sábado, 17 de abril de 2010

Um dia para jamais esquecer

Para Oziel Pereira



O sol sobre as cercas e o cerco já estava decidido.
17 de abril de 1996. As tenazes se fechando enquanto bandeiras desfraldadas ondulavam, inocentes de que em poucas horas seriam farrapos em meio à carnificina.
A voz majestática ainda ressoa: "Desocupem. De qualquer maneira. Isto é uma ordem".
De qualquer maneira, a qualquer preço, custe o que custar.
E custou. Custou 19 vidas e sangue, muito sangue a empapar aquele trecho perdido da PA-150.
Quando a tarde estava para cair, 17 horas, e o lusco-fusco já se insinuava, ouviram-se os primeiros tiros de fuzil. Bombas. Fumaça. Terçados, foices, paus e pedras. É a guerra? Não, está mais para um abatedouro de seres humanos, dessangrados ali mesmo, com os golpes e tiros de misericórdia sendo desferidos em meio à algaravia de impropérios e insultos que os fardados despejavam sobre os camponeses já rendidos.
Muitos foram executados a sangue frio,sem piedade. À bala ou à faca, o serviço deveria ser feito. Custe o que custar. De qualquer maneira. Essa era a ordem.
Eldorado, Eldorado, teus gritos de pavor são trazidos pelo vento da memória.
O cheiro de morte ainda pode ser sentido. Está lá, entre as 19 castanheiras fincadas em lembrança dos caídos. Mas está aqui, em qualquer lugar, nesse imenso território onde a injustiça e a impunidade são o pão nosso de cada dia.

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