terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Dialética como exercício do direito à diferença

"A proteção inútil

(...)
Não adianta falarem comigo no tom que se usa com as crianças, eu olho para o infinito onde há contudo uma andorinha esperando para afiar suas tesouras em meu pescoço. Os vereadores locais chegaram a votar verbas para a minha proteção, o pessoal se preocupa comigo.

Obrigado, senhoras e senhores, eu gostaria de retribuir tanta gentileza com ternura e civilidade; infelizmente vocês estarão sempre aí e isto é despenhadeiro abrupto, máquina de moer sombra, insuportável exagero de uma bondade armada com garras de coral. Cada vez me parece mais penoso complicar a existência alheia, mas já não resta nenhuma ilha deserta, nenhum arvoredo infame, nem sequer um curralzinho para me trancar nele e, dali, olhar os outros sob a luz da aliança. Terei eu culpa, oh, terra povoada de espinhos, de ser um unicórnio?".


Julio Cortázar. Último round (Civilização Brasileira, tomo I, 2008, p.21).


Um comentário:

Bia disse...

Bom dia, caro Aldenor:

o texto corta como faca. No nosso caso, faca na mantegiga. Nossos unicórnios vem sendo exterminados, paulatina e silenciosamente, pela matança e pela impunidade.

Redenção, Xinguara, Conceição do Araguaia são campos de caça. Onde os caçadores se misturam, às vezes, aos unicórnios!

Mesmo assim, ainda espero que protejam os unicórnios. Numa campanha que eu gostaria que atingisse a mídia como aquela "proteja as baleias". Em vão, eu sei. Mas persisto.

Abração