terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Sob a sombra do tumbeiro

Rugendas (1802-1858) retratou o ventre medonho de um navio negreiro.
A luz penetra no porão infecto onde seres humanos são destruídos por uma máquina insana. Naquele último círculo do inferno, quase metade da "carga" perecia antes da chegada ao porto. De doenças e de fome. Ou moídos até a morte pela força bruta do açoite.
O Brasil de hoje, dito moderno e globalizado, permanece tratando seus pobres - da cidade, dos campos, das florestas, pouco importa - com o mesmo desprezo com que eram tratados os africanos que atravessaram o Atlântico naqueles barcos da morte, tumbeiros, como passaram à história.
É só isso que pode explicar a forma como o Estado brasileiro - pouco importando se apropriado pelos tucanos ou pelo petismo de Lula e Dilma - continua a impor sua vontade por sobre os direitos das parcelas mais vulneráveis da população brasileira, índios, ribeirinhos e quilombolas, por exemplo.
A licença prévia para a usina de Belo Monte, expedida ontem (1º), é muito mais do que um um atentado contra a vida desses povos amazônidas. É a prova de que, passados cinco séculos, o chicote permanece vivo e atual, talvez apenas deslocado para outras mãos, mas mantendo a mesma abjeta utilidade.

2 comentários:

Anônimo disse...

Cadê o MPF, cansou?
E a OAB, bandeou pro outro lado ou sempre esteve do outro lado, salvo honrosas exceções?
Acabou tudo? É a rendição??????

Aldenor Jr disse...

O MPF no Pará já declarou que ingressará com uma petição para derrubar a licença.
As alegações são conhecidas. A principal: falta de transparência e de oitiva das comunidades indígenas.
A luta só está começando.
Abraços e volte sempre.