sábado, 25 de abril de 2009

Mais do mesmo

Em se tratando de governo Ana Júlia todo cuidado é pouco. Convém não emitir juízo apressado, ao sabor das primeiras informações. A chance de se confirmar o pior presságio é sempre enorme, colocando os otimistas - se é que ainda existem - em posição desconfortável.
Sob cerco do agrobanditismo e da mídia de aluguel, era de se esperar que o governo buscasse se amparar na mobilização social e na denúncia, contundente e bem fundamentada, do processo criminoso de grilagem que assola a terra paraense desde tempos remotos. Certo? Não, infelizmente o caminho escolhido - errático e vacilante - se revela incapaz de compor uma face que nem de longe lembra o que se costuma denominar de popular e de esquerda. Disposto a flanar por sobre interesses abertamente antagônicos, mas repetindo ad nauseam o discurso de não tolerar a ilegalidade e "nem excessos de quem quer que seja", o governo da mal alinhavada aliança PT/PMDB deu, ontem, sinais nítidos de que está muito pouco disposto a contrariar, de verdade, os desejos de quem possui o poder real e efetivo.
Primeiro, a "operação desarmamento", realizada com enorme e injustificável atraso, consegue apreender - pasmem - uma única arma, de fabricação caseira e usada para a caça, num dos muitos acampamentos do MST existentes na PA-150. Sobre o reluzente arsenal à disposição dos capangas a soldo dos prepostos de Daniel Dantas, nenhuma palavra. Decerto, a polícia deverá esperar mais algumas semanas até que algum juiz autorize a busca e apreensão nos limites da propriedade privada, grilada até o último centímetro, como o próprio Estado afirma em ações que se arrastam em instâncias e foros judiciais muito pouco ágeis quando precisa impor algum revés aos ocupantes do andar de cima.
E, segundo, para arrematar, veio esse ridículo indiciamento do coordenador do MST, Charles Trocate, acusado de incitamento à violência. Convenhamos, falta criatividade aos estrategistas da governadora. Essa ideia absurda tem o copyright da senadora Kátia Abreu e de seus asseclas, interessados, eles sim, no aprofundamento de um clima de violência generalizada contra os mais fracos.
Daí que as próximas semanas tendem a ser dramáticas no campo paraense, que felizmente ainda possui movimentos que não trocaram suas rubras bandeiras por reluzentes chapas brancas da cooptação. São essas forças vivas da luta do povo que saberão dar a resposta correta aos seus inimigos de classe e a todos os que, direta ou indiretamente, assumem o triste papel de vassalos de uma ordem iníqua e imoral.

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