O horror inimaginável de Porto Príncipe, soterrado pelo manto da morte e da dor, continua provocando uma comoção mundial sem precedentes.
Porém, em alguns sítios privilegiados, são outros os sentimentos que dominam. "Façam as contas. Não sobrou pedra sobre pedra...É hora de avançar...".
Não pensem que os calculistas de plantão estejam apenas estimando o número de médicos e de frascos de morfina que serão necessários. Isso é só a primeira leva, o batalhão precursor. Logo, em pouco tempo, uma verdadeira expedição de conquista desembarcará na devastada ilha caribenha, com seus reluzentes buldozers para "limpar o terreno" e iniciar a "reconstrução". Tudo por obra e graça das solidárias corporações do Uncle Sam.
É isso que deve ser depreendido da afirmação da secretária de Estado Hillary Clinton, ao pisar ontem (16) o solo da devastada capital haitiana, segundo a qual os Estados Unidos ficarão por lá "hoje, amanhã e possivelmente no futuro", pois seu país é "amigo e sócio" do Haiti.
Amigo e sócio? Brincadeira de péssimo gosto.
Os Estados Unidos são os principais responsáveis pela miséria e desgraça que se abate sobre o povo haitiano e não é de hoje. Remonta a uma inifidade de invasões e de patrocíonios a ditaduras sangrentas por todo o século XX.
Agora, diante de um desastre sem precedentes, eis que a "tela branca" que tanto excita os adeptos da doutrina do choque e pavor se apresenta como uma enorme possibilidade. De afirmação de poder geopolítico e de excelentes negócios, uma arca de vários bilhões de dólares, capazes de abrir o sorriso de magnatas que, provavelmente, não tinham a menor ideia de que existia, esquecido a poucas milhas da costa dos Estados Unidos, uma pequena e massacrada república que um dia ousou erguer, com primazia e destemor, a bandeira da liberdade em terras americanas.
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