quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Abismo entre intenção e gesto

Barack Obama rompeu, pelo menos formalmente, com o alinhamento automático entre os Estados Unidos e Israel. Foi ontem, 23, durante seu discurso à Assembleia Geral das Nações Unidas. O mandatário estadunidense disse não "aceitar a legitimidade dos assentamentos israelenses" em territórios palestinos. Mas, sempre existe um "mas", apelou para que os palestinos parem com as "provocações" em nome de "relançar as negociações em precondições". É preciso decodificar o discurso, abrindo caminho por entre um intrincado jogo de palavras.
Todo mundo sabe que Israel não se sustentaria um mês sequer sem os bilhões que recebe do contribuinte norte-americano. Assim, entre a fala e a ação efetiva pela paz existe a chave que pode amolecer os corações dos falcões israelenses: a chave do cofre, é claro.
Por isso, a crítica expressa por Obama perde o conteúdo, vira jogo de cena. O governo direitista de Israel só ouve o que quer. Há poucos semanas, em aberto confronto com Washington, anunciou a aprovação de um plano para expandir as colônias judaicas na Cisjordânia. Algo como 700 mil novas residências para colonos, consolidando a expulsão de milhares de famílias palestinas e a completa inviabilização do que, um dia, poderia ser um estado palestino viável e independente, "com território contíguo que encerre a ocupação de 1967", como repetiu Obama em sua oratória cheia de promessas desprovidas de eficácia.
Obama enquadra a guerra neocolonial que Israel promove há décadas como um conflito isonômico, onde ambas as partes possuem idêntica responsabilidade e, portanto, devem expiar suas culpas conjuntamente. Não há, assim, agressor e vítima, nem um lento e pertinaz genocídio que se desenvolve sob o olhar cúmplice da mesma ONU que, embevecida, aplaudiu 13 vezes um homem e as circunstâncias ditadas pelas razões do império.

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