terça-feira, 29 de setembro de 2009

Patíbulo sobre rodas

Chegamos ao fundo do poço? Não, não existe limite quando a barbárie se instala. Ontem, passageiros de um ônibis assaltado por três jovens na periferia de Belém espancaram até a morte um deles, que possuía apenas 16 anos e estava vestido com a farda da escola. Uma facada no pescoço e pronto. O corpo estendido no assoalho do ônibus, sangue por todo lado e aquele gosto acre de que a última fronteira foi ultrapassada.
Pena de morte, julgamento sumário, vingança coletiva e, no momento seguinte, desce o manto da impunidade. Matar ladrão não é crime, ora pois. O Estado que não protege o cidadão é estranhamente eficaz quando cruza os braços e não investiga a ocorrência de um homicídio. Por que é sempre tão difícil descobrir a autoria dos crimes praticados por turbas enfurecidas? Não há testemunhas, nem indícios a investigar? Ou o adolescente infrator foi fulminado por alguma força não-identificada?
Quem executou o golpe fatal, utilizando a mesma arma que o assaltante havia levado para cometer seu crime - uma faca de cozinha - não é mesmo criminoso. É tanto quanto, ou ainda mais.
A não punição pelas mortes decorrentes de linchamentos funciona como estímulo, uma espécie de licença para matar. Tal qual aquela que os assaltantes e outros homicidas já gozam em larga medida.
Hoje a mídia, em particular aquela que vive de explorar a tragédia alheia, fará mais uma campanha a favor da brutalidade sem limites. Estará com as mãos alagadas em sangue. De inocentes e de culpados, estes, por sinal, cuja existência em grande medida vai muito além, mas muito além mesmo, dos limites do macabro ônibus que cruzou o caminho de nossa insuportável tragédia de todos os dias.

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