quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

O profeta desarmado

Num 18 de fevereiro como hoje, há 80 anos, nascia Henri, filho de família rica e herdeiro de uma civilização de conquistadores, na velha Europa do entre guerras.
Quis o destino que Henri voltasse as costas a tudo que sua linhagem pudesse representar de ostentação e riqueza.
Quis o destino que desde muito cedo aquela criança respírasse o ar da resistência contra o monstro nazista, espelho amplificado de uma máquina de moer gente muito mais longeva e tragicamente atual.
Desde 1978 adotou o Brasil como sua pátria.
Desde 1978 caminha pelos sertões amazônicos a espalhar a boa nova.
Fundiu sua vida e emprestou sua voz aos deserdados da terra. Fez-se um deles, diferente e igual, radicalmente humano como apenas os que trazem o coração puro são capazes de possuir e compartilhar.
E é isso que desconserta e, ao mesmo tempo, atemoriza seus (poucos, porém poderosos) detratores.
Não conseguem entender que por trás daquela fala mansa, daquele corpo pequeno e alquebrado posso residir a voragem eterna da resistência e da insubmissão.
Não percebem que Henri Burin Des Roziers, simplesmente frei Henri, há muito encarna o que existe de mais digno e revolucionário nestas vastidões espoliadas.
Mãos que constroem a esperança e lançam sobre a terra sementes de rebeldia, quando tantos resolveram trocar de lado para o aconchego imundo da barbárie fantasiada de modernidade, são mesmo incompreensíveis. Mais que isso: assustadoras para os que conhecem e manejam como ninguém as armas da prepotência e da morte.
Hoje, nas margens do Araguaia é dia de festa.
É dia de celebrar o vigor juvenil deste cidadão do mundo.
É dia de celebrar seu testemunho e de espalhar aos quatro cantos o vigor de seu apostolado.
É dia de enxergar o olhar luminoso daquela criança que brinca, alheia à devastação do entorno, no terreiro de um dos incontáveis acampamentos de sem terra que sabem que Henri é um dos seus.
Nas mãozinhas dessa criança, os grãos da terra que, mais cedo do que tarde, será, inteira e completamente, livre de todos os males.
Que venha, sob o rufar de tantos tambores, a terra do Bem-Virá.

5 comentários:

Anônimo disse...

Júnior, que texto maravilhoso! Quanta sensibilidade a sua pra traduzir tão bem o exemplo de humanidade, a beleza da história e a força dessa figura humana linda que é o Frei Henri. Parabéns a vc, e parabéns ao nosso querido Frei Henri. Abraços, Rosana

Anônimo disse...

Juninho,

Só a sensibilidade do belo revolucionário que és, para traduzir o sentimento que temos pela incrível pessoa do Frei Henri.
Tomamos emprestado tua sensibilidade para homenageá-lo.
Georgina

Anônimo disse...

Aldenor,

Bonita e merecida homenagem ao Frei Henri.
E, como sempre, um texto primoroso.

Mesmo não concordando com todos os seus pensamentos, a visita ao seu blog sempre vale a pena.
Parabéns pela caminhada, que começou lá atrás.
Lembro quando, ainda muito jovem, já no final da década de 70, entravas na redação de O Liberal levando em mãos as matérias com as informações dos movimentos estudantis secundarista que lideravas.
Já se vão mais de 30 anos.
E a luta continua.
Vá em frente!

Um forte abraço,

Orly Bezerra

Aldenor Jr disse...

Caro Orly,

Nestes tempos cinzentos, ter pessoas da estatura de frei Henri entre nós é um privilégio. Mas deveria, quando menos, reforçar o compromisso básico da indignação diante das injustiças.
Reforçar os laços solidários com os que sofrem os efeitos perversos do modelo que se impõe - de fora para dentro e de cima para baixo - sobre os povos da Amazônia é o melhor presente que uma pessoa da grandeza e e da simplicidade do frei Henri pode receber.
Obrigado por ser um dos leitores fiéis do Página Crítica.

Anônimo disse...

Caro Júnior,

Não somente tomamos de empréstimo suas palavras de homenagem ao Frei Henri, ao Henrique como é chamado pelos seus mais chegados, queremos tomar posse de tais palavras que traduzem sentimentos tão bonitos de todos nós inspirados por essa figura humana de inestimável valor, este homem que a despeito da fragilidade do corpo - seja pelo passar dos anos, seja pela pelo peso do trabalho que se dispôs desde há muito a realizar - segue firme, corajoso e confiante, com seu sorriso doce, e sua fala por vezes mansa, por vezes enérgica, nos dizendo em suas celebrações que a paz é filha da justiça e nos conclamando sempre a construir o novo.
Viva Frei Henri!
Tereza Trindade