segunda-feira, 15 de junho de 2009

Baile de máscaras

A governadora Ana Júlia (PT) cultiva um estilo lacônico e esquivo diante dos assuntos espinhosos que colocam o Pará nas manchetes negativas da imprensa brasileira. Fala pouco ou simplesmente não fala, delegando a tarefa a seus assessores ou a despachos da Secretaria de Comunicação (Secom). A ideia é que ela se preserve, evitando exposição negativa. De vez em quando, faz gol contra, como no caso do escândalo da menina presa com homens em Abaetetuba, quando a petista defendeu, em entrevista a uma rede nacional de TV, que seu governo estava providenciando a construção de "celas para crianças".
Após o vexame, seguiu-se o longo silêncio, quebrado aqui e acolá, geralmente em rápidas entrevistas aos grandes jornais de fora do estado, que a interceptam em algum evento distante do aconchego de seu esquema protetor. Foi o que ocorreu neste final de semana, quando O Globo conseguiu arrancar algumas palavras da governadora paraense sobre a multa de R$ 2,1 bilhões imposta pelo Ministério Público Federal contra fazendeiros e frigoríficos que utilizam gado proveniente de áreas desmatadas ilegalmente.
Com a palavra, Ana Júlia. Não se espante. É Ana Júlia mesmo e não uma dublê de Kátia Abreu que investe furiosa diante da suposta "perseguição" que os procuradores da República estariam fazendo contra o Pará. Questiona, então, porque o MPF "não faz nada em Mato Grosso e em outros lugares como a Mata Atlântica, onde existem pecuaristas criando gado em áreas de desmatamento". E adiante, arremata: "Nesses lugares também tem pecuária. Cadê a atuação? Não podemos ser castigados, o povo do Pará não pode ser castigado por erros passados".
Espantoso, não? A maior autoridade do Estado faz a defesa da ilegalidade, sob a alegação de que estaríamos sendo vítimas de uma conspirata de forças externas, no caso, de procuradores federais que não atuariam, com o mesmo rigor, em suas regiões de origem, o Sul e o Sudeste do país.
Um pouco mais e o argumento de Ana Júlia estaria completo, pois faltou desancar as ONGs nacionais e internacionais. Vai ver estas também estariam associadas na ação destinada a "criminalizar toda uma atividade produtiva e gerar milhares de desempregados".
É por essas e outras que o PT foi ficando mais e mais parecido com seus opositores da direita tradicional. O contraste, que de fato ainda existe, é de uma superficialidade constrangedora.
Entretanto, é preciso manter as aparências. Muda-se o conteúdo, porém sem descuidar da apresentação para o público externo, ainda mais quando a proximidade das eleições traz de volta o conveniente e algo empoeirado discurso esquerda versus direita. Tudo embalado por antigos hits das campanhas do século passado e envolto num mar de bandeiras de um vermelho cada vez dia mais pálido.

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