quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Reféns do medo

Todos os dias, faça chuva, faça sol, assassinatos são cometidos impunemente na grande Belém. Quase sempre são etiquetados como acerto de contas entre bandidos a serviço do tráfico de drogas.
Mas nem sempre é assim.
Sob essa denominação genérica é comum que execuções extra-judiciais - fuzilamentos sumários - acabem recebendo a chancela - mais ou menos encoberta - das ditas autoridades.
Vejamos dois exemplos que falam por si.
Primeiro: dois jovens aparecem mortos nos confins do bairro do Aurá, nos limites com Ananindeua. Todas os indícios levavam a crer que teriam sido vítimas de traficantes que agem com enorme desenvoltura naquela região. Até que aparecem familiares denunciando que ambos, aliás com passagem pela polícia, foram vistos pela última vez com vida na noite anterior ao crime, em um outro bairro pobre ali próximo, sendo presos por uma guarnição da Rotam.
A partir daí cai o manto do mistério. Ou melhor: perdem-se as pistas, porque a família não teve como anotar o número da viatura nem qualquer outro detalhe que possa auxiliar na apuração do fato.
Com um pouco de boa vontade, um investigador dotado de consciência e profissionalismo poderá checar se essa versão é verdadeira, bastando mapear quais equipes de PMs estiveram em atuação naquelas áreas e quais ocorrências foram ou não devidamente registradas. As pegadas do crime poderão emergir e com elas estará aberto o caminho para a descoberta dos responsáveis. Se forem agentes públicos, interessa saber a soldo de quem atuavam. Milicianos contratados por comerciantes? Soldados - fardados, armados e pagos pelo Estado - agindo como pistoleiros do tráfico?
Segundo: um PM é assassinado em um bar no município de Cametá, nordeste paraense. Após perseguição, a polícia consegue deter o agressor, ferido sem maior gravidade após trocar tiros com seus captores. Internado no hospital daquela cidade, o preso acabou fuzilado por um grupo de homens encapuzados que invadiram o prédio durante a madrugada. Não deve ser muito difícil supor a identidade desses criminosos fantasiados de justiceiros, ainda mais numa localidade das dimensões de Cametá. Mas, não é impossível que a polícia refugue diante de um óbvio caso de vingança privada, sem coragem para cortam suas próprias entranhas.
O que está em discussão, além dos crimes em si, é o ambiente no qual essa prática criminosa consegue prosperar. E é justamente aqui onde mora - feito ovo de serpente - todo o perigo.

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