sábado, 29 de novembro de 2008

Dialética da palavra de combate

"Nossa Marcha

Troa na praça o tumulto!
Altivo píncaros - testas!
Águas de um novo dilúvio
lavando os confins da terra.

Touro mouro dos meus dias.
Lenta carreta dos anos.
Deus? Adeus. Uma corrida.
Coração? Tambor rufando.

Que metal será mais santo?
Balas-vespas nos atigem?
Nosso arsenal é o canto.
Metal? São timbres que tinem.

Desdobra os lençóis dos dias
cama verde, campo escampo.
Arco-íris arcoirisa
o corcel veloz do tempo.

O céu tem tédio de estrelas!
Sem ele, tecemos hinos.
Ursa-Maior, anda, ordena
para nós um céu de vivos.

Bebe e celebra! Desata
nas veias da primavera!
Coração, bate a combate!
O peito - bronze de guerra.

1917"

Tradução: Haroldo de Campos

Vladimir Maiakóvski (1893-1930), maior poeta russo moderno. Poemas, 6a edição, 1997, p.83-84. Edição organizada por Augusto e Haroldo de Campos e Boris Schnaiderman.

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