terça-feira, 2 de março de 2010

Cheiro de pólvora no ar

O Supremo Tribunal Federal (STF) e seus doutos ministros abrirão aquela corte para um debate fundamental: o país deve ou não manter o regime de cotas raciais nas universidades públicas?
Os debates, reunindo defensores e detratores da medida, promete movimentar o vetusto plenário do STF a partir de amanhã, 3.
Tudo porque o DEM (ex-PFL, ex-PDS, ex-Arena) resolveu utilizar uma Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) para demolir a política de cotas da Universidade de Brasília.
Justamente os auto-proclamados democratas, que têm no DNA o mais puro sangue dos senhores de escravos, agitam a esfarrapada bandeira de que as cotas serviriam para "ressuscitar" o racismo no Brasil, que talvez, na lógica dos de cima, jamais tenha existindo nas terras de Vera Cruz.
O tratamento desigual dos desiguais, lição tão antiga quanto pouco colocada em prática, contituna gerando escândalo.
Afinal, foi por aqui, no litoral e nos sertões do Brasil colonial, que levas e levas de africanos aportaram, em grilhões, para abastecer a economia, já àquela época, determinada pela lógica ditada de fora e de cima.
Diante da ameaça de retrocesso, não de todo imprevisível tendo em conta as recentes decisões adotadas pela mais importante instância do judiciário brasileiro, não custa recordar um registro recolhido por Vicente Salles (O Negro no Pará sob o regime da escravidão, Belém: IAP/Projeto Raízes, 2005):

"...Esperamos ao bem conhecido zelo da polícia, que mande sem demora alguma, assaltar o dito quilombo, com gente armada de pólvora e bala, fazendo apreender todos os que nele se acharem, destruindo e arrasando para nunca mais ter serventia alguma...".

Pólvora e bala, hoje como ontem, não são apenas recurso retórico. Estão aí, para que ninguém duvide, que a faxina étnica não foi interrompida um segundo sequer, e continua a afogar em sangue as favelas e periferias pobres de todo o Brasil.

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