domingo, 28 de março de 2010

Estandarte da esperança

Uma índia reclamando sua libertação do cativeiro.
Corria o ano da Graça de 1751 e os índios, há dois séculos e meio, sofriam uma cruel e permanente faxina étnica.
Indignada com o tratamento violento que recebia de seu pretenso senhor, um tal Sebastião Gomes, a índia recorreu aos tribunais. Sua causa foi julgada pela Junta do Pará, que a considerou livre. Uma exceção, portanto.
E dela não se ouviu mais falar, perdendo-se na poeira da história.
Mas, seu nome, ironia e profecia, foi guardado naquelas atas que o tempo não foi capaz e destruir: Esperança, era assim que esta brasileira se chamava, naqueles tempos em que vocalizou a coragem ancestral de seus parentes e de seus irmãos de sangue e de destino.
Onde ela morava?
Ali, atravessando a baía, na localidade que à época se chamava Mortigura (em Tupi, morador, ou natural. Igoara ut Mortigurigoara), que após a emergência das leis pombalinas seria definitivamente conhecida como Vila do Conde, no atual município paraense de Barcarena.
Isso tudo é história e aconteceu quatro anos antes que o rei Dom José I, de Portugal, promulgasse a famosa lei da liberdade "de pessoas, bens, e comércio dos índios do Pará e Maranhão", reconhecendo que "muitos milhões de índios se foram extinguindo, de modo que é pequeno o número de povoações e dos moradores delas, vivendo esses poucos em tão grande miséria" (John Hemming, Fronteira Amazônica, Edusp, 2009, p.29).
Esta lei e tantas outras não vingaram. Letras mortas, desmoralizadas pela força do aço e do fogo de que dispunham os colonos.
O extermínio, como se sabe, prossegue até hoje. Com métodos um tanto mais sutis, mas igualmente letais quanto aqueles utilizados no tempo em que Sebastião José Carvalho e Melo, mais conhecido como marquês de Pombal, mandava e desmandava no pequeno e atrasado Portugal e em suas imensidões ultramarinhas.

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