Quanto vale mesmo a vida de um sem terra?
Pouco, quase nada, apregoa a lógica do andar de cima.
No país do latifúndio e de seus executivos do agronegócio as lições devem ser sempre exemplares: enfrentar com destemor as cercas da injustiça e da prepotência pode custar a vida.
E as vidas ceifadas - estraçalhadas pelas balas assassinas e pelos golpes de arma branca de uma tropa de celerados - devem ser condenadas ao esquecimento, sob sete palmos, por todos os séculos dos séculos.
Este enredo, tantas vezes repetido, sofreu uma fissura ontem, 25, quando a Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STF), em Brasília, colocou, por decisão unânime, o ponto final na longa e indecente perlenga jurídica que há mais de seis anos tem conseguido impedir o cumprimento da sentença que condenou os dois comandantes da PM diretamente envolvidos com o massacre de Eldorado dos Carajás, ocorrido naquele sombrio 17 de abril de 1996.
Assim, tão logo a decisão seja publicada no Diário da Justiça, o coronel Mário Colares Pantoja e o major José Maria Pereira de Oliveira deverão ser recolhidos à prisão, onde cumprirão, respectivamente, 228 e 158 anos.
Além deles mais ninguém foi condenado. Nenhum outro militar, das dezenas que participaram ativamente da chacina.
Mas, sobretudo, nenhuma das autoridades governamentais que foram, em última instância, autoras intelectuais do desfecho sangrento: Almir Gabriel, governador; Paulo Sette Câmara, secretário de Segurança; e Coronel Fabiano Lopes, comandante da PM.
O vazio neste banco de réus permanece sendo um escárnio e uma afronta. Até quando?
Um comentário:
Almir Gabriel, depois de mandar matar lavradores, depois de vender a Celpa e sumir com o dinheiro, agora quer impingir um contraventor como governador do Pará. Paulo Sette Câmara continua desfilando com cara de inocente, depois de afirmar, no dia seguinte à chacina ordenada por ele, que mandou desobstruir a rodovia "a qualquer custo" e que "uns tirinhos seriam normais, mas a tropa exagerou no zêlo". Disse isso na televisão e depois correu, junto com Almir e Fabiano Lopes, pedir habeas-corpus ao STF, com a certeza que seriam excluídos do julgamento. A História, com certeza, não vai conceder esse "habeas-corpus".
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