Os quatro jagunços mortos em Pernambuco em circunstâncias nebulosas numa fazenda ocupada pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) estão virando estandarte nestes tempos cinzentos. Depois de servir aos propósitos de Gilmar Mendes, presidente do Supremo Tribunal Federal e eterno candidato a líder da oposição de direita, eles - os mortos, é claro - foram objeto de uma elucidativa frase do presidente Lula, ontem. "É inaceitável a desculpa de legítima defesa para matar quatro pessoas", disse Lula ao ser inquirido pela imprensa, cuja compulsão em criminalizar os movimentos sociais só não é maior que sua atávica fidelidade aos propósitos - nem sempre confessáveis - dos inquietos inquilinos do andar de cima.
Lula deveria nos poupar de seus repetitivos flertes com o senso comum. É óbvio que, muito provavelmente, o que terá ocorrido na fazenda Consulta, no agreste pernambuco, vá mesmo além de uma "legítima defesa". Há sinais de que os sem terra, depois de muitos anos sofrendo com os ataques da pistolagem, tenham resolvido dar o troco, aplicando o mesmo veneno que tantas vezes tiveram de tomar, a violência cega.
Isso tudo não elude, antes revela, as raízes mais profundas desse tipo de conflito sangrento. E é sobre isso, o principal e não o acessório, que se calam os poderes da República. Afinal, a criminosa estrutura de concentração fundiária no Brasil e no Nordeste em particular é a mãe de todas as tragédias. Abrir essa ferida vai expor um país real, secularmente movido por uma máquina insana que produz exclusão e miséria na mesma medida em que engorda uma elite visceralmente estúpida e arrogante.
O silêncio sobre essas e outras tantas mazelas diz tudo. Absolutamente tudo.
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