De um lado, a realidade. Nua, crua, desesperadora. Neste feriadão de ano-novo, em todos os pronto-socorros e unidades de saúde da capital, cidadãos morrerão sem assistência, agravando um quadro de penúria que só se aprofundou ao longo de um ano marcado por surto de dengue, filas intermináveis e pacientes morrendo sob as lentes da imprensa.
De outro, o discurso oficial. Em uma longa - e, com certeza, bem remunerada - entrevista ao Diário do Pará de hoje, o prefeito de Belém Duciomar Costa (PTB) desafia a inteligência de todos ao afirmar que o município gasta mais de 20% em saúde (contra uma obrigação constitucional de aplicar apenas 15%). Assim, segundo o prefeito, Belém "tem o maior investimento em saúde de todas as capitais".
De duas, uma: ou a tragédia e o caos da saúde na capital não passam de um raro e inédito caso de alucinação coletiva, ou estamos diante de um mistério insondável.
Se é público e notório a falta dos mais básicos insumos na rede de saúde - até analgésicos e luvas estão em falta - mas, segundo nos diz o prefeito, nunca se investiu tanto na área, podemos ter aí um forte indício de desvio de recursos, um gigantesco dreno por onde se desvia uma quantia fabulosa.
Não é por outro motivo que a saúde de Belém está sob investigação da Justiça Federal, onde tramitam diversas ações civis públicas. Oxalá que se chegue a algum resultado neste próximo ano que se inicia. Ainda há tempo, mas a lentidão dos que têm o dever de zelar pelo patrimônio público está contribuindo - mesmo indiretamente - para a continuidade de um quadro de barbárie inaceitável.
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