adeus gotas. Adeus."


Julio Cortázar (1914-1984), escritor argentino. Histórias de cronópios e de famas (Civilização Brasileira, 1998, p. 85)

sábado, 7 de março de 2009

O milagre de Lázaro

Na versão bíblica, Lázaro ressuscitou após quatro dias de morto. Mortinho da Silva, diante do chamado de Jesus, ele levantou da tumba e andou, para espanto de uma multidão assombrada.
Mas tudo isso teria acontecido há mais de 2.000 anos, na distante Betânia, nos arredores de Jerusalém.
Hoje, em abarrotados arquivos-mortos do Pará, talvez só um milagre para trazer à vida determinados inquéritos inconclusos ou simplesmente desaparecidos. É que das entranhas de pelo menos duas dessas peças, lançadas na vala comum do quase esquecimento, podem surgir histórias medonhas envolvendo um ex-deputado, atualmente conselheiro de contas, e outras figuras que permanecem em pleno exercício de mandatos eletivos. Sobre todos paira a suspeita de envolvimento em crimes sexuais contra crianças e adolescentes.

Propina Express

O furo é do Congresso em Foco. Uma operação da Polícia Federal, a Boi Barrica, realizada em 2008, flagrou um ex-assessor do Senado carregando uma mala muito suspeita, num voo entre Brasília e São Paulo, no último 19 de julho. O estafeta de luxo é Marco Antônio Bogéa, que acabou indiciado como integrante de uma organização criminosa que a PF afirma ser liderada pelo empresário Fernando Sarney, filho do todo-poderoso José Sarney. Foi para a mansão de Fernando, no elegante bairro dos Jardins, na capital paulista, que Bogéa levou a misteriosa mala, cujo conteúdo remete uma intricada rede de corrupção que atua no setor elétrico brasileiro, coincidentemente controlado, há muitos anos, pelos insaciáveis políticos do PMDB.

Ai de ti, fariseu hipócrita

Coube a um bispo, Dom Xavier Gilles de Maupeou d’Ableiges, presidente nacional da Comissão Pastoral da Terra (CPT), a coragem de proferir, até agora, a mais demolidora de todas as críticas que o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, tem recebido desde quando, do alto de sua contumaz arrogância, resolveu liderar uma cruzada pela criminalização dos movimentos de trabalhadores que lutam pela Reforma Agrária no Brasil. A nota pública pode ser lida no site oficial da CPT.

Forbes.com

Américo Leal, um dos criminalistas mais bem sucedidos do Pará, fez fama e fortuna defendendo réus em processos polêmicos, não raro envolvidos em crimes hediondos. Foi assim, por exemplo, que alcançou notoriedade por defender, há alguns anos, os oficiais da PM envolvidos no massacre de Eldorado de Carajás. Seus honorários, tidos como milionários, são proporcionais às elevadíssimas penas que seus clientes estão sob risco de receber, em julgamentos sempre cercados de intensa polêmica.
Por isso, não deixou de causar alguma estranheza que tenha sido justamente ele que tenha assumido a defesa de João Carlos de Vasconcelos Carepa, o Caíca, reú em processo que apura violência sexual contra uma menina de 13 anos, e apontado como um cidadão de parcas condições econômicas, o mais humilde dos irmãos da governadora paraense Ana Julia (PT).

O peso dos dias

Compromissos profissionais impediram a atualização regular do Blog no dia de ontem. Aos poucos, postagens e moderação de comentários serão retomadas.

quinta-feira, 5 de março de 2009

De olhos bem fechados

A balança da Justiça pende sempre para um único lado, o lado dos mais fortes. E sua cegueira seletiva revela o quanto suas decisões podem estar a serviço da preservação do status quo.
Dois casos exemplares, emblemáticos e nem um pouco inéditos, revelam a enorme distância que nos separa de um Judiciário permeável aos clamores da sociedade. Aqui e aqui.

O encantador de serpentes

O senador Aloisio Mercadante (PT-SP) era, ontem (4), a mais pura expressão da derrota. Ao denunciar a aliança "espúria" entre Renan Calheiros e Fernando Collor, responsável pela imposição do humilhante revés sofrido pela bancada petista no Senado, ele esqueceu apenas de um detalhe revelador: Renan e Collor têm em comum muito mais além de serem políticos alagoanos. Eles são ativos integrantes da base de apoio do governo Lula, do mesmo partido de Mercadante, mas que teria agido nos bastidores para pavimentar o caminho que levou a senadora Ideli Salvati ao patíbulo.
Afinal, o fornido serpentário existente no bloco governista não se formou por geração espontânea. Além de Lula, principal administrador e beneficiário das ações do consórcio PT-PMDB-PTB et caterva, muitos outros foram se especializando nessa estranha arte de alimentar matilhas tão ferozes quanto insaciáveis.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Todos os nomes

A frase, segundo matéria de O Liberal, é de Fernando Sérgio Castro, porta-voz da PF, ao justificar a não colocação de algemas em Paulo Castelo, durante a chegada a Belém do condenado na noite de ontem (3): "Ele veio apenas sob escolta dos agentes, pois não é um preso perigoso".
Pois bem: até parece que Paulo Castelo se entregou, espontaneamente, para cumprir sua pena. Não foi ele, afinal de contas, que foi preso enquanto passeava lépido e faceiro pelas elegantes avenidas de Copacabana, em aberto deboche à sentença de um juiz federal?
Daqui a pouco, pelo andar da carruagem, Castelo pode até receber alguma comenda pelos relevantes serviços prestados à municipalidade de Belém, como fiel escudeiro do prefeito Duciomar Costa (PTB). Antes, porém, talvez devesse ser chamado por um adjetivo mais adequado à sua personalidade criminosa: celerado, do latim sceleratu, e que significa, como ensina o mestre Houaiss, aquele que possui má índole; mau, perverso, facínora e abominável.

A paz como miragem

Como garantir a criação de um Estado palestino viável se Israel não cessa, antes amplia em escala cada vez mais intensa, a construção de moradias para colonos judeus na Cisjordânia, território ilegalmente ocupado desde a guerra de 1967?
A ONG Paz Agora, uma das mais ativas na luta contra a colonização de terras palestinas, denunciou a intenção do governo de construir, nos próximos anos, mais 73 mil moradias, das quais 15 mil já estão com as obras autorizadas.
O relatório completo dessa imensa operação de grilagem pode ser lido aqui (em inglês).

Arca do Tesouro

O controle dos bilionários fundos de pensão coloca em trincheiras opostas PMDB e PT. O Estadão mostra que não faltam motivo$ para tanta discórdia.

Alerta Geral

Desembarca hoje, às 22h30, no aeroporto de Val-de-Cans os integrantes da CPI da Pedofilia, do Senado Federal. Confirmaram presença, o presidente Magno Malta (PR-ES) e José Nery (PSOL-PA), além de outros membros da comissão: Geraldo Mesquita (PMDB-AC), Demóstenes Torres (DEM-GO) e Romeu Tuma (DEM-SP).

Cala boca

A orelha de Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), deve estar queimando. Finalmente apareceu alguém com autoridade para responder às suas últimas entrevistas bombásticas. O alvo de Mendes, como todos sabem, foi o Movimento dos Sem Terra (MST), acusado de ser uma organização criminosa. A metralhadora giratória manejada por esse ex-auxiliar direto de FHC disparou para todos os lados. Investiu contra o governo Lula, mirando no repasse de verbas públicas a entidades supostamente ligadas ao MST. E fez mira no Ministério Público Federal, pintado como omisso.
Com uma mistura de equilíbrio e firmeza, o Procurador-Geral da República deu o troco. Antônio Fernando de Souza disse que o Ministério Público "não está dormindo", mas que também não age com "estardalhaço". Aduziu que a questão agrária é "muito complexa" e que é preciso garantir o direito de defesa antes de emitir juízo.
Pressionado a responder objetivamente às cobranças do ministro do STF, ele foi direto, segundo reportagem publicada na Folha de São Paulo: "Não faço julgamento de autoridades. Cada um sabe do que diz. Também não é atribuição dele julgar esse caso concreto (a morte de jagunços em fazenda ocupada pelo MST em Pernambuco). Ele deve achar que é. As minhas atribuições eu sei plenamente e me mantenho dentro delas."
Definitivamente, Gilmar Mendes poderia ter dormindo sem essa.

terça-feira, 3 de março de 2009

Chapéu da viagem

E lá se foi o poderoso Agaciel Maia, lugar-tenente de José Sarney na diretoria-geral do Senado. Caiu porque porque topou - ou melhor, topamos todos - com uma mansão no meio do caminho. Não qualquer mansão, mas uma de R$ 5 milhões, no elegante e seleto Lago Sul, às margens do Paranoá, em Brasília.
E la se foi o poderoso Agaciel Maia. Junto com os anéis, para que ilustres dedos permaneçam muito bem preservados.

Sangra, África

O golpe sangrento em Guiné Bissau, com o assassínio do presidente João Bernardo Nino Vieira, está longe de ser um fato isolado. Expõe as veias abertas de um continente que parece afundar numa espiral de miséria crônica e violência endêmica.
Na terra de Amílcar Cabral, mártir da luta anticolonialista na África portuguesa, o fantasma da guerra civil não para de assustar. É uma hemorragia permanente, que torna ainda mais incerto o destino de uma nação marcada por séculos de violência e depredação promovida pelas metrópoles de ontem e de hoje.
A chance desse país ter futuro - algum futuro - está ligada a uma mudança na correlação de forças no plano mundial. Depende, em grande medida, do apoio solidário que possa receber de seus irmãos da diáspora e de outros tantos que permanecem acalentando os melhores sonhos de redenção da raça humana.

Um ninho de abutres

Soa inverossímil, mas é a mais pura verdade. Em apenas um ano, entre janeiro de 2008 e o mês passado, as bolsas globais encolheram 44%. O que isso significa? Nada menos que US$ 15,5 trilhões virando pó, ou a somatória dos PIBs dos Estados Unidos e do Brasil. O cálculo é a desmoralizada Standard& Poor´s, uma das mais endeusadas agências de classificação de risco nos tempos da euforia do capitalismo de papel.
A debacle financeira não chegou sem aviso. A leitura do instigante artigo de Ignacio Ramonet, no Le Monde Diplomatique, já alertava em dezembro de 2007, para o caráter intrinsicamente deletério da ação dos private equities, os fundos-abutres, "fundos de investimento rapineiros com apetite de ogro, dispondo de capitais colossais".
Deu no que deu, mas deve piorar muito ainda antes que se acendam - se é que surgirão - as primeiras luzes no final deste longo e acidentado túnel.

Estado terminal

Por trás dos três assassinatos por dia em Belém, conforme as últimas estatísticas policiais, surge, monstruosa e incontrolável, a sombra do narcotráfico. Não seria exagero supor que dois de cada três dessas mortes já estejam, direta ou indiretamente, relacionadas ao comércio ilegal de drogas, este câncer em metástase que, não obstante, permanece sendo tratado como se fosse uma virose qualquer.

Bom dia para os defuntos

Os quatro jagunços mortos em Pernambuco em circunstâncias nebulosas numa fazenda ocupada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) estão virando estandarte nestes tempos cinzentos. Depois de servir aos propósitos de Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal e eterno candidato a líder da oposição de direita, eles - os mortos, é claro - foram objeto de uma elucidativa frase do presidente Lula, ontem. "É inaceitável a desculpa de legítima defesa para matar quatro pessoas", disse Lula ao ser inquirido pela imprensa, cuja compulsão em criminalizar os movimentos sociais só não é maior que sua atávica fidelidade aos propósitos - nem sempre confessáveis - dos inquietos inquilinos do andar de cima.
Lula deveria nos poupar de seus repetitivos flertes com o senso comum. É óbvio que, muito provavelmente, o que terá ocorrido na fazenda Consulta, no agreste pernambuco, vá mesmo além de uma "legítima defesa". Há sinais de que os sem terra, depois de muitos anos sofrendo com os ataques da pistolagem, tenham resolvido dar o troco, aplicando o mesmo veneno que tantas vezes tiveram de tomar, a violência cega.
Isso tudo não elude, antes revela, as raízes mais profundas desse tipo de conflito sangrento. E é sobre isso, o principal e não o acessório, que se calam os poderes da República. Afinal, a criminosa estrutura de concentração fundiária no Brasil e no Nordeste em particular é a mãe de todas as tragédias. Abrir essa ferida vai expor um país real, secularmente movido por uma máquina insana que produz exclusão e miséria na mesma medida em que engorda uma elite visceralmente estúpida e arrogante.
O silêncio sobre essas e outras tantas mazelas diz tudo. Absolutamente tudo.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Bloco de sujos

Magoado com a humilhante derrota na tentativa de catapultar os controladores do fundo Real Grandeza, de Furnas, o PMDB ensaia uma reação no mínimo perigosa. Deputados da bancada do Rio de Janeiro, os principais interessados em abocanhar os eventuais dividendo$ da frustrada troca de diretores, ameaça instalar uma CPI para investigar todos os fundos. Todos, fazem questão de ressaltar, numa ameaça nem um pouco velada de que há - e deve haver mesmo - muita sujeira por baixo de um grande número de tapetes. O PT, como era de se esperar, reagiu contra e chamou a manobra de "vendeta". Foi algo parecido que levou ao precipício do escândalo do mensalão. Alguém ainda lembra?

domingo, 1 de março de 2009

À flor da pele

Ivan Seixas, ex-preso político, acha que a Folha de São Paulo tem pés de barro e que ao chamar o regime militar de 64 de "ditabranda" ultrapassou todos os limites aceitáveis. "Os Frias não têm direito de pontificar sobre a ditadura, até porque colaboraram com a ditadura”, afirmou em cartas divulgadas na última edição do Brasil de Fato.

Um coelhinho muito safado

Saiba porque não se deve acreditar nem em inocentes ovos de Páscoa.

Vai virar mar

Em pouquíssimo tempo - quatro anos apenas - uma vasta área de 24 mil hectares, às margens do rio Araguaia, vai ser inundada quando forem abertas as comportas da usina hidrelétrica de Santa Izabel, um empreendimento de R$ 2 bilhões, nos municípios de Palestina do Pará (PA) e Ananás (TO), com capacidade de gerar 1.087 MW. Mais um megaprojeto vocacionado para suprir o insaciável apetite dos oligopólios eletrointesivos por energia - boa e muito barata. Tudo para que o fluxo de transferência líquida de riqueza - dos mais pobres para os centros da opulência mundial - não sofra qualquer solução de continuidade.
Esta nova barragem atende aos interesses do consórcio Gesai, que reúne mastodontes do setor mineral (Vale, Camargo Corrêa, Billiton Metais, Alcoa Alumínio e Votorantim Cimentos). É claro que tanto oligopólio junto só poderia atrair as bênçãos do Planalto. E foi o que efetivamente ocorreu, quando Brasília deu o sinal verde para o início do intrincado e não menos polêmico processo de autorização de mais esta obra em terras amazônicas.
Uma consequência acessória, mas não menos importante, desta nova barragem foi levantada pela revista Carta Capital. Provavelmente os bilhões de metros cúbicos que formarão o lago de Santa Izabel devem apagar para sempre os vestígios dos cemitérios clandestinos onde estariam depositados os restos mortais de dezenas de guerrilheiros do Araguaia.

Se meu castelo falasse

Arquivo-vivo, Paulo Castelo vai amargar um bom tempo de cadeia. É certo que o crime pelo qual foi condenado data de quase uma década atrás, nos alegres anos de FHC. Ocorre que neste período pode aperfeiçoar bastante seus métodos deliquenciais. Tornou-se um PhD, um competente quadro da bandidagem de colarinho branco. Ele soube como ninguém soldar alianças e cevar relações estreitas com outros experts na concorrida seara de assaltantes do erário público. Isso talvez lhe proporcione alguma tranquilidade para enfrentar os tempos sombrios de infortúnio. Talvez.
Na solidão do cárcere, quem sabe, ele não será forçado a fazer um profundo exame de consciência, para chegar a conclusão de que está na hora de por um ponto final em sua carreira de malfeitorias. Quem sabe, então, se não aproveita as circunstâncias para contar tudo que sabe em troca de uma eventual redução de pena. Deleção premiada existe para isso mesmo.

Sempre em má companhia

A política externa é o melhor termômetro para se aferir até que ponto o discurso pode coincidir com a prática nos Estados Unidos. Ou melhor: como a prática pode, reiterada e cotidianamente, desmoralizar os discursos. É isso que demonstra, nessas primeiras semanas, o governo Obama, cujas semelhanças com seu antecessor vão se consolidando na mesma proporção em que desvanecem, pouco a pouco, as enormes esperanças mudancistas que o levaram à Casa Branca.
A decisão anunciada nesta semana de abandonar a Conferência da ONU contra o racismo, em solidariedade ao Estado de Israel, revela que nada ou quase nada mudou quando estão em jogo os interesses estratégicos dos que se julgam donos do mundo.