Eles não tiveram tempo. Mortos enquanto dormiam, 23 pessoas - entre guerrilheiros das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc) e quatro civis (um equatoriano e três mexicanos) não souberam que tudo em redor daquele acampamento a dois quilômetros da fronteira colombiana, em território "soberano" do Equador, explodiria em mil pedaços exatamente às 00h25 do dia 1° de março do ano passado. Longe dali, em confortáveis salas do Pentágono, entretanto, o plano era acompanhado com a máxima atenção. A ordem de morte foi cumprida com exatidão: Raúl Reys, número dois no comando das forças insurgentes estava morto e seus restos seriam exibidos, como um troféu macabro, pelos militares colombianos que desembarcaram após quatro helicópteros Blackhawk, made in USA, terem despejado suas "bombas inteligentes".
Depois da agressão perpetrada pelo governo Uribe abriu-se a mais grave crise diplomática entre dois países sul-americanos das últimas décadas. O continente esteve à beira do conflito armado, com a justa reação do Equador e de seu mais forte aliado, a Venezuela de Hugo Chávez.
Pois bem. Passado pouco mais de um ano - como o tempo voa - eis que o ministro Nelson Jobim (Defesa) recoloca a questão da "cooperação militar" entre o Brasil e a Colômbia na tarefa comum de combater - "a tiros", no liguajar belicista do ministro de Lula - supostas infiltrações de militantes das Farc em território brasileiro. Para Jobim seria oportuno um acordo que possibilitasse - de forma recíproca - que aeronaves militares dos dois países tivessem autorização para "flexibilizar" as fronteiras numa faixa de 50 quilômetros, como forma de melhor monitorar as supostas movimentações da guerrilha.
É um escândalo que uma declaração criminosa de uma alta autoridade nacional tenha passado praticamente sem registro pela imprensa, perdida entre tantas baboseiras que dirigentes governamentais despejam diariamente. Mas, ao contrário do que se possa achar, trata-se de um fato gravíssimo, uma declarada intenção de perpetrar um crime de lesa Pátria que não poderia ficar impune.
O interessante é que Nelson Jobim, um quadro da direita com extensa folha de serviços prestados às classes dominantes em todas as esferas de poder, não perde nenhuma oportunidade para atacar a existência de terras indígenas nas regiões de fronteira, apontadas por ele como uma "ameaça à soberania nacional". O perigo, como se sabe, está justamente alojado nos mais elevados escalões, sempre bem dispostos a prestar homenagem, convenientemente de joelhos, aos representantes da metrópole, que hoje falam inglês e distribuem seus regalos em imaculadas notas de dólar.
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