Atente para a seguinte frase:
"Nós sabemos que antigamente se dizia que o Ademar de Barros era ladrão, que o Maluf era ladrão. Pois bem: Ademar de Barros e Maluf poderiam ser ladrões , mas eles são trombadinhas perto do grande ladrão que é o governante da Nova República, perto dos assaltos que se faz".
Agora, veja essa outra declaração:
"Todos nós na vida, seja o trabalhador ou o oligarca, cada um tem momento de pensar coisas diferentes, e eu acho que tivemos momentos de muito retrocesso no Brasil pelo comportamento de uma oligarquia que no século passado não via com uma visão de futuro o nosso país".
A primeira foi gritada em um comício em 1987. O personagem oculto, "o governante da Nova República" que é chamado de "grande ladrão" é o então presidente José Sarney, símbolo da oligarquia nordestina que chegava ao poder por caminhos tortuosos.
A outra frase é bem mais recente. Foi dita ontem, 5, durante uma entrevista coletiva. A pergunta dos repórteres não deixava muita margem a tergiversações: "Presidente, o que o senhor acha da oligarquia de Sarney no Maranhão?".
A distância entre uma frase e outra é de apenas 22 anos. O autor de ambas é a mesma pessoa. Ou melhor: parece ser a mesma pessoa, mas é simplesmente abissal a diferença entre o sindicalista e líder político dos anos 80 e o atual presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, que entra na fase derradeira de seu segundo mandato.
Em todo caso, sempre quando precisa enfrentar temas delicados, como sua relação com as oligarquias, ele encontra uma saída. Mesmo que seja a da porta dos fundos.
Ora, tomando como sérias as declarações de Lula, a virada do século operou um milagre: as oligarquias brasileiras teriam se convertido de inimigas do povo em parceiras nas ações de um governo que alega representar a maioria da sociedade. Nada mais ilusório e mistificador. Pelo menos para aqueles que permanecem na margem esquerda da luta política.
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