Prisões em massa, indiscriminadas. Dezenas de jovens da periferia detidos para "averiguação", eufemismo que esconde (ou revela) um método particular de triagem: o preconceito de renda (e de cor).
A chamada "Operação Reação", deflagrada nesta semana pela Polícia Civil, é um atestado da falência da política de segurança do governo do Estado. Atordoado, agindo por espasmos, e encurralado pelo dado objetivo do aumento da criminalidade, reage como um animal ferido. A irracionalidade dessas medidas desmontam a existência de um setor de inteligência atuante no seio da polícia. Inteligência, planejamento, ações integradas, eis produtos que estão em falta ou são coisas muito raras, quase uma lenda urbana.
A "tolerância zero" - de novo, a falta de criatividade que pontifica - costuma ser o anteato de mais violência. Exemplos disso são abundantes e não é preciso ir muito longe. O Rio de Janeiro, sob o governo Sérgio Cabral, está aí para que ninguém duvide. Não é espelho a ser seguido, definitivamente.
É cedo para afirmar que a truculência policial e a falta de respeito aos direitos cidadãos darão o tom de agora em diante, reforçando o que sempre existiu nesta área. O governo está atordoado, reagindo por impulso, refém de sua própria incapacidade de gestão. Mas é aí, justamente aí, que mora todo o perigo.
2 comentários:
Caro Aldenor,
lendo o post e concordando que nada justifica a irracional reação dessas medidas, a referência ao Rio de Janeiro me levou a tempos muito anteriores a Sergio Cabral. Ao tempo de Lacerda recolhendo seus mendigos e "devolvendo-os" aos afluentes do rio da Guarda.
Assim, temo ser ainda mais pessimista, pois não vejo nessa medida uma errática reação ao avanço da criminalidade. Não creio - sinceramente - que se chegue ao rio da Guarda na nossa baía, mas creio, e não nego, que a violência súbita deve ser para restringir nossos "criminosos potenciais" - jovens, pretos, pardos e pobres - à circunscrição da periferia, durante a semana em que o paraíso do FSM se instalará por aqui. Ou a prender mesmo os trangressores bem conhecidos da polícia, que têm alvará na medida emque dividem a partilha, mas que agora poderiam causar constrangimentos aos "turistas".
Para esse governo, prevenção é isso. Ou também o bolsa-emprego restrito aos apaniguados de militantes e cabos eleitorais, dos quais alguns até podem enquadrar-se nos critérios, mas, convenhamos, deixa milhares de fora.
E os "de fora" agora vão para dentro das infectas delegacias ou serão mantidos à distancia pela truculência e pela explícita "contenção do mal".
Um abraço.
Caro Aldenor:
Acho que está na hora dos blogs perguntarem quem é, ou quem são, as pessoas e grupos que estão vendendo tanta arma de fogo ilegal em Belém e arredores. para mim, dado o silêncio da imprensa comercial, para ficar num termo suave, tem alguém muito poderoso descarregando esse material nas mãos de terceiros, e o repassando a assaltantes. Nossos jovens, que se criam em bairros miseráveis, sem direito à mínima alegria de um sapato decente, uma roupa limpa, uma mãe sorridente, esses jovens estão se tornando uma geração desiludida e violenta, fácil de ser cooptada pelos principais criminosos, e estes aqui não parecem muito próximos de ir para a cadeia.
Artur Dias
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