Tempo 1: 19 de julho, 1979, centro de Belém. Um dia qualquer, um final de tarde como de costume, mas com uma diferença: havia, entre pequenos círculos, uma alegria incontida, um brinde ao fim do tirano. "Somoza se foi. Viva a Nicarágua livre", como um quase-grito, um sussurro entre dentes, que o tempo não era de expor o peito ao aço da ditadura verde e amarela.
Tempo 2: Algum dia, entre janeiro e março de 1987, fazenda La Pintada, departamento de Matagalpa, Norte da Nicarágua sandinista, 8º ano da revolução. Era madrugada e o silêncio escondia a tensão reinante no acampamento internacionalista. De repente, o sinal de alerta. Todos a seus postos, o ataque dos contras era iminente. O coração disparado, acordar todos e distribuir as tarefas conforme o treinamento prévio. O alarme foi falso, mas a guerra - sangrenta, estúpida, genocida - era muito real. Gota a gota, a agressão financiada pelos dólares da Casa Branca iria corroer os pilares do novo poder que não teve tempo para germinar.
Tempo 3: Algum dia do cinzento 1990. Era melhor não acreditar. Não podia ser verdade, mas era. E o golpe se mostraria, pelo menos para a geração que aprendera a lutar no final dos 70 inspirada na força moral do sandinismo, mais doloroso e terrível que a débâcle da União Soviética, que estava, naqueles dias, por um fio. A FSLN, a lendária Frente Sandinista estava derrotada. E nas urnas, após anos de feroz cerco militar, diplomático, comercial e ideológico, subiria ao poder uma oligarca, teúda e manteúda do imperialismo. O fim de um começo ou o começo - acidentado e contraditório - de um eterno recomeço?
2 comentários:
Esse texto, me faz lembrar do companheiro Evaldo (presente), que passou um tempo com vc. na nicaragua, tempo das tortilhas de milho, bons tempos aqueles não é aldenor " a vida era mais bela" , hj. a um vazio no peito.
Ze Humberto o ultimo comunista do PT
Caro Zé Humberto,
Tempos que remetem à doação de nossas melhores energias em favor da bela causa do combate às injustiças. Esse sentimento, prezado companheiro, tem o dom de jamais envelhecer e está, todos os dias, sendo colocado à prova diante dos percalços da luta.
Evaldo foi um grande companheiro. Guardo lembranças ternas de um combatente solidário e sincero, que estava sempre presente estendendo a mão na hora em que alguém ameaçava fraquejar.
A morte física o levou tão cedo. Não é lugar comum dizer que seu exemplo e sua luta não pereceram junto com ele.
Obrigado pela visita. Volte sempre.
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